Meia Palavra
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O neurologista britânico Oliver Sacks ficou famoso pelos seus relatos sobre pessoas que desenvolveram distúrbios em campos básicos da percepção, como (acho que este é o caso mais famoso) do pintor que perdeu sua capacidade de distinguir cores e que, no entanto, continuava a pintar grandes painéis coloridos, ou do pianista cuja memória recente não ultrapassava os trinta segundos, casos descritos em livros como “A Homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, “Um Antropólogo em Marte” ou “Alucinações musicais”. Seus textos sempre captam uma dimensão quase irônica da relação entre a doença e o paciente: como aquela parece vir contra a capacidade essencial daquele indivíduo específico, e como, numa espécie de convivência tensa, tal indivíduo é capaz de desenvolver estratégias que não só fazem com que volte as suas atividades normais, mas que transformam essas atividades em seus fundamentos mais básicos. Talvez por isso, Sacks tenha uma grande preferência em descrever casos de músicos, pintores, escritores ou esportistas – nesses, a dependência dos sentidos e dos movimentos corporais é tão desenvolvida e, ao mesmo tempo, tão frágil, que a sua privação é absolutamente desastrosa. Tão desastrosa quanto a forma encontrada para compensá-la é formidável.
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