Carta a Bush
Íntegra da carta enviada ao presidente dos EUA, George W. Bush, pelo cardeal arcebispo Bernard Law de Boston, tenente-coronel reformado e freqüente conferencista americano, especialista em assuntos de segurança nacional: uma outra visão do terrorismo.
“Senhor presidente, o senhor não contou a verdade sobre o porquê de sermos alvo do terrorismo quando explicou porque bombardearíamos o Afeganistão e o Sudão.
O senhor disse que somos alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos no mundo...
Que absurdo senhor presidente! Somos alvo dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvo dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes de nosso governo depuseram líderes eleitos pelos seus povos, substituindo-os por militares ditadores, marionetes desejosas de vender o seu próprio povo a corporações americanas multinacionais?
Fizemos isso no Irã, quando os marines e a CIA depuseram Mossadegh, porque ele tinha a intenção de nacionalizar a indústria do petróleo. Nós substituímo-lo pelo Xá Reza Pahlevi e armamos, treinamos e pagamos a sua odiada guarda nacional, a Savak, que escravizou e brutalizou o povo iraniano para proteger o interesse financeiro das nossas companhias de petróleo. Depois disso será difícil imaginar que existam pessoas no Irã que nos odeiem?
Fizemos isso no Chile. Fizemos isso no Vietnã. Mais recentemente, tentamos fazê-lo no Iraque.
E, é claro, quantas vezes fizemos isso na Nicarágua e outras repúblicas na América Latina? Uma vez atrás da outra, temos destituído líderes populares que desejavam que as riquezas de sua terra fossem repartidas pelo povo que as gerou.
Nós substituímo-los por tiranos assassinos que venderiam o seu próprio povo para que, mediante o pagamento de vultuosas quantias para engordar as suas contas particulares, a riqueza da sua própria terra pudesse ser tomada por similares à Domino Sugar, à United Fruit Company, à Folgers e por aí adiante.
De país em país o nosso governo obstruiu a democracia, sufocou a liberdade e pisou os direitos humanos. É por isso que somos odiados ao redor do mundo.
E é por isso que somos alvo dos terroristas. O povo do Canadá desfruta da liberdade e dos direitos humanos, assim como o da Noruega e da Suécia. O senhor já ouviu falar de embaixadas canadenses, norueguesas ou suecas bombardeadas? Nós não somos odiados porque praticamos a democracia, a liberdade e os direitos humanos.
Nós somos odiados porque o nosso governo nega essas coisa aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossa corporações multinacionais. Esse ódio que semeamos virou-se contra nós para nos assombrar na forma de terrorismo e, no futuro, terrorismo nuclear. Uma vez dita a verdade sobre o porque desta ameaça existir e ter sido entendida, a solução torna-se óbvia. Nós precisamos mudar nossas práticas. Livrarmo-nos das nossas armas nucleares (unilateralmente se necessário) vai melhorar nossa segurança. Alterar drasticamente a nossa política externa irá assegurá-la. Em vez de enviar os nossos filhos e filhas ao redor do mundo para matar árabes, para que possamos ter o petróleo que existi sob suas areias, deveríamos mandá-los para reconstruir as suas infra-estruturas, fornecer água limpa e alimentar crianças famintas.
Em vez de continuar a matar milhares de crianças iraquianas todos os dias, com as nossas sansões econômicas, deveríamos ajudar os iraquianos a reconstruir suas estações elétricas, as suas estações de tratamento de água, os seus hospitais e todas as outras coisas que destruímos e que os impedimos de reconstruir com as nossas sansões econômicas.
Em vez de treinar terroristas e esquadrões da morte, deveríamos fechar a Escola das Américas. Em vez de sustentar a revolta, a desestabilização, o assassínio e o terror em redor do mundo, deveríamos abolir a CIA e dar o dinheiro gasto por ela a agências de assistência.
Resumindo, deveríamos ser bons em vez de maus. Quem iria tentar deter-nos? Quem iria odiar-nos? Quem iria querer nos bombardear? Essa é a verdade senhor presidente.
É isso que o povo americano precisa ouvir.”