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[L] [Eli Nerwen][Helen e a Cartomante]

Eli Nerwen

Usuário
[Eli Nerwen][Helen e a Cartomante]

Helen e a Cartomante

Helen saiu desconcertada da cartomante. Nunca ouvira tanta barbaridade em toda a sua vida. Agora poderia esperar que um carro a atropelasse a qualquer momento, pois não era assim que Eleonora, a cigana de longo vestido negro, havia previsto? Parecera tão verossímil que estava fora de cogitação uma contestação da parte de Helen.
Ela atravessou a rua de um jeito que só as crianças atravessam, olhando para os dois lados duas vezes e com passos rápidos para não correr riscos. Do outro lado se encontrava a sua lojinha de presentes que ganhara do esposo, agora já falecido. Não era uma loja grande, tão pouco luxuosa, mas foi o que lhe garantiu o sustento depois da morte do marido.
Sentou-se atrás do balcão e ficou observando o movimento da rua.
O que pensava, agora, dos carros era diferente do que já tinha pensado algum dia. Nesse momento eles eram máquinas de matar, armas em potencial, prontos para roubar qualquer vida inocente que cruzasse seus caminhos.
Naquela tarde fechou a loja mais tarde que de costume, e resolveu esperar a hora do rush passar. A casa ficava a cinco quarteirões dali, e o caminho era estranho e escuro agora que anoitecera. Havia muitos prédios em construção por todo o trajeto, mas agora que os operários tinham terminado o expediente as ruas tornaram-se sombrias. Chegou à sua casa sem maiores problemas, tomou um banho e preparou o jantar. Mais uma vez comeria sozinha. Enquanto remexia a comida com o garfo, seus ouvidos se concentravam nos ruídos da rua... dezenas de carros passando, o vizinho vindo buscar a esposa, os garotos do outro lado da rua chegando para o ensaio da sua banda, a velhinha do 85 estacionando o velho Ford...
Essa noite Helen foi cedo para a cama, mas demorou para pegar no sono. Sonhou com o carro que vinha pegá-la: era o velho Ford da velhinha do 85, derrapando e atingindo-a em cheio. Acordou amaldiçoando a pobre senhora: “uma barbeira”, era o que o marido sempre dissera.
Tomou o café vagarosamente – eram apenas sete horas. Essa manhã podia chegar um pouco mais tarde no trabalho: não seria bom atravessar aquela avenida às sete e meia, já que era exatamente esse o horário de maior movimento na maldita rua. Acabou saindo às oito e meia, a contragosto. Aquele não era um bom dia apara se sair de casa, pensou..
Fazia um frio cortante, e nem todo aquele agasalho que usava a protegia de fato. A avenida estava escorregadia por causa da garoa que caíra durante a madrugada; Helen dava passos incertos, e o vento, agora bem mais forte, vinha de encontro a ela, que fechava os olhos para se proteger. Não viu quando um carro veio ao seu encontro. O velho Ford freou bruscamente, e uma velhinha desesperada gritou detrás do volante. Helen caiu sem que o carro a tivesse pego; sentiu sangue escorrendo pela sua nuca. Quando abriu os olhos a velha estava sobre ela, preocupada.
Sentou-se, atordoada. Uma sirene podia ser ouvida ao longe, alguém já chamara a ambulância. O sangue manchara-lhe os cabelos. Levantou-se com muito custo e saiu andando, cambaleante. A velha tentou segura-la pelo braço. Em vão... Helen estava por demais confusa, e antes que qualquer coisa pudesse ser feita, correu desenfreada pela rua. Mais uma vez, um carro quase a atingiu. Um motorista esbravejou alguma coisa, que ela não conseguiu ouvir. Dentro da sua cabeça, eram as palavras da cartomante que ela ouvia, as cartas sendo tiradas uma a uma do baralho, o rosto triste de Madame Eleonora; e a profecia.
Fazia, inconscientemente, o caminho de casa. Das construções vinha um barulho infernal, martelos, serras, soldas. Helen olhou para cima. Um operário a viu toda ensangüentada como estava e gritou algo. Alguns homens pararam de trabalhar.
No ultimo andar, um senhor de idade perdeu o controle sobre a serra que estava manuseando. Soltou um grito que mal foi ouvido por quem se encontrava abaixo dele. Os outros operários viram apenas uma enorme tora caindo. Um jovenzinho ainda gritou algo. Tarde demais. Helen olhou para cima quando não era possível fazer mais nada. A tora esmagou-a em cheio, inundando a calçada de sangue, ali não era possível distinguir nenhuma Helen, nenhum nada, havia apenas uma massa disforme, uma mistura de sangue, carne e cabelos. Um grito feminino foi ouvido.
A ambulância apenas mudou sua rota.
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Nossa...

Muito bom Eli, ilustra bem o poder que uma sugestão pode ter sobre uma mente receptiva. O única mal quem fez foi ela mesma, por causa de seu medo mórbido.

Por isso que nem horóscopo eu leio! :mrgreen: Deixa o futuro lá quieto, conforme ele for vindo eu vou sabendo como ele é.
 
Bem.. eu te disse pelo msn o que eu achava, mas digo denovo: muito bom! Muito sangue! :obiggraz:
 
muito legal,mostra como as pessoas são auto sugestionáveis ,eu e minha mãe trabalhamos com esse povo que adivinha e eu bem sei que é assim,que as pessoas saem assim das cartomantes,achando que as coisas que a mulher previu vão acontecer,mas acho que é besteira!

mas em relação ao texto,bem legal meus parábens! :anjo:
 
Thanks Entuerpe! :mrgreen:

A intenção do texto foi dizer exatamente isso: se a mulher não tivesse acreditado na cartomante ela estaria viva ou não? Porque muito do que ela fez, foi por medo de morrer, ela guiou suas ações a partir disso e essa foi sua perdição.
 
Mto obrigada Gaerwen :mrgreen:

Eu fico tão feliz vendo vcs gostando da minha historinha
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