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[Desafio] Villanelle

Haleth

Sweet dreams
Por causa da sestina do Gigio, acabei descobrindo outras formas poéticas de versificação fixa. Bom, a da vez é a Villanelle (que nome bonitinho, né? :sim: ). A estrutura dela dá um impacto muito bacana no texto, dependendo do assunto, o texto fica forte, forte mesmo. Não achando nada em português sobre a villanelle além da tradução da música do Cohen que não segue o padrão desejado, vou tentar explicar do meu jeito, com a villanelle que fiz =) .

Funciona assim:

A villanelle tem 19 linhas, distribuídas em 5 estrofes de três linhas e uma de quatro. A primeira e a terceira linha de cada estrofe rimam (ABA):

Do lado contrário da sorte
Sem medo, sem vista ou porquê,
Zombamos e rimos da morte

A próxima estrofe começa com uma linha que rima com a estrutura anterior (ABA), mas... o pricipal é que a primeira linha da estrofe anterior se repete na últma:

Quem há que com isso se importe?
Em que se fia, teme ou crê
Do lado contrário da sorte?

A terceira estrofe segue o esquema rímico (ABA), e dessa vez, a última linha é a reptição é da terceira linha da primeira estrofe do poema:

Flecha ardente em certeiro norte
Abatendo o que não se vê
Zombamos e rimos da morte

Agora, a quarta e quinta estrofes seguem o padrão das duas anteriores:

Se nos desgasta o braço forte,
Ou se a aljava nos desprovê
Do lado contrário da sorte,

De onde extraimos o suporte?
Pois em fuga, em frágil cupê
Zombamos e rimos da morte.

Pronto, a última estrofe, de rimas ABAA, tem como duas últmas linhas aquelas que já temos repetido anteriormente:

A vida entalhou-nos um corte.
Cegos de dor, ufanos porque
Do lado contrário da sorte,
Zombamos e rimos da morte.


O segredo da coisa é escolher bem essas repetições. Num site onde vi explicação da villanelle, eles diziam até que o ideal ao fazer a primeira estrofe era fazer esse "couplet" primeiro e depois encaixar uma frase no meio. Realmente, fica mais fácil.

Nâo é bacana? Quem mais se arrisca? =)
 
Afinal, acabei de encontrar uma coisa em português sobre o assunto, mas foi tudo o que encontrei de mais substancial (é que descobri que villanelle se chama vilanela :P ).

Descobri que a forma que postei acima é uma variante criada usada pelos portugueses para a forma italiana original. Olha só:

A Vilanela surgiu no século XVI, na Itália, como letra que acompanhava canções napolitanas. Como forma de poesia e de canção, extendeu-se também pela Inglaterra. Depois, extendeu-se aos demais países como expressão poética. No Brasil, talvez devida a musicalidade dessa modalidade poética, obteve grande apreço dos poetas.

Forma Original: É uma poesia formada por uma quadra e vários tercetos (sem número definido), com a métrica de versos em redondilha maior (7 sílabas), e a rima alternada. O primeiro e o terceiro verso da primeira estrofe aparecem alternadamente como último verso nas estrofes seguintes.

Variante: Uma variante da Vilanela surgiu em Portugal. Começa com tercetos que repetem alternadamente dois versos, que são o 3º e 4º verso da quadra que termina a poesia.

A variante é mais bonitinha, hein? XD
 
O que não é lá uma grande novidade, né? Muitas formas métricas portuguesas são traslados ou mudanças de formas italianas...

Vou pesquisar no meu dicionário de arte poética se o autor faz algum comentário em relação à Villanelle.
 
Pois, mas eu postei a variante como se fosse a original, achei conveniente esclarecer.

[size=xx-small]ps.: mavericco, o que eu sei de estrutura poética é o que eu aprendi na escola, e sem contexto histórico. Dá um desconto pq ainda sou iniciante nessas explorações mais detalhadas. :P[/size]
 
Sem problema. Existe alguma restrição quanto ao número de sílabaras métricas? Vi que você usou oito no seu poema... O que é um número incomum :think: ... Geralmente se utilizam os de nove (Gonçalves Dias) ou os de sete (redondilhas maiores; logo, cancioneiros); mas um de oito eu acho que nunca vi!

(o que, é claro, não deixa o poema ruim. O seu, pelo contrário, achei que ficou com um ritmo muito bom)
 
Acho que na variante portuguesa não há.

Na verdade eu queria ter feito com seis, ou o "heróico quebrado", a propósito o nome casaria bem com o assunto, rs. Mas quando comecei a escrever, o primeiro verso ficou com sete, e eu tinha gostado muito da ideia dele mas não consegui reduzir de jeito nenhum. Fui, então, tentar consertar o terceiro verso, até consegui fazer sete, mas ficou com eco feio e a conjugação verbal ia arruinar a rima das segundas linhas das estrofes. Aí, nesse MMC poético mandei tudo pra oito e fiquei satisfeita. ^^

O ritmo ficou bacana, né? Acho que é porque oito deixa a gnt confortável, por estarmos acostumados com tetrassílabos, e oito é quatro duas vezes, hehe
 
De Hades pedindo Prosérpina

No Olimpo fulgente, de cânticos noto, de prantos autênticos
A prole também ejacula, vertendo copiosa: e acumula
Em todo pedaço de autênticos laços as dores, os cânticos.

Plutão mais de Pluto idênticos voos à campina de cânticos
Benquista perlustram, pois plúmula os pés se lhos tornam súmula
No Olimpo fulgente, de cânticos noto, de prantos autênticos.

"Irmão: se benquistos autênticos traz-me, prejulgo idênticos
Aos sempre doados á mula que empaca: tabefe que simula
Em todo pedaço de autênticos laços as dores, os cânticos."

"O quê? Vens dizer-me, em cânticos dúbios, teus ódios autênticos
Que a mim e a meu filho tal flâmula toca? Tumula-te!, trêmula
No Olimpo fulgente, de cânticos noto, de prantos autênticos

Os braços se fazem, autênticos faustos! Desejo outros cânticos:
Prosérpina quero, pois flâmula toca-me invisa, pois flâmula
Em todo pedaço de autênticos laços as dores, os cânticos

Me clamam, me chamam, em fórmula nota, em fórmula súmula".
"Te garba: eu dou-ta", simula o Tonante, distante, que emula
No Olimpo fulgente, de cânticos noto, de prantos autênticos
Em todo pedaço de autênticos laços as dores, os cânticos.
 
O dia que eu fizer 19 linhas com 17 sílabas cada, meu filho, tenho mesmo muito o que dizer. :P
 
Né! Esse tipo de coisa só sai se você tiver um enredo detrás. James Joyce não conseguiria escrever o Ulysses sem a Odisseia como pano de fundo ou Camões sem a Eneida...
 
Interessante (Villanelle). Nunca vi, nem ouvi dizer... rsrsrs (só agora) Agregou muito ao fórum. Só acho que você deveria ter colocado no tópico dos escritores, valoriza ainda mais e sacode a poeira lá :sim:, para não desfigurar muito o tópico de poesias. É uma forma poética bem interessante de versificação. Quantas vertentes nesse rio caudaloso chamado poesia iremos encontrar?
 
Minha tentativa segue a baixo, eu não costumo me dar bem com essas formas aparentadas do rondó. Versos que se repetem costumam me incomodar durante a construção, mas o desafio é sempre um desafio! Um deleite enorme é se escapar das retrições que se colocam em nossa frente.

Villanelle de um Vadio

Não sou terreno baldio
com meu peito abandonado
por um coração vadio

Se tem a sede de um rio
pois tome muito cuidado
não sou terreno baldio

Apenas nunca sacio
o desejo apaixonado
por um coração vadio

Pela flor não lhe sorrio
em um gesto perfumado
não sou terreno baldio

que carente pelo frio
se apanha todo encantado
por um coração vadio

Me fiz de torto e errado
por um peito apedrejado
Não sou terreno baldio
por um coração vadio
 
Gente que trabalhão, mas deve ser divertido, ainda estou processando, quem sabe não consigo fazer um também.
 
Confesso que escrevi esse poema mais preocupado com a estrutura que com o conteúdo em si, não é difícil de se arrumar versos que casem bem com os dois versos que se repetem ao longo do poema.
Ainda mais usando de redondilha que é uma forma ridulamente eufônica. Praticamente qualquer coisa em sete sílabas entraria em consonância com os versos que eu escolhi.
Uma vez que eu pegar o jeito dessa forma farei um poema com um conteúdo mais encorpado.
 
vi isso aqui no tumblr do lit major lemur e lembrei de vcs :rofl:

tumblr_lk1r7lXmpv1qhbw9bo1_400.jpg


fica aí o desafio. :sim:
 
Villanelle de um Cardigã

Vou despir seu cardigã
na verdade vou rasgá-lo
em mil pedaços de lã

saiba que tenho um afã:
quero seu seio desnudá-lo
vou despir seu cardigã

Vou lhe jogar ao divã
e todo corpo amarrá-lo
em mil pedaços de lã

não lhe quero nada sã
será sonho o pesadelo
vou despir seu cardigã

do poente até a manhã
quero o desejo singelo
em mil pedaços de lã

é por isso que lhe falo
que juro e sequer vacilo
vou despir seu cardigã
em mil pedaços de lã
 
- Adorei seu cardigã.
Gastei todo meu latim
e você me disse: "hã?"

Para te ver de manhã,
Dormi só no botequim.
Adorei seu cardigã...

- Comprei-te boa maçã.
Gastei todo meu dindim
e você me disse: "hã"?

Armei-me todo em galã,
me vesti como pinguim.
Adorei seu cardigã...

- Que tal sair amanhã?
Implorava por um sim
e você me disse: "hã"?

Ah, parei de ser seu fã!
É surda, ou coisa assim?
Adorei seu gardigã...
E você me disse: "hã"!
 

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