Ariano Suassuna “versus” Wylliam Shakespeare.
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Este é um artigo curto, brevíssimo, sobre um tema que levaria semanas para ser devidamente esquadrinhado.
Tratarei, com muita - porém não leviana - brevidade, sobre duas das idéias centrais em duas das muitoas obras dos grandes autores supra nominados: O Auto da Compadecida, de A. Suassuna, e O Mercador de Veneza, de W. Shakespeare.
Comecemos pelo segundo deles e pela sua obra sub oculi: nela, o personagem Shylock - judeu; aliás, nos últimos tempos, Shakespeare tem sido acusado de anti-semitismo; acusado; não julgado... - tem um título judicial, contra Antônio, mercador veneziano, sobre o qual se manifesta a justiça local, nos seguintes termos:
“Uma libra de carne deste mercador a ti pertence. A corte reconhece este direito, a lei o atribui.”
Na obra, a justiça de Veneza, embora reconheça a legalidade, a legitimidade e a validade do título de Shylock, lhe nega e obstaculiza a execução - a concretização fática - do mesmo, utilizando-se de um argumento ardiloso: o título não dá direito ao sangue do devedor, mas tão-só a uma libra da sua carne... Ora, é impossível retirar uma libra de carne de alguém - que esteja vivo -, sem lhe retirar, também, ao menos algumas gotas do seu sangue. Por isto, Shylock sai vencido na lide jurídica.
Em Ariano, no seu Auto, a personagem Chicó - graças às “maravilhosas idéias” de João Grilo... - fica obrigado ante o Cel. - que é pai da donzela Rosinha - a lhe permitir a retirada de “uma tira de carne”, caso não tenha como pagar um empréstimo que lhe tomou. Tudo materializado num contrato celebrado entre ambos e tudo com vistas a que Chicó - que”não tem onde cair morto”... - se case com Rosinha.
Ora, com o Cel. ocorre o mesmo que com Shylock: ao exigir, de Chicó, o dinheiro e ante a negativa/impossibilidade deste, exige-lhe a satisfação do contrato, ao que se vê diante da argumentação de que o contrato fala apenas em carne, não em sangue... O Cel. deserda a filha Rosinha, que, então, se casa com Chicó.
As idéias são as mesmas e propositais. Claro que um escritor da envergadura de Suassuna serviu-se do antigo inglês, conscientemente.
Fortaleza/CE, sábado, 10 de dezembro de 2005, 15:06 hs.
José Inácio de Freitas Filho.
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Este é um artigo curto, brevíssimo, sobre um tema que levaria semanas para ser devidamente esquadrinhado.
Tratarei, com muita - porém não leviana - brevidade, sobre duas das idéias centrais em duas das muitoas obras dos grandes autores supra nominados: O Auto da Compadecida, de A. Suassuna, e O Mercador de Veneza, de W. Shakespeare.
Comecemos pelo segundo deles e pela sua obra sub oculi: nela, o personagem Shylock - judeu; aliás, nos últimos tempos, Shakespeare tem sido acusado de anti-semitismo; acusado; não julgado... - tem um título judicial, contra Antônio, mercador veneziano, sobre o qual se manifesta a justiça local, nos seguintes termos:
“Uma libra de carne deste mercador a ti pertence. A corte reconhece este direito, a lei o atribui.”
Na obra, a justiça de Veneza, embora reconheça a legalidade, a legitimidade e a validade do título de Shylock, lhe nega e obstaculiza a execução - a concretização fática - do mesmo, utilizando-se de um argumento ardiloso: o título não dá direito ao sangue do devedor, mas tão-só a uma libra da sua carne... Ora, é impossível retirar uma libra de carne de alguém - que esteja vivo -, sem lhe retirar, também, ao menos algumas gotas do seu sangue. Por isto, Shylock sai vencido na lide jurídica.
Em Ariano, no seu Auto, a personagem Chicó - graças às “maravilhosas idéias” de João Grilo... - fica obrigado ante o Cel. - que é pai da donzela Rosinha - a lhe permitir a retirada de “uma tira de carne”, caso não tenha como pagar um empréstimo que lhe tomou. Tudo materializado num contrato celebrado entre ambos e tudo com vistas a que Chicó - que”não tem onde cair morto”... - se case com Rosinha.
Ora, com o Cel. ocorre o mesmo que com Shylock: ao exigir, de Chicó, o dinheiro e ante a negativa/impossibilidade deste, exige-lhe a satisfação do contrato, ao que se vê diante da argumentação de que o contrato fala apenas em carne, não em sangue... O Cel. deserda a filha Rosinha, que, então, se casa com Chicó.
As idéias são as mesmas e propositais. Claro que um escritor da envergadura de Suassuna serviu-se do antigo inglês, conscientemente.
Fortaleza/CE, sábado, 10 de dezembro de 2005, 15:06 hs.
José Inácio de Freitas Filho.