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A maldição de Liam

JLM

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Era costume na pequena vila de Oh’ngo, no baixo Vale Vermelho, expulsar as mulheres que não produzissem filhos. Afinal, toda árvore que não dá frutos após florescer deve ser cortada. Diziam as anciãs que a praga poderia espalhar-se à outras quando não tratada com rapidez e severidade. Foi o que aconteceu com a pequena Liam depois de dois anos casada. O marido a expulsou de casa aos olhos atentos de toda a vizinhança. As mulheres que já eram mães, cuspiam no caminho por onde ela passava e a amaldiçoavam. As crianças atiravam ovos, frutas podres e pequenos gravetos. Seria o último dia de felicidade na vida de Liam, mas diferente das outras expulsas antes, ela não tinha para onde fugir. Não possuía a coragem para sair pelo mundo e enfrentar estranhos, por isso resolveu que seria mais fácil enfrentar aqueles a quem já conhecia. Alojou-se em um pagode abandonado fora dos limites da vila e passou a trabalhar dia e noite.

Com o tempo, Liam conseguiu uma pequena horta que plantava nos fundos. Dos ovos que buscava no mato, construiu um galinheiro. Do rio, colheu os seus peixes. Moradora vizinha da única estrada que levava à Oh’ngo, sempre era vista trabalhando pelos viandantes. Alguns destes, mais observadores, proporam a Liam que cuidasse de seus filhos enquanto estavam trabalhando ou em viagem. Liam aceitou a tarefa como uma dádiva divina. Se não lhe fora permitido ter filhos nascidos de seu próprio ventre, tinha a oportunidade de ter filhos por intermédio das outras mulheres. Trabalhadora, zelosa e paciente, Liam ensinava com carinho extremo os pequenos deixados aos seus cuidados. A maioria voltava para casa melhor e mais obediente. Logo, os filhos passaram a ser deixados aos cuidados da Casa de Liam mesmo em ocasiões menos importantes, como dias de festividades locais ou caso os pais desejassem alguns dias de sossego. Liam cobrava barato: apenas o que a criança consumisse e uma pequena moeda. As próprias crianças gostavam de ficar com Liam e quando os pais as deixavam com vizinhos ou parentes, viriam a se arrepender depois arcando com os prejuízos causados pelos pequenos.

Um dia, Liam surgiu cuidando de um menino que ninguém sabia quem era. Ele a seguia por todos os lugares e a ajudava a cuidar das outras crianças. Quando perguntavam a ela quem era o garoto, ela simplesmente abria uma pequena caixa e mostrava o seu conteúdo: uma safira alaranjada como o por do sol, muito rara e valiosa, cujo nome era Padparadscha. Era o pagamento dado pelo pai do garoto, o grande guerreiro Musashi, para que Liam cuidasse de seu filho enquanto o pai perambulava pelo mundo. O nome do guerreiro era conhecido no pequeno vilarejo e a reputação de Liam aumentou por ser tutora do rebento do afamado espadachim. Muitos passaram a deixar os filhos com mais frequência na Casa de Liam na esperança de encontrarem com Musashi pessoalmente ou de verem seus filhos criando laços de amizade com o filho dele. Mas nunca ninguém chegou a ver Musashi além de Liam e do garoto.

Com o passar dos anos, as estações revezaram a sua ciranda ao redor de Liam, fazendo com que, por fim, ela atingisse o inverno. A geração em que ela nascera já fora colhida há tempos. Era tempo de novas famílias, novas crianças, novas perspectivas e ideais. A Casa da Mãe Liam, como ficou conhecida em todo o vale, contava agora com vários empregados para educar as crianças e cuidar dos órfãos, instruindo-os no nobre caminho dos oito passos. O filho de Musashi cresceu e tornou-se líder da vila, que igualmente aumentara e virara uma cidade de porte considerável. Liam jamais voltou a pisar na vila desde que de lá saíra, até a noite em que vieram correndo contando-lhe que estavam a expulsar uma mulher estéril. Enquanto a mulher era humilhada pelo marido e demais membros da população até chegar ao portão da cidade, Liam apareceu amparada por dois ajudantes. A mulher, aos prantos, jogou-se aos pés de Liam, pedindo-lhe para que intercedesse por ela. Lentamente, Liam ajudou-a a se levantar e cuspiu-lhe na face. Após este gesto, totalmente contrário à conhecida bondade da idosa mãe de todos, Liam declarou-lhe:

- Décadas atrás eu estava em seu lugar, filha. Por isso me escute pela última vez: a maioria dos que estão te maltratando passaram pelos meus cuidados. Eu poderia, com uma única palavra, abolir este costume vil que perdura por séculos em nossa vila. Mas não o farei. As adversidades são as melhores provas para que você transforme a sua vida. O seu caráter precisa ser temperado no fogo das dificuldades e a sua pele curtida na tempestade dos obstáculos. Se eu não tivesse sido expulsa, hoje não seria quem sou; estaria morta e esquecida como os outros da minha geração. Eu não teria acumulado riquezas como fiz e deixado como legado a Casa que leva o meu nome hoje educando e abrigando as crianças da região. E não teria recebido o grande guerreiro Musashi em minha cama e não seria honrada por conceber-lhe o seu descendente. Portanto, filha, eu vim somente para lhe dar o meu adeus e desejar-lhe que nunca mais volte a pisar nesta vila!
 
Cara, se você transformar esse conto em um livro ao estilo de A Boa Terra, livro de Pearl S. Buck, vai ficar massa.

A única coisa que eu não simpatizei foi com o título, não que ele não esteja adequado, mas acho que poderia ter escolhido um melhor para a história.

Que velha escrota! :susto:
 
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
 
olá makinary, eu tenho uma certa tara com maldição em títulos, hehehhe. mas qual vc colocaria? e, apesar d escrota, vc ñ acha q a velha teve uma certa filosofia pragmática?

e rodovalho, nesse a geni ao final ajuda a tacar pedra na versão 2.0 dela. :hahano:
 
olá makinary, eu tenho uma certa tara com maldição em títulos, hehehhe. mas qual vc colocaria?
Apesar de eu ter criticado o título eu não tenho alguma sugestão decente, mas para não ficar em branco eu sugeriria "Liam", isso mesmo, apenas o nome da protagonista.


apesar d escrota, vc ñ acha q a velha teve uma certa filosofia pragmática?
É uma questão de filosofia de vida, eu mesmo sou uma pessoa que sente prazer em ajudar, mesmo que eu tenha sofrido para realizar algo eu não gostaria que outra pessoa sofresse desnecessariamente para realizar essa mesma coisa.
Na verdade minha filosofia é "O grupo trabalha para um bem comum para que os integrantes deste grupo possam usufruir, individualmente ou não, do trabalho conquistado"
 
Liam não se sente responsável pelas crianças que educou, agora repetindo os mesmos costumes vis que a atormentaram, mesmo que pudesse tê-lo feito. Se sente orgulhosa for ter vencido na vida sozinha, apenas isso.


Que velha FDP!
 
mas vc já pensou em como seria a vida d liam caso ela ñ tivesse sido expulsa da vila? será q ela passou a considerar a 'maldição' como uma bênção?
 

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