Assisti um dia desses (depois que
todo mundo já tinha visto), vi 4 episódios non-stop por dia.
Gostei bastante, realmente tem aquele charme dos filmes de fantasia e terror dos anos 80.
A história é bem satisfatória e envolvente, mas ainda penso que em alguns momentos poderia ter sido ou mais dinâmica (como no momento em que a Joyce finalmente encontra uma solução de conversar com o filho desaparecido pelas letras pintadas na parede - ela podia ter sido "ajudada" pelas luzes, formando o formato de uma letra, ou podiam ter elaborado melhor uma cena de descoberta: ela, do nada, no meio do desespero, começa a pintar as letras; pareceu meio uma solução que de qualquer maneira teria que ter sido alcançada pro enredo andar mas que os realizadores não souberam desenvolver o processo direito) ou mais enxuta - algumas cenas de flashback são bem desnecessárias, refiro-me aqui a quando querem pintar o passado traumático da eleven (poderiam melhor apenas sugerir de forma obscura que ela passou por maus bocados e as reações dela ao mundo novo como criança livre refletiriam os hábitos do cativeiro - como na cena em que ela olha prum gato com medo e é claro que o flashback tem que explicar que isso é porque usavam um gato nas experiências com ela. Claro que nem sempre é assim, e alguns momentos marcam a exceção de serem essenciais, como na sequência do tanque - e btw, aquela referência a Sob a Pele, filme com a Scarlett Johanson, foi linda!). E essa exposição desnecessária foi uma coisa que até um pouco de raiva às vezes, como se não confiassem não só no espectador, mas no talento excepcional da menina que interpreta a 11 - bastam olhares e expressões pra todo o interior dela nos ser apresentado.
O uso do flashback tbm me incomodou bastante na cena do salvamento do menino desaparecido (minha capacidade para lembrar nomes é fora do normal, como podem perceber): a série apresenta uma história que, em geral, não tenta ser tão mais profundo do que a história em si, e tudo bem, desde que é bem contada; mas nesse momento final, eles tentam, intercalando o salvamento do menino com as cenas da filha do policial no hospital, desenhar um paralelo e um contraste - se antes a menina morria, agora é a chance do polícia salvar o menino - que acaba tirando a gente um pouco da cena presente, com a tentativa de aprofundar a história (meia falha por ser inserida lá nos minutos finais do segundo tempo - embora tbm já tivesse sido mencionado que a filha do policia morreu, nunca elaboraram esse personagem mais a fundo). Podiam ter confiado na trama pura e simplesmente pelo que ela conta, pelos acontecimentos extraordinários presentes.
E uma coisa que é interessante é que ST conseguiu reunir tantos elementos que fica difícil discernir quando estão só homenageando, fazendo referência, ou quando apenas pegam algo que já existe por ser mais prático do que vir com algo novo: a base do mistério (os portais e tal) pareceu um troço tão ctrl-c + ctrl-v de Poltergeist (eu sei, no primeiro epi a mãe queria levar o filho pra ver exatamente Poltergeist) que me fez pensar se a série não se passa no mesmo universo do filme... Embora mesmo isso não pareceu como uma muleta, mas algo inserido no momento, foi envolvente, então acho que tá blz
Enfim, fora isso achei que, no geral, todos os elementos colaboraram bem para contar uma boa história - não é de se espantar o rápido culto que a série ganhou pelo grande público. Adorei as escolhas estéticas, a fotografia bem cuidada, a música, e claro, as atuações: os meninos estão tão naturais, que vc nunca pensa que eles são atores em um filme, mas que eles estão ali, na sua frente, vivendo aquilo. (a 11, como já mencionei, é trabalho de uma veterana). E meu amor pela Winona Ryder só cresceu: a atuação dela talvez só pareça um pouco over the top no início, mas isso porque mal a conhecemos e ela já tem de enfrentar uma situação impensável... logo que nos familiarizamos com sua condição nos enchemos de entendimento e empatia por ela, ainda mais num papel injustiçado, em que ninguém acredita nela; e é maravilhoso como ela deixa fluir tão bem toda a torrente de emoções de uma mãe desesperada pelo rosto dela - e incrível a flexibilidade dela nos flashbacks em mostrar como ela era tão amável.
Enfim, adorei acompanhar essa série, e espero que tomem boas decisões no prosseguimento da segunda temporada