Hercules, e depois Xena, representam uma nova concepção da mitologia, que usa alguns elementos tradicionais mas tambem abusa da liberdade poética, principalmente nas cenas de luta, nas roupas (que parecem vindas de um filme medieval, tipo Robin Hood) e também na questão racial (afinal de contas, negros na Grécia eram raros, ao contrário do que mostra o seriado.)
Kevin Sorbo talvez tenha sido o primeiro Hércules sem barba e fransino, de calças compridas e com aquela paciência de Jó, só lutando quando a conversa não deu resultado. Diferente, pois, de todos os Hércules do cinema, exceto, talvez, o de Disney.
A diferença entre Hércules e Xena é mais ou menos a mesma que existe entre o Superman e o Batman nos quadrinhos. Enquanto o primeiro segue a lei à risca, o segundo se vê livre para abusar da força bruta, algo do tipo "os fins justificam os meios". É essa a maior diferença entre Hércules e Xena, o herói e a mercenária justiceira. E talvez tenha sido exatamente essa característica que tornou Xena mais popular que Hércules.
Nas primeiras temporadas, Xena é relativamente fiel à mitologia. Quando os produtores perceberam que a personagem era bem mais rica e tinha uma atriz extremamente carismática, começaram a inventar moda, indo do grotesco ao sublime. Os melhores e os piores episódios estão nas três últimas temporadas, numa oscilação que dependia mais dos roteiristas e diretores que da qualidade do elenco. Xena foi ao Extremo Oriente, à Índia, à Inglaterra, às terras geladas da Europa Setentrional, ao Norte da África, só faltou mesmo vir às Américas, o que aconteceu em episódios alternativos passados no presente.
É interessante notar que Xena esteve presente em alguns dos fatos mais marcantes da história: o apogeu e queda do Império Romano, a invenção da pólvora, a morte de César, Cleópatra e Marco Antônio, o início do cristianismo, e até a queda de Lúcifer!
Mas foi nas duas últimas temporadas que a guinada de Xena a levou a um rumo totalmente inesperado: ela é responsável pela morte dos deuses gregos (exceto Ares e Afrodite) e pelo estabelecimento de uma nova ordem (anjos e demônios cristãos). Ou seja, deixou Hércules para trás, embora ele tenha dado uma mãozinha no crepúsculo dos deuses olímpicos.
Na última temporada, seu lado lésbico fica bem evidente, explícito, nas cenas com Gabriele, uma ousadia que nenhum outro seriado anterior levantou, abrindo as portas para produções modernas como The L Word.
Xena, mais que Hércules, é daqueles programas que não admite meio termo, ou você ama ou odeia, que é o perfil dos depoimentos que li neste fórum.