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Dublinenses (James Joyce)

  • Criador do tópico Criador do tópico Pips
  • Data de Criação Data de Criação

Pips

Old School.
“O mundo real, sólido, em que os mortos tinham vivido e edificado, desagrega-se.” (conto: “Os Mortos”)

Primeiro livro de ficção do irlandês James Joyce, Dublinenses, escrito quando ele tinha apenas 23 anos, reúne 15 contos sobre a “querida e suja Dublin”. É o espelho do homem no século que se iniciara (XX), onde os velhos costumes se confrontam com os antigos aspectos – um embate ético, que compõe esta obra.

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RE: Dublinenses

considerado o livre q revela parte da "ALMA" de Joyce, um excelente livro de contos onde vemos o seu amor por Dublin e pelos Dublinenses bem claro.

amo o livro minha introduçao a Joyce^^

pretendo ler no original um dia.
 
RE: Dublinenses

Mais ou menos né. De acordo com o próprio Joyce, ele fala meio mal dos dublinenses nesse livro. Como eu disse no final, é meio ambíguo. Às vezes parece criticar, às vezes parece admirar.
 
RE: Dublinenses

acho q li ele mto novo. ñ achei uma brastemp.
 
RE: Dublinenses

Estou adentrando no mundo de Joyce apenas esse ano e estou adorando cada momento. Não consegui largar o Dublinenses enquanto não acabara de ler até a última página (mesmo que eu não tenha lido na ordem). Então acho que é uma questão de idade e maturidade, e pouco de conhecimento da cultura e história da Irlanda, para entender esse livro.

Como tenho observado em "O retrato do artista quando jovem", esse negócio de idade pesa muito para você entender as diversas fases que vive o personagem principal. Ele é um personagem vivo, ele cresce a cada página, muda os pensamentos, muda as ambições, a visão de mundo, etc.

Eu aconselho a ler outra vez, JLM.
 
Terminei de ler Dublinenses no sábado, alguém quer dançar? XD

Sei que o Diego já está bem avançado na leitura e o Mavericco é joycette de plantão, hehe.
 
Serve eu? Por acaso comecei a ler hoje. Li os dois primeiros contos.

Achei bem herméticos (ou eu que sou lento mesmo rs...)

Sobre o primeiro: o que foi aquele sonho com o velho? E por que ele está sempre sorrindo? E o cálice, o que tem a ver com tudo isso?
Sobre o segundo: o que foi aquele final? Algum tipo de parafilia? Perversão sexual? De onde veio a mudança de personalidade no velho? O que isso nos diz sobre a história que veio antes (uma aventura inocente de três amigos pela cidade)? Nada?

Tô me apegando a pouca coisa? Podemos comentar no geral também. Cê que sabe!
 
Jorge, quanto ao segundo conto, acho que a intenção era acender a especulação do leitor, sabe se lá o que o velho fez. Já a mudança de personalidade eu entendi como algo próprio da idade, sem muito propósito mesmo.

Ainda não terminei (faltam cinco contos) mas tô gostando bastante. Os preferidos até então são Um encontro, Arábia e A pensão. Fico um pouco inseguro em tentar interpretar Joyce mas acho que Dublinenses é um livro sem grandes mistérios. O que rola, na minha interpretação, é a tentativa de fornecer um panorama de Dublin e das pessoas que ali habitam, seus costumes, pensamentos, sentimentos e até mesmo algumas coisas que são praticamente universais, o legal é ver isso sendo mostrado em diferentes "fases da vida". Assim que eu terminar (creio que no máximo até o final de semana), volto aqui para fazer um apanhado geral ou discutir conto a conto, vocês que sabem.

Quanto à Dublinenses acho que não tem tanta crise com a tradução mas tô lendo a edição da Civilização Brasileira. (:
 
Achei bem legal o Dublinenses, são contos que, de alguma forma, tentam formar uma imagem do que são os irlandeses, ou pelo menos os da capital.

Questões caras à história, à tradição e à sociedade irlandesa estão presentes no livro, como a relação com a Inglaterra, os conflitos religiosos entre católicos e protestantes, o nacionalismo, o whisky etc. Longe de serem tratadas como emblemas de estereótipo, elas são lentamente incorporadas aos textos através das histórias.

Não sei se é isso mesmo que o Joyce intentou, mas os contos além de explorarem várias trajetórias, também possuem uma espécie de crescimento no âmbito geral: começamos com histórias de crianças, passamos para adolescentes, jovens, adultos, velhos e, por fim, falamos dos mortos. Me pareceu isso, pelo menos. Alguém mais teve essa impressão?
 
Achei bem legal o Dublinenses, são contos que, de alguma forma, tentam formar uma imagem do que são os irlandeses, ou pelo menos os da capital.

Questões caras à história, à tradição e à sociedade irlandesa estão presentes no livro, como a relação com a Inglaterra, os conflitos religiosos entre católicos e protestantes, o nacionalismo, o whisky etc. Longe de serem tratadas como emblemas de estereótipo, elas são lentamente incorporadas aos textos através das histórias.

Não sei se é isso mesmo que o Joyce intentou, mas os contos além de explorarem várias trajetórias, também possuem uma espécie de crescimento no âmbito geral: começamos com histórias de crianças, passamos para adolescentes, jovens, adultos, velhos e, por fim, falamos dos mortos. Me pareceu isso, pelo menos. Alguém mais teve essa impressão?

A estruturação interna do livro segue um padrão de crescimento sim, explorando como que uma degeneração da cidade de Dublin até descambar na sua morte, que seria retratada no conto "Os Mortos". De modo geral, as três palavras-chave do livro são explicitadas logo no começo do livro: paralisia, gnômon e simonia. Mas já faz um tempinho que eu li o livro, e quando eu li eu não li com a maturidade necessária... Acho que vou comprar essa edição da Hedra e reler.
 
Paralisia é paralisia. Gnômon é um ancestral do relógio de sol. Simonia é o tráfico, a profanação de imagens religiosas. Sobre os simoníacos, ver o canto XIX do Inferno da Divina Comédia.

Como bem resume a Jean Paris, "Dublin será a cidade onde as almas prisioneiras assistirão dia após dia a sua própria degradação". Assim, a paralisia aos poucos vai tomando conta da cidade, ora literalmente, por meio da morte, ora pela revisitação do passado que vai aos poucos aterrando os dublinenses, onde esse passado vai lançando sua sombra sobre as personagens como o gnômon lança sua sombra e determina a hora do dia pela ausência de luz. Desse modo, onde a queda de todos vai se tornando cada vez mais e mais acentuada e generalizada, a simonia como que pretende tornar à perdição aquele último símbolo, aquele último subterfúgio que seria o da fé (a temática dos contos recorre também na incorrência dos dublinenses em pecados capitais, o que deixa ainda mais claro não só o caráter generalizado de perdição que atravessa o livro, mas a posição de Joyce como a posição de Dante julgando a Florença de seu tempo... E esse paralelo se torna ainda maior quando consideramos o Ulysses e, em especial, alguns episódios, como o dos Rochedos Flutuantes).
 
Como bem resume a Jean Paris, "Dublin será a cidade onde as almas prisioneiras assistirão dia após dia a sua própria degradação". Assim, a paralisia aos poucos vai tomando conta da cidade, ora literalmente, por meio da morte, ora pela revisitação do passado que vai aos poucos aterrando os dublinenses, onde esse passado vai lançando sua sombra sobre as personagens como o gnômon lança sua sombra e determina a hora do dia pela ausência de luz. Desse modo, onde a queda de todos vai se tornando cada vez mais e mais acentuada e generalizada, a simonia como que pretende tornar à perdição aquele último símbolo, aquele último subterfúgio que seria o da fé (a temática dos contos recorre também na incorrência dos dublinenses em pecados capitais, o que deixa ainda mais claro não só o caráter generalizado de perdição que atravessa o livro, mas a posição de Joyce como a posição de Dante julgando a Florença de seu tempo... E esse paralelo se torna ainda maior quando consideramos o Ulysses e, em especial, alguns episódios, como o dos Rochedos Flutuantes).

duas considerações:

1. quem é Jean Paris? (fiquei curioso)
2. também percebi uma certa linha descendente percorrendo os contos, seja como parte do processo da vida (de criança a adulto, quando se passa da fantasia inocente da infância para a hipocrisia e maturidade consciente do mundo adulto), seja como parte de mudanças que se operam na própria sociedade irlandesa. Tem aquele capítulo sobre o Duffy, um velho que não gosta da forma como as modernidades estão se inserindo na Dublin, que achava tão romântica em sua juventude. Comento isso porque, ao que parece, a colocação de Jean Paris acerca do passado estender sua sombra ao presente tem algo que parece insinuar que o passado da Irlanda é um estigma negativo, enquanto, segunda minhas impressões preliminares, parece ser o oposto, i.e., o presente é que faz as vezes de tempo menos acolhedor.

Todas as histórias tem um quê de século XIX mesmo, uma espécie de 'romantismo cosmopolita' meio Belle Époque. Não sei, foram minhas impressões, vamos ver em que medida elas se sustentam ou não.
 
Faz tempo que li Dublinenses e, realmente, como disse o Lucas ”uma imagem do que são os irlandeses” ( também foi a impressão que tive) e um passeio por Dublin sem sair de casa. Preciso reler.
 
Jean Paris é a autora de um livrinho biográfico sobre o Joyce onde ela também tece alguns comentários sobre a obra, comentários esses muito bons e que excedem o valor essencialmente biográfico da obra (mesmo porque, qualquer coisa que una Joyce+biografia tem a tendência de se apequenar perto da biografia do Richard Ellmann).

Quanto ao passado da Irlanda, devemos nos lembrar que a Irlanda era considerada parte do Reino Unido durante muito tempo (mais especificamente, durante o século XIX e um pedaço do XX), o que sempre caracterizou esse sentimento de subserviência que o Joyce retratou em suas obras um tanto quanto invariavelmente. No caso do Dublinenses, o conto "Ivy Day in the Committee Room" retrata em especial um episódio de relevo à história da Irlanda, que é Charles Stewart Parnell (1846-1891), resumidamente uma personalidade que bateu de frente contra o domínio britânico na Irlanda durante o século XIX. O Parnell aparece muitas vezes na obra do Joyce: além do Dublinenses, tem o começo do Retrato... numa discussão acalorada acerca de sua vida, tem as referências esparsas sobre ele no Ulysses e, no Finnegans Wake, tem a remetência do HCE ao Parnell, cuja história de vida é a de um revolucionário que tentou libertar a Irlanda mas que, no final de sua vida, acusado de adultério, foi abandonado por todos e morreu precocemente.

Assim, a figura de um homem que luta pela emancipação e pelo bem de todos, mas que, por estes a quem batalha, é como que crucificado por ter infringido uma lei social, se torna extremamente icônica... Além, é claro, do "Ivy Day", um dia dado à memória de Parnell, o que se torna um pouco hipócrita se nos lembrarmos que foi a própria sociedade que deixou Parnell na desgraça e na pior.
 
Mavericco, tu que conhece a obra do autor, qual a peça que o Dublinenses representa no grande quebra-cabeças das obras de Joyce? Qual o papel dela diante das demais produções do autor?
 
Bem... Vou me usar das palavras da Anica nesta resenha:

Como dito antes, o elemento de coesão dos contos da coletânea não é Dublin. Dublin é fundamental, sim, quase uma personagem. (...) De qualquer forma, retornando à linha de raciocínio, a questão é que apesar da importância da cidade, ela não é o “cimento” de Dublinenses. A coesão se dá por uma ordem que representa os estágios da vida de um homem, da infância à vida adulta. Ao longo dos quinze contos gradualmente as personagens vão envelhecendo, e envelhecem também os conflitos que elas enfrentarão. Por isso a ordem é tão importante, e esse é um dos motivos que levaram Joyce a bater o pé sobre alterações. Ele fala da cidade, sim. Mas ele fala do homem. Faz de Dublinenses um espelho para que seus leitores se reconheçam naqueles pequenos retratos de momentos simples, mas tão carregados de significados. E ao retratar o ser humano, muito embora sua mira esteja apontada para um grupo específico de pessoas de uma época específica, ainda assim ele consegue falar com leitores mesmo quase cem anos após a publicação do livro.

Temas e técnicas que seriam desenvolvidos em livros posteriores, como o da evolução de uma pessoa, a epifania, o homem comum, a cidade, entre outros, aparecem pela primeira vez no Dublinenses e são retomados nos livros posteriores, às vezes de forma até mesmo literal, como a repetição de personagens. Acho que, olhando de forma mais ampla, praticamente tudo o que o Joyce criaria depois está, ao menos em potência, nesse livro. (Talvez até mesmo o Finnegans Wake, se o correlacionarmos com o último conto ou com a macroestrututra simbólica do livro, com relações entre desenvolvimentos humanos que descambam no pecado, na paralisia, na epifania etc.)
 

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