reviews feitos em Julho/Agosto. não cheguei a escrever de Caçadores da Arca Perdida.
Indiana Jones e O Templo da Perdição - [62]
Depois de lutar pela Arca Perdida com os nazistas, Indiana Jones (Harrison Ford) vai até a Índia tentar recuperar pedras sagradas que dão enorme poder e glória a quem as possui. Elas estão nas mãos de um fanático ligado a magia negra, voodoo e ocultismo que tem uma verdadeira seita de seguidores e mantém crianças de uma tribo vizinha em regime de trabalhos forçados. Com Indy vão o chineizinho meia boca Shorty (Ke Huy Quan) e a cantora fracassada Willie (Kate Capshaw).
A direção de Spielberg continua bastante eficiente, principalmente nas tomadas de perseguição e nas cenas com algum suspense em questão. George Lucas, seu amigo, assina o roteiro e faz uma homenagem a sua trilogia, homenagem esta que pode ser vista pelo nome do bar da sequência inicial "Obi Wan". A trilha, ainda comandada pelo mestre John Williams continua poderosa e inesquecível.
Este é um filme bem mais sombrio que o primeiro - Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, 1981 - até por que os temas são bem diferentes, sendo mais misteriosos neste segundo filme. O tema do fanatismo religioso, do voodoo e da magia negra até que são interessantes e explorados bem, mas a estrutura narrativa perde força ao se desenvolverem, ainda que superficialmente, tais temas.
O problema maior aqui foi que o filme simplesmente faz questão de repetir a fórmula de sucesso do primeiro. Porém, mesmo assim, o filme é bem inferior. O personagem de Indiana Jones é a personificação do anti-herói ganancioso e egocêntrico e toda a discussão sobre os trabalhos forçados das crianças indianas foi bem besta. Ele chegando na mina e libertando as crianças foi uma tentativa de enobrecer o homem. Tentativa falha e que ficou bem forçada e contratual. Apesar dos revezes, Indiana conserva seu carisma intocável e suas atitudes inusitadas, muitas vezes carregadas de humor.
O menininho Shorty foi algo totalmente desnecessário. Indiana Jones ajudando crianças órfãs da máfia japonesa? Conta outra. O anti-herói não tem tempo e nem paciência pra isso. E além disso, o indiana jones júnior é chato. Já a cantora, mesmo sendo o personagem mais plano dali, ainda consegue simpatizar, seja por suas curvas ou pelos seus gritos histéricos, bem caricaturais e irritantes.
Enquanto o primeiro filme tinha como pano de fundo a luta com os nazis, este aqui tem a relação dos civilizados com os colonizados. A estrutura comparativa entre os americanos - gananciosos - na figura de Indy e de Willie com os indianos, apegados em crenças, mitos e no potencial salvador da civilidade ocidental é um grande alegorismo ao imperialismo americano que está mais forte que nunca nos idos de 1984, ano do filme.
Mesmo assim, é um filme bem divertido. Indiana Jones diverte como nunca, e a ação aqui é maior que no primeiro filme. A exploração de novas armadilhas, complicações e perseguições na trama deixam o espectador desnorteado, mas elétrico com os acontecimentos. Algumas das mais clássicas sequências da trilogia estão neste filme como: A sequência de perseguição de carrinhos de mina à lá Donkey Kong; a sala com o teto esmagador, ou toda a sequência inicial, de tirar o fôlego.
Indiana Jones e O Templo da Perdição é bem mais fraco que o primeiro da série, mas vale pela diversão e pelo ritmo elétrico de um roteiro, ainda que não desenvolvido, mas bem leve, envolvente e com ótimas tiradas cômicas.
Indiana Jones e A Última Cruzada - [80]
"Um Indiana Jones mais completo". Foi a primeira coisa que pensei quando acabou o filme. Aqui, Indiana vai libertar seu pai, Henry Jones (Sean Connery) de uma prisão nazista e tentar encontra o Santo Graal, relíquia milenar que, segundo a lenda, foi o cálice que Jesus usou na Última Ceia e onde seu sangue foi derramado no momento da crucificação. A quem se apoderasse da relíquia uma bênção: a vida eterna, além de glória e poder. Novamente como no primeiro filme, o maior inimigo dos Jones aqui são os nazistas. O Füherr deseja se apossar do Cálice Sagrado e conduzir seus exércitos para uma triunfante vitória na Segunda Guerra.
Aparentemente, Lucas e Spielberg viram que o segundo filme não foi lá tão bom, aí resolveram fazer algumas modificações. Neste caso, não temos indianos esfomeados e vilões fracos e alegóricos. Os vilões aqui são os nazistas, mostrados com profunda rejeição, maior até que no primeiro filme. Em certo momento, o personagem de Sean Connery diz que Hitler quer o Cálice para marchar com os seus "exércitos do mal e das sombras" e cobrir a humanidade de escuridão. Algo assim. Me lembrou até Gandalf falando de Sauron. Mas é isso mesmo, os nazistas aqui são uma espécie de Sauron disfarçado de gente. Pura propaganda ideológica, que apesar de não contemporânea, é constante em toda Trilogia.
O pai de Indiana, Henry Jones é um personagem interessantíssimo. Lucas preferiu aqui só desenvolver este e o próprio Indiana Jones, coisa que não foi feita em nenhum outro momento dos três filmes. Indiana Jones deixa de ser um personagem plano aqui, com isso a trilogia ganha uma nova perspectiva. Outra vantagem aqui foi a presença de uma personagem feminina (Alisson Doody, a mais linda da trilogia) mais ausente, o que não acontece no segundo filme. Isso a torna menos forçada e o roteiro flui melhor, dano pano de fundo para sequências inteligentes e reviravoltas envolvendo os personagens.
A sequência inicial. longa e cheia de ação mostra Indiana (River Phoenix) escoteiro e sua paixão precoce pela arqueologia. O legal desta cena é que descobrimos o porquê da aversão do professor e caçador de tesouros à cobras e como ele começou a usar o chicote, sua arma clássica e bem versátil. Afinal, serve como corda, como arma de ataque, de defesa, sendo menos refinada que uma PP7 de um James Bond, mas mais original que a mesma. O primeiro ato também mostra a tortuosa relação pai/filho e quais foram os motivos para estes terem ficado quase 20 anos sem se verem.
Isso foi um dos pontos mais fortes de toda a trilogia, e que reflete também a complicada relação que o diretor Steven Spielberg enfrentava com seu pai. Isso também pode ser visto, mas numa visão oposta, em Prenda-me Se For Capaz, seu último filme desde The Terminal, que estréia este ano nos cinemas do Brasil.
O engraçado em Indiana Jones, é que, desde o primeiro filme, a trilogia apela para cenas que lembram filmes de baixo orçamento, como a que os nazistas explodem em Caçadores da Arca Perdida ou a que o nazi fica velho em segundos em A Última Cruzada. Há a homenagem a alguns filmes de terror, principalmente nas longas sequências sombrias em que os personagens dividem espaço com os animais mais asquerosos e assustadores já vistos (a sequência dos ratos neste terceiro filme é genial) e claro, o humor propriamente dito, que marca toda a trilogia, sempre com tiradas leves e muito bem sacadas, sendo a maioria destas empenhadas pelo humor altamente irônico de Indiana.
Indiana Jones e A Última Cruzada é sempre considerado o segundo filme da trilogia, atrás de Caçadores da Arca Perdida, por muitos fãs, mas por sua energia, sequências altamente envolventes e cheias de ação salpicadas com um humor muito bem colocado e um roteiro muito bem escrito (o melhor da trilogia), eu considero-o o tabalho mais criativo e poderoso dos três. Na visão geral da trilogia, a considero excepcionalmente criativa e inovadora, além de muito divertida, o que remete a um dos sentidos básicos do Cinema, a diversão.