Estranho eu pensei já ter dado pitaco sobre a questão.
Não deve ser fechado. Não porque é seguro, antes porque é inseguro.
Sério! Somos uma sociedade estranha pacas, visto que PRECISAMOS ainda fazer sacrifícios humanos, apesar de não mais ser dedicados a alguma divindade fundamentalista.
Mesmo considerando-se o índice de acidentes aéreos (dois em um ano) ser grande (afinal outro grande pais que usa avião pra caramba é os EUA e não tiveram dois acidentes/fatalidades... 11 de setembro foi intencional), ainda é o suficiente para que a poeira abaixe, e as pessoas deixem como estão. E como disse o Logan, o índice é bem baixo comparado com outras causas mortis.
Acho que de tanto eu ficar matraqueando, minha telepatia anda alcançando mais pessoas gradualmente. Vi um especialista dizer o mesmo que eu disse, um cara comum no trem dizer o mesmo, etc..
Um acidente é uma conjunção de coisas 'insignificantes' (dois mais dois dá quatro mas coloca seis que eu garanto), que normalmente sozinhas não dá nenhum problema. Mas Murphy diz que se as chances são de 1 em um milhão de algo dar errado, então dará errado.
Quando no Ames Lab, tive de passar por um treinamento "chato" (entendam que eu era jovem, e muito ainda na minha cabeça era coisa de orientação brasileira de fazer tudo de qualquer jeito), de segurança. Em resumo, passei dois meses sem poder fazer nada "perigoso" porque não tinha feito o curso de segurança.
E uma das coisas "chatas" foram 3 horas de video educacional.
Um dos vídeos mostrava um Ames Lab detonado porque alguém esqueceu de destravar as válvulas de emergência dos gases. Outro vídeo mostrava o que acontecia se a gente ligava o raio xis e botava dedão lá dentro.
Mas o mais interessante foi o vídeo de transito.
Havia um cidadão com o volume no máximo, outro fumando um cigarrinho, uma mãe com um pentelho desobediente no banco de trás, e um terceiro sonado teimoso e pão duro para pagar um motel (motor hotel) e descansar.
Normalmente esses caras abusando 'um pouquinho' não acontece nada.
Mas então, o cara com volume no máximo resolveu ultrapassar o fumante, e com o vento a cinza do cigarro caiu no colo do fumante, e começou a queimar a calça de poliéster, brecando bruscamente. A mãe que estava histérica com o filho que derrubara um suco, não viu e bum, só que o sonado foi com tudo na traseira da mãe.
Temos no Brasil um monte de ilegalidades toleradas. Que isoladas, todo mundo diz "ninguém vai sentir falta, ninguém vai ser prejudicado com isso". Então deixamos construir nas ribanceiras de morros casas prontas para serem soterradas, deixamos construir em mananciais, achamos que tudo bem comprar remédios vencidos, etc..
Até o momento, temos algo em torno de 3 mil e 663 mortes nas estradas, e estamos no meio do ano. Dobrem esse valor até o final do ano.
Por ano temos uns 50 mil homicídios (dados de 2004).
Fatores variados, desde as condições ruins das estradas, da sociedade, etc..
O fato é que são tragédias isoladas, e que por isso não chamam tanta a atenção do público. What the hell, nem o caso do João Helio chama mais atenção
Sensação de desamparo, de impotência, raiva? Sim, mas não na escala de dois acidentes de avião. O primeiro podem culpar 1) controladores e 2) pilotos do Legacy.
E apesar da desempregada que comprou coisas no Armarinhos Fernando e voltaria de avião para Belém, aviões de grande porte tem indice de acidentes bem menores que os de pequeno porte. Vide Ulisses Guimarães, empresário Diniz no mar, Mamonas, etc.. Ah, o Bento também quase foi.
Ou seja, pela primeira vez, a "elite" está sujeita a morte tanto quanto nós pobres mortais. Tá... tem muitos pobres mortais morrendo junto (eu inclusa em algum momento), mas vocês pegaram a idéia?
O descaminho e ingerência agora cobram o seu preço até de quem imaginava-se fora de seu alcance. Claro, que ainda quem paga ainda o maior dos patos somos nós.
E isso digo sobre esferas municipal, federal ou estadual. Afinal, o Kassab-presente não anula a brilhante idéia dele cobrar multa dos moradores de casas pichadas (depois da prefeitura pintar as casas)
, ou da idéia do Serra em cobrar pedágio no rodoanel para pagar o que falta (mas aí que não desafoga mesmo o trafego da grande são paulo)
, ou do Lula que não se decide de que lado fica na questão dos controladores versus militares (mesmo decidindo-se pelo lado errado, ao ver que só fazem besteira, ele teria de ver o outro lado da moeda)
E também na esfera social: eu perguntei faz tempo se alguém lembrava-se de qual foi o dePUTAdo e senador em que votou. Tristemente apenas uns gatos pingados lembravam de um ou de outro. Ninguém me respondeu os dois nomes.
E a grande maioria respondeu que 'político é tudo corrupto', sem nem ao menos fazer uma averiguação dos nomes disponíveis. Ou mesmo que não vencendo a pessoa em quem votou, ou não votando mesmo, também não vigiavam os que lá estão no mandato.
Vigiar o presidente, o governador e o prefeito (nessa ordem, como eu mesma fiz) é fácil, porque eles sempre estão em destaque.
E isso porque somos "melhores" que os analfabetos que votam num cara que pagou a conta de luz de toda a favela. (porque isso não é levar vantagem, já que o mesmo analfabeto perde uns dois ou três filhos pra violência que o doutor num quer resolver
)
Ou seja, nossa ingerência também cobra o preço de nós. Que a grosso modo, também nutrimos a sensação errônea de estarmos protegidos 'do resto do mundo' (afinal, eu estou na www, tenho desenvoltura com computador, etc..)
E também o analfabeto (funcional ou real) sente-se protegido pelo seu "padrinho".
É meio triste ter de tirar o cobertor de um mendigo. Mas as vezes é necessário, para que ele não morra congelado na rua.
E é essa nossa situação no momento. E neste sentido, como na Gol, é necessário mais uma tragédia, para que não possamos cobrir o sol com a peneira.
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Sobre Cumbica (cuja tradução seria "nuvens baixas"
) um amigo comentou que antes da construção deste aeroporto, havia uma enorme movimentação perto de Piedade para a construção do Aeroporto Internacional. Faz sentido, afinal por aquelas bandas o terreno é plano, seria bem ao lado de uma rodovia e de uma ferrovia, no máximo uns 20 minutos de São Paulo, e o melhor: o tempo é mais aberto que aqui na nossa terra da garoa, ou em Guarulhos-Nuvens-Baixas.
Mas depois tudo foi deixado para lá, e fizemos o de Guarulhos. Estranho, né?