Po, que merda hein. Eu adivinhei as duas surpresas (Rorschach e Ozymandias) da HQ. Nem teve graça. Alan Moore é uma bicha.
Anyway, mesmo assim, a HQ não perdeu o impacto. O massacre em Nova York é espetacular, muito poderoso e chocante.
Bem, por personagens, um breve comentário:
RORSCHACH: Talvez meu favorito. No começo, eu imaginei ele como uma pessoa de honra e honestidade, que realmente lutava pela justiça e paz no mundo, mesmo que por métodos "ilegais". Mas depois que a sua história de fundo é revelada(por uma sequência foda dele matando dois cachorros e um sequestrador), e aparece a opção de Kovacs ser um cara totalmente maluco, psicótico e traumatizado, você começa a duvidar de tudo. Ah, eu consegui adivinhar que ele era o cara da placa do "Fim do Mundo" pq esse cara da placa segue o Moloch depois do funeral do Comediante... E adivinha quem aparece na casa do Moloch? Rorschach! ehheheeh! Mas mesmo assim foi cool. E no final, o Rorshach tomando a decisão de contar para o mundo o que foi realmente feito no massacre a NY, e o Manhattan impedindo ele, eu tive pena e dó. Pois, no fundo, eu acreditava que Rorschach não era um psicopata, mas sim um verdadeiro justiceiro mascarado. Ainda bem que ele deixou o diário dele!!!!!
DR. MANHATTAN: Empatado com o Rorschach como o meu personagem favorito. Ele era um homem e depois se tornou um Deus. O modo ele como foi descobrindo isso, lentamente, foi espetacular. No capítulo 4, ele teve essa realização. Ele entendeu completamente a atemporalidade do universo, da insgnificância dos seres humanos, do fato de não necessitar deles (talvez por ter sido abandonado 2 vezes, traumatizado). O seu discurso poético/mindfuck/sci-fi é brilhante, "a fotografia está na minha mão". A construção daquela torre de vidro em Marte também foi outro momento "Manhattan" brilhante. E ele andando por cima d'água. Eu gostei do fato de que a Laurie teve que ir para Marte com ele para convencê-lo de que ele precisava ajudá-los, que ele era a única esperança, e a dificuldade em aceitar que os humanos valiam alguma coisa. Demais.
LAURIE: Eu pude simpatizar, como um ser humano (hehehe), com a dificuldade que Laurie tinha em conviver com Manhattan. Viver com alguém que sabe o que você vai fazer, que sabe como você vai morrer, que sabe como o Universo funciona, como o universo se meche, conviver com um Deus? Seria assustador demais para alguém aguentar. A sua convivência com o Dan a ajudou a entender que ela não podia mais se relacionar com alguém não humano, que ela precisava de alguém que realmente amaria ela. Ela se entregou a Dan, no momento em que estava vulnerável. Eu também gostei do fato de que ela não gosta de ser uma heroína, ela foi meio que preparada e influenciada pela mãe a seguir essa carreira.
DAN: O herói que desistiu. No primeiro capítulo, aparece uma imagem grande de Dan sentado em um caixote no seu porão, com a porta de um armário aberta ao seu lado, e a sua roupa pendurada. Dan apoiava sua cabeça no seu braço, deprimido. Foi nessa hora em que vi que existia algo realmente especial nessa HQ. Que os personagens realmente tinham problemas, não era só mais um conflito do "grande dicionário de desenvolvimentos de personagens", eles eram reais, palpáveis. O Coruja é vulnerável, tímido, gordo, decadente, tem um fetiche por sua roupa de herói, e vive como se ainda fosse uma criança com um grande playground. Isso soa como um super-herói? Não. Mas o seu personagem tem um arco, e a medida que a história passa, e ele se apaixona, ele muda. O seu trabalho de Justiceiro dá um novo impulso na sua vida.
COMEDIANTE: Contado via flashbacks, e o fósforo que acende a trilha de querosene dessa história inteira, o seu assassinato pareceu trágico no começo, mas quando descobrimos o que comediante era, e o que ele fazia, muda a sua perspectiva totalmente. Ele, como Rorschach disse, entendia o mundo, e simplesmente não dava a mínima. Era cínico. Daí o nome. Ele levava tudo como uma piada. O seu bebê no Vietnã, os seus conflitos com a polícia e com a população, e no final, o seu arrependimento... Quando ele confessa o que ele sabe sobre a ilha para Moloch, quase chorando, totalmente desesperado, você sabe que o que está por vir vai ser realmente chocante. Pois abalar o Comediante não é algo fácil.
OZYMANDIAS: Maluco? Gênio? Mal? Bom? Todas as opções? O que ele faz, o que ele cria, realmente é algo que questiona a moral de todos os personagens e leitores. Ele coloca uma pergunta no final, que requer muita reflexão. O que ele fez foi certo? Explodir NY? Fingir uma invasão alienígena? Será que o que custou a vida de todas aquelas pessoas deve permanecer escondido, secreto, para o bem (ou mal da humanidade)? E os heróis? Pq eles aceitaram (com exceção do Rorschach) o que Ozymandias fez? Eles estavam cansados de lutar? Anyway, eu sempre imaginei que ele fosse o "assassino de mascarados" e que estava por trás da ilha. Era o único que tinha poder, status, dinheiro e inteligência para um plano desses. A maior dica foi no capítulo 9, quando Manhattan fala de um futuro obscuro, dele matando alguém na neve (Ozymandias mora na neve).
Anyway, outros momentos que eu adorei foram:
* Toda a cena de resgate de Rorschach da cadeia, completamente e totalmente foda. Desde o encontro com o Grande Figura (extremamente engraçado e negro) e o resgate de Dan e Laurie, de volta nos uniformes e em espirito de heróis. Uma grande cena, super tensa e atmosférica.
* O conto de Rorschach sobre como ele passou de Kovacks para o seu estado no momento. Matando os cachorros. Procurando a menina. Matando o sequestrador. Queimando a casa. Vendo o fogo se propagar, em reflexão. Passado sombrio...
* O capítulo 4 e 9 inteiros são excelentes. São os mais mindfuck/sci-fi da história, a ambientação em Marte é de babar, e os discursos de Manhattan, e aquela torre de vidro, o passado dele e de Laurie. E especialmente, o final do capítulo 9, a sua mudança de idéia, decidindo voltar para a Terra, se fascinando pelos "milagres" do nascimento, e a cara do Comediante aparecendo na superfície de Marte (uma óbvia paródia da "The Face", a formação que eles descobriram em Marte com o formato de um rosto). Me deixou sem fôlego.
* O final em Manhattan; chocante, poderoso, o Alan Moore deve ter umas bolas grandes pra incluir uma cena daquelas. Bem polêmico e controverso. O sangue por todo lado, corpos estraçalhados e os tentáculos do "Grande alienígena" espalhados por todo lado.
* Os vários simbolismos, referências ao passado e futuro de personagens, ironias, imagens completamente detalhadas com informação obscura, o sentimento de prazer imenso a cada vez que você percebe uma referência (devia ter no mínimo 3 por página) e o esquema do Moore combinar diálogos em uma cena com imagens em outra, meio que ironizando algum evento. Também espetacular.
O único pequeno problema pra mim na HQ foi o capítulo 11 e 12. Tipo, o que acontece, a narrativa, os personagens etc. É tudo espetacular. O que soou meio forçado foi o "discurso de explicação" do Ozymandias. Parece que acabou o espaço do Moore e ele teve que expremer tudo nesses últimos capítulos. Podia ter extendido a história para mais 1 capítulo e ela saíria mais folgada e com mais rítimo. Ainda não deixa de ser muito tensa e emocionante.
Anyway, eu gostei.
EDITANDO: Eu li numa entrevista do Moore que ele fez uma referência no final da HQ sobre o Tarkovsky (um diretor russo que eu adoro) e dois filmes dele, "Nostalgia" e "O Sacrifício". Super cool.