Eu usei o produto como sendo um exemplo embora não tenha sido o melhor (Mas talvez certos pontos dele sirvam para refletir). Quais seriam os pontos de uma sociedade como a nossa que pode ser livre ou não ao mesmo tempo?
Desculpe-me Beriadar se não fui muito claro (ou talvez eu ainda não continue sendo), esse tema é algo que não estamos acostumados a tocar.
Desculpe, mas não é culpa do capitalismo. Que é a mensagem por trás de seu post.
Nunca encontrei um socialista ou religioso, que vive demonizando os "capitalistas selvagens", falar de igual para igual com um ser "inferior". Se o inferior é uma criança birrenta, põem-no de castigo, se for uma criança obediente, paternalizam para "educar o ignorante".
A meu ver ambas são atitudes totalmente humilhantes, por mais que as pessoas não percebam que piedade é humilhação.
No entanto, já encontrei milionários, e até bilionários. Não os ladroezinhos políticos ou os malandrões que casam com modelos. Falo de pessoas que construiram impérios começando de mercadinhos, e que ensinaram seus herdeiros para não virar Matarazzo (hoje só tem uma fabrica de sabonete, e os herdeiros foram p/ linha casar-se infinito).
Mesmo quando são herdeiros que põem a mão na massa, eles são entusiasmados e tratam micro-acionistas como eu como se fossem sócios majoritários.
Já aconteceu com um conhecido nosso (eu e do meu noivo) - viajando na classe econômica da Gol, naquelas promoções que vocês conhecem - encontrar André Gerdau. É esse mesmo. Ele reconheceu o famoso herdeiro e aproximou-se em tom de deboche "e aí socio?".
André Gerdau se surpreendeu com a abordagem e respondeu animado "Puxa, você tem ações da Gerdau!?"
Nosso amigo meneou afirmativamente com a cabeça, e André Gerdau falou "puxa vida, senta aqui sócio, vou te mostrar os projetos futuros!"
Se fosse apenas com esse caso isolado... Antônio Ermínio de Moraes também é gente simples e afável quando você o aborda na rua (para desespero de seus guarda costas que não querem que ele fique andando solto por aí)
Warren Buffet destina bem mais dinheiro para caridade do que para seus filhos "Vou deixar para eles dinheiro suficiente para poderem fazer o que quiserem, mas não dinheiro demais para não fazer nada na vida".
Bill Gates não vai deixar sua fortuna tão somente para seus filhos pelo mesmo motivo. Sua fundação de 38 bilhões, a maior parte do dinheiro é dele (28 bilhões), de Warren Buffet e Rockfeller. A fundação recebeu críticas de que investe em empresas que pioram a pobreza, mas essas críticas só foram possíveis porque ao contrário de outra conhecida fundação filantrópica, a dele é transparente para que seus partipantes vejam COMO o dinheiro é usado e gasto seus fins de caridade.
Porque essas empresas - ao contrário dos executivos da GM - tem maiores chances de continuar no topo?
Porque seus fundadores entenderam algo que Ford não tinha condições de saber na sua época: a maior responsabilidade de uma fortuna é pelas pessoas que dependem dela. Empregados e funcionários são uma extensão de sua responsabiildade: falindo uma empresa como a Matarazzo faliu, aquele cortejo gigantesco de funcionários no funeral do conde Matarazzo foi parar onde?
Verdadeiros capitalistas agem como Lars Grael, como a família Gerdau, e vários outros.
Quem fez o sub-prime foram os devoradores e tubarões de mercado. George Soros - que não acho confiável mas ainda assim é necessário ler o que ele escreve - afirmou em 2006 "não é possível continuar essa valorização de 2 dígitos em imóveis. É uma dos movimentos de 'prosperidade' que se auto-alimenta no começo mas quando começa a dar errado, também se auto-alimenta vertiginosamente para a falência". O que aconteceu em 2008?
Como disse, não gosto de seguir o que Soros fala em investimentos. Mas o fato que tenho de admitir é que ele é um dos pintados vilões do capitalismo, ele foi uma das vozes "parem com essa loucura antes que seja tarde".
Quem foram os tubarões responsáveis por essa birosca eram especuladores que queriam manter sua vida de milionário. Entendam que manter vida de milionário não é o mesmo que ser milionário.
São apenas gente comum com olho gordo.
Os Madoffs, gente que não cria nada e só gerencia dinheiro (uma ilusão se não houver lastro) ou vários que se acham elite não são milionários. São Ponzis e Ronald Biggs, e como tal, morrerão na sarjeta.
Esse é o comportamento de pobres deslumbrados com dinheiro, e que pensam que o dinheiro é só deles. Esse pessoal quer viajar na classe luxo, ao contrário do Gerdau que falei, do Ermínio que pinta o portão da sua casa no final de seman, e de Warren Buffet que anda de fusca e mora na casa de 31 mil dólares.
Agora sou livre?
Sim sou.
A grande questão é que 95% das pessoas preferem o caminho fácil, a armadilha dos ratos.
Por exemplo, se a educação é ruim, a culpa é do governo, do professor, da escola... OK, não duvido que muitos dos meus colegas de adolescência continuem na merda, ou pior, mas o fato é que passei pela mesma estrada e vi oportunidades.
Onde todos diziam "que saco vir para a escola, não aprendo nada que preste pra vida", eu percebi que não era papel do professor me dizer onde eu devia usar o martelo. Só usaria na caixa de tomate do exemplo, ou poderia extrapolar e usar o martelo para construir casas, fazer obras de arte e esculturas?
Um professor de Max Gehringer disse para eles quando faziam zona: Não me importo com a bagunça de vocês, estou ensinando só para os 5% que vão ser alguém na vida.
E então vocês percebam, já que ele é mais velho que eu, que esse padrão se repete sempre nas escolas. As pessoas não percebem o que estão perdendo, a não ser quando alguém avisa. Gehringer continua: todos ficaram quietos porque todos achavam que eram os 5%. O fato é que Gehringer percebeu o professor antes de todo mundo: aqueles maria-vai-com-as-outras sempre vão precisar de alguém avisando "olha isto é uma oportunidade" e nunca vão reconhecer sozinhos.
Um tio meu foi jogado na rua com na tenra infância dos seus 8 anos. Olha só: Japão pós-guerra, milhares de crianças morrendo de fome nas estações de trem. E quando falo morrendo de fome imagine esta cena: a criança apática sentada no chão da estação e de repente cai para o lado morto. O zelador apenas comenta "mais um chama o lixeiro".
Essa era a situação de meu tio, cujo "crime" foi ser rebelde em não aceitar o nome do padrasto. Ele queria manter o nome de seu pai. A mãe não fez nada para impedir e o filho foi pra rua.
As peripécias de meu tio nunca soube. Ele morreu antes de eu nascer. Só sei que ele perdeu uma das pernas durante a infância: provavelmente gangrena com os pés descalços na neve. E só sabemos disso por um motivo: durante o período que ficou no hospital - onde finalmente morreu por erro médico - minha mãe procurando um livro sobre anatomia nas malas dele, encontrou uma mão humana, macia ao toque.
Só que não era humana. Era uma prótese.
Imagine que tipo de qualidade de vida, as pessoas com deficiência teriam se tivessem esse tipo de prótese hoje, hm?
Pelo mesmo motivo, ninguém nunca percebeu que ele não tinha uma das pernas: a prótese dele era impecável e permitia a ele andar normalmente sem mancar.
Como ele morreu? Um dia, minha tia estava contando bifes, e um assaltante idiota achando que contava dinheiro invadiu a casa dele. Furioso por não terem dinheiro, atirou no meu tio. Ele foi para o hospital e seria salvo, se durante a operação o cirurgião não fosse um idiota que derrubou algum antisseptico no fígado dele, que gangrenou e morreu de cirrose.
Ouvindo essa história, minha conclusão foi a seguinte: minha casa era cozinha, banheiro e quarto, mas eu tinha uma casa, tinha roupa e tinha comida para me manter. Era minha OBRIGAÇÃO MORAL tendo mais que meu tio, ter mais sucesso que meu tio. Não importa se a escola pública era uma merda, eu não precisava ler o livro só até onde o professor mandou: eu lia o livro inteiro, mesmo sendo "chato" como falavam os colegas. Aliás, nunca achei chato.
E a segunda conclusão é que o mundo e as pessoas não merecem pena. Como disse, meu tio morreu por culpa de dois idiotas: um assaltante e um médico. Por que eu teria pena de idiotas, se eles é quem acabam com as pessoas boas que fariam muita diferença no mundo?
Ah, mas não é todo mundo que pode virar milionário. Deve existir pobres para existir milionários.
Dos 10 mais ricos pela forbes, a meu ver 2 são suspeitos desse tipo de mentalidade. O resto mantém funcionários com vida digna, apesar que sempre empregado - como diz Gehriger - vai achar que seu salário não basta.
E todos os que pensavam assim no passado morreram na miséria. Dos que são éticos, parte também acabou na miséria, mas NÃO TODOS.
Essa é a diferença fundamental.
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Quando houve quebra na bolsa em 2008, vários conhecidos que investem na bolsa falaram: não é justo que a população perca suas casas por causa dos acionistas gananciosos. Pra que pagar os dividendos para esses acionistas?
Achei absurdo tal declaração vinda daquelas pessoas: se eu ponho meu dinheiro numa empresa, eu quero que esse dinheiro seja usado para a empresa crescer e que depois ela me devolva o dinheiro muito bem corrigido. Não faço isso por "caridade".
Não são os acionistas os corruptos: eram os especuladores, os executivos da GM/GE/etc., que usam o dinheiro dos outros pra fazer merda. E que por isso era vergonhoso dar bonus para esses funcionarios incompetentes e deixar os investidores sem o retorno.
Mas tão arraigado foi esse adestramento escolar de que a "culpa é do capitalitas", que mesmo pessoas investidoras declararam a mesma besteira que eu esperaria ouvir de um militante de Fidel.
Por isso que eu disse no começo desta resposta: escuto isso desde quando eu era adolescente. E muitos jovens neste sentido realmente não são livres: ao contrário de minha pessoa da época dos caras-pintadas me recusei a fazer parte daquela palhaçada da Globo, os jovens de minha geração aceitaram INQUESTIONAVELMENTE as palavras de algum mentor.
Novamente o padrão se repete: eu conseguira 50% de desconto em uma escola particular, onde a educação seria melhor. Porque meus colegas não conseguiam pensar sozinhos? Porque apresentada a oportunidade, eles não sabiam e menosprezaram.
Siddharta disse: nunca aceite cegamente as palavras de qualquer mestre... mesmo as minhas.
Só que estas palavras só ouvi muito tempo depois, quando eu já tinha 30 anos de idade. Se fosse esperar que alguém me ensinasse isso quando criança, seria como meus colegas que até hoje esperam que alguém aponte o dedo e diga "olha uma oportunidade!".
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Quanto a ser livre, o problema reside que quem vive em uma não sabe o quão difícil é sua manutenção, comparada a sociedades não-livres, fechadas.
É fácil entender a liberdade quando você está preso. O difícil é entender quando você a tem.
Outro dia, um ex-preso reclamou no trenzão que depois de levar um tiro e ficar inválido, agora precisava de ajuda para se levantar. Bulllshit! Quando tinha um corpo sadio não deu valor, o "Destino" tinha mais de colocar um obstáculo DE VERDADE para ele.
Essa analogia é necessária para que eu não tenha piedade de "gente desafortunada". Já dei aulas como voluntária: novamente de uma classe de 50 alunos, 47 iam para namorar, fofocar. Três alunos realmente estavam dispostos a aproveitar a chance.
Não, você não oferece oportunidades indiscriminadamente. O importante é lutar, pois oportunidades estão o tempo todo aparecendo, mas jogam fora porque não é fácil!