Um aviso aos meus colegas: na parte de baixo do vídeo coloquei alguns links com cotejo e análise das traduções, caso alguém se interesse.
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O que ocorre com ela é que ela usa um dos principais problemas da sociedade brasileira: o bacharelismo. O Sergio Buarque de Holanda fala disso no Raízes do Brasil... É essa coisa de que "saiam da frente, o doutor chegou!". E isso acaba sendo desagradável porque ela só usa esse argumento, de que ela estudou, de que ela sabe... Sou um pouco incomodado com isso, pois já fui muito chutado de discussões que tentei participar com argumentos assim ("você não é formado? Ah, então você não sabe do que está falando...").
Não vou mentir: já fui como ela, mas hoje penso que qualquer um que tenha interesse precisa ser inteirado do assunto e incluído. Se tiver algo a contribuir, ótimo. Caso não, ao menos pode aprender. Se falar besteira, a gente corrige. Simples assim. O problema é justamente termos intransigentes nos dois campos: os que aprenderam e não querem repassar e os que não aprenderam, querem aprender, mas não tem tato pra entrar na discussão. (Meu Deus, aqui tem mais categorias complexas que num romance do Dostô!)
Mas não vou chover no molhado. Por mais herético que isso possa parece pra alguns, a única diferença entre um leitor qualquer e um phD em literatura é a carga de livros que o último leu pra falar sobre algo. Mesmo porque, não tem problema nenhum você, sei lá, falar que a tradução do Galindo é uma bosta, citar trechos, fazer uma análise e depois vir alguém e desmontar seus argumentos. Se tem uma coisa que eu aprendi com a leitura, é a não ter medo de quebrar a cara... Aliás, quebrar a cara é bom. Sei lá, eu acho engraçado
(e inclusive me lembro de algumas vezes que quebrei a cara no Meia Palavra)
Não é só a carga, mas o que ele reteve também, Mavericco. No entanto, "doutor" é apenas um título - o cara estudou e tal, merece o reconhecimento. Mas isso o torna um semi-deus? Claro que não. Contudo, se ele disser um "ai", seria interessante ouvir o que tem a dizer. Se não concordar, prove por A + B por que você discorda - e não é isso que se faz no meio acadêmico o tempo todo?
E no fundo nós nunca sabemos tudo sobre uma obra.
Pois é. Vide que "Ulysses" tem menos de 100 anos e causa dores de cabeça homéricas.
Se puder, leia "Pierre Menard", conto do Jorge Luís Borges - é um belo tapa na teoria da invisibilidade aparente do tradutor, justamente o cara que mais deveria saber sobre a obra.
Tava vendo o vídeo do camarada Bruce Wayne e em determinada parte ele fala que o Ulysses acompanha 16 horas da vida de um homem... Aí eu pensei: mas Batman, são 24!... Só que depois eu me alembrei que o dia do Leopold Bloom não começa às zero horas... E, por mais que alguns capítulos sejam mais extensos que outros (o Circe com certeza tem mais de uma hora assim como Os Lestrígones deve ter menos), no final das contas não só dá algo mais ou menos por aí, como você acaba observando que o dia não tem 16 horas só pro Bloom, mas pro Stephen e pra todos os outros personagens... Claro que isso parece ser um pouco idiota, mas foi algo que nunca tinha parado pra pensar.
Mas foi justamente essa a minha lógica: o cidadão médio dorme entre 6 e 8 horas - em Dublin, começo do século XX, não devia ser diferente.
Os caminhos deles se cruzam, mas as narrativas das personagens não se somam temporalmente - elas se complementam. Não acho que seja algo "idiota", Mavericco, é um ponto importante a se pensar. Se você pensa comigo que se passaram em torno de 16 horas na vida de um homem comum, a mímese/verossimilhança fica mais clara, e aí você aplaude o Joyce mais ainda por atentar (conscientemente?) para esse detalhe.
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Não foi meu objetivo desmerecer os estudos literários, mas me expressei mal mesmo.
Bom mesmo, até porque estou querendo fazer uma pós.