Lu Eire disse:
Parece que hoje em dia "tristeza", "depressão", "confusão", "crise existencial" são sinônimos de "profundidade", "conhecimento", "cultura".
Vocês também percebem isso?
Lu, por vezes tenho essa sensação também, mas é a primeira vez que penso sobre isso (ou seja, não espere muito refinamento no comentário).
Quando penso em algo "profundo", penso logo em algo que seja extremamente elucidante, revelador, que descortine a pergunta "informulável" que está latejando na minha mente e que resulte numa enxurrada de perguntas, insights e incertezas. Muito possivelmente algo profundo pra mim há que esbarrar no existencialismo ou na teologia. [size=xx-small]Engraçado, quando penso em "conhecimento", o pensamento imediato é relacionado ao ensino escolar/universitário. Que pobreza!
[/size] Enfim, acho que temas mais depressivos me fazem andar mais facilmente por esse caminho do que leituras mais alegres.
Na verdade, acho que a alegria anda muito mal explorada, até porque ela é bem, mas bem mais difícil de ser transcendida do lugar comum. Daí a abundância de maus exemplos acaba fazendo a gnt pensar que quem se deixa seduzir por ela não tem profundidade ou é um "bobo alegre", rs.
(...) pessoas que "falavam de coisas inteligentes" e faziam cara de blasé só para se afirmarem quando na verdade eram ocas por dentro.
Desculpa, Lu, mas não consegui ver encadeamento no seu fluxo de raciocínio entre os parágrafos, e tb não li O Apanhador - pode ser por isso que não saquei mt bem o elo entre esse quote e a pergunta antecedente "mas será que isso é sempre pra melhor?"
Fato é que todos os excessos são prejudiciais e podem descambar para esse lado doentio, e a arte, mesmo sendo algo louvável, desejável e positivo, não foge disso. Andei lendo um livro do C.S.Lewis e ele fez uma consideração interessante sobre o êxtase provocado pela fruição artística:
Ah, queremos muito mais — algo com que pouco se ocupam os livros de estética. Mas os poetas e as mitologias conhecem-no muito bem. Não queremos a mera contemplação da beleza, embora, Deus o sabe, isso já constitua grande privilégio. O que queremos dificilmente seria dito em palavras — ser integrados à beleza que vemos, queremos ser como ela, tê-la em nós, mergulhar nela, fazer parte dela. Por isso povoamos os ares, a terra e a água de deuses, e ninfas, e gnomos — para que, embora não possamos nós, possam essas projeções gozar a beleza, a graça e o poder de que a natureza é imagem. É por isso que os poetas contam-nos mentiras tão adoráveis. Falam como se as mais leves brisas pudessem de fato penetrar na alma humana; mas não podem. Dizem-nos que "a beleza nascida de um murmúrio" pode tomar a forma de um rosto; mas não pode. Pelo menos por enquanto.
(grifos meus)
Bem, ele deu palavras à ideia que eu nunca consegui expressar. Quando a arte deixa de ser um instrumento e vira um fim em si mesma, ela nos esvazia um bocado, porque, em geral, a arte, e principalmente os livros, são uma via de mão única. Temos toda essa ânsia por nos fundirmos a ela, mas ela não é um ente relacional, não nos trata individualmente, não nos reconhece como pessoas únicas e criativas. É só um objeto que aponta para uma beleza inebriante com a qual não podemos nos fundir. Assim, na impossibilidade de unificação, acabamos por nos esvaziar de nós mesmos para tentar ridiculamente sorver o objeto que é mera representação desse algo maior intangível. E então dá nisso: fala-se de muita coisa inteligente sendo-se oco por dentro (mas tb há o fator orgulho/prepotência que não pode ser de todo ignorado). Na verdade, esse processo ocorre não só com a arte, mas com qualquer coisa que não nos reconhece como pessoas únicas, nem nos corresponde, seja ele um amor platônico ou enfim. É por isso que um bom amigo, daqueles top 5, nos enriquecem, embora não nos bastem por completo - mas pra desenvolver esse raciocínio eu teria mais mil coisas a dizer e já to achando que eu to viajando sem fim aqui, é melhor parar, hehe.