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Villanelle do fogo

Haleth

Sweet dreams
(Villanelle dos condenados - fogo)

O orgulho nos saúda co' um beijo,
eriça o ego protuberante
na fornalha ardente do desejo

É dele o fogo e todo o lampejo;
fervor constante, boca crispante:
o orgulho nos saúda co' um beijo.

Armadilhados nesse cortejo
entramos, qual cavalo trotante,
na fornalha ardente do desejo.

Não percebemos, em tal ensejo,
as brasas que somos. Triunfante,
o orgulho nos saúda co' um beijo.

Então ergo os olhos, enfim vejo
incinerar-se o destino errante
na fornalha ardente do desejo.

Molha-me, toda água do Tejo!
Todavia não és o bastante...
O orgulho nos saúda co' um beijo
na fornalha ardente do desejo.


[size=x-small]Pois é, achei que essa villanelle ficou meio esquisita. A métrica acho que ficou certinha (né, Mavericco? hehe), mas acho que tem alguma coisa desconjuntada nela... Não sei se foi falta de ritmo, se foi o título precário que me incomodou, se foi a pontuação meio alquebrada que me desarranjou... não sei.
Deixei na gaveta por uns quatro dias (milagre!), mas nem assim consegui ter afastamento pra analisar nem pra aperfeiçoar. É que gostei bastante do arremate, e quando chegava lá, esquecia todo o antecedente e ficava toda meditantemente contente. hehe [/size]
 
O espírito achei muito bom, Manu, mas tem alguma coisa esquisita mesmo, e acho que está em "O orgulho nos saúda com beijo". Não sei exatamente o que é, se é culpa da palavra "beijo"... Ou se a gente involuntariamente fica pensando com o artigo antes, o que atrapalha a métrica...
 
Hm... Faz sentido :think:
Vou pensar em alternativas e volto amanhã pra editar se der certo, rs. Obrigada ;)
 
Não vi nada desarranjado aí não :think:
Pelo contrário. Gostei de na fornalha ardente do desejo., com aliterações em N e em D :sim:
 
Gigio disse:
Ou se a gente involuntariamente fica pensando com o artigo antes, o que atrapalha a métrica...

Resolvi fazer uma coisa graficamente feia e arcaica, mas oralmente é naturalíssima. Em lugar de "o orgulho nos saúda com beijo", vou usar "o orgulho nos saúda co' um beijo." Todo mundo diz "cum" (pelo menos no Rio, haha) mas quando a gnt escreve "com um", não conta como sendo uma sílaba só. Então, ponha-se essa apóstrofe horrorosa mas extremamente funcional, hehe.

Ficou melhor ou nem por isso? rs
 
Dá pra contar "com um" como apenas uma sílaba poética. Fernando Pessoa faz isso em (e se o Pessoa fez, então tá liberado XD):

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


No caso do Pessoa, ele faz sinérese em "-ta-é-um", engolindo inclusive um "é" que comumente não conta (ele "engole" esse "é" também no terceiro verso -- o que acaba criando um padrão uniforme no poema inteiro, o que reduz a "infração") :sim:
Aliás, no final das contas o "co'a" acaba contando mais como arcaísmo e como recurso sonoro; ninguém lê "com a" quando se grafa "co'a", todo mundo ler "coa".
 
Não sei se passou despercebido, mas existe uma peculiaridade no poema: ela usa a 3ª pessoa do plural nas 4 primeiras estrofes, oscila para a 1ª pessoa, ao passo que fala com uma 2ª pessoa e volta para a 3ª (conforme o protocolo do poema), no encadeamento final.

O orgulho, a ideia generalizada no poema, é também também demonstrado pelo eu lírico num "gesto polissêmico hiperbólico":

"Molha-me, toda água do Tejo!
Todavia não és o bastante..."


Grande abraço.
 
Mavericco disse:
Dá pra contar "com um" como apenas uma sílaba poética. Fernando Pessoa faz isso em (e se o Pessoa fez, então tá liberado XD):

Ah, então posso deixar "com um" e tirar a apóstrofe sem danificar a métrica? Eba! Detesto essas apóstrofes. Fica sempre parecendo preciosismo ou poema de guaraná de rolha, hehe.

Atalupa, que bacana vc ter percebido essa variação de pessoas. Agora, "gesto polissêmico hiperbólico" é uma expressão nova pra mim, parece até que fiz uma coisa mega gênia, haha
 
Ah, acho que fez diferença! Agora sumiu a estranheza...

Molha-me, toda água do Tejo!
Todavia não és o bastante...
O orgulho nos saúda co' um beijo
na fornalha ardente do desejo.


:clap:
 
“Co’ um beijo” gostei disso :sim:.Uma veia concreta pulsando forte?
“Na fornalha ardente dos desejos” é difícil mudar alguma coisa depois de um verso desses.Esse afastamento é complicado mesmo.

"Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure." Vinicius de Moraes.Assim seja.:sim:
 

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