O essencial seria delimitar filosoficamente a ciência e a religião. Acho que a teologia contemporânea tem tido dificuldades de conciliar essas novas exigências, essa nova linguagem, novos métodos da ciência contemporânea. Esta tem desafiado a teologia a uma racionalização menos pseudo-científica e mais filosófica. É complicado porque nossos teólogos são maus filósofos em geral.
E nossos filósofos também o são. Podem ser bons linguistas, historiadores, críticos sociais, até bons fenomenólogos, mas não são bons pensadores em geral. A exceção fica em poucos cientistas iluminados e filósofos da ciência que sabem conciliar tal racionalização com os resultados das pesquisas e teorias científicas atuais.
Fazendo um ressalva, o Papa Bento XVI é um teólogo brilhante por essa facilidade que tem de discorrer por toda uma variedade de campos da ciência, desde a física e a biologia até história e dialogando com a própria filosofia. Ele é uma dessas exceções.
Essa interdisciplinaridade eu desconfio um pouco.
É sempre bom ter pessoas que se interessem por fazer a intercomunicação entre ramos distintos do conhecimento. Mas normalmente essas pessoas dificilmente podem ser consideradas profundas conhecedoras de qualquer uma das 2 ou mais áreas em que busca atuar.
Inclusive dentro das próprias áreas científicas.
E isso é um ponto delicado. Por isso que eu desisti (as vezes com recaídas
) de ficar discutindo qual seria o limite exato entre ambas e partir para uma separação dos conceitos. Desaprovo essas situações que citei da religião travar algumas áreas cientificas sem usar argumentos cientificos, assim como também passei a desaprovar os cientistas que tem como objetivo de carreira desacreditar religiões com argumentações fora da área.
Uma pode seguir seu rumo assim como a outra. Se ambas não quiserem forçar passos em território alheio, eu acredito que dá pra conviver. Não há necessidade de criar pontos de convergencia que ainda não existem de fato.
Há religiosos que possam buscar realmente o estudo de astrofísica, abrir e compreender o raciocinio da formulação de einstein, etc. Mas não basta. Nesse nível que estamos pra buscar especular sobre o big bang, os astrofísicos precisam enveredar e buscar ajuda nos teóricos de campo, partículas, quântica não-semi-clássica, etc. Normalmente quem estava buscando entender a astrofisica para mergear com os conhecimentos religiosos, não tem tempo hábil para começar a estudar um outro ramo com notações, formulações e raciocínios bem distintos.
Um gênio que realmente consiga ser multidisciplinar a esse ponto nos dias de hoje, estaria acima dos grandes genios da humanidade.