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Valinor entrevista Rosana Shelob Rios

Bom, voltamos, com mais uma entrevista. Dessa vez resolvemos conversar um pouco com a escritora Rosana Rios, 48 anos, paulista, formada em Educação Artística com especialização em Artes Plásticas. Ela já fez roteiros de TV, escreve peças de teatro, tem vários livros lançados e é a Shelob da Toca SP.

Equipe Valinor (EV) - Começando, como conheceu Tolkien?
Rosana Rios (RR) - Em 1970, eu tinha uma "penfriend", uma correspondente na Inglaterra. Ela morava em Penzance, a terra de Arthur Pendragon! Trocávamos cartas falando de música, literatura, diferenças entre nossas línguas e vidas. Um dia, ela me escreveu dizendo que lia muito J.R.R. Tolkien. E eu fiquei com a pulga atrás da orelha. Quem era aquele escritor de nome esquisito?... Mas levaria décadas até poder comprar o SdA, que eu só encontrava nas livrarias na edição portuguesa, a da Europa América. Era muito cara... Em 1990 ganhei o primeiro lugar num concurso literário importante, a Bienal Nestlé de Literatura. Como o prêmio era em dinheiro, comprei várias coisas que estava querendo, inclusive os três volumes do SdA. E me apaixonei imediatamente pela Terra-média...

EV - O que já leu dele?
RR - O Hobbit, O Senhor dos Anéis, O Silmarillion, Contos Inacabados, The Book of Lost Tales I e II, The Shaping of Middle Earth, Tree and Leaf (incluindo On Fairy Tales) e Roverandom. O próximo da lista é Mestre Gil.

EV - Qual dos livros é o seu preferido?
RR - Tough question. Mas, apesar de adorar o Silma, acho que ainda é e sempre será O Senhor dos Anéis.

EV - Existe algo dentro de alguma obra de que você não goste?
RR - Bem... sou da ala que não gosta do Tom Bombadil. Acho o cara muito chato. Embora compreenda sua importância dentro da ficção do professor, não consigo ir com a cara dele. Aquelas botas amarelas... hum... disgusting.

EV - Você mudaria essa parte como?
RR - Não mudaria. Literatura é como a vida, tem coisas legais e coisas não-tão-legais, porém elas precisam existir lado a lado para temperar a vida. E se a gente não aprender a conviver com coisas de que gosta e com coisas de que não gosta, perde metade dos objetivos de viver.

EV - E do que você mais gosta?
RR - Da verossimilhança da obra, da sensação de que a Terra-média é um lugar possível, onde você pode se emocionar, ser feliz em momentos tranqüilos, encontrar heroísmos ocultos na própria alma, experimentar perdas e sair da experiência mais sábio. Gosto da atmosfera, das paisagens, dos cheiros e gostos de que Tolkien impregnou a Terra-média.

EV - O que você pensa, de uma forma geral, sobre os filmes? Acha que as adaptações de PJ ajudaram ou atrapalharam?
RR - Durante muitos anos eu esperei que alguém fizesse um filme sobre o SdA. Fiquei feliz por isso ter acontecido, embora o PJ tenha cometido muitos deslizes desnecessários na adaptação. Agora que a saga terminou, creio que o saldo foi positivo. Trouxe o universo de Tolkien a muitas pessoas que não teriam acesso a ele pelos livros, porque não lêem. Mas os filmes jamais substituirão o prazer de se ler Tolkien, que é uma experiência ímpar.

EV - Qual dos três filmes é o seu preferido?
RR - Costumo encará-los como um filme só, dividido em 3 partes. Minha parte preferida é a terceira, porque contém algumas das minhas cenas preferidas. Em quatro palavras: "I am no man!”.
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EV - O que você mudaria nos filmes?
RR - A edição. Editaria certos trechos que se alongaram demais, cortaria certas cenas que ficaram muito "over", como a transformação de Galadriel diante do Espelho, Sam afundando na água, a absurda explicação de Elrond sobre o destino de Arwen... e colocaria Glorfindel de volta, claro. Sem falar no tratamento dado a Faramir. Ele merecia ser melhor retratado.

EV - Existe um boato de que O Hobbit pode ser filmado. Qual a sua expectativa quanto a isso?
RR - Não tenho muitas expectativas. São capazes de fazer um filme apenas por uma questão de ganância, o que me assusta: já imaginaram quantas "novidades" seriam capazes de enfiar na adaptação? Mas eu adoraria ver de novo os maravilhosos Ian Holm e Ian McKellen juntos, e seria um sonho ver Bard matar Smaug.

EV - Mudando de assunto, além do CB (Conselho Branco), de qual outro grupo você faz parte?
RR - Sou membro da Heren Hyarmeno, é o único Smial de que faço parte fora do CB.

EV - Como é o seu envolvimento dentro desses grupos?
RR - Sou mais ativa apenas no Conselho Branco, onde sou Diretora Cultural (e regionalmente na Toca SP, onde sou secretária da Ordem dos Istari, nosso grupo de RPG).

EV - O CB possui diversos projetos em andamento. Diga algo sobre alguns deles.
RR - Ah, tem muita coisa... Temos a "Casa de Vairë", o grupo de Contadores de Histórias. A "Ordem dos Istari", que se diferencia dos grupos de RPG comuns por manter registros de todas as aventuras jogadas, além de pretender gerar crônicas e difundir mais os Role Playing Games. Temos o "Parmandili", que reúne um site de indicações de leitura, e uma Biblioteca Circulante para uso da Toca. Temos as "Tardes nos Salões de Valfenda", apresentações artísticas dos membros das Tocas. Agora estamos começando a implantar novos projetos, como os Grupos de Leitura ("Conselho de Elrond"), o grupo de confecção de fantasias ("Espelho de Galadriel"). Sem esquecer de nossos tradicionais concursos: o Concurso "Runas de Daeron", para fanfics e poemas, já vai entrar na quarta edição, e o "Livro Vermelho", para Ensaios, entrará na segunda. E vem coisa nova por aí: estamos concebendo uma Oficina de Redação para os próximos meses. Mas esses são apenas os projetos da minha área, a Cultural. O CB tem muita coisa legal em outros departamentos, como a Ação Social, por exemplo: campanhas de arrecadação de alimentos, livros, brinquedos, agasalhos, doação de sangue etc.

EV - Como foi o envolvimento com o CB?
RR - Descobri o site do Conselho Branco navegando na Internet, através do Pellenor. Entrei no CB, cadastrei-me e fui parar na Toca SP. Aí me senti em
casa, porque eu não conhecia antes pessoas que tivessem lido Tolkien. Quando encontrei com quem conversar sobre a Terra Média, assumi o nick de Shelob (Laracna) e nunca mais saí.

EV - Você já se desentendeu com alguém?
RR - Ah, várias vezes. Somos todos humanos, e a arte das relações humanas não é fácil. Além disso, meu caráter digamos... aracnídeo... costuma arrumar encrenca de vez em quando. Mas nada irremediável.
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EV - Você é vice-presidente da FTB (Federação Tolkiendili Brasileira). Como você vê essa tentativa de união representativa das comunidades tolkiendili depois de 8 meses de existência?
RR - Tive a honra de participar da fundação da Federação Tolkiendili Brasileira, representando o Conselho Branco junto do pessoal da Valinor, Amon Hen, Heren Hyarmeno. Hoje somos nove comunidades e a tentativa de nos unir é importante, pois é bem mais inteligente trabalharmos juntos do que competirmos. Só temos a ganhar com a união, adquirindo mais força diante da mídia, dos patrocinadores e dos representantes legais de Tolkien.

EV - Você acha que algum dia teremos um grupo tolkiendili único, resultando da união das já existentes?
RR - Não, não acho. Pelo contrário, acho que seria ingenuidade querer chapar todas as diferenças num só saco de gatos. O Brasil é grande e diverso demais para querermos que todas as comunidades de fãs e de estudos se tornem uma coisa só! Acho que o ideal é haver vários grupos regionais, cada um com seu jeito e suas características, seus objetivos próprios, alguns virtuais, outros ao vivo, e todos eles se comunicarem e trocarem experiências dentro de uma Federação. Isso é mais realista e enriquecedor.

EV - E qual foi à experiência em organizar a Hobbitcon?
RR - A Hobbitcon 2004 foi incrível... Nem acredito no que conseguimos fazer em tão pouco tempo e quase sem recursos. Trabalhamos muito, cometemos alguns erros, mas o saldo foi extremamente positivo. Reunimos pessoas de muitas comunidades num evento divertido e rico.

EV - Você faria de novo?
RR - Bem, 2005 está aí... Vamos começar a trabalhar logo para a segunda Hobbitcon.

EV - E como é ser uma pessoa mais velha, sendo que a maioria dos fãs de Tolkien são adolescentes?
RR - No começo a diferença de idade me perturbava muito. Há inúmeros leitores de Tolkien mais velhos, porém poucos deles se misturam à grande maioria jovem. Eu me achava um dinossauro no meio de todas aquelas "crianças"... Até que percebi que eles me aceitavam sem preconceitos, então parei de me preocupar com o fator idade. Acabei virando uma espécie de "grande mãe" de todos, pois até as mães têm o direito de se divertir. Literatura é diversão, em primeiro lugar; e se tanto os mais velhos quanto os mais jovens se divertem lendo e discutindo Tolkien, que diferença faz quantos anos temos? Apesar disso, ainda tem gente que me olha torto quando me vê jogando RPG; mas eu nem ligo mais.

EV - Como a leitura afetou a sua vida?
RR - Eu sempre fui viciada em leitura, apaixonada pelo Fantástico e doida pela Literatura Inglesa. Leio Dickens desde os dez anos de idade. Quando li Tolkien,
me senti "em casa". Foi uma sensação parecida com a da época em que li Monteiro Lobato pela primeira vez: eu passei a "morar" no Sítio do Picapau Amarelo. Depois de ler Tolkien, mudei-me para a Terra-média.

EV - Rosana, você já publicou vários livros. Quais foram eles?
RR - Eu vivo de Literatura, de Direitos Autorais. Tenho no momento 73 livros infantis e juvenis publicados, e mais dois no prelo. Não dá para relacionar todos aqui, mas posso citar alguns: "A Terrível Arma Verde", Ed. Scipione. "Marília, Mar e Ilha", Ed. Saraiva. "O Outro Lado da História", Ed. Moderna. "O Homem que Pescou a Lua", Studio Nobel. "O Segredo das Pedras: O Último Portal", Companhia das Letras. Tem muito mais, porém não cabe aqui...
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EV - E como você começou a escrever?
RR - Comecei a escrever criando roteiros para o programa "Bambalalão", da TV Cultura. Isso em 1986. Só em 1988 iniciei a publicação de livros. De lá pra cá,
não parei mais de publicar.

EV - Além de Tolkien, quais suas outras influencias literárias?
RR - Muita coisa. Monteiro Lobato, sem dúvida. Machado de Assis e Fernando Pessoa. Mark Twain e Dickens. Mitologia. Folclore. Contos de Fadas... é uma lista enorme, toda a minha bagagem de leituras me influencia quando escrevo.

EV - Você já escreveu algo em que percebeu claramente a influência de Tolkien?
RR - Eu já escrevia profissionalmente antes de ler Tolkien, e o que mais me assustou foi verificar que eu apresentava influências dele ANTES de tê-lo lido...
Mas é claro que hoje, quando escrevo, não me é possível ignorar os ensinamentos do Mestre. Isso aparece nitidamente quando estou caracterizando algum universo, descrevendo uma etnia, criando um mapa de um lugar. Fico caçando incongruências e acrescentando mil detalhes do passado da história dos personagens... Acho que aprendi com Tolkien a importância dos pequenos detalhes, e de tentar fazer com que tudo se
encaixe em uma história como um quebra-cabeça.

EV - Existe algum projeto de lançar algum outro livro?
RR - Vários. Estou, com minha parceira (Eliana Martins) escrevendo o segundo volume de "O Segredo das Pedras" para a Companhia das Letras. Mas, para ficar só no mais próximo, em maio devo lançar "O Livro das Encrencas", pela Ed. Ática. É uma espécie de Enciclopédia de Encrencologia. Inventei essa ciência (Encrencologia) porque vivo me metendo em encrencas, então resolvi estudar mais a fundo o assunto... e saiu um livro muito divertido, embora um tanto perigoso. Você corre o risco de engasgar de tanto rir, ao lê-lo.

EV - Encrencologia? O que vem a ser encrencologia? Explique um pouquinho disso, por favor.
RR - Bem, eu estava em uma livraria e via livros sobre tudo que era assunto, ciências mil, enciclopédias sobre isso e aquilo, e pensei: acho que só não existe uma ciência para estudar as encrencas, para todo o resto existem "logias"... então resolvi inventar a Encrencologia, a ciência para estudar as Encrencas e pesquisar como safar-se delas. Afinal, quem é que nunca se meteu em encrencas? Sei que é um pouco estranho, mas todas essas dúvidas serão respondidas com a edição do meu Livro das Encrencas.

EV - Muita gente a chama de Tenente Ro. Que tal explicar um pouco sobre isso?
RR - Como descobriram isso??? Bem... não adianta negar... Eu sou Trekker desde a década de 70. Vejo tudo de Jornada nas Estrelas e participo de um Fórum sobre o assunto, o Jornada BBS. Lá meu nick é Ensign Ro, na verdade Alferes Ro, uma personagem da Nova Geração de quem eu gosto muito. Como meu nome é Rosana e muita gente me chama de Ro, assumi esse nick e passei a assinar Tenente depois que fui promovida no Fórum. Então, quando eu não estou na Terra-média, estou no século XXIV audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve...

EV - E sua família? Como vê sua dedicação à comunidade tolkieniana? Eles não ficam um pouco bravos, não?
RR - Meu marido não gosta de ficção fantástica e acha estranho o meu "apego" à Literatura de Tolkien. Meus filhos gostam do SdA, embora não tanto quanto eu. Mas todos eles sabem que estudar Tolkien virou um hobby para mim, e em geral não interferem quando eu mergulho muito na Terra-média...

EV - Sua filha já aparece nos encontros inclusive, não é? Você forçou um pouquinho ou o gosto dela pelas obras foi natural?
RR - Minha filha é membro do Conselho Branco, mas não leu Tolkien, conheceu alguma coisa através dos filmes. Ela gosta é de participar das atividades da
Toca e interagir com o pessoal, que aqui em SP é muito animado e unido.

EV - Pois é Tenente Ro, temos espiões espalhados por todo mundo. Mas diga então, além de ser uma Trekker e uma aranha gigante, você tem mais alguma excentricidade no nosso mundo nerd?
RR - Hum... Fora ser Tolkiendili e Trekker, sou viciada em livros, coleciono gibis, sou fanática pelo rock das décadas de 60-70, sou cinéfila e seriadomaníaca. Acho que não dá para ser mais nerd que isso!

EV - Bom Rosana, pra encerrar, mande um recado bem batuta pra todos os fãs de Tolkien.
RR - Acho que todo fã de Tolkien já ouviu dizer que a literatura do professor é "menor", que devíamos estar lendo mais clássicos e menos Tolkien. Meu recado é o seguinte: não liguem. Ler é um grande barato, o maior que existe. Eu li os tais clássicos e os adoro, mas isso não me impede de amar a literatura fantástica: Tolkien, C.S.Lewis, H.P. Lovecraft e tantos outros. O ideal é ler de tudo, não só para podermos conhecer as obras, mas para podermos viajar em outros universos. Ler SÓ Tolkien é tão ruim quanto NÃO ler Tolkien. Então, meu recado é um só: leiam, leiam, leiam. De tudo, sem preconceitos, de "Chapeuzinho Vermelho" à "Montanha Mágica". Mas nunca tenham vergonha de voltar ao Sítio do Picapau Amarelo ou à Terra-média. Vida Longa e Próspera, e Nai Anar caluva tielyanna!
 

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