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Valinor Entrevista Ehlana

Em dezembro de 2003, a portuguesa Cláudia Silva, mais conhecida pelo nick de Ehlana, causou inveja nos usuários do Fórum Valinor ao ser a primeira pessoa a postar um review sobre o filme “O Retorno do Rei”. Na entrevista abaixo, Cláudia fala não só da emoção que teve ao assistir à produção, mas também conta um pouco sobre sua vida e sobre como é ser fã de Tolkien no além-mar.


Colaboradores Fórum Valinor (CV) - Antes de mais nada, gostaríamos saber de algumas informações suas. Nome, idade, profissão...

Cláudia Silva (CS) - Muito bem. Chamo-me Cláudia Silva, tenho 21 anos (até agora a mais nova a ser entrevistada) e sou estudante do curso de Ciência de Comunicação, futura jornalista.


CV - Como você conheceu Tolkien?

CS - Conheci Tolkien de uma forma curiosa, em 1999, através de uma amiga minha de liceu que era uma verdadeira entusiasta. Passou muito tempo a falar-me de hobbits e elfos (eu nesse tempo não tinha qualquer contacto com a fantasia) e fiquei com uma certa curiosidade. Uns meses depois comprei os três livros (uma verdadeira desgraça na minha mesada), mas curiosamente apenas li a trilogia dois anos depois. Os primeiros livros de fantasia que li foram os da saga “Dragon Lance”, e já nessa altura fiquei encantada. Entretanto, começou-se a falar da rodagem do filme do PJ [Peter Jackson] e eu lembrei-me dos livrinhos que me estavam a chamar da prateleira há alguns anos. Não é preciso dizer que a partir do momento em que li as primeiras páginas da “Irmandade do Anel” a magia aconteceu.


CV - Por que você demorou dois anos para ler os livros?

CS - Foi um preconceito. Eu olhava para aquelas letrinhas miudinhas e não me sentia incentivada a lê-los. Nessa altura, quase ninguém conhecia Tolkien em Portugal, não era um autor de grande destaque como após os filmes, e mesmo no espaço cibernáutico, não existiam comunidades tolkienianas. O filme teve um efeito muito positivo: não só gerou uma grande curiosidade em relação à obra do Mestre como permitiu que aqueles (poucos) que conheciam a obra saíssem dos seus "esconderijos" e começassem a formar comunidades e a debater temáticas tolkienianas.


CV - Você leus os outros livros em seguida ou ficou apenas no “Senhor dos Anéis”?

CS - A trilogia li de seguida. Na verdade, eu não conseguia pensar em mais nada. Lembro-me que nessa altura fui de viagem e levei “As Duas Torres” comigo e, onde quer que eu me encontrasse, o livro estava sempre aberto. Entretanto, estrearam os filmes e comecei a participar naquela que, nessa altura, era ainda o esboço da grande e coesa comunidade tolkieniana que temos em Portugal. Foram eles que me incentivaram a aprofundar a obra do Mestre (pela qual já sentia uma grande curiosidade) e quase me obrigaram a ler “O Silmarillion”. Neste momento, “O Silmarillion” é o livro da minha vida, a minha fonte de inspiração.

CV - E o que Tolkien fez para te prender como fã que outros autores não conseguiram? Qual é o diferencial do “legendarium” da Terra-média?

CS - Como já te tinha dito, a minha introdução à fantasia deu-se com “Dragon Lance”. Eu gostei e gosto dos livros, mas a diferença entre Tolkien e a maioria dos autores de fantasia é que ele é o MESTRE. Será preciso dizer mais? Em mais nenhuma obra eu consigo respirar o ar de um mundo que, quando estamos a ler, se torna quase tão real como o nosso. E para além das línguas, dos povos e dos ambientes as temáticas que aborda tocaram-me profundamente. No mundo cada vez mais individualista é bom termos a possibilidade de nos escaparmos para outro onde vigoram os valores que eu mais prezo: a lealdade, a amizade sem limites, a solidariedade.


CV - E você acha que os filmes ajudam as pessoas a "entrar" na Terra-média?

CS - Essa é uma faca de dois gumes. É claro que ajudou as pessoas a "entrarem" na Terra-média e a saberem que existe um género literário chamado fantasia e um grande autor chamado Tolkien. Mas limitou a imaginação, claro. Eu incentivei algumas pessoas a lerem os livros (a minha mãe inclusive) e todas me disseram que acabam sempre por "ver" os actores dos filmes do PJ quando estão a ler a obra. Isso não é necessariamente negativo. Mas eu sinto-me privilegiada por ter lido os livros antes da estréia dos filmes e ter a minha própria imagem mental das personagens.
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CV - Como foi para você ter sido a pioneira no review pro pessoal da Valinor?

CS – Foi muito divertido. Alguns dias antes eu propus fazer o review e os participantes do fórum mostraram interesse (apesar de alguns estarem muito pessimistas em relação ao filme). Na manhã em que escrevi a review não tinha dormido. Na noite anterior tinha assistido à ante-estréia do RDR [O Retorno do Rei] com outros tolkienianos e vivi momentos inesquecíveis, muito emotivos. Senti o filme de uma maneira especial: por ser a última parte, por estar com aqueles fantásticos estudiosos da obra de Tolkien. Por isso a review que escrevi acabou por expressar a emoção que eu senti naquela noite e que continuava a sentir. Tenho de admitir que quando terminei a review me arrependi por a ter escrito. Achei que devia ter feito algo mais parcial, mais profissional, mas foi-me completamente impossível. Por isso, fiquei muito surpreendida quando me apercebi que a review teve o impacto que teve. Mas fiquei feliz por terem gostado e por ter apaziguado um pouco (ou aumentado) o vosso "sofrimento".


CV – Dos três filmes, qual você mais gostou?

CS - Eu vejo os três filmes como uma obra única dividida em três partes. Mas apesar disso, a terceira parte foi, para mim, a melhor. Não só por tudo o que disse anteriormente, mas porque foi o filme mais bem conseguido, e mais comovente. Meu Deus, nunca chorei tanto num cinema. Já tinha a vista embaciada de tanto chorar. E há cenas que, por muito que as veja, vão-me sempre emocionar: o discurso de Théoden, a cavalgada dos rohirrin, a coragem da Éowyn e do Merry (“I am no man!”), a cena em que o Sam carrega o Frodo às costas, a carga do Aragorn contra os orcs seguido pelos dois hobbits, aquele final de cortar o coração... não dá para enumerar todas as cenas.


CV - Agora, depois que a emoção passou, como você analisa o trabalho do PJ?

CS - Emoção à parte, o PJ cometeu alguns erros e algumas omissões que, por muito que me esforce, não consigo entender. A substituição do Glorfindel pela Arwen foi uma grande desilusão, porque eu sou uma admiradora do elfo. E fico triste por saber que, no fundo, esta substituição injusta foi apenas uma estratégia comercial para vender a imagem da Liv Tyler. O facto do Saruman não aparecer no RDR também foi lamentável. Podem dizer: "oh, não fez falta no contexto geral do filme", mas não é verdade. Foi uma personagem que ficou sem um final, para além do desrespeito ao actor que, como devem saber, é um grande admirador da obra de Tolkien e, entre o elenco, talvez o mais erudito na matéria. Mas para mim, o erro mais grave de todos, foi a transformação da personalidade do Faramir. Não só porque é uma das personagens que eu mais admiro na trilogia, como poderia ter sido evitado. O PJ justificou-se e acrescentou uma excelente seqüência na EE [Edição Estendida] para justificar o comportamento do Faramir, mas para mim continua inaceitável. No que respeita a omissões, chocaram-me menos. Tom Bombadil é uma personagem que me é muito querida, mas seria muito complicado inseri-la na linguagem cinematográfica. E o Flagelo do Shire (ou Expurgo do Condado), teria de ser eliminado num filme com quase quatro horas de duração. Oh, gostava muito de ter visto as Casas da Cura, mas parece que vou ter de esperar pela EE.


CV - Foi a partir dos filmes que você começou a freqüentar comunidades tolkiendili?

CS - Exacto. Embora já tivesse lido os livros, só tive essa possibilidade depois dos filmes porque só aí começaram a surgir tais comunidades em Portugal. Aliás, para dizer a verdade, eu nem sabia que existiam tais comunidades. Nessa altura não era tão nerd como sou agora e não passava tanto tempo em frente ao pc.


CV - E a Valinor? Como nos achou?

CS - Sobretudo por causa dos vossos artigos (muito bons) e também porque temos alguns membros brasileiros (e da Valinor) no nosso fórum e no nosso portal. Decidi ir investigar e gostei muito daquilo que encontrei.
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CV - Qual a principal diferença que você vê entre as comunidades portuguesas e as brasileiras?

CS - Sobretudo a dimensão. Eu assisti ao nascimento da comunidade portuguesa, ainda sou do tempo em que era uma comunidade familiar com pouco mais de vinte pessoas (risos). Apesar do nosso número de membros aumentar a cada dia, não temos a dimensão de uma comunidade como a Valinor. Há outra diferenças. Quando entrei para a Valinor dei conta de que existem imensas regras (essenciais numa comunidade tão vasta) e que os moderadores realmente tinham trabalho (mais risos). No fórum da comunidade portuguesa, por sermos muito menos, é tudo mais informal no que respeita a regras (temos apenas um tópico com pouco mais de dez regras). No entanto, as discussões de base (existem aqueles clássicos como "os balrogs têm asas?" ou "quem é Tom Bombadil?") estão presentes nos dois e o interesse, estudo e repeito pela obra de Tolkien é sentido dos dois lados.


CV – O Brasil tem uma população muito maior do que Portugal, mas somos um país atrasado culturalmente. Poucos têm acesso a livros e menos ainda à Internet. Além disso, a tradução de SdA só chegou no Brasil de maneira séria em meados dos anos 90, com a Martins Fontes, enquanto os portugueses já desfrutavam de uma versão traduzida da Europa-América há mais tempo. Mesmo assim, não se criou nenhuma grande comunidade tolkiendili em Portugal?

CS - Neste momento, temos uma grande comunidade, tendo em conta a população portuguesa e o facto de padecermos, também, de um grande atraso cultural (felizmente, as edições do SDA chegaram a Portugal bastante mais cedo). E tem vindo a aumentar cada vez mais, sobretudo depois da ante-estréia do RDR, na qual tivemos a oportunidade de dar a conhecer o nosso projecto aos media.


CV – Existe uma diferença clara na tradução da obra de Tolkien no Brasil e em Portugal. Os nomes próprios e denominações de raças ou lugares não são traduzidos. Os Easterlings, por exemplo são chamados de Orientais na tradução brasileira, enquanto na versão portuguesa eles continuam sendo chamados de Easterlings. O principal argumento para se traduzir tais nomes está no fato do próprio Tolkien ter deixado um manual para que os nomes fossem traduzidos e assim pudessem ter o mesmo significado e passar a mesma impressão para todos os leitores. Você chega a ver isso como um problema nas edições portuguesas ou uma vantagem por manter um pouco mais da essência da obra?

CS - Já temos tido esse debate entre os tolkienianos portugueses. É que em Portugal (salvo raras excepções, como as traduções de “Dragon Lance”) há uma forte tradição de manter os nomes originais, de personagens, locais, povos, etc. Geralmente, considero isto mais sensato. Por exemplo, eu não gostaria de ver o meu nome próprio traduzido, para mim não faz sentido - ou o nome da minha cidade. No entanto, visto que Tolkien deu indicações exactas para que os nomes fosssem traduzidos, gostemos ou não, a tradução brasileira limitou-se a respeitar o desejo do Mestre. E não creio que, nesse contexto, a essência da obra se perca.
Não há qualquer diferença, na minha opinião. Somos todos admiradores da obra de Tolkien e desejamos aprofundá-la e debatê-la. Esse é um desejo comum. E tanto uma comunidade como a outra tem-se mostrado muita activa nesse aspecto.Mas porque não dão uma espreitadela na comunidade portuguesa?


CV – Fale um pouco sobre as comunidades portuguesas. Como podemos encontrá-las?

CS - Podem aceder pelo nosso portal: http://www.tolkienianos.com. Aí encontrarão os respectivos links para o fórum, a galeria de imagens, a nossa enciclopédia tolkieniana (Istya), artigos etc.


CV - Aqui no Brasil existem diversas comunidades menores, algumas com intuitos e objetivos diferentes e outras parecidas. Em Portugal o fandom é mais unido em uma única comunidade?

CS – Como tu próprio disseste, o Brasil é muito maior que Portugal em termos de dimensão e população, sendo esse cenário mais favorável para o aparecimento de muitas comunidades a tratarem o mesmo tema. Em Portugal, talvez por sermos menos, penso que neste momento não há sequer a necessidade de mais comunidades. Talvez no futuro, quem sabe? Quando as pessoas lerem mais e o uso da internet seja mais generalizado...
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CV - E vocês também fazem grandes encontros? Aqui temos pessoas que viajam horas e horas para passar um final de semana num encontro Nacional da Valinor. Vocês têm esse tipo de coisa também ou nesse ponto os tolkienianos portugueses são mais recatados?

CS - Oh não, tal como vocês temos grandes encontros! Vários por ano, regionais e nacionais. Os encontros são muito importantes, permite-nos ver o rosto por detrás do avatar e não há nada como uma discussão tolkieniano frente a frente (risos). Por exemplo, as ante-estréias e estréias dos filmes resultaram sempre em grandes encontros nacionais.


CV – De onde você tirou o nick Ehlana?

CS - O nick é uma personagem do livro que estou a escrever. O meu projecto de longa duração de que já dura há cerca de quatro anos, tendo passado pelo menos três deles a fazer uma vasta investigação sobre a cultura e mitologia celtas. Pode ser que uma dia o termine.


CV – E a sua assinatura no Fórum Valinor: “Portem-se mal mas com estilo”?

CS - A assinatura não é mais do que um conselho da minha mãe. Ela sempre me disse para eu me portal mal com estilo. E tem razão. Se eu tenho me portar mal (quem é que se quer portar bem?) ao menos que seja em grande estilo.
Daqui se conclui que a loucura é genética (risos).


CV - Pode ser. Sobre seu projeto literário, é seu primeiro projeto ou você já escreveu outros livros ou contos?

CS - É o primeiro e sobretudo escrito para satisfação pessoal. Desconheço a situação brasileira, mas o panorama literário português é muito mal. A maior parte dos autores portugueses escrevem obras que não são mais do que a versão literária da "fast-food" - o livro que distrai, "pronto-a-consumir" que não exige grande esforço intelectual. No que respeita à fantasia (o meu género literário) as coisas estão ainda mais negras. Temos poucos autores e nenhum de grande notoriedade. As editoras até há pouco tempo tinham medo de apostar neste género e só se abriram um pouco a ele depois da trilogia do PJ. No entanto, estou disposta a lutar por uma carreira literária. Veremos se as editoras vão continuar a incentivar ou se esta é apenas uma fase que vai ter um termo quando a euforia causada pelos filmes se desvanecer. Para o meu bem e para o de muitos futuros escritores talentosos, espero que não seja uma moda efémera. A Fantasia tem muito para dar.


CV – Vou já leu a obra de algum autor brasileiro?

CS - Infelizmente nunca li nenhum autor brasileiro e admito que essa é uma falha minha. Em Portugal um dos grandes autores brasileiros de projecção é Jorge Amado. Estou curiosa, mas ainda vos hei-de pedir conselhos sobre como me iniciar na literatura brasileira.


CV - Você não acha que um Nobel para um escritor português deveria incentivar a literatura na língua natal?

CS - Quanto ao prémio Nobel, sim, deveria. Mas infelizmente, os portugueses têm um desinteresse pela leitura que até me causa dor.
É um grande atraso cultural, infelizmente.


CV - Qual sua visão do Brasil, do povo, da situação?

CS
- Apesar da visão optimista que a novelas brasileiras transmitem aos portugueses, é do nosso conhecimento que a situação económica e social do Brasil é complicada. Infelizmente. Quanto ao povo, eu simplesmente adoro o povo brasileiro. Vocês são muito mais simpáticos e calorosos do que nós portugueses. Um dia ainda hei-de visitar o Brasil. Quem sabe ir a um encontro Valinor?
Ah, e quero dar-vos os parabéns pelo impacto internacional que o vosso cinema está a ter, especialmente pela nomeação da Cidade de Deus, que espero assistir o mais depressa possível
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CV - O cinema brasileiro está tomando um novo impulso agora, sendo reconhecido. E o cinema português? Fale um pouco para a gente.

CS - Qual cinema português?
Admito, estou a ser irónica. Mas o nosso cinema é muito, muito pobre, infelizmente. Temos um ou outro realizador reconhecido internacionalmente (como o Manoel de Oliveira - e eu não agüento ver um filme completo dele) e pouco mais. Não há apoios, e também não há bons projectos.
Mas os canais televisivos estão a apostar em telenovelas portugueses. São telenovelas em cima de telenovelas. A mim parecem-me todas iguais (risos).
Enfim, o nosso cinema é tão interessante como a nossa literatura actual.


CV - O que você espera da Literatura Fantástica e principalmente de Tolkien daqui para frente?

CS - Acredito sinceramente que a obra de Tolkien vai continuar a atrair fãs de todas as gerações, agora e no futuro. Afinal é uma obra incontornável. E a Fantasia... sim, estou optimista. Embora ela se tenha tornado um pouco repetitiva nos últimos anos, ainda há muitos caminhos por explorar, também têm surgido autores com obras muito interessantes. E no cinema, também estou esperançosa que aqueles 11 oscares dêem um novo impulso ao cinema fantástico.


CV - Por último, deixe um recado para os usuários da Valinor que estão lendo sua entrevista.

CS - Agora o meu recado para os usuários Valinor: primeiro quero agradecer pela recepção calorosa e pelas agradáveis discussões em que tive a oportunidade de participar. É bom ver a comunidade continua tão activa, com tantos projectos diferentes associados. Parabéns a todos pelo bom trabalho: moderadores e usuários.
Ah, e visitem a comunidade tolkieniana portuguesa (publicidade, publicidade).
 

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