Re: Ungoliath CADE VC???
Eu prefiro manter-me a parte da "opção", Tolkien coloca ainda em Ainulindalë a questão dos Ainur que uniram-se a Melkor na canção, e deles podemos presumir grande parte do contigente dos seguidores de Melkor.
Se Ungoliantë realmente for um ser que simplesmte "existe", não criado por Ilúvatar, como Bombadil, teríamos mais de um exemplo desse artifício literário, o que não ocorre. Tom Bombadil é uma incógnita intencional, Ungoliantë pode ser entendida como um dos servos de Melkor (sendo eles Ainur).
Defendo essa tese pois:
"Os eldar não sabiam de onde ela teria vindo; mas alguns diziam que, em épocas muito remotas, ela descera da escuridão que cerca Arda, quando Melkor pela primeira vez contemplara com inveja o Reino de Manwë, e que no início ela fora um dos seres que ele corrompera para seu serviço". (O Silmarillion, pp. 81-82)
Sendo assim, ela seria um dos Ainur que flertara com Melkor em sua canção deturpada, e que, assim que Melkor pousou seus olhos em Arda ela o seguiu.
Abraços.
Mas repare que essa é uma visão dos eldar, algo parecido com o que ocorre com a origem nos orcs: não cabe colocar n'O Silmarillion uma visão mais complexa (e mais discutida e questionável) da questão, e sim uma resposta relativamente simples que os eldar supostamente têm.
E não acho que ela acabe sendo como Bombadil, na medida que não sabemos o que Bombadil era, ele era uma incógnita. Já com Ungoliant é diferente, nós sabemos o que ela é, só foge totalmente do que existe em Arda. Não vejo por que esse "artifício literário" não possa ocorrer.
Vou ver se trago, mais tarde, algum material sobre esta origem de Ungoliant.
Editado:
Ungoliant, Dualismo e Livre-Arbítrio nos Mitos de Tolkien, Parte I
Ungoliant, Dualismo e Livre-Arbítrio nos Mitos de Tolkien, Parte II
Ungoliant: A Tecelã da Escuridão
Esse último texto é mais simples e apresenta duas visões. Eu particularmente gosto da visão de Ungoliant como o Vazio, já que foge do convencional, dando um clima de realidade da Obra, de um mundo real com aspectos desconhecidos; mas sobretudo de ter uma visão interessante sobre os pontos onde Deus é e o que há no ponto onde ele deixa de ser - num ponto onde ele não tocara, logo num ponto que sempre existira, tal qual o próprio Deus. É uma visão original que foge do Deus e suas criaturas - Tolkien quis dar um toque cristão a figura de Eru, mas ele próprio acrescentara o elemento Ungoliant em versões anteriores - e como não estamos falando de Nárnia ou outra obra alegórica, acho que podemos tomar a liberdade de fugir um pouco da idéia cristã de Deus criador de todas as coisas. Acho fascinante, em determinado ponto do livro, uma gota do Vazio pular para Arda - é claro que talvez vá contra com muitos pensamentos filosóficos (já que Ungoliant, que inicialmente não é, passa a ser), mas é um elemento no mínimo peculiar, e torna plausível a idéia de um ser independente de Deus, o que é um tanto questionador e perturbador (só que ela não é um ser independente de Deus, e sim uma espécie de não-ser, mas é aparentemente um não-ser que é [?!], enfim, Ungoliant como o Vazio levanta uma discussão no mínimo interessante).
Sem falar que eu não consigo, dentro da ótica do legendário, ver um maiar com uma espécie de "buraco negro" no estômago. Ainur são espíritos encarnados em fánar, mas nenhum fána tem isso que o corpo de Ungoliant tem (o que é que a baiana tem?). Não sentem fome. A menos que seja uma espécia de "fome mental", mas não consigo ver isso nos ainur: os mais renegados tem desejo de poder, ambição, talvez jóias como as silmarilli, etc, mas não
fome de jóias ou luz (?!). Sem falar que para ter crias Ungoliant precisaria encarnar em um hröa, mas nenhum hröa teria aquela fome (e nem aumentaria de tamanho, como alguns escritos sugerem). É um ser, a meu ver, totalmente a parte.