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O ar condicionado da sala devia estar desregulado, pensou Carlos fechando o zíper do casado. Rita estava sentada, ao seu lado, contando uma história de amor:
“Era uma vez um homem de rabo de cavalo e sorriso carismático. Um dia, ele e uma linda moça do povoado de pescadores se apaixonaram. Eles viveram uma história de amor, com noites tórridas de sexo e intrigas com os pais da moça. Um dia, ela ficou enciumada por que o moço tinha uma outra paixão: a pintura. A linda moça ficou enciumada e exigiu que o moço escolhesse ela ou a pintura. Acuado, o moço sumiu e nunca mais foi visto.
Fim”
Marcos J. estava sentado do outro lado da mesa. Ele deu um longo trago no cigarro e perguntou: - É isso?
- Bom - disse Rita com empolgação – tem mais, mas não quero te incomodar com os detalhes.
- De fato – sorriu Marcos enquanto espremia o cigarro no cinzeiro – você pode me poupar dos detalhes, querida.
Ele levantou e disse pausadamente:
- Fofos, me deixa contar uma coisa: não podemos colocar na pauta do programa toda história que nos contam...
Marcos seguiu contando as razões; elas incluíam patrocinadores, custos, audiência etc. e etc. Carlos previa que a rejeição aconteceria. Apesar da boa vontade de Rita, a história era melosa e sem apelo. Ele sabia disso no momento em que ela inventou a história; mas preferiu ficar em silêncio até conhecer o apresentador e confirmar o que desconfiava: que a história precisava de um tempero forte e um incentivo financeiro.
- A história de vocês não tem nada de especial – continuou o apresentador em tom de reclamação – falta algo de excitante. Que prenda a atenção dos nossos ouvintes.
- Parece novela mexicana, não é? – perguntou Carlos ignorando o olhar de reprovação de Rita.
- Isso, você pegou o espírito!
- Tem alguns detalhes que não contamos. O lugar onde moramos é um pouco conservador, sabe, e tivemos receio de contar algumas coisas pouco religiosas – disse Carlos sentando-se próximo de Marcos - Mas agora me sinto confortável em falar sobre essas coisas.
Marcos sentou e acendeu outro cigarro: Então me conta os detalhes. Eu quero saber de tudo.
* * *
Eram nove da noite e estava quase na hora do My Lost Love. A pequena lâmpada do estúdio projetava as sombras dos técnicos que andavam de um lado para outro, ocupados com os preparativos do programa; e sombras que cochichavam sobre um roteiro que não se adequava aos planos delas.
Insatisfeitas, as sombras fizeram alterações no script com as quais Marcos certamente não se incomodaria; afinal, ele tinha outros assuntos mais urgentes a tratar.
O apresentador entrou no estúdio e sentou-se à mesa com o casal. Carlos reparou que Marcos roia as unhas enquanto relia o roteiro - os patrocinadores tinham comprado a idéia e queriam o programa no ar naquela noite; com a pressão, o apresentador derreteria junto com seus quilos de maquiagem. Era uma questão estão de tempo, pensou Carlos.
Marcos esperou os técnicos sinalizarem: e três, e dois, e um...
- Boa noite, babyyy!
- Estamos de volta com mais um My Lost Love. Se você perdeu seu love, não se preocupe, nós encontraremos ele pra você, mas se você não pegar ele... Eu o tomo de você!
Marcos fez uma pausa enquanto uma canção de amor tocava.
- Hoje temos uma história imperdível. Imperdível não: “A História”. Aqui do meu lado estão Carlos e Rita, e bem...
Ele acenou para Rita:
- Oi gente, aqui é Rita... O que vou contar é mais do que uma história de amor. É sobre o homem da minha vida.
- Ele era um líder entre homens... Respeitado, amado e admirado. Mas um dia, – disse olhando para Carlos com tristeza - ele ficou orgulhoso e passou acreditar que poderia resolver qualquer coisa sozinho.
Marcos arregalou os olhos e cochichou: – Isso não está no script!
Rita ignorou: - Um dia, meu homem encontrou alguém mais forte. Alguém que tornava seus poderes pequenos. E daí, seu orgulho foi pra lona.
- Gente, o nome do bofe é Roberto Lamp – interrompeu Marcos - Rita, conta pra gente, por que esse bofe te deixou?
- Senti que fui posta de fora da vida dele. Ele foi se distanciando aos poucos, até me deixar.
- Mas Rita, pelo que você contou pra a gente, está claro que o Roberto não se interessa mais por você. Pra que insistir?
- Por que ele está de volta.
- E você acha que ele veio por você, não é fofa?
- Babies: a história não para por aí. Acontece que Rita não se apaixonou por um homem só.
- Isso mesmo, pessoal, - disse Carlos tentando descontrair o tom de voz - algum tempo depois que Roberto se foi, Rita e eu nos conhecemos.
Ele abaixou a cabeça e continuou:
- E somos apaixonados até hoje – completou segurando as mãos dela, e sem soltá-las disse sussurrando: vamos encontrar esse homem, eu prometo.
Marcos sorriu:
- Vocês acreditam nisso, babies? Rita é uma mulher de dois homens!
- E Rita, porque você nos procurou?
- Preciso da ajuda dos seus... Babies... – disse ela torcendo o nariz – pra encontrar Roberto.
- Vamos dar uma força para Rita! My Lost Love abre temporada de caça ao Roberto! Para descrição física do bofe e outros detalhes entrem no nosso web site.
- E o melhor – disse Marcos olhando para Carlos.
- Quem encontrar Roberto até o sol nascer – disse Carlos - vai ganhar um prêmio de vinte mil reais em dinheiro!
Marcos soltou o head set da cabeça e cochichou para Carlos: O que você está fazendo? O período de busca é de uma semana, seu louco!
Carlos ignorou:
- Quanto? Perguntou fingindo-se de surdo.
- Vinte mil! Respondeu Rita.
Vinte mil reais e uma história de amor: Carlos e Rita não poderiam imaginar o que acontece quando se mistura dinheiro e amor. A história tocou o coração de alguns; e o dinheiro, o coração de outros. Como resultado, o pedido de ajuda viajou de boca em boca pelos vilarejos e cidades nos arredores, tornando Roberto Lamp o homem mais procurado da região.
Três da manhã. Marcos estava deitado no sofá, ao fundo do estúdio, limpando o suor com um lenço. Ele olhava repetidas vezes para a cabine dos técnicos. Bastaria um sinal com a mão, e o programa (e seu sofrimento) estariam terminados.
Ele começou a derreter, pensou Carlos escondendo-se nas sombras. Marcos levantou lentamente e nas pontas dos pés avançou para a cabina...
- Ai, que susto!
Carlos emergiu das sombras colocando-se entre o apresentador e os técnicos.
- Fofo... – disse Marcos se recuperando do susto - eu adoro vocês, mas acho que o Roberto não aparece não – disse enquanto tentava encontrar o técnico com os olhos – Se é que ele existe, né?
- Esse programa só termina quando eu disser, caboclo.
- Não termina não, seu pescador de merda! – disse ele com o rosto vermelho - Quem manda aqui sou eu!
Segundos depois, dois tabefes marcaram as bochechas do apresentador. Ele desandou a chorar:
- Eu não agüento mais! Disse jogando-se no sofá. – O que vocês querem de mim?
- Que volte pra mesa e faça seu trabalho.
Rita entrou no estúdio, acompanhada de um sujeito baixinho, com cabelo grisalho.
- Quem é você? Gritou Marcos.
- Credo, Marcos – protestou Rita – o nome dele é Júlio e trabalha no posto de gasolina há duas horas daqui.
- Ele me disse que viu Roberto.
- Como ele é? Perguntou Carlos.
- Tinha cabelo de mulher, cara de boa-vida... – respondeu Júlio - tava lá no posto pra abastecer a motocicleta.
Ele fez uma cara séria.
- Mas tava bem mau-humorado, sabe, disse que tava fugindo de umas pessoas que o perseguiam por causa de mulher.
- É ele – pensou Roberto – só pode ser.
- E como encontramos ele? – perguntou Marcos.
- Ah, ele queria pagar a gasolina com cartão. Disse que a máquina tava quebrada e ele ofereceu cheque. Normalmente não aceitamos... É contra as regras da firma, mas abri uma exceção e pedi o telefone dele.
- Pedi o celular – disse mostrando uma fileira de dentes amarelos – Cadê meus vinte mil?
- Depois que a gente comprovar – disse Marcos com ar de desprezo.
Todos correram para a mesa do estúdio. Marcos acenou para a cabine.
E três, e dois, e um:
- Olá, meus Babies, estamos de volta com o programa. Temos aqui uma pista do amore de Rita. Vamos cruzar os dedos.
O telefone tocou.
- Quem é?
- Olá bo...
- Olá Roberto – cortou Carlos – Larson está atrás de nós. Se 18 de Abril significa alguma coisa, por favor nos ajude.
O outro lado da linha ficou em silêncio.
- Não conheço nenhum Larson e essa data não significa nada pra mim. Sinto muito.
O telefone desligou.
* * *
O casal caminhava pelo píer, em direção ao barco de Carlos. Não tinham trocado uma palavra desde que foram expulsos pelo histérico Marcos. A passarela de madeira rangia a cada passada que davam. Resignados, assistiam os raios vermelhos de sol avançarem do horizonte pelo mar.
Sem que percebessem, uma névoa se esgueirou abaixo do píer e avançou pelas frestas da madeira. No céu, a bola vermelha se escondeu atrás das montanhas e a escuridão avançou pelo horizonte até alcançar Carlos. Ele sentiu Rita segurar seu braço com força.
Era tarde de mais. A névoa já os tinha envolvido.
Sussurros entraram na cabeça de Carlos.
“Caarlosss...”
“Caarlosss... O que você quer de Larson?”
Carlos girou o corpo como um tigre acuado:
A névoa avançou.
“O que você quer de Roberto Lamp?”
- Nós encontramos seu desenho na cabana de Larson. Se for nos matar, faça de uma vez!
A névoa dissipou e a escuridão deu lugar à luz. Na frente do casal, aonde havia névoa, estava um homem alto, com rabo de cavalo.
Ele sorriu:
- Nesse caso, meu amigo, são dois que Larson quer mortos.
- Me encontre amanhã na biblioteca dos Corais, às oito da manhã.
* * *
“Era uma vez um homem de rabo de cavalo e sorriso carismático. Um dia, ele e uma linda moça do povoado de pescadores se apaixonaram. Eles viveram uma história de amor, com noites tórridas de sexo e intrigas com os pais da moça. Um dia, ela ficou enciumada por que o moço tinha uma outra paixão: a pintura. A linda moça ficou enciumada e exigiu que o moço escolhesse ela ou a pintura. Acuado, o moço sumiu e nunca mais foi visto.
Fim”
Marcos J. estava sentado do outro lado da mesa. Ele deu um longo trago no cigarro e perguntou: - É isso?
- Bom - disse Rita com empolgação – tem mais, mas não quero te incomodar com os detalhes.
- De fato – sorriu Marcos enquanto espremia o cigarro no cinzeiro – você pode me poupar dos detalhes, querida.
Ele levantou e disse pausadamente:
- Fofos, me deixa contar uma coisa: não podemos colocar na pauta do programa toda história que nos contam...
Marcos seguiu contando as razões; elas incluíam patrocinadores, custos, audiência etc. e etc. Carlos previa que a rejeição aconteceria. Apesar da boa vontade de Rita, a história era melosa e sem apelo. Ele sabia disso no momento em que ela inventou a história; mas preferiu ficar em silêncio até conhecer o apresentador e confirmar o que desconfiava: que a história precisava de um tempero forte e um incentivo financeiro.
- A história de vocês não tem nada de especial – continuou o apresentador em tom de reclamação – falta algo de excitante. Que prenda a atenção dos nossos ouvintes.
- Parece novela mexicana, não é? – perguntou Carlos ignorando o olhar de reprovação de Rita.
- Isso, você pegou o espírito!
- Tem alguns detalhes que não contamos. O lugar onde moramos é um pouco conservador, sabe, e tivemos receio de contar algumas coisas pouco religiosas – disse Carlos sentando-se próximo de Marcos - Mas agora me sinto confortável em falar sobre essas coisas.
Marcos sentou e acendeu outro cigarro: Então me conta os detalhes. Eu quero saber de tudo.
* * *
Eram nove da noite e estava quase na hora do My Lost Love. A pequena lâmpada do estúdio projetava as sombras dos técnicos que andavam de um lado para outro, ocupados com os preparativos do programa; e sombras que cochichavam sobre um roteiro que não se adequava aos planos delas.
Insatisfeitas, as sombras fizeram alterações no script com as quais Marcos certamente não se incomodaria; afinal, ele tinha outros assuntos mais urgentes a tratar.
O apresentador entrou no estúdio e sentou-se à mesa com o casal. Carlos reparou que Marcos roia as unhas enquanto relia o roteiro - os patrocinadores tinham comprado a idéia e queriam o programa no ar naquela noite; com a pressão, o apresentador derreteria junto com seus quilos de maquiagem. Era uma questão estão de tempo, pensou Carlos.
Marcos esperou os técnicos sinalizarem: e três, e dois, e um...
- Boa noite, babyyy!
- Estamos de volta com mais um My Lost Love. Se você perdeu seu love, não se preocupe, nós encontraremos ele pra você, mas se você não pegar ele... Eu o tomo de você!
Marcos fez uma pausa enquanto uma canção de amor tocava.
- Hoje temos uma história imperdível. Imperdível não: “A História”. Aqui do meu lado estão Carlos e Rita, e bem...
Ele acenou para Rita:
- Oi gente, aqui é Rita... O que vou contar é mais do que uma história de amor. É sobre o homem da minha vida.
- Ele era um líder entre homens... Respeitado, amado e admirado. Mas um dia, – disse olhando para Carlos com tristeza - ele ficou orgulhoso e passou acreditar que poderia resolver qualquer coisa sozinho.
Marcos arregalou os olhos e cochichou: – Isso não está no script!
Rita ignorou: - Um dia, meu homem encontrou alguém mais forte. Alguém que tornava seus poderes pequenos. E daí, seu orgulho foi pra lona.
- Gente, o nome do bofe é Roberto Lamp – interrompeu Marcos - Rita, conta pra gente, por que esse bofe te deixou?
- Senti que fui posta de fora da vida dele. Ele foi se distanciando aos poucos, até me deixar.
- Mas Rita, pelo que você contou pra a gente, está claro que o Roberto não se interessa mais por você. Pra que insistir?
- Por que ele está de volta.
- E você acha que ele veio por você, não é fofa?
- Babies: a história não para por aí. Acontece que Rita não se apaixonou por um homem só.
- Isso mesmo, pessoal, - disse Carlos tentando descontrair o tom de voz - algum tempo depois que Roberto se foi, Rita e eu nos conhecemos.
Ele abaixou a cabeça e continuou:
- E somos apaixonados até hoje – completou segurando as mãos dela, e sem soltá-las disse sussurrando: vamos encontrar esse homem, eu prometo.
Marcos sorriu:
- Vocês acreditam nisso, babies? Rita é uma mulher de dois homens!
- E Rita, porque você nos procurou?
- Preciso da ajuda dos seus... Babies... – disse ela torcendo o nariz – pra encontrar Roberto.
- Vamos dar uma força para Rita! My Lost Love abre temporada de caça ao Roberto! Para descrição física do bofe e outros detalhes entrem no nosso web site.
- E o melhor – disse Marcos olhando para Carlos.
- Quem encontrar Roberto até o sol nascer – disse Carlos - vai ganhar um prêmio de vinte mil reais em dinheiro!
Marcos soltou o head set da cabeça e cochichou para Carlos: O que você está fazendo? O período de busca é de uma semana, seu louco!
Carlos ignorou:
- Quanto? Perguntou fingindo-se de surdo.
- Vinte mil! Respondeu Rita.
Vinte mil reais e uma história de amor: Carlos e Rita não poderiam imaginar o que acontece quando se mistura dinheiro e amor. A história tocou o coração de alguns; e o dinheiro, o coração de outros. Como resultado, o pedido de ajuda viajou de boca em boca pelos vilarejos e cidades nos arredores, tornando Roberto Lamp o homem mais procurado da região.
Três da manhã. Marcos estava deitado no sofá, ao fundo do estúdio, limpando o suor com um lenço. Ele olhava repetidas vezes para a cabine dos técnicos. Bastaria um sinal com a mão, e o programa (e seu sofrimento) estariam terminados.
Ele começou a derreter, pensou Carlos escondendo-se nas sombras. Marcos levantou lentamente e nas pontas dos pés avançou para a cabina...
- Ai, que susto!
Carlos emergiu das sombras colocando-se entre o apresentador e os técnicos.
- Fofo... – disse Marcos se recuperando do susto - eu adoro vocês, mas acho que o Roberto não aparece não – disse enquanto tentava encontrar o técnico com os olhos – Se é que ele existe, né?
- Esse programa só termina quando eu disser, caboclo.
- Não termina não, seu pescador de merda! – disse ele com o rosto vermelho - Quem manda aqui sou eu!
Segundos depois, dois tabefes marcaram as bochechas do apresentador. Ele desandou a chorar:
- Eu não agüento mais! Disse jogando-se no sofá. – O que vocês querem de mim?
- Que volte pra mesa e faça seu trabalho.
Rita entrou no estúdio, acompanhada de um sujeito baixinho, com cabelo grisalho.
- Quem é você? Gritou Marcos.
- Credo, Marcos – protestou Rita – o nome dele é Júlio e trabalha no posto de gasolina há duas horas daqui.
- Ele me disse que viu Roberto.
- Como ele é? Perguntou Carlos.
- Tinha cabelo de mulher, cara de boa-vida... – respondeu Júlio - tava lá no posto pra abastecer a motocicleta.
Ele fez uma cara séria.
- Mas tava bem mau-humorado, sabe, disse que tava fugindo de umas pessoas que o perseguiam por causa de mulher.
- É ele – pensou Roberto – só pode ser.
- E como encontramos ele? – perguntou Marcos.
- Ah, ele queria pagar a gasolina com cartão. Disse que a máquina tava quebrada e ele ofereceu cheque. Normalmente não aceitamos... É contra as regras da firma, mas abri uma exceção e pedi o telefone dele.
- Pedi o celular – disse mostrando uma fileira de dentes amarelos – Cadê meus vinte mil?
- Depois que a gente comprovar – disse Marcos com ar de desprezo.
Todos correram para a mesa do estúdio. Marcos acenou para a cabine.
E três, e dois, e um:
- Olá, meus Babies, estamos de volta com o programa. Temos aqui uma pista do amore de Rita. Vamos cruzar os dedos.
O telefone tocou.
- Quem é?
- Olá bo...
- Olá Roberto – cortou Carlos – Larson está atrás de nós. Se 18 de Abril significa alguma coisa, por favor nos ajude.
O outro lado da linha ficou em silêncio.
- Não conheço nenhum Larson e essa data não significa nada pra mim. Sinto muito.
O telefone desligou.
* * *
O casal caminhava pelo píer, em direção ao barco de Carlos. Não tinham trocado uma palavra desde que foram expulsos pelo histérico Marcos. A passarela de madeira rangia a cada passada que davam. Resignados, assistiam os raios vermelhos de sol avançarem do horizonte pelo mar.
Sem que percebessem, uma névoa se esgueirou abaixo do píer e avançou pelas frestas da madeira. No céu, a bola vermelha se escondeu atrás das montanhas e a escuridão avançou pelo horizonte até alcançar Carlos. Ele sentiu Rita segurar seu braço com força.
Era tarde de mais. A névoa já os tinha envolvido.
Sussurros entraram na cabeça de Carlos.
“Caarlosss...”
“Caarlosss... O que você quer de Larson?”
Carlos girou o corpo como um tigre acuado:
A névoa avançou.
“O que você quer de Roberto Lamp?”
- Nós encontramos seu desenho na cabana de Larson. Se for nos matar, faça de uma vez!
A névoa dissipou e a escuridão deu lugar à luz. Na frente do casal, aonde havia névoa, estava um homem alto, com rabo de cavalo.
Ele sorriu:
- Nesse caso, meu amigo, são dois que Larson quer mortos.
- Me encontre amanhã na biblioteca dos Corais, às oito da manhã.
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