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Um Crime Perfeito

clandestini

Cylon ou
Um Crime Perfeito
Daniela de Lima Soares

[align=justify]Sempre achei que era bom demais. Miltão era muito bonzinho com aquela gente. Eu nunca entendi direito porque toda aquela palhaçada. Um dinheirão só pra construir o maldito condomínio. Sem contar o trabalho que deu pra enfiar aqueles papeizinhos na porta de cada família. Como se chama mesmo? Pros…pos…prospecto! E depois, usar aquelas roupas pinicando o tempo todo e ainda ter de ser simpático com todo mundo que passava. Mas o mais difícil mesmo foi vender as casas. Ainda bem que Miltão era formado, ele tinha a manha de convencer as pessoas. Acho que eles ensinam isso na faculdade.

Mas o que sempre me deixou muito intrigado era não saber de onde saiu o dinheiro pra construir todas aquelas mansões. O pessoal dizia que Miltão era um filhinho de papai revoltado que queria provocar a família. Eu nunca tive coragem de perguntar. O mais importante é que as trinta casas foram ocupadas. Tivemos ainda que agüentar um mês na tensão pra saber quando contatar os parentes. E que mês longo, talvez o mais longo da minha vida.

Nós éramos em oito sem contar o Miltão, que era chamado pelos moradores de senhor Milton. Tínhamos de cumprir tudo o que estava escrito naquele papel, o tal prospecto. Até pônei eu tive de ensinar a montar, e seria até bom sabe, se aquela piazada não fosse um bando de capetas. E pior que isso era acordar de manhã cedinho pra colocar aquele disco de bem-te-vi a tocar! Eta barulhinho chato. Mas todo mundo adorava, trazia um ar campestre para aquele “fim-de-mundópolis”.

Tinha cada um metido a besta “morando” por lá. Tudo Doutor, uns gostaram do lugar pelos bem-te-vis, mas a maioria se impressionou com a segurança. Eu acho até engraçado essa ironia que o destino aprontou pra eles. Entretanto, eu até me apeguei com alguns, tinha uma moça muito simpática que conversava com cada um de nós, os “guardas”, todas as manhãs quando passeava perto do lago.

Finalmente, chegou a hora tão esperada por todos. A hora de pegar as armas. Sim, porque não utilizávamos armas perto das pessoas, para continuar passando segurança. E nesse dia, lembro que era domingo, ao invés de colocarmos o disco de passarinho, tocamos a sirene, e foi tão emocionante! Foi legal ver a cara de sono misturada com a cara de medo no rosto daquele bando de gente rica. E Miltão, com seu maravilhoso poder de convencimento, pediu encarecidamente para que eles não saíssem do condomínio. Todo mundo concordou, afinal tinham tudo que precisavam bem ali. Nesse ponto, eu até achei boa aquela parafernália toda. Tudo estaria bem, se na Segunda-Feira a sirene não tocasse de novo. Aí o pessoal se revoltou: “Como vamos trabalhar?”. Uma gritaria só. E Miltão mais uma vez utilizou seus poderes mágicos e os convenceu a ficar, afinal de contas havia marginais no matagal ao redor do condomínio, e ninguém ficou desconfiado. E de novo na terça. E foi nesse dia que a polícia cercou o local. Tinham armas e até mascara de gás. Porém foi com isso que o pessoal se convenceu a ficar, aliás, não queriam mais sair. Acreditaram ainda mais na história dos bandidos nos matos ao redor.

Eu estava que não me agüentava mais, era muita tensão. Foi só na quarta –feira que o jatinho pousou lá dentro. Parecia um sonho, daqueles que aliviam depois do pesadelo. O Miltão foi lá e falou com os guardas e trouxe o que estávamos esperando há tempos, a maleta bendita. Entramos todos no jatinho e contamos todos aqueles dólares, verdinhos, cheirosos, novinhos. Naquele tempo um dólar era um dinheirão comparado com a moeda da época, nem lembro mais qual era.

Foi então que o jatinho decolou, e nunca mais vimos toda aquela gente, nem o Brasil. Fugimos em grande estilo hollywoodiano para o Caribe. Olhávamos pela janela e víamos a cara de “tacho” de todo mundo, tentando entender o que estava acontecendo e ríamos dos policiais usando máscara de gás. O que eles achavam que éramos, uns bandidinhos de meia tigela? Nós éramos a elite do seqüestro! Não iríamos utilizar bombinhas.

No Caribe dividimos o dinheiro quase igualmente, Miltão ficou com a metade porque era “o cabeça” da organização. Dividimos a outra metade em oito, mesmo assim deu bastante pra todos. Cada um gastou o dinheiro como bem entendia. Miltão organizou mais um ou dois seqüestros no mesmo estilo em outros países da América Latina, outros jogaram tudo e viraram funcionários de bordel. Eu gastei tudo com prostitutas e jogo, afinal nunca tive tanto dinheiro e não estava acostumado. Fui o único a voltar para o Brasil. Casei com aquela mocinha simpática do lago e tive três filhos. Infelizmente, quando ela soube quem eu era, teve um enfarte e morreu!

Pois é, nem tudo foi como o esperado. Eu sempre achei tudo uma palhaçada mesmo. Aquilo não era pra mim. Muito chique pra alguém como eu, um peão de obra metido com aquela gente. Mas agora está tudo bem.

- Acho melhor vocês voltarem pra casa que a mãe de vocês deve estar preocupada.
- Tá bem, vô. Tchau.

Ah! Se eles soubessem que tudo isso é verdade, velhos e bons tempos aqueles. Se fosse hoje eu teria gasto melhor aquele dinheiro. Mas não adianta chorar sobre leite derramado. Vou dormir que eu tenho que acordar cedo amanhã, a fila da aposentadoria vai estar grande.

Clic.

- Boa noite.

ATENÇÃO: Esse texto foi escrito baseado no conto do Moacir Scliar chamado “No Retiro da Figueira” para a aula de Experimentação Textual cursada em 2004. Publiquei primeiro aqui: http://boneca.trecosetrapos.org/2007/08/08/um-crime-perfeito/

EDITANDO: Aqui o link para o conto origial de Moacir Scliar: http://www.espcex.ensino.eb.br/downloads/cdc/2002/port_a_2002.pdf[/align]
 
pra entender melhor o seu conto, seria bom vc colocar um linque para o conto do moacir.

como li primeiro o seu, me pareceu faltar algo, talvez pq ficou mto ligado ao outro conto. assim, o leitor fica meio perdido sobre oq está acontecendo e vai perceber só no finalzinho.

depois de ler o conto do moacir, deu pra perceber melhor como vc se saiu bem. antes, ñ dava pra dizer isso.
 
Interessante a ligação dos dois textos!!!
Parabéns Clandestini, como disse JLM você se saiu muito bem
 
JLM disse:
pra entender melhor o seu conto, seria bom vc colocar um linque para o conto do moacir.

como li primeiro o seu, me pareceu faltar algo, talvez pq ficou mto ligado ao outro conto. assim, o leitor fica meio perdido sobre oq está acontecendo e vai perceber só no finalzinho.

depois de ler o conto do moacir, deu pra perceber melhor como vc se saiu bem. antes, ñ dava pra dizer isso.

Pois é, devia tercolocado mesmo o conto original, tendo em vista que ele foi abase para o texto que escrevi.

Obrigada por ter procurado e posto aqui.

Marcileia disse:
Interessante a ligação dos dois textos!!!
Parabéns Clandestini, como disse JLM você se saiu muito bem

Obrigada!
 

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