• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Tribuna do Leitor

Olá!

Proponho um tópico onde possamos postar sobre assuntos que nos interessem, mas que sejam expressivos, informativos, úteis de alguma forma enquanto meios de denúncia dos absurdos gerados pela política; também pode ser um lugar onde alguém coloque suas inspirações jornalísticas ou dotes literários à vista de todos. Enfim, eu tive essa idéia de um jornal aqui de Bauru, onde, numa página inteira destinada ao leitor chamada “Tribuna do Leitor”, todos podem expressar o que sentem; mas algo com conteúdo e não assuntos sem pé nem cabeça. Este tópico serve para os que gostam de escrever e desenvolver de forma mais elaborada suas próprias idéias, de forma que sirvam àqueles que lêem como um bom exercício de leitura.

Funcionaria de uma forma diferente à dos tópicos normais. Seria algo como um editorial criado por cada pessoa que postasse um assunto de seu interesse, evitando, assim, discussões sobre determinado tema, dando chances para que um maior número de textos possível e de variados assuntos fossem lidos e refletidos de uma maneira mais concentrada e organizada. Mas os comentários de quem se interessar por um determinado texto podem ser tolerados, evitando-se a censura. E quando o assunto abordado for de natureza política ou religiosa, não seria adequado induzir alguém a repensar as próprias idéias, mas apenas concordar, discordar ou expor a visão proponente sem que invalide a maneira de uma pessoa enxergar determinada situação.


Ninguém é obrigado a ler o que o usuário postar: é preferível cada um desenvolver o assunto que lhe convém, muito mais para extravasar o que não pode ser contido, por criar um sentimento de revolta ou por uma necessidade de expressão pura e simples.


O que acham?

:yep:
 
:clap: :clap: :clap:



Ótima idéia. Se eu não estivesse tão compenetrado nos estudos esse ano seria um usuário assíduo deste tópico. Mesmo assim, vou procurar postar minhas dissertações-treino aqui. :yep:
 
Sim, seria legal postar criações de cada um que não fossem diretamente relacionadas a Tolkien, como por exemplo textos, poemas, artigos, etc. Ótima idéia. Uma senhora idéia.
 
Antes que transfiram para o CdB, sugiro que NÃO o façam: o tópico sugere textos no estilo jornalístico, a abordar, portanto, temas da atualidade. O CdB é próprio para ficções e textos literários de modo geral.
 
Obrigado a todos vcs pelo apoio!!! =)

Mas acho que o pessoal não tem muito "saco" para elaborar textos, digamos, formais. E também acho que a galera entra mais para trocar idéia, divertir-se. Não que isso não seja legal, pelo contrário. Eu mesmo estou completando quase uma década de boas conversas pelos fóruns espalhados por aí. Mas seria bom um espaço como este, para os que gostam de brincar com as palavras.
 
Ok, eu começo...mas não se assustem com a minha eloquência tosca..





A PROPEDEUTICA SOBRE A ALIENAÇÃO SOCIAL E SUA AVERSÃO POR POLÍTICA



O que realmente mexe com meu espírito (e tenho certeza que mexe com o de vocês também, se não forem outra coisa que não seres humanos) e me traz mais motivação e disposição do que impressões esparsas de progresso social no dia-a-dia, é o estado autômato e arrefecido das idiossincrasias burocráticas dos mecanismos que regem o país. O Brasil é um dos paises mais burocráticos do mundo em se tratando de agilidade nas resoluções políticas e procedimentos diversos, como o da abertura de uma empresa ou aprovação de alguma lei consensual, tendo de passar por diversas “apreciações” antes que seja aprovada. E não digo isso a priori, mas diante de muitas observações em que constatei um sentimento geral de intocabilidade e superioridade por parte dos políticos, no que concerne ao modo como se dá a relação entre os procedimentos exigidos pela sociedade e aquilo que convém aos próprios interesses de quem tem a responsabilidade de zelar pelos interesses comuns. Temos uma lei que dá margem a infinitas interpretações, favorecendo, é claro, aos conspurcados políticos, quando estes cometem crimes de toda espécie, recorrendo aos buracos da Constituição. O político, então, sob a proteção de infinitos parágrafos constitucionais, acaba safando-se da justa punição.

Algo que presenciei me revoltou profundamente; apenas um espasmo de um problema maior, cujas entranhas eu tenho a obrigação de examinar do ponto de vista humano e não racionalmente meticuloso. Ando meio distante dos fóruns, mas surgiu essa motivação de preferir exercitar os dedos e a mente a viver no ócio inescrupulosamente. Nos últimos dois anos, tenho ficado cada vez mais inconstante e desinteressado por longas discussões, que sempre dão voltas e acabam onde começam, invariavelmente. Na verdade, eu estou ocupado com o despretensioso “A Jornada de Incalus”, livro de ficção-fantástica que estou escrevendo (longe de querer vender o meu peixe, diga-se de passagem).

Ante a impressão de uma algaravia, cabe explicar o meu uso da sínese e de períodos longos: em tudo o que escrevo, prefiro dar ênfase sempre ao sentido das coisas, e, assim, poupo-me de um rigor formal, cujo aspecto “pasqualizante” (alusão ao prof, Pasquale) não me agrada muito. E eu sempre uso períodos longos porque talvez seja apenas o resultado da insaciabilidade de “brincar com as palavras”. Não querendo deixar as emoções sobrepujarem a razão, mas, como eu disse, algo profundamente chocante me motivou à sinecura. O efeito que pretendo alcançar com o opúsculo é o de uma reflexão mais abrangente do fato que provocou o meu interesse em criar este tópico.


Com nove pessoas da área de Ciências Sociais, fui visitar o lixão da cidade, num estudo voluntário para ver o que eu saberia que veria: pessoas catando alimentos podres, sujos, destinados a contaminar essa gente esquecida pela política falaz e sórdida do Brasil. Eu vi esse absurdo todo diante de mim, tive que fazer perguntas a elas, algumas pessoas mal conseguindo pronunciar uma só frase com nexo; e tudo o que ouvi foram respostas de gente que não era mais gente, mas um simulacro de uma sombra de dignidade, diante da terrível conseqüência das políticas safardanas e pusilânimes do nosso país, escravo de interesses minoritários. Em meio ao lixo, duas garotinhas de cinco ou seis anos estavam olhando uma boneca quebrada, como se fosse um vislumbre de uma infância feliz. Perto das crianças, uma “tertúlia” de seis ou sete pessoas comendo o que encontravam pela frente, não importando o mau cheiro, as doenças cujos alimentos poderiam ocasionar. Imaginem, se isso acontece no Estado mais rico do Brasil, no mais ativo e avançado econômica e estruturalmente, o que será que acontece em outras regiões do país?

A que preço se alcança o atendimento às exigências de interesses mesquinhos de pessoas com grande poder de influência , cuja atuação exige do governo medidas que priorizem acima de tudo os interesses de indústrias, empresários e outros tantos homens de negócios, esquecendo que, antes do maior lucro que se possa obter numa grande negociação ou investimento, vem o valor humano? Se fosse feito um levantamento para saber sobre o conhecimento pessoal, in loco, dos grandes problemas enfrentados pelos indigentes, entre os políticos importantes, principalmente entre os centenas que fizeram parte dos infindáveis escândalos no cenário político recente, duvido que conseguiriam afirmar, com a cabeça erguida ou com a consciência limpa, que têm total conhecimento da dimensão da miséria e da dor de pessoas que vivem muito além, mas muito além das condições mínimas de saúde, alimentação, sanidade, dignidade...

Esse choque que sofri me induziu à propedêutica de três variáveis, numa questão que envolve a todos nós: Ideologia, Democracia e Capitalismo:


IDEOLOGIA – Ciência da formação das idéias; tratados das idéias em abstrato; sistema de idéias. 2. Filos. - Pensamento teórico que pretende desenvolver-se sobre seus próprios princípios abstratos, mas que, na realidade, é a expressão dos fatos, principalmente sociais e econômicos, que não são levados em conta ou não são expressamente reconhecidos como determinantes daquele pensamento.


DEMOCRACIA – Governo do povo (e não para o povo, através de pseudo-representantes); soberania popular. Doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, não no sentido proposto por Montesquieu, da divisão entre Judiciário, Executivo e Legislativo, cuja aplicação dar-se-ia, efetivamente, na monarquia constitucional britânica e não numa democracia, cuja estrutura seria erguida de uma forma diferente. Enquanto as estruturas de classes se mantiverem, não há possibilidade da viabilidade do próprio sistema democrático. Como disse o próprio Montesquieu: “a democracia baseia-se na virtude, a monarquia na honra e o despotismo no medo”.


CAPITALISMO – Sistema social fundado na influência ou predomínio do capital; regime social em que os meios de produção constituem propriedade privada, pertencentes aos capitalistas, favorecendo, logicamente, a concentração intrínseca do poder, alargando, por um processo gradual gerado pelas contradições, as desigualdades sociais.

Essa revisão básica e “ultrapassada” dos três termos talvez ajude a lembrar o quão longe estamos do ideal de vida.

O que digitarei a seguir significa uma micro-revolta do que sinto em relação à evolução ou perpetuação do capitalismo, que provoca um helotismo cruel, com seus efeitos tremendamente negativos à dignidade humana, e cuja medição se aplica não apenas às condições humanas materiais, mas à liberdade, à valorização de um ser humano enquanto tal. Não é uma visão maniqueísta minha, mas uma reação àquilo que vejo, sinto e penso. Não sou de esquerda, centro, direita, anarquista ou beatnick. Cabe dizer logo que não tomo partido daquilo que a História mostra, sobre as ineficazes tentativas de colocar em prática as teorias políticas; tentativas que foram na verdade meros pretextos para maquinações tenebrosas.


Vivemos numa época esclarecida, e talvez seja antiquado discorrer sobre assuntos “manjados”, mas todas as coisas do passado são as nossas próprias “certidões” de existência, todo o passado nos certifica de que só estamos dando continuidade à vida, não a melhorando. Não somos evoluídos a tal ponto de não precisarmos mais levar em consideração os ensinamentos e acontecimentos passados, que nos orientam no sentido de não cometermos os mesmos erros e, também, por que não, acreditar em grandes ideais de vida que muitas pessoas cultivavam. Nossa vida só existe porque houve um passado, sem o qual não estaríamos aqui para tentar entender os mistérios insolúveis das sociedades humanas, as continuidades dos abusos dos mais fortes sobre os mais fracos.


Tenho a nítida impressão de que nossas sinapses, que ajudariam a resolver a apatia nacional e a ausência, naqueles que nós colocamos no poder, de um planejamento rigoroso para sanar problemas indesejáveis, praticamente já não existem. Sem generalizar, vivemos na sorna atualmente, marasmáticos, inúteis e irresponsáveis. A responsabilidade e utilidade que prezo não têm a ver com as concepções que o capitalismo impôs aos termos ao longo dos últimos três séculos. Nos tempos atuais, infelizmente, têm a ver com um compromisso frívolo, supérfluo. Meramente mecanizado.


O valor e identidade de alguém são determinados por fatores estranhos à pessoa. Só somos valorizados pela nossa produtividade no mercado e não por sermos quem somos naturalmente, seres portadores de valores em si mesmos, partindo das próprias qualidades inatas. Somos vítimas da alienação do modo de vida em função do “aperfeiçoamento” individual em prol da maximização do lucro e consumo. Num mundo dominado pelas finanças, os lucros e perdas, cujas responsabilidades recaem no ser humano, determinam e definem o critério último do valor de todos nós, segundo nossas capacidades produtivas. É essencial a reflexão sobre a continuação desse sistema, que privilegia os poderosos e coage os miseráveis em suas reivindicações. “Somente um terço da população realiza trabalhos realmente úteis para a sociedade. Os outros dois terços , por distorções geradas pelo capitalismo, são levados a desempenhar funções supérfluas ou a viver como parasitas na opulência.”( Fourier)

Como é comum, nos círculos literários sociológico-econômicos, a verificação idiossincrásica do processo da economia de mercado, nenhum metido a Rockefeller ou Cecil Rhodes irá abrir mão do que possui para promover a redistribuição de renda e colocar a todos num mesmo plano de igualdade. Na vida, pouca coisa ou nada se equivale a isto: preocuparmo-nos com a busca da real felicidade do maior número de pessoas possível. Ninguém é puramente feliz sabendo das tristezas do próximo, que come restos de comida do lixo, dorme no chão duro e sujo; e, com o passar do tempo, passa a delirar e a falar sozinho pelas ruas soturnas da vida, um monólogo da tragédia brasileira.

Sabemos tão bem, não graças à propedêutica pela qual somos submetidos através de uma mídia suspeita e, muitas vezes, tendenciosa, que as políticas, não só no Brasil, mas em boa parte do mundo, subdesenvolvido, são apenas articulações perfunctórias: a história é clara ao mostrar-nos a falsa convalescença de (ir)responsáveis que aprendem, de preferência em época de eleição, a persuadir os eleitores sobre como se deve gerir um país como o Brasil; depois de crises políticas e econômicas que suas próprias ganâncias e interesses particulares provocam sobre todos nós.



Pergunta: é saudável viver aceitando as proposições do jogo capitalista, tendo em mente que o presente desse sistema faz da pessoa um ligio acéfalo? Considerando, ainda, que o passado foi marcado por milhões de atrocidades que não podem ser esquecidas em nome do progresso econômico e, na maioria das vezes, em nome da pura ganância? Sei que estou fazendo chover no molhado, mas muitos não entendem que o jogo do lucro entre poderosos conglomerados não é apenas arcano de um sistema econômico e político, mas um instrumento afiado e infalível de alienação de todos nós, sob várias formas. O “ganhar dinheiro” ganha importância como um fim em si mesmo.


Não quero fazer lembrar que não defendo aquilo que as pessoas chamam de comunismo. Andam dizendo por aí que aquele sistema morreu. É um erro afirmar que morreu algo que nunca existiu. Críticos vorazes dos “comedores de criancinhas” estão nada mais que usando, provavelmente, de um paralogismo, talvez inconscientemente. Eu não sei o que acontece para que as pessoas se deixem abater, desvalorizando as coisas oníricas tão naturais dentro de cada um, cedendo grandes ideais por causa da grande adversidade que encontram, diante do domínio quase que total do globo terrestre por interesses recalcitrantes e renitentes.

Atualmente, não há sentido para uma pessoa, acuada pelo incentivo ao consumo excessivo, usar o dinheiro como meio apenas para a manutenção da vida; assim, ocupar-se com outras coisas mais eminentes. Resgatar a época de ouro, onde o homem era valorizado como tal, acima de qualquer possessão material ou do caráter rotular (quanto maior a patente e mais importante o cargo exercido, mais valorizada a pessoa é). Uma pessoa deveria ser reconhecida pela originalidade enquanto indivíduo pensante e não pelo seu serviço subordinado às convenções disseminadas pelos exploradores ociosos; deveria ser admirada por sua superioridade de ser em relação aos valores materiais de ter.

No mundo do séc. XXI, uma só pessoa não tem voz, mas sim um grupo influente; o jogo das ações nas bolsas de valores, as especulações, as tramóias beligerantes de superpotências em países destroçados de diversas maneiras, sob o pretexto de assegurar a estabilidade de uma nação! Todos nós sabemos que centenas de bilionários e milionários têm o controle do mundo e nunca irão permitir que bilhões de subnutridos e miseráveis os igualem; pois, aí, os bilionários e milionários perderiam suas posições. Ver-se-iam em pé de igualdade com “seres inferiores”. Assim julgaram os pregadores de sofismas do mercado livre, ao defenderem o processo de fazer valer suas concepções distorcidas de civilidade, à custa do capitalismo, rebaixando os valores culturais milenares e a concepção de felicidade que os povos subjugados tinham antes de serem colonizados ou totalmente destruídos pelo expansionismo avaro dos países “civilizados e capitalizados”.

Por isso, as guerras impostas pelos capitalistas ao longo dos séculos, sob pretexto de “civilizar” um povo ou, nos tempos atuais, “defender a segurança da nação e a democracia”, são atos repulsivos e totalmente inaceitáveis. Diferente, porém, de quando os oprimidos reagem e partem para a resistência legítima e cabível em situações de imposições arbitrárias por parte dos prósperos “países-modelos”. Principalmente dos imperialistas, cujos nomes (atualmente só há um Império de fato) nem precisam ser citados, que passam por cima de protocolos e de organizações importantes, mesmos que certas organizações já não inspirem tanto respeito pelas concessões que fazem em situações que envolvem grandes interesses econômicos.


Os resultados mais terríveis das políticas expansionistas foram, além das lindas colonizações no decorrer dos últimos cinco séculos, que ocasionaram a destruição em massa de povos e culturas, as duas “pequenas” Grandes Guerras; ocasionadas, assim como as colonizações, por variáveis que convergiam a um interesse maior, de cunho econômico das classes burguesas. Estas governavam os países diretamente envolvidos e ainda governam, sem nenhum intervalo de participação significativa da população na aprovação dessas políticas, que se restringem à agregação de todo tipo pensável e impensável de recursos naturais, consequentemente, caracterizando roubos e mais roubos. Aliás, poucas foram as guerras importantes (não todas) desde o sepultamento do feudalismo, que tiveram como motivo a defesa da justiça e das vidas humanas, mas sim a defesa de interesses exclusivamente comerciais, seja querendo anexar territórios para alocar e investir excedentes humanos e econômicos seja impondo ao mundo seus ditames políticos.

Existem motivos para absolver as políticas capitalistas dominantes do mundo? Não que, com isso, eu esteja louvando esforços pseudo-comunistas, que estiveram longe da promoção da justiça. Stalin, o personagem que marcou negativamente a imagem do comunismo e personificou a tirania no século passado ao lado de Hitler e Mussolini, fez das ideologias um mecanismo inverso, de acordo com suas próprias convicções, segundo seu solipsismo alienado. Tratou de distorcer os ideais socialistas, recriá–los à sua imagem e semelhança, o que ocorreu também na “Ilha de Fidel” (não com tanto rigor e com os mesmos princípios, é verdade) e com a China de Mao Tse-Tung, acarretando toda a destruição de vastos trabalhos intelectuais daquele povo com a chamada “Revolução Cultural”, além das milhões de mortes de camponeses.


É ruim, é chato ficar tocando o mesmo disco, várias e várias vezes, esperando que realmente alguém o escute com a devida atenção. Vivemos com gigantescos problemas, e não somente com aqueles que o governo diz que está resolvendo, apenas com a ajuda do PAC (Programa Amorfo e Canhestro). Certas medidas governamentais, supostamente positivas para todos e resumidas na retórica da eficiência, edificada e santificada por Lula no famoso “Como nunca antes na história deste país”, que por sinal pode virar slogan no vidro dos carros, são somente “para inglês ver”.


Quando vemos, no cenário político, a entrada de pessoas como Clodovil, o que podemos dizer? De quem é a falha para esse acontecimento, no mínimo, bizarro? Com quantos votos de pessoas apolíticas e alienadas esse cidadão ganhou o direito de somar sua mediocridade à de tantos outros parasitas no poder, que só estão na política para ganhar dinheiro fácil, já que, fora dela, não são capazes nem de comprar o próprio sustento? Que antecedentes ligados às causas sociais certas pessoas exóticas têm para se candidatarem a cargos tão importantes e sérios como o que ocupa nosso “querido” supracitado?


Questionarmo-nos seria importante, criticarmo-nos pela forma como pensamos como nação. Nunca assumimos a liderança de nós mesmos, pois sempre fomos títeres de poderes vis. Não querendo passar a impressão de um ingênuo ou mesmo fanático (dependendo da impressão de cada um), e não querendo levar as pessoas defensoras do capitalismo à fogueira, mas inevitavelmente essa estrutura baseada na maximização do lucro e consumo esgota nossas potencialidades, influi, governa, engana e limita nossas vidas.


Fazemos muito pouco se isso que chamamos de democracia está a nosso favor. Há uma ausência de ideologias essencialmente humanas, cujo comprometimento em favor do bem-estar de todos ajudaria a manter esperanças de um mundo em que todos pudessem ter o que comer (já que Malthus não estava certo), o que vestir; além de meios de sustento e desenvolvimento plenos. Quase nunca nos aprofundamos no significado real das lutas por justiça social, a não ser na época de escola, pois fizemos das lutas sociais apenas um símbolo símile ao sebastianismo dos portugueses; nem nos lembramos muito dos movimentos artísticos como parte da denúncia dos problemas inerentes da sociedade; ignoramos a história como um todo, de exploração arbitrária de nossa terra, de extermínio de índios e marginalização do negro, antes e depois da alforria.


Os problemas no Tibet, Paquistão, Afeganistão, Iraque, de alguns países na África ou os recentes em Myanmar, mostram que as lutas daqueles oprimidos para derrubar as correntes que lhes aprisionam são inócuas; pois as variáveis problemáticas são maiores que as nossas. As deles envolvem resistência contra a nojenta ocupação dos EUA em seus territórios, rixas religiosas milenares, pobreza extrema e total falta de liberdade de expressão. No entanto, há mobilização respeitável e digna de inspiração, coisa que não temos há quase duas décadas aqui no Brasil. Apesar de a política brasileira não ter os mesmos problemas daqueles países, que nos dariam motivo para revoltas em massa, somos coagidos a ficar num estado de inércia diante dos mandos e desmandos, corrupção e altas taxas de impostos, que não são devidamente investidos em políticas públicas, mas desviados para fins dos quais já estamos cansados de saber.


Essa indissolúvel babel política deveria existir para pôr ordem e realizar o bem-estar da população; e não entrar em conluio com detentores de capital e, assim, beneficiar interesses de um grupo restrito, deixando proliferar barbáries em camadas pobres e mesmo médias da sociedade! Não tem como admitir que exista ou existiu algum sistema político e econômico que nunca deixou milhões na miséria e ignorância, mas a impressão que dá é que o capitalismo bateu todos os recordes de injustiças e desumanidades possíveis. E sua máquina produtiva intensiva acelerou, drasticamente, o processo de morte de um dos maiores tesouros do homem: o meio ambiente. O capitalismo industrial e financeiro deixou o homem reduzido a uma simples peça de uma máquina corporativista. O ser humano aderiu à pressa do dia-a-dia, instituída pela ditadura do relógio, que mudou radicalmente a natureza psicológica de todos; alterou o nosso poder de “senhores do próprio tempo”.


Num país onde a pessoa lê, em média, dois livros por ano, segundo a Câmara Brasileira do livro, é de entender-se o atraso mental da sociedade. Considerável parcela subestima o poder de um livro, como se fosse um passatempo qualquer e não um meio de transformação poderoso; uma arma contra as imposições daqueles que nos governam, e contra o próprio avaro mundo dos negócios, que impõe o hábito de produzir e consumir repetida e impensavelmente. Não cultivar a leitura é um desastre para os planos de desenvolvimento da nação. Raramente vejo alguém lendo um livro numa fila de espera qualquer (no máximo, mulheres lendo “Caras”, “Alto Astral” e coisas do gênero. Os homens, no máximo, arriscam palavras cruzadas nas bancas de jornais e praças). Não estou dizendo que uma pessoa é aquilo que lê, mas através da leitura ela conhece outros pontos de vista, amplia suas capacidades mentais e funcionais, deixa-se levar pelas letras para ter uma vida lúcida e proveitosa.


Infelizmente, não há tempo para uma reorganização mental, uma revisão dos valores e das condutas por parte dos cínicos e intolerantes, nem por parte dos próceres intelectuais, que se encontram retirados das causas mais importantes e, no máximo, aparecem em revistas “conceituadas”, arrotando erudições que nada valem para o povão.Depois que fui ao lixão e vi gente comendo alimentos em estado de putrefação (ou parecendo estar), vi que minha vida é um paraíso diante da vida desses coitados. E o sentimento de culpa recai sobre mim, porque eu sei que não estou fazendo nada, absolutamente nada ao postar aqui... mas é difícil ficar quieto.

Todos estão dispostos a defender a estabilidade econômica e continuar com o processo de produção intensiva, como se esta tivesse a onipotência para corrigir o problema crônico e irreversível do aquecimento global, cuja conseqüência em médio prazo já foi confirmada por especialistas e não por meros sensacionalistas de plantão. Os homens de visibilidade e visão na mídia comprometidos com causas nobres (como Al Gore em relação ao meio ambiente), são criticados porque seriam, supostamente, figuras querendo fama, reconhecimento e glorificação, como imperadores divinizados ou deuses-faraós. Como se a generalização tivesse de ser regra pétrea e não houvesse gente de essência altruísta e consciência compassiva, em vez do sarcasmo e ironia carcomidos.

Não existe mais lugar para perceber e censurar a nossa maldade, olhar o nosso orgulho abjeto e achar alguma humanidade que nos faça ficar inconformados de tal forma, que mudemos a nós mesmos. Pelo menos, poderíamos tentar entender o que é o sofrimento do nosso próprio povo, e imaginar o significado e o papel de cada um de nós. Quem pode dizer se votaremos decentemente nas próximas eleições nesta democracia tupiniquim?


Democracia... se os mesmos coitados dos lixões pudessem ter seus desejos atendidos, aí sim seríamos uma democracia, mas não somos! Somos qualquer coisa menos democracia. Eu nasci em plena ditadura, embora numa fase mais “branda”. Desde então, nesses míseros anos considerados democráticos, não temos liberdade suficiente para mudar este país. Preferimos alimentar nossa covardia de olhar, num canto de uma calçada, um ser humano jogado como um resto de imundície, vítima das deformidades institucionais deste país, e mero “efeito colateral” de certa eugenia por parte do seleto grupo dominante.

O mais perto que temos de democracia é o Ministério Público, cuja Constituição Federal confiou-lhe a defesa do “regime democrático”. Por ser o Ministério Público encarregado de fazer funcionar a própria Constituição, verificamos a ineficiência de todo e qualquer mecanismo na defesa da justiça em todas as suas vertentes. Quando alguns funcionários desse órgão se acham em suspeita de corrupção; ou, quando alguns deles cometem crimes e são protegidos, com privilégios absurdos, aí vemos que tudo é movido por discriminações. Teoricamente, o MP zela pelo efetivo respeito pelos Poderes Públicos aos direitos assegurados na Constituição. Mas vivemos sob uma Lei mais consuetudinária do que a estabelecida “democraticamente” na Câmara.


Independentemente de nossa realização pessoal, a verdade é que estamos, ricos e pobres, todos num barco furado, e não somos essencialmente felizes, mas passamos por lampejos de doces ilusões, que duram como intervalos num grande filme de baixeza humana. E somos jogados, de um lado para o outro, por tsunâmis de corrupção e desleixo da maioria dos políticos. Estamos:

“nesse país que alguém te disse que era nosso .
Posso morrer de vergonha, mas ainda estou vivo.
Eu vou lutar, eu vou lutar...
Eu sou Maguila, não sou Tyson”

. (trecho da música “Perplexo”, dos Paralamas do Sucesso).


Como disse Proudhon, não querendo ser superficial demais: “a propriedade é um roubo”; ou, como disse “o bom selvagem” Rousseau: “A terra não pertence a ninguém e os frutos são de todos”. Que apareçam os devotos de teorias keynesianas ou ricardianas para fazer crer que o capitalismo vale a pena. Quero ver uma só pessoa dizer que o capitalismo não é de todo ruim, se ao mesmo tempo puder entender a dimensão do que é ter de comer do lixo, do que é passar todas as noites dormindo nas ruas, ver a própria humanidade que lhe resta perder-se a cada dia, abandonado por tudo e por todos. Estamos sendo dilacerados sem que sintamos isso na pele.

Preciosos são os planejamentos e estudos, coisa que o Brasil parece estar longe de resolver. Celebremos a educação pública, que deveria ser chamada de “má educação pública”, abrigando a esmagadora maioria das crianças e jovens, que são o clichê “futuro do nosso país”. Quem deve resolver a situação parece não ser mais a política, que nunca considerou planejar com devida atenção e rigor formas de solucionar problemas crônicos, nem tampouco parece incumbência da miríade de partidos políticos, com seus infinitos interesses e rixas pessoais; ou dos ministérios disso e daquilo que só enchem lingüiça e apenas aliviam momentaneamente um mal.


Fora o desrespeito do Judiciário, cuja Lei obriga que se cumpra rigorosamente o prazo estabelecido para cada processo em julgamento. No entanto, cada juiz tem cerca de 3 mil processos no ano para dar conta, o que é impossível para um ser humano. E o problema do descumprimento da Lei é generalizado nos três poderes. Se a Constituição diz que todos têm direito à moradia, trabalho e educação, o que os políticos fazem é coadunar os erros passados e preservá-los no presente, jogando a batata quente nas mãos do próximo governo. Deveriam tomar vergonha na cara, preparando uma alteração consubstancial na Constituição, pois a de 1988 parece não ter sido suficiente, talvez pela falta de clareza, simplicidade e por ter preservado a burocracia. A política, infelizmente, preza mais a falácia, os gastos gigantescos do dinheiro público para fins ilícitos, que não beneficiam diretamente o cidadão comum.

o povo não entende as maquinações políticas e, incrivelmente, não conhece a história do próprio país para querer mudá-lo doravante; pois, para muitos brasileiros, a fama de heróis já basta aos “corajosos” bandeirantes exploradores de nossa própria riqueza natural. Para muitos brasileiros, os bandeirantes são os grandes exemplos que temos de heroísmo, e não um Carlos Prestes da vida; ou quem sabe o grande Niemeyer, que por sinal é um comunista dos mais exemplares até hoje, pelo seu fantástico humanismo contagiante.


O fato incontestável que prova a nossa lassidão e a falta de percepção, desde o início dos anos 90, da mediocridade das condições do povo brasileiro é que, em países como França e Itália, pessoas da camada média e da camada baixa fazem muito mais por muito menos , em comparação com o que se faz aqui muito menos por muito mais. Mesmo os jornalistas daqueles países parecem os mesmos jornalistas brasileiros que aqui falam de nossos problemas gravíssimos, como o da generalizada burocracia, da falta de planejamento rigoroso e democrático das políticas públicas, além dos impostos recordes e do problema infra-estrutural das instituições públicas.

Para aqueles que dizem que tomar como exemplo outros países é inveja e falta de personalidade, não querem considerar que foram esses outros paises que contribuíram infinitamente mais do que o Brasil para o mundo, seja com análises riquíssimas sobre vastas áreas do conhecimento, com histórias de revoluções e de grandes feitos culturais; seja com ideologias econômicas, políticas e filosofias humanas tremendamente valiosas. É melhor pecar pelo excesso de engajamento social ( como eles fazem) do que pela negligência. E a Educação é a pedra fundamental sobre a qual as pessoas deveriam se apoiar. Apenas isso! É o essencial e não o temos.


O brasileiro reclama muito dos impostos e da corrupção, com razão, mas isso não fere a estrutura política. Precisaria contestar ativamente, coisa que faz bem pouco. Reclamar é atacar superficialmente os problemas. Contestar é assumir para si o conhecimento exato do problema em seu todo, propondo saídas através de argumentações consistentes que confirmem os erros cometidos pela política e exigir soluções rápidas e racionalizadas. Não podemos abrir a guarda e ignorar aqueles que concorrerão nas eleições ulteriores. Precisamos conhecê-los como pessoas, saber de suas propostas, e escolher candidatos que necessariamente combatam as causas e não os efeitos dos problemas sociais. Apesar de a visão de uma escolha correta ser nada mais que um fogo-fátuo.

A falta de interesse pela política apenas mantém o estado supérfluo em que nos encontramos, o que impede, totalmente, uma mudança significativa da relação entre governantes e governados. E quase todos os programas sociais do governo são apenas remendos em vestes rasgadas, enquanto que panos de linho nobre são adquiridos pelos mesmos homens que insistem em declarar a importância do crescimento econômico, mas não fazem questão de fazer deste crescimento o meio principal de promover justiça social. Eles insistem em dizer que o brasileiro da classe baixa está consumindo mais, vivendo mais, mas a diferença entre ricos e pobres mantém-se inalterada, com a mesma distância e discriminação de mundos. Segundo noticiário recente, a porcentagem de pessoas que compõem a classe média é de mais de 40% da população brasileira. Depende do ponto de vista de quem fez o estudo. Talvez seja meramente relativo ao poder de compra e não a todos os outros quesitos, mais relevantes.


Amplia-se o poder de compra dos pobres, mas pouco se faz para que as qualidades de saúde e educação sejam as mesmas dos abastados. Consumir mais não interessa, não serve para nada, pelo menos não esse modo de consumo exacerbado, instigado pelo comércio, num mercado competitivo que enche as pessoas de inúmeras vantagens e de uma variedade infinita para um mesmo tipo de produto; com formas de pagamento atraentes, descontos, promoções, etc. É exatamente como a política do “Pão e Circo” dos antigos imperadores de Roma, que distraíam os plebeus e mantinham o controle sobre a massa.


Acontece a mesma coisa hoje em dia, só mudando as roupagens: de rústicas para as modernas de grife; mantendo o círculo vicioso de submissão do homem governado pelo homem capitalista governante. Nós somos muito complacentes com aquilo que nos prejudica: as frivolidades do consumo e do trabalho excessivo, que se transformam em lucros para donos de empresa. E, com o efeito dos ganhos, é mantido o jogo das confluências entre políticos e grandes empresários, cada um deles saindo no lucro com o “sucesso” do crescimento econômico.


É insuportável envelhecer com uma política sem luz, que capitula em nome de situações instáveis, como crescimento econômico. Como se isso fosse durar décadas, sob uma certeza absoluta de prosperidade e nunca suscetível a outros fatores que saem do controle do governo. Precisamos considerar dois fatores que contribuem para a situação ingrata em que nos encontramos: os gastos descontrolados do governo, com seus poucos investimentos públicos significativos, que na verdade são frutos do desconhecimento dos eleitores sobre seus candidatos, ocasionando, posteriormente, a ausência da cobrança da sociedade, por um esquecimento total do representante no qual votou; outro fator são os pilares que sustentam a política: os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário: as mazelas sociais provêm da complexidade da má estrutura organizacional dos três poderes, que não se resolvem apenas com os auspícios de legisladores e executivos aristocratas e consuetudinários benemerentes; ou remedia-se com o simples circunlóquio do jogo econômico, mantido pela prosperidade da cornucópia elitista.


É razoável admitirmos que mudamos tão rápido quanto a valorização de uma moeda no mercado; ou tão rápido quanto a tecnologia, que se transforma devastadoramente num ritmo frenético. Mudamos da ideologia do “do it yourself”, dos engajamentos dos tempos glamourosos, em que as pessoas eram fautoras da justiça, para um estupor letal e insensível, até para certas pessoas estóicas que agora se hibernam do mau tempo, que ocasiona essa adorável leniência até mesmo no mais fervoroso adepto das causas sociais, dando as costas àqueles que lutaram e lutam a vida toda para conseguir uma vida digna, sendo que, no fim do último suspiro de esperança, tudo o que conseguem encontrar não passa de um imenso nada.


Enquanto isso, na “Sala da Injustiça”, os heróis maltrapilhos assistem à boa parte da atual geração degenerar-se (para mim, a maior parte, depois de minhas minuciosas considerações). Geração que não diminui seu tempo livre com Orkut, televisão, You Tube, baladinhas insuportáveis e estressantes, onde duas pessoas mal conseguem manter uma permuta, um bom papo. Enfim, alguém não faz da companhia algo importante, para ouvir o que o outro tem a dizer, antes de querer se fazer ouvir ou dar espaço à neurastenia, cuja sombra lhe vigia como algo permanente e perturbador. Se pelo menos trocassem as baladas em casas noturnas por Pubs já seria um avanço significativo. Pois os Pubs têm aquele clima propício para as trocas de idéias, aprofundar mais nos assuntos da vida. Até dá para conhecer melhor as pessoas nesse tipo de ambiente, em comparação a uma vulgar casa noturna de frivolidades pululantes.

E, nessa rotina deprimente das baladas noturnas carregadas de ópio chamado música eletrônica, soma-se a relação promíscua que os jovens estão tendo, fazendo de alguém apenas um meio de conseguir prazer reles. O relacionamento efêmero e governado pelos impulsos (e quase nada pelas considerações dos sentimentos alheios) é um modo de escapar de responsabilidades. A garotada, como não tem limites impostos de maneira saudável, perde-se e acaba indo cada vez mais no caminho contrário de um bom desenvolvimento. A linha entre um jovem irresponsável e um adulto irresponsável é tênue. Se levarmos em consideração que a irresponsabilidade predomina na política, que futuro podemos ter, se os mesmos jovens de hoje se tornarem irresponsáveis quando virarem adultos e esquecerem de lutar pelo fim de coisas terríveis as quais milhões estão submetidos?

Só depois que crescem, saindo da adolescência, passam a entender que a rebeldia e liberdade sem freios do adolescente são coisas patéticas. Como a minha rebeldia adolescente o foi muitas vezes. Se a rebeldia não tem como força motriz as desilusões deste mundo degringolado, então a rebeldia não é válida. As desilusões sobre si mesmo e sobre pessoas que o cercam, como os pais “autoritários”, têm outro nome: frescura, ocasionada pelo muito que possui (saúde, educação e pais responsáveis), sendo que deveriam lamentar por todas as frescuras e sentir o que é revoltar-se de fato, quando se caminha por aí e não vemos o que vemos: o resultado degradante de nossas próprias alienações de políticas pelas quais somos TOTALMENTE responsáveis, já que damos o poder aos nossos representantes. Esse resultado degradante está encarnado nos milhares de mendigos, delinqüentes e outros “efeitos colaterais” da prosperidade econômica alicerçada na Mãe Democracia.


Tudo bem que a família é quem dá a educação essencial e insubstituível para uma boa formação psicológica do filho, com a escola servindo apenas de complemento. Mas se a família anda cada vez mais desestruturada, por fatores como desemprego, pais ausentes (com a desculpa de excesso de trabalho...), e pelo excesso de individualismo dos pais, não sabendo respeitar as diferenças do outro e valorizar a cumplicidade, ocasionando rompimentos entre casais, devemos culpar quem acima de tudo? Claro que é o modo como a sociedade se deixa levar por valores extremamente duvidosos do mundo capitalista, cuja avareza chama a sociedade ao cumprimento dos compromissos voltados para o lucro; pois estamos, infelizmente, num mundo onde o dinheiro vale mais que a vida humana.


Passamos da submissão à ditadura militar para a submissão à ditadura dos paradigmas, transformando-nos em robôs com tarefas rigorosamente pré-definidas, que se impregnam por todos os cantos, fazendo da pessoa, dia após dia, incapaz de diferenciar o bem do mal, o justo do injusto, a hipocrisia da austeridade. Todas essas coisas estão muito à frente da própria pessoa, que regride cada vez mais por causa do avanço desse mecanicismo e dessas formalidades nas regras de conduta. A pessoa fica padronizada e controlada pelos ditames da impessoalidade na relação entre empresa e funcionário; também entre governo e governado. Aí é que vez por outra sentimos certa inutilidade, que precede as crises existenciais, pois alguns relutam em conhecer a verdade crua e nua da vida opressora que levamos, e, quando isso sai do nosso controle, mergulhamos nos questionamentos sobre a existência da vida e todo o sentido que dela deriva.

Seria bom esquecermos de tudo o que fazemos atualmente por um dia; e fazermos de conta que temos o poder sobre nossas decisões, sobre o que iremos fazer com o tempo livre: se iremos fazer da rotina procaz a nossa própria limitação, a nossa escravidão contemporânea ou se nos libertaremos definitivamente, recorrendo a bons conselheiros e amigos, como os livros e os desprendimentos das coisas materiais. Tirar 1 hora do dia para lembrarmos que somos essencialmente iguais e temos os mesmos direitos e deveres, potencialidades acima de qualquer sujeição a valores determinados por parolas da parvoíce humana.


Eu não sei se realmente a maioria das pessoas acredita que as coisas materiais que consegue, com o suor do trabalho assalariado, têm valor suficiente para fazer valer toda a submissão, em detrimento de uma felicidade que se estenda a todos. Não é possível que uma vida feliz emane de fatores externos e inanimados, materiais e veniais, de comodismos. Mas aí eu lembro da robotização humana em curso; então, eu sei que o pesadelo é real. Vivo-o! Como devem estar desamparados os Audous Huxleys e Charles Dickens da vida!

Já estou acabando o calhamaço. Num mundo de abundância de alimentos e riquezas (isso é fato), é surreal saber que a maior parte do mundo é pobre e não consegue suprir necessidades básicas. Deveria haver uma lei que tirasse dos ricos para dar aos pobres. Pois a História mostra que o contrário foi regra nas condutas humanas, desde quando o homem passou da condição de caçado a caçador, coletor das pilhagens de guerra contra os mais fracos. E o argumento do “ganho através do próprio suor”, através do qual o rico se defenderia, teria que obrigatoriamente ser invalidada até o dia em que as injustiças fossem anuladas, porque sabemos que o problema da pobreza não está na preguiça do pobre, ou na suposta inferioridade intelectual e funcional das pessoas dessa classe, mas se trata de um problema que faz parte de um processo continuado e vicioso, de privilégios, de arbitrariedades em todos os sentidos daqueles que se aproveitam das facilidades ocasionadas pelo poder.

Estamos, em última instância, acometidos de algóstases intratáveis; e todas as explicações para fatos injustificáveis são meros arremedos de sentimentos que não podem ser expressos em palavras. Todas as diversas respostas para as diversas maneiras de questionar o mundo são, talvez, desculpas para defender o próprio sentimento inexoravelmente abstruso. A convicção de cada um está muito mais caracterizada em atitudes do que em palavras. E, assim, explica-se o estado especioso (ilusório, enganador) em que vivemos: estado das aparências, das máscaras que usamos no teatro diário da vida.

Eu não gostaria nunca de ser um político, pois não é fácil ser igual a um Pedro Simon, íntegro, resistente ao poder corrosivo da política. Por isso mesmo, tenho um profundo sentimento de respeito para com homens como ele, que pouco aparecem na política desferindo chavões e nem se deixam influenciar pela decisão do próprio partido a que pertence, se este está em desacordo com a vontade da nação.


Precisamos participar mais do nosso mundo, exigir menos burocracia (isto é o que afasta o brasileiro da política), ter mais engajamento, mais reflexão, menos egoísmo; pois, no fim, sentimo-nos pequenos e odientos com nossas ocupações que servem apenas aos interesses individuais de cada um. A vida não pode ser “cada um por si”. Somos partes das mesmas dores e alegrias; temos, no âmago, a benevolência e a malevolência; mas o que parece sobressair-se é a capacidade de tratarmos com desdém os sofrimentos e problemas alheios, acarretados pela miséria e ignorância provenientes daqueles que nós colocamos no poder. Achamos que nunca iremos passar por uma catástrofe igual, como se fossemos escolhidos a dedo, selecionados pela própria natureza darwiniana a sobreviver e, consequentemente, tivéssemos o direito de achar-nos melhores que os outros que não têm acesso às ferramentas intelectuais para poder equilibrar o jogo.



A verdade indiscutível é que, no dia-a-dia, a intensificação da competição entre trabalhadores pelas sobras das economias dos Césares, além da extinção cada vez mais visível do meio ambiente, sine qua non estaremos mais aqui num futuro não muito distante, soçobram aquilo que mantinha o homem de cabeça erguida. Ferem o orgulhoso de uma ótima educação pública da qual viera, em décadas passadas, cujo exemplo de excelência docente e metodológica era inquestionável. Uma educação comprometida com a integridade do ser humano e com o lado social da vida. Coisa que a educação atual, incluindo a particular, pouco parece preocupada em ensinar aos seus alunos.


O continuísmo dos abusos, por parte de quem possui poder, seria fruto do estado suspenso em que vive a sociedade, como se tudo estivesse caminhando bem, pelo fato do PIB crescer mais de 5%. Não levando em consideração a enorme concentração de poder econômico e político nas mãos dos “barões ladrões” de nosso tempo. Estes dispõem de salários imódicos, enquanto que o aposentado da classe baixa e a maioria dos trabalhadores, ambos desprovidos de instrução e escravos do processo, ganham uma irrisória quantia.

E agora, surgem nitidamente os primeiros traços de articulações que lembram a ditadura, quando se propalam suspeitas de que o governo não desconsideraria um terceiro mandato de Lula se o povo o quisesse para mais quatro anos; e caso fosse feita uma eleição em caráter extraordinário. Isso é palhaçada! A gente tem a obrigação, por esses e outros motivos (como os mais de 400 mil grampos telefônicos autorizados pelo governo no ano passado), de ficar em cima dos fatos, não perder de vista o cenário preocupante, que lembra nitidamente o início de um despotismo. Foi assim na época de Getúlio.

Quando não só a mídia, mas estudiosos percebem que há algo de estranho no ar, devemos estar cientes e, ao menor sinal de autoritarismo, exigir que as coisas sejam postas às claras, para o povo decidir e tomar parte daquilo que lhe diz respeito.

Apesar dessa minha prolixidade toda, Drummond captava o esforço inútil de lutar com as palavras:

“Lutar com as palavras
É a luta mais vã
Entanto lutamos
Mal rompe a manhã”

Uns e outros se empenham na luta, e sempre com a esperança de que não seja vã. Espero que vocês, caso tenham agüentado as minhas baboseiras até aqui, tenham também percebido, através do modo tautológico de que dispus das palavras neste post, o aspecto reflexivo, sem nenhuma outra pretensão. Esse meu post é uma luta vã, como disse Drummond sobre as palavras que usamos para tentar explicar a vida.



















.
 
Bom, pode não ser para o clube dos bardos, mas pra parte de literatura é. Mas o que posso dizer... O Labirinto também não tem a ver com tolkien mas foi pra lá.

Bom, vou dar minha contribuição antes que o texto acima assuste muito os leitores pelo tamanho. Recomendo textos um pouco menores e objetivos para estimular o leitor.

Vamos lá, adoro Nelson Rodrigues então apresento a vocês
cego.jpg

A Vida Como Ela É Nos Tempos Modernos
O cego


Anete namorava Ediley a um ano, ele era um revolucionário, estava presente em manifestações importantes e tinha um fervor em seus ideais que ultrapassava o comportamento comum. Anete respeitava os ideais de seu namorado mas achava exagerado. Convivia com aquilo a muito tempo, quase não faziam sexo mas discutiam frequentemente questões como a política e o futuro da nação... Ela amava o intelecto dele que sempre a deixava indefesa ao fim das discussões.

Um dia conversavam no trêm quando foram interrompidos por um deficiente visual que pedia esmolas.

- Boa tarde senhores passageiros. Peço perdão por já estar incomodando a viagem de vocês, perdi minha visão a dois anos e não tenho tido oportunidade de trabalhar... Estou me sujeitando a esmolas para sobreviver e choro todas as noites por estar nesta situação. Que deus conserve a visão de vocês e que tenham uma boa viajem e uma vida próspera. Por favor uma ajuda ao deficiente visual, 5, 10 centavos... Uma ajuda ao deficiente visual.

Os dois ouviram o breve discurso do deficiente e este começou a receber algumas moedas de alguns poucos passageiros do trêm. Ediley no entanto se sentia revoltado com o que presenciara tirou uma foto com o celular levantando-se para expressar sua indignação.

- Isto é um absurdo... Como uma pessoa pode fazer algo assim? Somos ao acaso animais?Tens vergonha mas pede senhor... És mesmo um cego?

Ediley se movimentava em volta do infeliz dando pausas em suas frases, queria ter certeza que o homem dizia a verdade, se abaixava, corria, e os passageiros olhavam inquietos aquele irritante acontecimento.

- Ediley, pare com isso.
- NÃO ANETE! Eles precisam ouvir... A culpa disso é o governo incopetente que temos. Este governo devia dar dignidade a pessoas como este homem. Não deveríamos ver pessoas vivendo como animais nas ruas, não deviamos ser importunados por alguém não ter o que comer. O GOVERNO DESTE PAÍS É PODRE!

Tateando com a bengala, o estranho começou a se afastar, foi para o fundo do vagão humilhado, não precisava enxergar para saber como aquelas pessoas o viam. Anete estava enfuriecida, puxou o namorado de volta ao banco e discutiu com ele severamente, mas ele não voltava atrás.

- Aquele homem precisa de dinheiro pra viver, ele não tem condição como nós.
- Anete, acha certo isso? Você tem que ajudá-lo a entender porque a vida dele é assim. Se quer fazer dele uma pessoa melhor, não é com seu dinheiro que isso vai acontecer.
- Você não vê que o pobre homem já sofre o suficiente? Pra que usá-lo como exemplo? Você só o fez sofrer mais.
- Então vai Anete, dê seu dinheiro pra ele. Faça o que quiser então. De que vale minha luta?

E ela se levantou... Andou até o fim do vagão seguida por olhares e conversou durante um tempo com o pobre homem que agora chorava encostado na porta. Ediley olhava analiticamente, queria ter certeza que ela não daria dinheiro a ele... Por fim ela retirou um caderno e anotou algo e assim que o trêm parou ela mostrou o dedo do meio pro namorado e foi embora sozinha. Os olhos do vagão voltaram-se a Ediley que resmungava sozinho...

Semanas se passaram, fizeram as pazes e voltaram a rotina normal, ela não falava mais sobre o ocorrido e ele preferia esquecer. Por uma brincadeira do destino um dia o mesmo homem tornou a entrar no trêm que eles estavam, Ediley e Anete se entreolharam sériamente e ele decidiu ficar quieto e deixar que o homem fizesse seu desonroso trabalho em paz... Por fim Anete o cumprimentou e ele muito feliz respondeu-lhe com ternura.

- Menina, que deus olhe sempre por você, salvou minha vida aquele dia triste. Minha casa sempre estará aberta pra você.

Então um passageiro o chamou e lhe deu uma gorjeta. O trêm parou e ele ainda se despediu.

- Boa viajem Anete.

Ediley a fulminava com os olhos, assim que as portas se fecharam ele começou a reclamar.

- Eu sabia que você ia acabar dando seu dinheiro. Não aprendeu nada comigo Anete?Você...

Ela o interrompeu.

- Dei algo aquele homem, mas não foi dinheiro. Você tem toda razão Ediley, o que ele precisava realmente não era o meu dinheiro. Mas eu consegui sim fazer ele ficar muito mais feliz com o que dei do que qualquer dinheiro que ele pudesse receber aquele dia.

Ediley emudeceu-se, conhecia a determinação de Anete e pela primeira vez ela o tinha deixado indefeso entre o que ele acreditava e seu próprio ego.

Nunca mais tocaram no assunto.

By Raphael S
 
Última edição:

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo