Concordo como o Dirhil que ele desvirtua um pouco o que foi estabelecido nos anteriores. Especialmente se analisarmos a fala do Andy para a Boonie em Toy Story 3: "Tem que prometer que cuidará bem desse pessoal (...) O Woody tem sido meu amigo desde sempre. (...) Mas o que faz ele especial... É que ele nunca desiste de você. Nunca. Ele ficará com você pro que der e vier. Pode cuidar dele pra mim?". Se depois de pouquíssimo tempo a Boonie deu pouca atenção ao Woody, e basicamente por causa disso o Woody resolveu deixá-la, então acaba contrariando um pouco o espírito da cena final do terceiro filme...
Por outro lado, o filme introduz uma situação realista.... Tanto de um ponto de vista material, no sentido em que, por mais que passemos um objeto de alto valor sentimental adiante da forma mais cuidadosa possível (escolhendo a dedo o futuro dono), dificilmente o próximo dono o tratará com o mesmo zelo, e dificilmente ele por sua vez o passará adiante com o mesmo cuidado... Então não deixa de ser uma atitude que apenas adia o inevitável, que é o objeto se deteriorando... E tem um ponto de vista mais espiritual: as coisas mudam. Se o Woody tinha um certo papel social, como também características pessoais a este associadas, é provável que no decorrer da vida as coisas mudem... Ocorre com amizades que morrem, com mudança de país ou profissão, com a síndrome do ninho vazio de pais de filhos grandes, etc.... Então é natural que Woody se veja na posição de abandonar certas coisas que antes para ele eram caras ou até mesmo o definiam... No filme aconteceu de forma realista, então perdoo aquela pequena discrepância espiritual entre os filmes....
Gostei muito do que fizeram com a Betty, até porque a ausência dela foi explicitada no Toy Story 3, dando a impressão que ali havia uma história a ser explorada, o que foi feito na primeira cena de Toy Story 4.... Gostei do Garfinho, e, talvez eu esteja overeading, mas parece ser possível ler o personagem como um retrato da angústia quase universal referente ao sentido e valor da vida, o que em casos mais extremos pode levar ao suicídio. Tanto é que na última fala do filme, na cena pós-créditos, a Garfinho pergunta "como é que estou viva?" e o Garfinho respondendo "eu não sei 8D", o que é uma cena foda tanto do ponto de vista do humor, tanto do ponto de vista do universo interno (Como raios os brinquedos estão vivos na universo da Pixar? Todo mundo que cresceu com os filmes deve ter se perguntado isso em algum ponto...), mas também é uma pergunta que pode valer para nós mesmos, seres humanos...