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Torto Arado (Itamar Vieira Junior)

Tive uma disciplina com ele na Ufrgs mas não chega a ser do meu círculo social. Eu gosto. Ele fez questão de salientar em que sentido bem específico ele considerava o romance "mais difícil": "como fruto de uma visão de conjunto sobre determinados tempo, espaço e experiência social".

É discutível se todo e qualquer romance chega a ter essa visão; eu diria mesmo que não. Pois não abundam, digamos, os romances de fantasia como os de Draccon ou os de vampiros brilhantes como os de Stephanie Meyer? Visão de conjunto zero sobre tempo, espaço e experiência social... Ao menos da experiencia real do cotidiano nosso. Será que ao menos os romances resenhados alcançam essa visão de conjunto? É o que se presume, pelo parêntese que ele fez questão de abrir. Então me parece que foi só uma infelicidade na maneira escolhida para louvar essa característica desses livros em particular.

Ele não falou nem sobre o romance ser melhor ou pior. Falou sobre dificuldade (talvez nem por uma questão técnica, mas de fôlego — só que um romance pode ser um trocinho de 100 páginas e nem ter fôlego...). Também não fica claro.

Ora, poemas/canções costumam ser peças curtas (mesmo que um poema em um milhão possa lá ter 16 mil versos, consideramos que em geral são curtos), então cada um, individualmente, requer pouco fôlego e não conseguirá ter essa abrangência total que ele espera. O mesmo vale para um conto, é claro. Só que, néam, ninguém lança um livro com um único soneto ou conto, e ninguém lança um disco com uma única canção dessas de rádio de 4 minutos... Mas livros e álbuns que podem, em tese, almejar a essa visão ampla da sociedade etc. etc. pela soma de suas partes (ou não: o autor decide o que lhe agrada abordar).

Me lembrou um tanto esta provocação que li no Facebook:

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Eu concordei com ela sem nenhuma vergonha. Digo mesmo, como poeta publicado que tem em paralelo uns quatro livros de poesia em andamento, mas que nunca sentou a bunda pra começar nenhum romance. E não começaria a escrever nenhum sem antes me preparar bem. Porque meus poemas eu escrevo a esmo, sem compromisso; começo um hoje, semana que vem termino, ou amanhã mesmo se der na telha. Não carecem de planejamento a longo prazo, como um romance em teoria carece. No máximo eu tenho em mente um certo tom ou tema que será predominante para o livro X ou Y, então já vou jogando este ou aquele poema neste ou naquele documento de Word (podendo mudar depois kk). Mas não é um projeto igual ao de uma narrativa. Quanto maior e mais complexo for o romance, tanto mais planejamento será necessário para amarrar as pontas, escolher a melhor ordem pra narrar os fatos, desenvolver personagens tridimensionais e tudo mais. E acho que é nesse sentido apenas que está correto dizer que, grosso modo, o romance é mais difícil. Tenha ele ou não essa "visão de tempo, espaço e experiência social". Pode ser um romance puramente escapista sem qualquer função social além de nos distrair por algumas horas.
 
Última edição:
É o seguinte: eu estava achando o livro ok, nada do tipo: "Nossa, que livro espetacular!", mas, quando cheguei nos 21%, a narrativa começou a ganhar força (Iansã entrou na jogada) e, até agora, nos 35%, está boa, mesmo. Vou tentar ler um cadinho, no fim de semana.

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:oops:

No domingo, vou revezar: lerei um cadinho de Flores para Algernon, um cadinho de Torto Arado e um cadinho de Brasil Ópera-Bufa 🤗.

P.S.: Amanhã, ainda estarei focada em preparar aulas.
 
Torto Arado tá me deixando com sentimentos conflitantes. Acho que isso é bom.

Tem umas partes muito boas; outras, nem tanto. Li 55%. Acredito que, no fim das contas, eu vou acabar gostando do livro. Parei numa parte "gatilho", mas que, ainda assim, tem coisas admiráveis sobre a colaboração entre as mulheres que passam por situações semelhantes; mesmo num contexto em que é mais cômodo fingir que a dor do outro não lhe diz respeito.
 
Terminei de ler, ontem. É PRA GLORIFICAR DE PÉ, IGREJA!

Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, começa com uma faca, espelhada, que corta a língua de uma das filhas de Zeca Chapéu Grande e Salustiana. Esta faca espelhada que divide os iguais está presente em toda a narrativa, a começar pelas vozes que narram a história. A ideia do corte se presentifica seja na disputa das irmãs Crispina e Crispiniana pelo mesmo homem; seja na cisão de Crispina, da qual corpo e mente se dissociaram, durante um tempo; seja no sentimento de decepção e rivalidade que se instaurou entre Belonísia e Bibiana ao se encantarem pelo primo Severo; seja na figuração entre os autointitulados "donos da terra", fazendeiros, e os donos da força de trabalho, e verdadeiros donos da terra.

E a ideia da faca-espelho perpassa toda a narrativa; uma situação, previamente narrada, volta a acontecer, quase como um movimento que se reflete, mas, da segunda vez que acontece, as águas estão turvas, o que faz com que as coisas aconteçam sob outro viés. A terra literária de que se faz o romance de Itamar Vieira Junior retira de suas entranhas: escravidão, colonização, subalternização feminina, exploração, vícios, racismo e hibridismo religioso. O livro é bem escrito, tem momentos impactantes, mas, a meu ver, a narrativa fica, em diversos momentos, arrastada. Isso impediu que eu tivesse uma conexão mais intensa com o romance que, apesar de não ser tudo o que eu esperava, merece ser lido.

P.S.: Às vezes, eu posso ser meio ranzinza com o que leio. Não se guiem pela minha impressão do livro, que foi bastante morna, mesmo.
 
Última edição:
Engatei esse livro na minha lista de leituras aqui, por ser um livro relativamente curto (depois de ler SdA, era o que eu estava precisando) e porque emprestei da minha irmã, que ganhou o livro de presente de natal de mim mesma (presente com segundas intenções: temos). Comecei a ler no sábado e falta mais ou menos umas 50 páginas pra terminar a leitura, então já dá pra perceber que o livro me prendeu mesmo. A narração do autor não é exatamente descritiva, mas a minha cabecinha conseguiu criar uma imagem viva do livro todo e, em vários momentos até agora eu sofri com as personagens. Até o momento, dou um 8/10 pro livro sem nem terminar de ler.
 
Terminei de ler ontem a noite, o final não decepcionou. É um livro de sentir e sofrer, rir e chorar com as personagens. Me fez pensar sobre a minha própria vida em vários momentos, não num tipo de identificação, mas num paralelo e ver como eu sou abençoada que, apesar das coisas que tive que suportar, ainda assim tenho uma vida muito boa. Valeu cada minuto lido.
 
Ver anexo 88969

Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social.

Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas — a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.

Sinopse via Amazon.

O tanto de prêmio que este romance tem ganhado acabou por atiçar a minha curiosidade. Vou ver se começo a leitura do livro, hoje. E quis criar o tópico para o caso de alguém decidir me acompanhar na leitura. Se ninguém quiser ler o livrinho, não tem problema, eu fico falando, sozinha, sobre ele, no tópico.
Para além de um texto épico, é a realidade do campesinato brasileiro, e a herança da escravidão, que rasga a pele dos nossos companheiros e cerca nossas terras. Belissima obra, com todos prêmios merecidos.
Tive que fazer um trabalho em cima desse livro, e foi algo extremamente prazeroso, para uma matéria extremamente cansativa. Por fim, é isto, agricultura sem luta é jardinagem.
 
Tentei ler. Achei fraco, boboquinha, didático demais em alguns pontos, confuso em outros (como quando a narradora deliberadamente omite qual das irmãs cortou a língua, além da própria cena em que se cortam, que não fez sentido nenhum sob nenhuma óptica...). Por enquanto, inclinado a desistir da leitura com umas 30 páginas lidas. :dente:
 
Tentei ler. Achei fraco, boboquinha, didático demais em alguns pontos, confuso em outros (como quando a narradora deliberadamente omite qual das irmãs cortou a língua, além da própria cena em que se cortam, que não fez sentido nenhum sob nenhuma óptica...). Por enquanto, inclinado a desistir da leitura com umas 30 páginas lidas. :dente:
Já li há algum tempo, me pareceu um livro médio. É gostoso de ler em vários momentos. Acho que cansa ir para o livro que recebe toda essa promoção e não se encontra grande obra. Tem muito sabor de anos 30, pro bem ou pro mal. É o primeiro livro do autor - é preciso ter isso em conta. Nesse sentido, um segundo livro pode vir muito mais bem acabado.

Concordo com as duas críticas. Aliás, dá pra perceber quem é das irmãs que corta a língua logo de cara e depois o narrador fica criando uma tensão em cima de coisa já dada. Concordo também com o excesso de didatismo do narrador em alguns momentos, enfraquece a leitura.
 
No fim eu desisti, mesmo, mas acho que cheguei à página 80, ou algo assim. Não deu. Foi numa leva de livros nacionais recentes que me decepcionou. Não caio mais no hype sem anter ter lido na livraria as primeiras páginas. É isso. XD
 
O novo livro dele está para sair mas já vendeu milhares de exemplares na pré-venda... Lendo a resenha, descobri que existe um movimento instagramático chamado @tortoaraders :rofl: responsável em grande parte por esse fenômeno aí. Oh bem: a resenha diz em alto e bom som que o rei está nu e não se acovarda de dizer umas boas verdades sobre a prosa do Itamar:


Abordagem maniqueísta

De modo geral, é este o problema do romance — problema que aparecia de modo mais inventivo em Torto arado: a abordagem maniqueísta das relações sociais e raciais, que parte do princípio, implicitamente acordado com o leitor, de que, nessas páginas, por uma questão de justiça histórica, os negros e indígenas estarão do lado certo e a elite branca estará do lado não apenas errado, mas diabólico.
 

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