UIA!!! Fiz um tópico sem querer!!!
Zaphod Beeblebrox_0 disse:
Pra começar, os alunos em geral não enxergam a escola como deveriam enxergar.
Vamos pensar em termos de divertimento. É meio natural a gente pensar que a infância devia ser uma época em que nos brincamos, de nenhuma preocupação, etc..
Na verdade, esse tipo de vida infantil só é natural
hoje em dia. Há menos de um século, somente 1% das crianças poderiam ser assim (normalmente estariam trabalhando, exploradas etc.)
Eu enxergo essa proteção como necessária, mas tem o mesmo efeito que "dar de graça pérolas aos porcos". (O que um porco vai fazer com pérolas?)
Uma notícia atual: a USP proibiu a entrada de ciclistas não vinculados à universidade. Por trás dessa notícia absurda, há vários absurdos ainda maiores. Fato 1: pessoas quando em grupos são "corajosas" (ciclistas em bandos). Fato 2: quando algo é permitido para as pessoas as pessoas começam a abusar e achar que é a casa da mãe Joana (ciclistas atravancavam o tráfego da universidade nos finais de semana, onibus andando devagar demais porque não dá para ultrapassar, ciclistas urinando em qualquer lugar e xingando funcionários que davam bronca neles por que urinam em qualquer lugar)
O que tem isso a ver com as crianças e a escola?
Tem a ver que dado uma pérola (livre acesso a uma instituição como a USP, chance de ir para a escola) as pessoas fazem mal uso delas quando não tiveram de lutar pela fortuna. Dão pouco valor. (Uma geração para criar alicerces, outra para enriquecer e outra para acabar com tudo. Matarazzo)
Então voltemos à leitura obrigatória.
É fato que todo mundo vai preferir ler o livro de sua preferência. E como o Logan disse, a diversão é uma forma de ópio que nos faz feliz e nos faz esquecer a "dura realidade".
A escola pode até deixar o aluno escolher o livro que quiser ler... mas tem dois problemas principais:
1) o professor vai ter de ler todos os diferentes livros que os alunos escolherem em um mês? Tipo, se o aluno não lê um livro, então o professor vai correr atrás de 30 livros diferentes (aspecto técnico).
2) vai me dizer que 50% dos alunos são tão esclarecidos a ponto de ler coisas ALÉM de Sabrina ou Monica e Cebolinha?
Ou seja, o professor vai ter de se virar para encontrar o livro que o aluno resolveu ler, e ainda por cima, o livro é algo que ajuda o aluno a se manter em seu casulo de isolamento (meu mundo).
A escola tem um papel mais importante do que o de distrair (de tirar a atenção do problema real). O papel dela é fornecer alternativas. Senão a criança que é filho de padeiro tem de se tornar padeiro, filho de lixeiro vai ser lixeiro, e filho de administrador vai ser administrador. E com certeza, não é porque o serviço é mais limpo que o filho do gerente vai gostar de ser gerente. Vai que ele queria ser oleiro (mexer com barro)?
Decerto que o divertimento é algo primordial para o aprendizado. Fazer o que gostamos faz parte de escolher nossa vida. O ponto crucial é que é muito fácil na diversão esquecer de seus problemas e continuar com o problema depois que se divertiu.
Neste ponto, Logan, não acho que ignorância é uma benção. Sofre do mesmo jeito, mas sem saber porque está sofrendo. E neste caso, acho muito pouco útil a ignorância, pois não sabendo porque se sofre, então como controlar a doença? Mesmo medicina popular começa com conhecimento de ervas e de seus efeitos sobre doenças. Sem conhecimento apenas se padece sem qualquer esperança (exceto por Deus/religião)
E porque a escola não pode ter o poder de decidir o destino da criança (você vai ser isto e você aquilo), ela tem de apresentar vários pedaços de conhecimento humano para que ela possa ter alguma base para escolher. Se é chato, se é enfadonho, é porque a criança ultimamente só tem divertimento para comparar com a escola, infelizmente.
Não há o sofrimento real, daquele que faz ela ter de suar o dia todo debaixo de sol para ganhar um paozinho.
Com a comparação dupla (sofrimento e diversão) o aluno tem alguma base para entender melhor a escola. Explicação sem palavras porque a escola tem muita coisa para mostrar, e ficar explicando isso para a criança perde pelo menos um ano!
E digo isto porque foi a conclusão que EU cheguei quando eu tinha 14 anos de idade. Coisa que não entrava na cabeça de meus colegas da época, que enxergavam escola apenas como uma chateação que os afastava da diversão. Enquanto que para mim, a escola funcionava como um meio para evitar passar lavar roupa, limpar a casa, etc.
Mas voltando à ignorância, Logan.
Não não é uma benção, Logan.
Se pensamos na situação da Africa, se pensamos no medo dos americanos dos Terroristas. Ambos vivem na ignorância, tem medo do que não entendem.
E sofrem.
Mais do que apenas sofrer, eles retaliam em quem não tem nada a ver!
Vide os chineses com a "revolta" porque o Japão não pediu desculpas pelas barbaridades da guerra. No entanto, em 2000 eu comentei com uma amiga de lá sobre as repercurssões da Praça da Paz Celestial. Ela não se recordava.
A china tem uma política de permitir manifestações contra EUA e Japão (e qualquer coisa de fora) mas não permitem manifestações contra o próprio governo. Há livre acesso à informações sobre os problemas de fora, mas não aos problemas de dentro.
O que é mais importante: a falta de desculpas dos japoneses de mais de 70 anos atrás, ou o massacre do governo contra estudantes há menos de 20 anos atrás?
Definitivamente há descontentamento, há frustração. Mas voltando as atenções do povo para fora do país, eles deixam de lado resolver o proprio problema. Mesmo que o Japão peça desculpas (na verdade o governo japones), o fato é que também o governo chinês que obrigou seu povo a guerrear contra o Japão. E o fato é que Japão não mais pode oprimir o povo chinês, mas o governo chinês oprime.
Em termos de pessoas normais, isso também persiste. No homem que não enfrenta sua frustração e desconta nos filhos e esposa, na mulher que desconta a violência em vizinhas com sua língua, etc.. A ignorância não diminui o sofrimento deles, nem seu ópio. O problema persiste, independente de fingir que não existe.
Isso ilustra o fato de que o sofrimento persiste, independente da ignorância. Podem distrair as atenções, mas enquanto não resolver o problema, só vai sobrar para outros. E os outros revidam e continuamos com o sofrimento. Independente de querermos nos enfiar em um "mundo só nosso" (ópio, novela, etc.)