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The Sense of an Ending (Julian Barnes)

Meia Palavra

Usuário
Julian Barnes, com seu The Sense of an Ending, foi o vencedor do Man Booker Prize em 2011. Por mais que os prêmios literários venham ultimamente sendo alvo de questionamentos vários a respeito de sua validade e credibilidade, não se pode deixar de reconhecer que o romance de Barnes preencha vários dos requisitos que costumeiramente [...]

[continue lendo...]
 
O livro é realmente muito bom, não tem nem o que discutir, pulemos essa parte. Vamos para o fuxico: que aconteceu afinal, meudeusdocéu??

Os fatos: estão envolvidos diretamente na história Tony, Adrian, Veronica e Sarah (mãe de Veronica). Isso dá para saber por aquelas equações. Existe uma criança deficiente. Sarah deixa o diário de Adrian e 500 dólares (ou algo assim) a Tony. Sarah diz que os últimos tempos de Adrian foram felizes. Veronica responde aos pedidos de Tony pelo diário: "blood money?"

A conclusão imediata que se faz disso, ao menos foi a minha (depois de ficar o livro todo mais perdido que o narrador), é que Adrian teve um caso com Sarah e depois se suicidou, por pressão das consequências.

O que não entendo: por que Adrian acha que Tony teve culpa nisso? Apenas por ter feitos sugestões naquela carta destruidora que enviou a Adrian e Veronica? Me parece uma ligação muito tênue... E o que acho mais difícil de compreender: por que tanta raiva tem Veronica? 40 anos não foram suficientes para que ela perdoasse Tony? Por que ela responde com esse "blood money?"?

Existe uma outra possibilidade, que é a de Tony não ter contado os fatos de uma maneira adequada. Será que ele deixou de lado algum elemento essencial? Nesse caso, o leitor estaria preso ao relato como foi passado, a história não dos vencidos ou vencedores, mas dos sobreviventes, como se diz no livro.
 
Gigio, eu posso já estar falando bobagem porque confesso que minha memória não é das melhores e as coisas ficam meio embaralhadas, mas vamos lá.

o caso de sarah com adrian me pareceu bastante óbvio, quer dizer, não digo óbvio, mas sabe quando você não fica com dúvidas sobre aquilo? então. mas tem um negócio de tony e veronica, aquela insistência em ela repetir que ele "não entende" que eu juro que fiquei com uma pulga atrás da orelha: sei que seria bem rocambolêstico, mas não há chance da criança ser de tony? pq tem isso aqui que você disse:

Existe uma outra possibilidade, que é a de Tony não ter contado os fatos de uma maneira adequada. Será que ele deixou de lado algum elemento essencial? Nesse caso, o leitor estaria preso ao relato como foi passado, a história não dos vencidos ou vencedores, mas dos sobreviventes, como se diz no livro.

o livro parece gritar desde o começo: não confie em quem te conta a história. ou ainda, não dependa da memória de uma única pessoa para construir uma história. e tem uma coisa que me deixa louca é aquela história do começo, do amigo que se suicidou depois que engravidou a garota. TEM que ter alguma dica ali, não é possível.
 
Também não entendi as £500,00, mas pelo que eu lembre, o "blood money" foi referência direta a esse dinheiro, e indica a relação do dinheiro com o diário do Adrian com a morte do Adrian com a separação do Adrian da Veronica com a carta do Tony. Talvez tenha algum significado específico escondido lá que eu não notei, mas eu acho mesmo que tenha sido uma reação bem cínica da Veronica do tipo "ah, ok, tu foi responsável pela morte dele, agora tu recebe teu pagamento".

Quanto ao que realmente aconteceu, acho que foi o mais óbvio, mesmo: eles receberam a carta do Tony, eventualmente o Adrian conheceu a mãe da Veronica pouco antes ou depois de se desencantar da Veronica, acabou se envolvendo com a mãe dela, que acabou grávida, o Adrian se matou, o bebê nasceu com problemas. Eu lembro que o Adrian quando se matou alegou questões puramente filosóficas, mas não cheguei a voltar pra ver se as alegações dele davam alguma indicação sobre o que realmente aconteceu.

Não tô com o livro em mãos, mas pelo que eu me lembro da equação, + era acumulação e x era relação direta, e tinha aquela questão filosófica do Adrian das relações que se acumulam, ou das pessoas que acumulam as próprias relações com outras pessoas e as relações dessas outras pessoas com ainda outras pessoas, etc, etc. Eu lembro de ter pensado bastante naquele poema do John Donne ("No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main"), quando lia as ideias do Adrian sobre acumulação... E eu não acho que a amargura da Veronica tenha relação só com a carta do Tony, mas com toda a sucessão de acontecimentos e pricipalmente com o filho, como se ela marcasse aquela carta como o início de tudo.
 
É bem isso sim, Anica, "the great unrest" do final do livro. Existe uma resposta óbvia, que parece ter pequenos furos, e existe uma resposta absurda, que o leitor não é capaz de verificar mais a fundo. É perturbador!

Surge mesmo essa ideia de que o Tony seja o pai, mas seria muito inconsistente: como ele pode ter deixado de relatar que teve um caso com Sarah? Por que deram o nome de Adrian ao bebê? Por que uma das equações não envolve Tony (b = s-v+a)? Tentei formar uma história aqui, mas não consegui, sempre acaba esbarrando em algum fato cabal, por exemplo: Sarah assumiu a maternidade do bebê, Veronica (Mary) é tratada como irmã, então não foi uma questão de esconder o adultério da Mãe.

Aquela história do começo tem uma função estranha mesmo. Quando primeiro parece que Adrian havia engravidado Veronica, você se sente um idiota de não ter feito a associação e visto motivos muito mais banais por trás do seu suicídio. Logo depois, quando parece que Sarah é a mãe, a coisa fica mais grave; seria um escândalo muito maior engravidar sua quase sogra (quando ainda não existia o programa do Ratinho).

Sei lá, acho que o Barnes queria enlouquecer os leitores mesmo. Senão teria reveleado o conteúdo do bendito diário do Adrian onde estavam todas as chaves.

[Edit]
Acho que a explicação mais banal realmente prevalece, Rodrigo, mas para mim ainda não faz sentido o "blood money", nem as reações da Veronica. Foi só uma carta, fala sério! A responsabilidade do Tony é ínfima comparada à dos demais.
 
Poisé, eu ainda estou encucada é com a reação da Veronica.

Por exemplo, por que da insistência dela em mostrar o filho (de Sarah? dela? confesso que eu não tenho isso definido na minha cabeça) para Tony. O que ela queria que Tony visse? Que aquela carta cruel foi recebida como uma espécie de maldição, e que ela acha que Tony é culpado pelo caso com Sarah e depois, pelo suicídio de Adrian? Não é estranho uma pessoa adulta atribuir tamanho valor para uma carta de um rapaz que claramente está com dor de cotovelo pelo pé na bunda que tomou?
 
TEM SPOILERS!

Boas as hipóteses, também fico encucado pela insistência em mostrar o filho à Tony. Parece óbvio que ele seja o pai, mas será? E quem é a mãe? O óbvio faz sentido ao falar desse livro? Confesso que também não me lembro dos detalhes e do emaranhado de relaçoes entre os personagens. Uma pena que não possa ajudar muito. :\

Deixa eu pedir uma coisa pra vocês: vocês acham que existe uma solução plausível para esse quebra-cabeça ou meramente hipóteses que só o Julian Barnes pode dizer? Talvez a irresolução seja o mote do livro (é só uma hipótese), vou tentar argumentar: quem conta a história é o Tony, cuja memória é o único acesso que temos ao que ocorreu, desse modo, somos reféns do que ele é capaz de lembrar, e todos sabemos que a memória é seletiva e que filtra nossos registros para expo-los da forma como o ser achar mais conveniente. Então temos dois caminhos (eu acho):

1. acreditar na sinceridade de Tony e aceitar que aquilo tudo faz sentido de alguma forma, caminho que estamos seguindo visto que estamos tentando organizar os fragmentos da memória de Tony para formar uma narrativa coesa;

2. crer que o que Barnes queria ao escrever o livro é justamente nos por em contato com essa falibilidade da memória. Embora eu ache o livro mega-bem construído nesse sentido, não acredito que seja esse o caso, do contrário abre um precedente meio bizarro que é: 'Posso escrever histórias fodásticas mas não preciso pensar no final, porque basta colocar o narrador em primeira pessoa e contar a história com ele lembrando-se dela'.

Sei que isso não avança em nada na discussão das hipóteses, mas é algo que acho que vale a pena pensar, afinal não teremos como saber com certeza a não ser que o Barnes resolva revelar esse mistério. Se você não assistiu Lost, por favor, não abra o spoiler:

O final me pareceu Lost. Os caras emaranharam-se de tal maneira nas tramas da Dharma, dos Outros e dos flashbacks e flashforwards (que são todos elementos fodásticos da história) que não conseguiram mais colocar as coisas no lugar depois, de modo que, embora haja mais ou menos explicação para a maioria das coisas, o final foi caidíssimo.
 
Poisé, eu ainda estou encucada é com a reação da Veronica.

Por exemplo, por que da insistência dela em mostrar o filho (de Sarah? dela? confesso que eu não tenho isso definido na minha cabeça) para Tony. O que ela queria que Tony visse? Que aquela carta cruel foi recebida como uma espécie de maldição, e que ela acha que Tony é culpado pelo caso com Sarah e depois, pelo suicídio de Adrian? Não é estranho uma pessoa adulta atribuir tamanho valor para uma carta de um rapaz que claramente está com dor de cotovelo pelo pé na bunda que tomou?

Com alguns embaralhos de memória, segue minha interpretação do final...

eu acho que a reação dela é exagerada, mas plausível. A decepção da carta aconteceu numa idade muito vulnerável, e em mais de um momento Tony descreve Verônica como alguém emocionalmente desequilibrada mais de uma vez. Somada a decepção com a morte do Adrian, com a descoberta que Adrian teve um caso com sua mãe foi demais para a sanidade da moça.

Quanto ao blood money eu entendi como um pagamento pela responsabilidade pela morte do amigo de Tony.

Sobre o filho, sinceramente não sei. Minha primeira impressão foi ser um filho de Tony e Verônica, depois pensei ser de Sarah e Adrian, mas tenho que reler os últimos parágrafos para voltar ao livro, e meu e-reader não está ajudando.. volto logo mais
 
Fiquei feliz com a discussão aqui, pessoal do Meia monopolizando um livro que nem tem tradução... Só ver lá pelo Skoob. (Alguém que seja amigo do Xerxenesky aproveite e pergunte o que ele achou... :dente: ) (Aproveitem e me expliquem também como um livro que só teve 4 e 5 estrelas pode ter média 3.6... :rolleyes: )

Lucas_Deschain disse:
2. crer que o que Barnes queria ao escrever o livro é justamente nos por em contato com essa falibilidade da memória. Embora eu ache o livro mega-bem construído nesse sentido, não acredito que seja esse o caso, do contrário abre um precedente meio bizarro que é: 'Posso escrever histórias fodásticas mas não preciso pensar no final, porque basta colocar o narrador em primeira pessoa e contar a história com ele lembrando-se dela'.

Agora estou mais para essa segunda possibilidade mesmo. Desisti de entender. Acho que tudo faz parte do plano do Barnes. Claro, se todos viessem repetindo essa mesmo fórmula, passariam a ser bastante decepcionantes as histórias, mas o Barnes tem vantagens tanto na precedência quanto na excelência do uso do recurso.
 
Dei uma olhada no final do livro novamente, e para mim ficou claro que o narrador acredita que o filho é de Sarah e Adrian... Ou talvez seja nisso que ele quer acreditar...

Mas no mais concordo com o Gigio, se foi um recurso de deixar o livro sem fim propositalmente, foi muito bem usado pela narrativa...
 
Pois é, eu não gosto muito de pensar dessa forma, porque isso abre um precedente que, se se tornar popular, vai ser um saco. Ainda me parece que deve haver uma explicação, embora seja necessário ler o livro de novo para podermos enxergar esses nuances e tal. No momento estou impossibilitado de ler novamente, mas quem sabe alguém no mundo tenha concebido algumas hipóteses sobre a suposta coerência do livro.

Não sei, livros bons deixam essa espécie de 'lacuna' para que os leitores a preecham e dêem um pouco de si para a história, mas nesse caso a lacuna foi proposital e ampla demais. Por isso é que me senti 'traído' no final do livro. Não que eu não tenha gostado, pelo contrário, mas fiquei esperando um final mais conclusivo. Se formos para essa coisa da memória falha o livro todo é genial. E ousado ainda.
 
eu fui atrás de algumas críticas e acho que no geral a conclusão é a mesma. que barnes tenta através do livro falar de como a memória não é confiável, de como muito do que temos como certo durante toda a nossa vida pode mudar completamente depois de anos. seguem links, com trechos que achei mais esclarecedores sobre a questão:

http://www.nytimes.com/2011/11/13/b...julian-barnes-book-review.html?pagewanted=all

But who does Tony enfold into his “we”? His agonized analysis is entirely self-*referential, as solitary and armored as the man himself. Decades earlier, Tony had accused Veronica of an “inability to imagine anyone else’s feelings or emotional life,” but it was he, not she, who was incapable of looking outside his own head. Barnes’s unreliable narrator is a mystery to himself, which makes the novel one unbroken, sizzling, satisfying fuse. Its puzzle of past causes is decoded by a man who is himself a puzzle. Tony resembles the people he fears, “whose main concern is to avoid further damage to themselves, at whatever cost,” and who wound others with a hypersensitivity that is insensitive to anything but their own needs. “I have an instinct for survival, for self-*preservation,” he reflects. “Perhaps this is what Veronica called cowardice and I called being peaceable.”

http://www.guardian.co.uk/books/2011/jul/26/sense-ending-julian-barnes-review1

Barnes builds a powerful atmosphere of shame and silence around the past as Tony tries to track down the elusive diary, which promises, as missing diaries tend to do, some revelation or closure. In a book obsessed with evidence and documentation – verification for unreliable, subjective memory – the most powerful depth charge turns out to be something forgotten yet irrefutable that Tony has kept from himself for 40 years. With it Barnes puts the rest of the narrative, and his unreliable yet sincere narrator, tantalisingly into doubt.

e esse aqui foi o que eu achei que melhor abordou a questão do final inconclusivo: http://www.npr.org/2011/11/19/142468838/speak-memory-an-ending-that-uncovers-the-past

It's a book about "memory and time," Barnes tells NPR's Linda Wertheimer. "What time does to memory and what memory does to time, how they interact. And it's also about what happens to someone in later years when they discover that some of the certainties they've always relied on, certainties in their mind and memory ... are beginning to be undermined."

Memory, as Barnes understands it — and as Tony is forced to realize — is far more edited than we'd like to believe.

***

Reforçando isso ainda tem a questão do título, A Sense of an Ending. Eu sinceramente acredito que foi um exercício literário de representação do modo como lidamos com nossa memória. Se eu fosse retomar um momento da minha adolescência para recontar para vocês, ele seria tão editado e cheio de falhas quanto o relato de Tony. As pessoas envolvidas provavelmente me mostrariam coisas diferentes do que eu pensava como certas (do mais bobo "Eu estava de vestido vermelho" para "Não, você estava de vestido verde!" até coisas como "Eu sabia que você não teria coragem para fazer aquilo" para "Eu não me importava com aquilo"). O problema da nossa memória é que ela vem impregnada de julgamentos que não são necessariamente definitivos. A opinião de Tony sobre Veronica, por exemplo, poderia ser completamente diferente se lêssemos uma história sob o ponto de vista de Veronica.
 
Bacana, Anica, concordo mesmo com você. Também estava fazendo uma pesquisa e está claro que essa sensação de confusão no final é comum a todos os leitores. A princípio, todas as vezes que a Veronica respondia algo "Você não entende" ou "Desista de entender", achava que eu estava sendo mais ignorante que o próprio personagem, mas vejo que não foi algo particular, essa reação estava programada dentro do livro.

Encontrei também uma citação do Barnes, que parece vir do "Papagaio de Flaubert", que se aplica bem ao "Sense of an Ending":

Julian Barnes disse:
Books say: She did this because. Life says: She did this. Books are where things are explained to you; life is where things aren’t. I’m not surprised some people prefer books. Books make sense of life. The only problem is that the lives they make sense of are other peoples lives, never your own.

(Agora quero ler esse também... :sim: )
 
Terminei de ler hoje. Eu recomendaria esse livro não pela história em si, e sim pela qualidade que ele tem de provocar reflexões, de nos colocar pra pensar.
Como a Anica escreveu no blog, quanto menos você souber sobre o enredo, melhor será sua leitura. Eu tirei o máximo possível disso, porque nao sabia um detalhezinho sequer quando abri o livro (metaforicamente falando, porque li no Kindle). Por isso fiquei chocada com a sinopse no site da Rocco, que eu achei que revela em excesso da história. :no:

Eu li uma interpretação sugerindo que o próprio Tony também teria dormido com a mãe da Veronica, e teria apagado esse detalhe da memória. A pessoa menciona o jeito que a Sarah se despede do Tony no fatídico fim de semana que ele passa com a família Ford, "I waved goodbye, and she responded, though not the way people normally do".
Achei doido mas...possível.
 
Terminei, vamos lá

Sobre a forma que a Veronica ainda trata o Tony (todo esse ódio no coração): acho que tudo tem a ver com essa acumulação. Talvez Veronica odeie tanto o Tony por julgar que ele é o culpado de tudo o que aconteceu, porque tudo começou com ele. Sem o Tony, ela não teria conhecido Adrian, eles não teriam se apaixonado, ele não teria tido um caso com a mãe dela, que não teria tido um filho que depois de sua morte ficou mentalmente debilitado (imagina ter que conviver com um irmão que na verdade é filho de seu namorado?). Lembrem que Adrian estava feliz quando se suicidou, e poderia estar feliz porque estava tudo bem entre ele e Veronica, mas então houve esse caso e tudo desmoronou pro pobre rapaz - e, filosoficamente, a própria morte significaria o seu controle sobre a sua vida e uma ~solução dos problemas~. E, pra Veronica, seria tudo culpa do Tony por acumulação.

Sobre esse final em aberto: Pra mim ficou claro mesmo que a intenção de Barnes é causar essa confusão. A memória é falha, não há mais ninguém para confirmar o que ele diz, ou corrigir e esclarecer os fatos que ele conta. E nem mais documentos (o diário foi destruído, capuft): em cima da inexatidão dos documentos e do depoimento dos envolvidos a história se constrói. E termina como um desses enigmas, pontas soltas que ainda dão trabalho para historiadores ao tentarem estabelecer com exatidão como tudo aconteceu, o que causou tal efeito, etc etc etc (no caso de um fato histórico em si, e não de uma história de amor/vida de uma pessoal qualquer. Mas deu pra sacar, né?)
 
Encontrei também uma citação do Barnes, que parece vir do "Papagaio de Flaubert", que se aplica bem ao "Sense of an Ending":

Post Original de Julian Barnes
Books say: She did this because. Life says: She did this. Books are where things are explained to you;
Estou me sentindo lograda, ele (o Barnes) "se esqueceu" de explicar algumas coisas no The Sense... :P
 
Já havia conseguido esquecer a história desse livro, agora vim ler os comentários da Izze e da Mimi e voltou esse MEUDEUS O QUE ACONTECEU AFINAL!? Algum dia ainda vou bater na casa do Barnes, na Inglaterra ou sei lá onde, e dizer "beleza, entendi o seu truque no livro, mas conta aqui só para mim: qual a peça que falta?"
 
li uma resenha ontem e a guria disse que...

quem teve um caso com a mãe da Veronica foi o Tony. Sei lá da onde! O cara não pode ser assim tão desmemoriado para não ter lembrado disso (ou ele tem Alzheimer e não sabe LOL)
 
Li ontem de madrugada. Gostei bastante, acho que entra fácil nas melhores leituras do ano.

Sobre o final, vamos lá:
Como bem disseram, acho que é isso aí mesmo. O Adrian (filho) é filho do Adrian (pai) com a mãe da Verônica. Quanto ao ressentimento da Verônica em relação ao Anthony creio que seja um acumulo de efeitos, ele que acabou botando fim numa relação onde quem mandava era ela, e também foi ele que fez a tal carta relacionando o Adrian e a Sarah. Talvez ela entenda que ele serviu como uma espécie de energia de ativação para o que sucedeu depois.

O que invalida, para mim, a teoria do Adrian (filho) ser filho da Veronica com o Tony é o retardo mental do tal filho. É muito mais coerente que isso aconteça com uma mulher já com alguma idade do que com uma jovem. Além disso, caso fosse filho da Veronica com o Tony, o que motivaria Adrian ao suicídio?

O que eu fiquei realmente curioso foi:
1. O Adrian era uma cara extremamente racional e deixou uma explicação do que o levou ao seu fim, como não mencionar seu envolvimento com Sarah e um suposto filho nesse rolo?
2. O que a Veronica foi conversar com o pai e o irmão no dia em que ela deixou o Tony sozinho com a mãe? E o que foi aquele "Ele vai servir?" comentado sobre o Tony com o irmão?
3. "Tu não entendeu. Nunca entendeu e jamais vai entender." Entendeu o quê, mulher? Depois de 40 anos não dá pra ser mais clara? Era só entender que ele deu o pontapé inicial na desgraça que a vida dela se tornou?

Em tempo, achei extremamente bem amarrado a ideia do próprio Adrian, ainda no início do livro, após o suicídio do Robson, ter dito que jamais se saberá a história exata, já que se carece do testemunho do protagonista da situação, e é exatamente o que acontece também com a história do Adrian/Tony.

E não me senti trapaceado, na verdade achei que rola um paralelo muito óbvio entre início e fim da história. Já no começo o livro grita que a memória é uma coisa complicada e que o tempo se encarrega de moldar lembranças próximas em certezas. E no fim, tá aí o que a gente tem, será que dá mesmo pra confiar no relato do Anthony? Acaba que a sinopse mais perfeita da história é justamente que "História é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação". Trapaça seria se no último parágrafo o Adrian acorda e percebe que foi um sonho, aí sim a gente podia xingar o Barnes.
 

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