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Terra-média: Mito, Lenda ou Conto?

“- A gente anda escutando coisas estranhas ultimamente. – disse Sam.
-Ah! – disse Ted. – A gente escuta se der ouvidos. Mas eu posso escutar histórias agradáveis e contos infantis em casa, se quiser.
- Não há dúvidas que sim – retorquiu Sam. – E eu digo que há mais verdade em algumas delas do que você possa imaginar. Afinal, quem inventou as histórias?”

JRR Tolkien, “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel”, “A Sombra do Passado”


Lendo “O Vôo do Alce”, de Joseph Campbell, aprende-se que o poeta e novelista romântico alemão, Novalis, “nomeou a lenda popular a primária e mais elevada poéticamente criação do homem”. Campbell também provém, no mesmo texto, uma citação e tradução de Friedrich von Schiller, o maior das personalidades da literatura alemã, com exceção de Goethe: “Significado mais profundo encontra-se nos contos de fada de minha infância do que na verdade que é ensinada no viver.” (Die Piccolomini, III)

Os Irmãos Grimm, Jakob e Wilhelm, entenderam a importância dos contos de fada para a sociedade. Eles eram descrentes, entretanto, de tentativas iniciais de escrever lendas populares por outros que poeticamente retrabalharam os contos para encaixar-se nos gostos literários de seus contemporâneos. Os Irmãos dedicaram toda a vida escrevendo as citações ditas por humildes povos rurais e habitantes de vilarejos dessas histórias com atenção acadêmica para os detalhes e respeito devotado por suas fontes de aprendizado. Seus feitos vitalícios para preservar a integridade das histórias não foram buscados simplesmente para fornecer entretenimento rápido. Como filologistas, lingüistas históricos e de facto etnografistas que estudaram Direito, eles entenderam o intricado valor de contos populares autênticos: preservar os contos significa preservar a herança cultural dum povo.

Em 1806, quando os exércitos de Napoleão marchavam pela Europa Ocidental, Wilhelm Grimm escreveu:

“Nesses dias de colapso atuais as entidades existentes permanecerão eternamento perante meus olhos... o ardor com o qual os estudos na Alemanha Antiga foram buscados ajudaram a superar a depressão espiritual... Indubitavelmente a situação mundial e a necessidade de colocar-se na paz da educação escolar contribuiu para o reviver da há muito esquecida literatura; mas não apenas procuramos algo de consolação no passado, nossa esperança, naturalmente, era que esse nosso trajeto deveria contribuir de algum modo para o retorno de um dia melhor.”

Está além de qualquer questionamento que o Professor Tolkien também entendeu que a importância de contos populares infantis. Tolkien, como um filologista, era enamorado do Gótico e Alemão Antigo e deu aulas sobre essas línguas em Leeds. É necessário, então, assumir que a literatura que serviu de fonte material para seus estudos incluíram as lendas alemãs e nórdicas que os Irmãos Grimm “re-animaram” em seus próprios estudos. De fato, numa carta datada de 16 de dezembro de 1937, para seu publicador, Stanley Unwin, ele refere-se a “O Hobbit” como “um conto cômico acerca dos convencionais e inconsistentes anões infantis dos Grimm...”

(Essa referência não tem a inteção de inferir que Tolkien criou embasado nos trabalhos dos Irmãos Grimm. Ela talvez simplesmente indique que ele estava familiarizado com o trabalho dos famosos Irmãos como qualquer, adulto ou criança, na Europa Ocidental e América do Norte. Considerando sua profissão, posição profissional e sua autoria de “On Fairy Stories”, portanto, pode se supor que o Professor Tolkien tinha mais do que uma familiaridade passiva com os contos de fadas dos Grimm.)

Citando “O Vôo do Alce” novamente, Professor Campbell descreve três tipos de histórias: mitos, lendas e contos. Mitos, de acordo com sua definição, são “recitações religiosas concebidas como símbolos do jogo da eternidade no tempo. Esses são recitados, não por diversão, mas pelo bem-estar espiritual do individuo ou da comunidade.” (Seria interessante para o leitor para lembrar nessa citação que Tolkien determinou que seu corpo de trabalho seria uma mitologia para o povo inglês.) Lendas são denifidas por Campbell como revisões ou episódios da história tradicional que “permite o simbolismo mitológico para informar o evento e circunstância humana.” Mitos e lendas são essencialmente tutoriais na natureza ainda que eles provenham entretenimento.

O propósito de contos é, pela definição de Campbell, passar as intermináveis noites e dias e para satisfazer “a fome do homem por uma boa história.” Ainda que eles puderam talvez uma vez ser inspirados com o poder do mito e da lenda, esse poder foi dissipado. Contos servem como diversão charmosa. Eles podem inspirar deleite, surpresa e diversão mas eles não são primariamente feitos para instrução ou direção espiritual.

Por outro lado, fábulas, como uma categoria dos contos, como aqueles atribuidos para “Aesop”, foram compostos para prover instrução moral e socio-política ainda que sem apontar o lugar do homem no universo ou na história. Contos são, ao contrário, os possuidores de legados culturais e apresentam uma herança derivada do mito e não deve ser erroneamente descartados como “infantilidades”.

Dadas essas definições de mito, lenda ou conto, como os trabalhos de JRR Tolkien devem ser categorizados? Os escritos mais primitivos de Tolkien – muitos dos quais foram editados pelo seu folho, Christopher Tolkien, e publicado postumamente – estão compilados em volumes entitulados “The Book of Lost Tales 1”, “The Book of Lost Tales 2” e “Contos Perdidos”. Esses histórias queriam divertir o leitor, pelas quais ele passaria as infinitas noites e dias como seus títulos inferem? Se elas prentendiam ser mais – compartilhar do poder do mito e da lenda – então elas foram infortunamente entituladas.

Para avaliar o trabalho de Tolkien e afirmar seus valores como mito, lenda o conto, existem critérios pelos quais seus trabalhos devem ser julgados. No próximo e em meses seguintes, esses critérios serão aplicados e essa amável, tenra avaliação do trabalho do Professor continuará.
 

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