Então vamos lá.
O curso dado pelo professor Paul Fry pra Yale é um ótimo curso. Você o acha legendado pela Univesp TV aqui:
O livro-base que ele usa é o
The Critical Tradition, organizado pelo David Richter. Você consegue achá-lo, atual-atualmente, por 16 obamas no Better World Books (é o melhor site pra você procurar pelo livro):
http://www.betterworldbooks.com/cri...Dxp:3&=&SearchTerm=critical+tradition+richter
Compensa bastante você fazer o curso do professor Paul Fry com a apostila do lado, ou, pelo menos, escutar as explicações dele, sempre esclarecedoras e não raro brilhantes.
Além desse The Critical Tradition, caso você leia em inglês você pode comprar a
Norton Anthology of Theory and Criticism. As antologias da Norton são famosas por serem muito completas, mas essa of Theory and Criticism é extremamente cara, de modo que a relação custo-benefício pende muito pro The Critical Tradition.
Agora isso em inglês. Essas antologias fornecem ensaios, trechos e capítulos de livros de alguns dos autores mais famosos a respeito de literatura e teoria literária. Como eu disse, teoria literária é algo recente: surgiu na Rússia pré-revolucionária, com uma turminha que hoje nós chamamos, de forma um tanto quanto imprecisa, de Formalistas Russos. São uns medalhões da crítica literária, gente como Viktor Shklovsky, Vladimir Propp, Ósip Brik e parte da carreira inicial do Roman Jakobson, por exemplo. Não quer dizer que antes não tivéssemos pensamento a respeito da literatura. A literatura como nós a entendemos hoje é algo que começou a ser pensado depois da Revolução Francesa, numa época em que começou, também, a própria crítica literária (por exemplo em jornais ingleses como o Spectator, o Tatler ou a crítica de um cara como o Samuel Johnson). Mas é claro que existiram textos luminosos que hoje nós usamos muito ao interpretarmos obras literárias, como a própria Poética do Aristóteles, que, embora pensada muito mais pro teatro, é capaz de discutir categorias fundamentais como a da mímesis, que é um dos assuntos centrais da teoria literária.
Porque teoria literária fala é de assuntos assim. O termo crítica literária passou a adquirir um significado muito amplo no decorrer do século, de modo que aquele sentido originário, que se consolidou no século XIX, da crítica como dizer se um livro é bom ou ruim, foi deixado de lado com o advento da teoria literária, e crítico passou a ser alguém que escreve a respeito de um livro, que o estuda com escopo científico, essas coisas. E a tal ponto que muitos desses teóricos passaram a ver o crítico literário, o camarada que se preocupa com questões valorativas, como sendo inclusive um cara simplório, uma espécie de crítico menor. O Northrop Frye, pra você ter uma ideia, no prefácio do Anatomia da Crítica, diz que a crítica entendida nesse sentido valorativo é a cenoura na frente do burro da crítica literária.
No Brasil isso ficou bem claro mais ou menos na metade do século passado com aquilo que se batizou de a Cátedra versus o Rodapé. O rodapé era representado por esses críticos preocupados com questões valorativas (os chamados "críticos impressionistas": críticos que diziam suas impressões a respeito da obra), e fazia referência à crítica de rodapé ou, de modo geral, à crítica que era feita nos jornais da época, e que tinha em seu panteão gente do calibre de Álvaro Lins. Já a cátedra representava a crítica universitária, de escopo propriamente científico (teoria literária na veia, em suma), e o grande propagador dessas ideias foi um cara chamado Afrânio Coutinho.
O embate entre a cátedra e o rodapé não foi exatamente um água e óleo, e há muita tinta que ser corrida a respeito do assunto, como, por exemplo, o fato de que o rodapé não se fazia ignorante em relação ao que a cátedra trazia consigo ou, então, que não é bem que a cátedra venceu o rodapé (quantos críticos de jornal nós temos hoje, por exemplo?): na verdade o que houve foi uma mudança de paradigmas jornalísticos na segunda metade do século que chutou pra escanteio um modelo impressionista de pensar o jornal.
Mas acho que tergiversei um pouco. A questão é:
No Brasil, se você quiser livros introdutórios a respeito do assunto, a dica da Anica é muito boa: o Eagleton é, ao que me consta, o autor mais usado nos cursos universitários Brasil afora. Ele vai te explicar todas as correntes teóricas, e vai te explicar muito bem. Há muito o que ser contestado, é claro, como por exemplo os famosos prefácio e posfácio que ele escreveu ao livro, onde ele defende, entre outras coisas, que os estudos literários deveriam se dissolver num campo mais amplo chamado apenas de estudos culturais, posto que nós não temos como chegar a um conceito de literatura. É uma ideia que ele recentemente mudaria em livros como o The event of literature, em que ele chega, aliás, àquele que pra mim é o melhor conceito de literatura já formulado.
Além do Eagleton, tem o
Teoria Literária, do Wellek e do Warren, que foi um clássico a respeito do assunto por pelo menos meio século. É um livro fundamental a respeito do assunto. Como eu disse, um clássico. Os autores são expoentes da chamada Nova Crítica, que foi uma das primeiras correntes de teoria literária a surgir. Compensa muito você ler.
Uma terceira indicação é o
Teoria Literária do Jonathan Culler, que possui uma linguagem muito acessível. Ao que me consta, ele está esgotado, mas é possível achar um pdf dele.
E uma quarta indicação, só que mais hardcore, é
O demônio da teoria, do Antoine Compagnon. Ele pega os principais pontos da teoria literária (por exemplo a questão do autor e da intencionalidade, ou a questão da mímesis) e discute só que fazendo um apanhado e balanço da teoria literária praticamente toda. Um livro muito foda, mas que requer um esforço bem grande por parte do leitor.
São indicações pra você se aclimatar (ao mesmo tempo, claro, que se aprofunda). Agora se você quiser ler direto na fonte, o que diga-se de passagem é recomendável, ou seja, busque SEMPRE ler direto os próprios textos, os próprios livros, por mais que isso faça de sua jornada uma jornada mil vezes mais longa; se você quiser ir direto na fonte, tem o
Teoria da literatura em suas fontes, uma compilação em dois volumes feita pelo Luiz Costa Lima (que é um dos maiores teóricos literários brasileiros, mas um cara de leitura extremamente difícil, num nível hardcore extreme). Ele está esgotado, mas, ao que me consta, será republicado em breve por uma editora goiana. Você acha facilmente um pdf dele. Todas as vertentes principais de teoria literária estão contidas nele.
Além desse, tem o
Do mito das musas à razão das letras, que é uma compilação de textos relevantes para o estudo da literatura que começa com Platão e termina no século XVII. Uma obra fundamental também. 150 dilmas, nova.
Agora se você quiser algo mais nacional, daí eu já te recomendo os dois volumes organizados pelo Afrânio Coutinho chamados
Caminhos do pensamento crítico, que fazem uma compilação de praticamente toda a crítica literária nacional até início do século passado.
Por fim, você perguntou sobre o Bosi. Bosi é mais crítico e historiador, de fato, mas ele tem um livro chamado O ser e o tempo da poesia que é a meu ver um clássico a respeito do assunto teoria da poesia. Um livro espetacular, pura e simplesmente.
Já o Umberto Eco... Bem, ele foi um estruturalista e um semioticista. O Estruturalismo foi uma das principais correntes de teoria literária do século passado (na verdade não só de teoria literária: o Estruturalismo era uma pan-teoria, cuja proposta era a de poder explicar tudo). Uma dica que eu posso te dar, caso você não queira ter muitos problemas com teoria literária, é ler dois carinhas que vão te ajudar muito:
-- Ferdinand de Saussure, o chamado pai da linguística, com um livro chamado
Curso de linguística geral;
-- Charles Sanders Peirce, o chamado pai da semiótica, com um livro chamado
Semiótica;
Conceitos retirados da obra desses caras aparecem igual água na teoria literária, então é bom você ler direto na fonte pois, de resto, eles não são de uma leitura penosa: o curso do Saussure, por exemplo, foi escrito tomando como base notas que uns alunos CDFs dele faziam das aulas.
Então isso pode ser útil pra você conseguir encarar melhor a obra do Eco enquanto teórico literária. Mas, caso você queira uma sugestão, comece pelo
A Obra Aberta e, depois, pela obra (um pouco esquecida, mas excelente) chamada Conceito de Texto. Depois você pode ir, hum, pro Lector in Fabula ou pro A Estrutura Aberta, se quiser uma visada mais próxima do escopo Estruturalista. Deixe uma obra como Os Limites da Interpretação por último.