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Ted Hughes

Mavericco

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TED HUGHES (1930 - 1998)

Estava relendo algumas coisas de Sylvia Plath e aí fatalmente você chega no Hughes. Durante muito tempo eu o considerei o safado-cachorro-sem-vergonha que corneou a Plath, o machista nojento, o pseudopoeta que jogou uma talentosa artista rumo ao suicídio.

Quanta besteira... Simplificar uma trajetória humana de modo tão grosseiro é simplesmente ridículo.

Então eu fui ler Ted Hughes. Li em inglês, e a princípio lamentei ele ser tão pouco traduzido no Brasil... Mas, antes de chegarmos propriamente lá, uma rápida biografia do Hughes:

Ted Hughes: casamento com Sylvia Plath marcou a trajetória do poeta
Cassiano Viana, Jornal do Brasil

RIO - Infelizmente pouco se conhece no Brasil da obra de Ted Hughes, poeta laureado na Grã-Bretanha instituição vista pelo resto do mundo como uma excentricidade, o detentor dessa distinção vitalícia recebe uma modesta remuneração anual para escrever poemas sobre as celebrações do Reino Unido e considerado um dos maiores poetas britânicos do século 20, ao lado de T. S. Eliot, W. H. Auden e Seamus Heaney. Como costuma acontecer quando a biografia do artista inclui detalhes estrepitosos, Hughes tornou-se mais famoso por seu casamento (aqui não é possível usar união ) com a americana Sylvia Plath, que durou cinco anos, de 1957 a 1962.

Restou muitas vezes um poeta reduzido a segundo plano e renegado por uma reputação de marido omisso, indiferente, com a fala de intelectual egocêntrico, arrogante, associada às fofocas sobre suas relações conjugais e extraconjugais (teve três mulheres, Sylvia, Assia Wevill e Carol Orchard ). Não foi de grande ajuda o fato de suas duas primeiras mulheres terem se matado. Além de Sylvia, morta um ano após a separação do casal, a segunda companheira, Assia, seis anos depois e pela mesma via inalação de gás matou-se, levando consigo a filha de 4 anos do casal, Shura. A sucessão de tragédias pessoais de Hughes se fechou este ano, quando, no dia 16 de março, Nicholas Hughes, seu filho com Sylvia, também cometeu suicídio, enforcando-se em sua casa no Alasca. Nicholas era biólogo e ensinava ciências do mar e da pesca na Universidade de Fairbanks.

Tradutor de Sêneca

Hughes, que completaria 79 anos este ano (morreu no dia 28 de outubro de 1998), produziu nada menos que 18 livros de poemas e cinco livros em prosa, traduções de Racine, Garcia Lorca e Sêneca, 16 livros infantis, além de ter organizado antologias de Emily Dickinson, da própria Sylvia Plath, Shakespeare e Coleridge. Em 2003, na Inglaterra, foi publicado pela Faber & Faber um volume de 1376 páginas (1030 poemas), com toda a sua produção poética. Os únicos volumes publicados no Brasil são as Birthday letters, as Cartas de aniversário traduzidas por Paulo Henriques Britto para a Record uma espécie de pedido de desculpas/explicação/expurgo público; os infanto-juvenis O homem de ferro (pela Martins Fontes), O caçador de sonhos e O que é verdade? , ambos pela Companhia das Letras; e o volume de contos Dificuldades de um noivo (Record).

É impossível a não ser para mitômanos e feministas de plantão imaginar que um poeta como ele escreveria versos apenas confessionais, para exorcizar a relação com Sylvia ou sua vida pessoal. O filme estrelado por Gwyneth Paltrow (Sylvia paixão além das palavras, de 2003) alimenta a imagem do poeta cafajeste e da mocinha apaixonada. Hughes acabou renegado pelas feministas que, obviamente, partiram em defesa da lady Lazarus (como a própria Sylvia se apelida num de seus mais famosos poemas, falando das reiteradas tentativas de suicídio, iniciadas antes mesmo da presença de Hughes em sua vida). Como explicar que após a morte de Sylvia, Hughes tenha se tornado organizador e maior divulgador de seus poemas e diários? Culpa? Talvez.

Ann Skea, autora de Ted Hughes: the poetic quest e uma das mais dedicadas pesquisadoras da obra do poeta, observa que Hughes, filho de carpinteiro, nasceu em Yorkshire, norte da Inglaterra, mesmo lugar das irmãs Brontë e cenário do romance O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Viria daí a personalidade à la Heathcliff de Hughes aquele que condena o espírito de Catherine, a mulher amada, a vagar pela terra e a não encontrar descanso, porque não suportaria continuar a viver sem ela por perto. Na verdade, aqui os papéis estariam invertidos, pois é ele que não conseguiu se livrar do fantasma da mulher.

Santuário de remorso

Ted Hughes que teve seu primeiro livro, Hawk in the rain, publicado aos 27 anos diria, numa carta a Aurélia, mãe de Sylvia Plath, que não queria ser perdoado ou transformado num santuário público de luto e remorso. Mas, se há uma eternidade, estou amaldiçoado nela , escreveu a um amigo. Deixe as feministas fazerem o que quiserem, deixe as pessoas pensarem o que quiserem sobre mim, deixe os céus caírem, deixe os exércitos de apoio acadêmico de sua mãe me demolirem (...), não posso mais me trancar atrás desta porta de vidro por mais uma semana , escreveu ao filho Nicholas, comentando a publicação dasBirthday letters. Os trechos acima foram traduzidos pela jornalista e tradutora Marina Della Valle, que se ocupa, hoje, de uma dissertação de mestrado sobre o escritor.

Sylvia Plath descreveu o marido como alguém com os bolsos recheados de horóscopos . De fato, para Hughes o zodíaco importava. Quem sabe se havia levado em conta que, pela sinastria (técnica utilizada na astrologia para analisar os graus de afinidade e dificuldade no relacionamento entre duas pessoas), ele, do signo de Leão, tinha reduzidas possibilidades de um relacionamento não-destruidor com a escorpiana Sylvia.

Possivelmente tenha levado em conta seu zodíaco como pano de fundo para sua produção poética. Leão é associado na astrologia antiga com o corvo, animal noturno e solitário, que simbolizaria o lado obscuro da natureza humana, o mensageiro do vazio, do grande mistério . Na cultura dos índios americanos, a cor preta do corvo tem diversos significados, mas não simboliza o mal. O preto pode simbolizar a busca de respostas. Todas essas dimensões estão presentes em um de seus livros mais primorosos: Crow: from the life & songs of the crow, inédito no Brasil.

*Jornalista e tradutor

http://www.jb.com.br/cultura/notici...om-sylvia-plath-marcou-a-trajetoria-do-poeta/

Aí tá. Eu estava lamentando haver tão pouco dele no Brasil e tal e coisa. Até que eu descubro isso:

Cartas de aniversário
Ted Hughes
Poesia 400 páginas
Tradução de Paulo Henriques Britto
ISBN: 8501053759
http://www.editoras.com/record/053751.htm

Fiquei animadíssimo... Tanto que resolvi até criar esse templo para apreciação e culto corporal à poesia. Que tal falarmos de Ted Hughes? Olhem, compensa. Vou citar um poema dele que é super legal:

O MINOTAURO
trad. Paulo Henriques Britto

A mesa de mogno que você quebrou
Era o tampo largo do aparador
Que minha mãe havia herdado -
Mapa de riscos de toda a minha vida.

Foi isso que você martelou
Com um banco alto aquele dia,
Enlouquecida por eu estar vinte minutos
Atrasado para cuidar da criança.

"Maravilhoso"! gritei. "Isso mesmo,
Quebre tudo em pedacinhos.
Isso você não põe nos seus poemas!"
Depois, consciente, mais calmo,

"Ponha no ombro essas estrofes
E vamos." No fundo da gruta do seu ouvido
O gnomo estalou os dedos.
O que lhe dera eu, afinal?

A ponta sangrenta da madeixa
Que desenredou o seu casamento,
Deixou os seus filhos ecoando
Como túneis de um labirinto,

Deixou a sua mãe num beco sem saída,
Levou você ao touro enfurecido
Da tumba do seu pai ressuscitado -
E deixou-a morta lá dentro.

http://cris-cristinamacedo.blogspot.com.br/2011/07/sylvia-plath-e-ted-hughes.html

E cito também um artigo sobre a poesia do Hughes e da Plath: O casamento mitopoético de Ted Hughes e Sylvia Plath, por Purificacion Barcia Gomes.

É isso aí! Quem não conhece ainda, vale a pena pesquisar a respeito.
 
Terminei de ler o livro e já engatei uma releitura. É fabuloso... Forte. Impactante. Poético. O leitor-comum vai adorar o livro; ele já foi bestseller e é um relato apaixonado, sóbrio, muito emocionante da vida de um homem que sofreu demais... Pode ser que o leitor um pouco mais experimentado, mas viciado de preconceitos, não goste do livro ou não capte os meandros dele. Porque tem obras que dão rasteiras em todos os tipos de leitores, desde os mais comuns aos mais velhacos. Esse livro do Hughes dá rasteira naqueles meio-termo. O cara vai ler e se perguntar "mas isso é poesia?", ou vai achar que é simplesmente prosa em versos... Ou que fica cansativo, quem sabe... Ou que, no mínimo, é um exagero que o autor de um livro assim seja posto ao lado de Eliot e Auden.

Mas aí o cara tem que ter ou o olhar apaixonado genuíno e simples do leitor comum, ou tem que ter um cuidado ao observar esse livro do Hughes tanto no final do século, após as vanguardas arrasarem a terra e os poetas confessionais plantarem sementes, quanto de observar a técnica dele, a forma como ele é composto, o como o Hughes conduz o texto...

Enfim. Na internet dá pra achar o livro baratíssimo. Coisa de, sei lá, 20 dilmas com o frete. E não preciso nem dizer que compensa demais.
 
ah, que bacana! Vou ler! Eu comprei esse Cartas de Aniversário naquela imprensa oficial do RJ (lembra?), novinho, por três dilmas XD comprei tbm um livro de contos dele. Bom saber que você gostou...
 

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