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Suposta aparição de Nossa Senhora em Ceilândia

Infelizmente, os caminhos para a Aletheia são múltiplos - e sim, Paganus, eu sei que você vai discordar de mim - se é que existe algum certo.

É isso! :D

Acho que essa é uma visão que "fecha" bem com o que eu penso.

Mas de qqr forma, o livre arbítrio social seria diferente do livre arbítrio de Deus. Afinal, Deus simplesmente "exige" certas coisas, como antigamente: tem que observar o sábado. E quem trabalha sábado hj em dia, comofas? Rs.

Tem essas coisas, q pra realidade de hj não fazem mto sentido. Aí vão dizer que "Deus é um só" independente de ser hj ou há 2 mil anos atrás, mas como então condenar um adúltero em praça pública? Não se faz mais isso, faz? Ou como explicar pro seu patrão q vc não quer trabalhar sábado? Coisas assim.
 
É isso! :D

Acho que essa é uma visão que "fecha" bem com o que eu penso.

Como minha orientação é estruturalista - em certos níveis, a do Paganus e do Morfs também são, mas cada um de nós preferiu seguir seu caminho :lol: -, acabo que querendo ver até onde podemos chegar em tais abordagens, nas variadas manifestações e interpretações.

Mas de qqr forma, o livre arbítrio social seria diferente do livre arbítrio de Deus. Afinal, Deus simplesmente "exige" certas coisas, como antigamente: tem que observar o sábado. E quem trabalha sábado hj em dia, comofas? Rs.

Tem essas coisas, q pra realidade de hj não fazem mto sentido. Aí vão dizer que "Deus é um só" independente de ser hj ou há 2 mil anos atrás, mas como então condenar um adúltero em praça pública? Não se faz mais isso, faz? Ou como explicar pro seu patrão q vc não quer trabalhar sábado? Coisas assim.

"O SÁBADO foi feito por causa do HOMEM, e não o homem por causa do sábado."
(Marcos 2:27)

"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus."
(Romanos 3:23)

"O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o ministério do Espírito ainda muito mais glorioso?"
(2 Coríntios 3:7-8)

(Não fosse meu ceticismo teria me tornado pastor, com certeza.) :lol:
 
Então há abertura pro sábado nos dias de hj ou não??

De acordo com interpretações sobre essa fala de Cristo, sim - tirando os Adventistas do Sétimo Dia. De acordo com os judeus, não. Mas os próprios judeus dizem que podemos abdicar do sábado em casos de emergência (pikuach nefesh), visto que a Vida Humana vale mais que a Lei.
 
Última edição:
Mas aí voltamos àquele problema do que seria a "verdadeira" ortodoxia, qual seria a manifestação de facto dessa divindade. Eu mesmo aplaudo Cristo ao falar do "sinal do Jonas" quando os judeus lhe pedem um sinal: se eles não conseguiram entender a finalidade real da Lei Mosaica, então não haveria sinal nenhum capaz de convencê-los - aliás, acabaria deturpando e diminuindo (ou mesmo negando) o valor da base de suas crenças. Infelizmente, os caminhos para a Aletheia são múltiplos - e sim, Paganus, eu sei que você vai discordar de mim - se é que existe algum certo. Acho que só podemos esperar que a Busca valha a pena.

E sobre a segunda parte, bem, nem que Deus não existisse teríamos um livre arbítrio real visto que somos inculcados com uma ética alheia e uma imaginação que nos impõe limites. Isso impede que sejamos responsáveis pelos nossos atos? De forma alguma, mas é dentro desse escopo que "podemos" atuar. O que as religiões fazem é tentar mostrar porque render-se à "Vontade de Deus" é mais agradável e mais desejável que tentar viver alheio à Sua existência.

Mas a Igreja Ortodoxa não nega que a theosis possa ocorrer fora da Igreja. Aliás, crer no contrário seria querer dizer que a Igreja determina uma limitação ao próprio Deus. Mesmo sendo Ela o Corpo de Cristo, nem mesmo uma auto-limitação imposta seria concebível nesses casos. A Igreja é sim um centro altamente privilegiado de distribuição infinita e gratuita de graças incriadas, de influências espirituais, e possui a única reta doutrina. Isso eu não nego, mas ter um monopólio da salvação? Não, jamais, isso é blasfêmia.
 
Mas a Igreja Ortodoxa não nega que a theosis possa ocorrer fora da Igreja. Aliás, crer no contrário seria querer dizer que a Igreja determina uma limitação ao próprio Deus. Mesmo sendo Ela o Corpo de Cristo, nem mesmo uma auto-limitação imposta seria concebível nesses casos. A Igreja é sim um centro altamente privilegiado de distribuição infinita e gratuita de graças incriadas, de influências espirituais, e possui a única reta doutrina. Isso eu não nego, mas ter um monopólio da salvação? Não, jamais, isso é blasfêmia.

Depois das trollices do Calion, ler algo de um católico consciente aqui no forum é quase um bálsamo, meo!! :clap:

Lynn mal conheceu o Pagz e já tá puxano o çaco, rçrçrçrçrçrç!!

Mas é verdade, suas argumentações são ótimas!!
 
Galere, só toma um pouco de cuidado ao falar "Ateu Materialista"pq eu tenho quase certeza que o significado que vocês tentam colocar não é o mais apropriado.

Ao falar de religião, estamos bem ou mal falando de filosofia, e o materialismo na filosofia desde o século XIX representa um conceito bem mais complexo e diferente do apenas "crer no material". Não que, sendo bastante reducionista, não seja mais ou menos isso, mas é bem mais complexo e acho que não representa direito o que alguns estão querendo expressar.

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O Morfs, eu acho (afinal nao posso falar por ele), é ateu cientificista, ou seja, substitui os dogmas religiosos por paradigmas cientificos, esse é o tipo de ateísmo hoje em dia mais comum.
Existe o ateísmo freudiano, que aceita a religião apenas como neurose (e não entendam neurose como algo essencialmente negativo). Existe o ateu étio-filosofico, que nega a religião por base da própria filosofia, existe o ateu-leninista-marxista, que vê na religião apenas uma importância opióide, ou seja, de alivio do sofrimento das classes exploradas pela crença que no sobrenatural tudo será melhor (Religião é o ópio do povo, o coração da criatura sem coração etc). Existe o ateísmo niilista, que nega a moral como um todo, e portanto nega qualquer religião. O ateísmo positivista, que enxerga na religião apenas uma instituição de sentidos compartilhados, esvaziando a mesma de qualquer caráter sagrado, entre muitos outros...

Todos são ateus, e todos com premissas diferentes para ser. O ateu "materialista" está ligado ao ateísmo marxista-leninista, e nem por isso ele crê mais no "material" que os outros.

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A negação pura de Deus por base determinista se dá mais pelos cientificistas, que veem na ciência as repostas que antes eram atribuídas aos deuses.
O Freudiano comprrende que Deus e todo o sobrenatural é uma necessidade inconsciente dos indivíduos para retornar naquilo que eles chamam de "sensação oceânica", que seria o fim dos desejos, a plenitude e etc, por isso é compreendido como neurose.
Os marxistas e positivistas enxergam a religião como consequência da sociedade, e não o inverso, para o marxismo, é consequência do sofrimento das classes exploradas e na necessidade da criação do sobrenatural para viver na vida material, enquanto os positivistas enxergam a instituição religiosa como atrasada, porém percebem o sentido dela ao existir como instituição de valores que são compartilhados pela própria sociedade, o principal expoente dessa linha é o sociólogo Durkheim.

Niilista estão na crítica ao absoluto e de toda forma de controle moral e ético sobre o individuo, por enxergarem nisso um carater controlador e de "acorrentamento" dos que tem potencial por uma ética que não libera tais homens para seu pleno desenvolvimento.

O ético-religioso nega as premissas religiosas debatendo "no mesmo campo" que a própria religião, ou seja, dentro da filosofia e da ética, sem nenhum tipo de "materialidade" ou na crença cientificista simples.
 
Galere, só toma um pouco de cuidado ao falar "Ateu Materialista"pq eu tenho quase certeza que o significado que vocês tentam colocar não é o mais apropriado.

Até onde eu sei, ateu materialista é aquele que não crê em espíritos de ordem alguma. Há os agnósticos que crêem em espíritos, ou não estão certos se existem ou não.

Acho que é isso... por isso não posso me dizer "teísta" propriamente dita, mas tbm não posso me dizer materialista.
 
Até onde eu sei, ateu materialista é aquele que não crê em espíritos de ordem alguma. Há os agnósticos que crêem em espíritos, ou não estão certos se existem ou não.

Acho que é isso... por isso não posso me dizer "teísta" propriamente dita, mas tbm não posso me dizer materialista.
Não, não tem relação alguma com isso. Nesse meu mesmo post acima eu editei duas vezes e detalhei as diferenças entre os ateísmos.
 
O Felagund expôs as diversas formas pelas quais o ateísmo passou (e passa) mas existe outro ponto aqui, que é a questão da terminologia, do conceito. Matéria não tem o mesmo sentido para os modernos que possuía para os antigos. As religiões tradicionais postulavam a matéria de forma bem menos morta e mecanicista que os modernos, de forma geral, até mais daemônica. A matéria, nas doutrinas tradicionais, é simplesmente a prakrti, a manifestação corporal nos seus aspectos potenciais, devíricos, caóticos e informes, a matéria-prima de Platão etc. É o reino da Lua, do devir. Fora da manifestação corporal, dizemos que é o Informal, aquilo em que age o Imanifestado, o Absoluto para gerar a manifestação. Por isso, tradicionalmente, o princípio ativo e fecundante do Sol é o sagrado masculino e o passivo e gerador da Terra é o sagrado feminino.

Como se vê é uma coisa muito mais dinâmica, sagrada, orgânica que a matéria dos modernos.

Outra diferença é a noção de espírito. René Guenon denuncia que desde Descartes os modernos separam alma e corpo de uma maneira absurda que é um dos principais sintomas de que a época tradicional havia findado, essa dúvida extrema em que possa haver algum 'indício' da própria existência que o próprio ser pensante, encarando o pensamento nos seus aspectos mais limitadores e modernamente 'materialistas'. Daí vem as noções modernas de espírito que não tem NADA a ver com o espírito dos espíritas, e espiritualistas e outros bichos estranhos mas também não tem muito mais a ver com o espírito dos povos tradicionais. Não existe mais aqui uma separação entre o que é realmente essencial e formador no homem (espírito) e o que é apenas resíduo e influência psíquica (alma), mas uma confusão entre alma e espírito que explica a maioria das grandes merdas da intelectualidade moderna como o cartesianismo, o kantismo e aquele caminhada descendente do Ocidente rumo ao abismo da dúvida e da apostasia.

O que Guenon denuncia nessa 'confusão' é, além da confusão em si mesma, seus efeitos no sentido de não apenas fechar o homem ao que é superior, assim como a negação dessa mesma superioridade ontológica, pela redução de suas capacidades existenciais e intelectuais a um horizonte 'material', como o rebaixamento de todo conhecimento e existência aos aspectos mais baixos do ser (telurismo). É nesse sentido que ele critica a psicanálise e diversos tipos de evolucionismo espiritual e é também por esse prisma que ele critica severamente o espiritismo. Em sentido prático se pode dizer que se tem aqui a gênese do materialismo moderno, que é uma deturpação do 'materialismo' tradicional: a negação de toda possibilidade fora dos 'Círculos do Mundo', o fechamento do mundo à transcendentalidade, e a imersão do homem nos aspectos mais baixos do próprio telurismo, da própria subconsciência, reflexo do cosmo.

Em outras palavras, o homem moderno não apenas é 'materialista' como o é no pior sentido possível, no sentido mais daemônico, grosseiro, inférnico, niflheímico possível. É algo qualitativamente diferente da Lua, é a pura Lua Negra, Lilith.

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Não, não tem relação alguma com isso. Nesse meu mesmo post acima eu editei duas vezes e detalhei as diferenças entre os ateísmos.

Sim, até porque poucos conceitos foram tão mal-compreendidos, alterados, mexidos, zoados, estraçalhados e deturpados como o de 'espírito'. E o espiritismo não tem monopólio sobre ele nem o espiritualismo. Aliás, poucos o deturparam mais que religiões tão modernoides como o espiritismo e esses espiritualismo que no sentido de adaptação de doutrinas tradicionais (leia-se 'zoeragem sem fim') a ideias modernas são mestres.
 
O Felagund expôs as diversas formas pelas quais o ateísmo passou (e passa) mas existe outro ponto aqui, que é a questão da terminologia, do conceito. Matéria não tem o mesmo sentido para os modernos que possuía para os antigos. As religiões tradicionais postulavam a matéria de forma bem menos morta e mecanicista que os modernos, de forma geral, até mais daemônica. A matéria, nas doutrinas tradicionais, é simplesmente a prakrti, a manifestação corporal nos seus aspectos potenciais, devíricos, caóticos e informes, a matéria-prima de Platão etc. É o reino da Lua, do devir. Fora da manifestação corporal, dizemos que é o Informal, aquilo em que age o Imanifestado, o Absoluto para gerar a manifestação. Por isso, tradicionalmente, o princípio ativo e fecundante do Sol é o sagrado masculino e o passivo e gerador da Terra é o sagrado feminino.

Como se vê é uma coisa muito mais dinâmica, sagrada, orgânica que a matéria dos modernos.

Outra diferença é a noção de espírito. René Guenon denuncia que desde Descartes os modernos separam alma e corpo de uma maneira absurda que é um dos principais sintomas de que a época tradicional havia findado, essa dúvida extrema em que possa haver algum 'indício' da própria existência que o próprio ser pensante, encarando o pensamento nos seus aspectos mais limitadores e modernamente 'materialistas'. Daí vem as noções modernas de espírito que não tem NADA a ver com o espírito dos espíritas, e espiritualistas e outros bichos estranhos mas também não tem muito mais a ver com o espírito dos povos tradicionais. Não existe mais aqui uma separação entre o que é realmente essencial e formador no homem (espírito) e o que é apenas resíduo e influência psíquica (alma), mas uma confusão entre alma e espírito que explica a maioria das grandes merdas da intelectualidade moderna como o cartesianismo, o kantismo e aquele caminhada descendente do Ocidente rumo ao abismo da dúvida e da apostasia.

O que Guenon denuncia nessa 'confusão' é, além da confusão em si mesma, seus efeitos no sentido de não apenas fechar o homem ao que é superior, assim como a negação dessa mesma superioridade ontológica, pela redução de suas capacidades existenciais e intelectuais a um horizonte 'material', como o rebaixamento de todo conhecimento e existência aos aspectos mais baixos do ser (telurismo). É nesse sentido que ele critica a psicanálise e diversos tipos de evolucionismo espiritual e é também por esse prisma que ele critica severamente o espiritismo. Em sentido prático se pode dizer que se tem aqui a gênese do materialismo moderno, que é uma deturpação do 'materialismo' tradicional: a negação de toda possibilidade fora dos 'Círculos do Mundo', o fechamento do mundo à transcendentalidade, e a imersão do homem nos aspectos mais baixos do próprio telurismo, da própria subconsciência, reflexo do cosmo.

Em outras palavras, o homem moderno não apenas é 'materialista' como o é no pior sentido possível, no sentido mais daemônico, grosseiro, inférnico, niflheímico possível. É algo qualitativamente diferente da Lua, é a pura Lua Negra, Lilith.
Podemos também pontuar que os gregos já haviam superado o "campo do sensível" lá em 400 antes de Cristo. O próprio Platão insiste para superarmos o reino do palpavel e nos debruçarmos sobre a "essência" das coisas.

Curioso ver como algumas religiões mais modernas, como espíritas/espiritualistas e evangélicos PRECISAM o tempo todo recorrer ao campo do sensível para se valer como crença. Seja pastores curando deficientes ou espíritos se manifestando em cartas ou em possessões. Weber nos falou que o protestantismo tinha conseguido "desencantar o mundo", acabando com todo o carater místico das religiões cristãs e trazendo a tona a real necessidade da ascese e da vida vpela essência, e não pela aparência. Parece que andamos na contra-mão da história em alguns momentos...
 
Curioso ver como algumas religiões mais modernas, como espíritas/espiritualistas e evangélicos PRECISAM o tempo todo recorrer ao campo do sensível para se valer como crença. Seja pastores curando deficientes ou espíritos se manifestando em cartas ou em possessões. Weber nos falou que o protestantismo tinha conseguido "desencantar o mundo", acabando com todo o carater místico das religiões cristãs e trazendo a tona a real necessidade da ascese e da vida vpela essência, e não pela aparência. Parece que andamos na contra-mão da história em alguns momentos...

Isso ocorre, seguindo a linha de Guenon, exatamente por serem modernas. Os traços mais marcantes desse neo-espiritualismo e do espiritismo como um todo é essa obsessão 'fenomenista', essa tara por querer explicar os maiores mistérios do universo e mesmo Deus através da 'experiência', do 'rigor científico', como se houvesse alguma possibilidade de uma experiência metafísica, ora, os próprios termos se excluem um ao outro. Nada metafísico pode ser sensível ou 'científico' e vice-versas, são domínios de realidade completamente distintos. Isso, como o evolucionismo, o utilitarismo, enfim, esse cientificismo dessas religiões modernas (note-se como certos imbecis se pavoneiam ridiculamente dizendo que o espiritismo não é religião, mas uma 'ciência', como se isso fosse alguma vantagem e não uma grosseira idiotice) é um sintoma característico que atesta como elas são modernas mesmo, e são até, frequentemente, como materializações da vida espiritual, basta ver como são grosseiramente materiais as descrições do 'pós-vida' em diversos autores espíritas antigos, alguns (como os fraternistas) chegam a esboçar que até mesmo Deus evolui! (:puke:)

Mas enfim, não é o lugar pra criticar o espiritismo, ainda vou criar um tópico sobre um livro de Guenon (O erro espírita) sobre o assunto.
 
Daí vem as noções modernas de espírito que não tem NADA a ver com o espírito dos espíritas, e espiritualistas e outros bichos estranhos mas também não tem muito mais a ver com o espírito dos povos tradicionais.

:think:

Sim, até porque poucos conceitos foram tão mal-compreendidos, alterados, mexidos, zoados, estraçalhados e deturpados como o de 'espírito'. E o espiritismo não tem monopólio sobre ele nem o espiritualismo. Aliás, poucos o deturparam mais que religiões tão modernoides como o espiritismo e esses espiritualismo que no sentido de adaptação de doutrinas tradicionais (leia-se 'zoeragem sem fim') a ideias modernas são mestres.

Deturpação ou ressignificação dentro de outras bases filosóficas? Depende do lugar do qual você olha. Conceitos são polissêmicos e possuem historicidade. São dinâmicos como as sociedades e estão sujeitos a transformações, ressignificações e apropriações as mais diversas como respostas à própria dinâmica social, política, cultural e econômica de uma época. É verdade o que você diz quanto ao conceito de "espírito" não ser monopólio do espiritismo ou de outras formas de espiritualismo. Tampouco é monopólio de católicos ou protestantes. Mas ele se insere no contexto de cada doutrina de maneira específica, dentro de um quadro conceitual, um aparato filosófico que lhe dá sentido e coerência. Naturalmente que os tradicionalistas, pretensos representantes de uma ortodoxia, alegarão a deturpação, a usurpação e a corrupção do conceito, posto que há uma concepção que aponta, como em diversas doutrinas, para o monopólio da verdade.
Essas bases foram esboroadas pela modernidade, com o declínio das autoridades, o avanço do profano e o processo de descristianização do Ocidente, que começa a ganhar contornos mais nítidos já em princípios do século XVIII, conforme o historiador marxista Michel Vovelle. E nisso o processo de secularização do pensamento político foi central.

Curioso ver como algumas religiões mais modernas, como espíritas/espiritualistas e evangélicos PRECISAM o tempo todo recorrer ao campo do sensível para se valer como crença. Seja pastores curando deficientes ou espíritos se manifestando em cartas ou em possessões. Weber nos falou que o protestantismo tinha conseguido "desencantar o mundo", acabando com todo o carater místico das religiões cristãs e trazendo a tona a real necessidade da ascese e da vida vpela essência, e não pela aparência. Parece que andamos na contra-mão da história em alguns momentos...

Isso ocorre, seguindo a linha de Guenon, exatamente por serem modernas. Os traços mais marcantes desse neo-espiritualismo e do espiritismo como um todo é essa obsessão 'fenomenista', essa tara por querer explicar os maiores mistérios do universo e mesmo Deus através da 'experiência', do 'rigor científico', como se houvesse alguma possibilidade de uma experiência metafísica, ora, os próprios termos se excluem um ao outro. Nada metafísico pode ser sensível ou 'científico' e vice-versas, são domínios de realidade completamente distintos. Isso, como o evolucionismo, o utilitarismo, enfim, esse cientificismo dessas religiões modernas (note-se como certos imbecis se pavoneiam ridiculamente dizendo que o espiritismo não é religião, mas uma 'ciência', como se isso fosse alguma vantagem e não uma grosseira idiotice) é um sintoma característico que atesta como elas são modernas mesmo, e são até, frequentemente, como materializações da vida espiritual, basta ver como são grosseiramente materiais as descrições do 'pós-vida' em diversos autores espíritas antigos, alguns (como os fraternistas) chegam a esboçar que até mesmo Deus evolui! (:puke:)

Autores espíritas antigos? A quem se refere, Pagz? Eu fiquei intrigado quando você falou em "espiritismo clássico pré-kardecista", mas como não era essa a discussão, não me manifestei. O que você entende por "espiritismo clássico"? :think:
Como espírita, não concebo a existência de um espiritismo pré-kardecista. Naturalmente o espiritismo não surgiu do nada, tendo convivido com outras formas de espiritualismo na Europa moderna. Na própria introdução de O Livro dos Espíritos, escrito em 1857, Kardec faz uma discussão conceitual entre o espiritualismo e a nova doutrina que ganhava corpo, cunhando o termo espiritismo. Diz-se que espiritismo foi um neologismo. Desconheço usos anteriores. Mas ainda que existam, estamos tratando de uma conceituação específica. Por isso, parece-me que falar em espiritismo pré-kardecista é uma extrapolação.

Não quero, obviamente, dizer que o espiritismo tenha surgido do nada ou como se diz, tenha "inventado a roda". Diversas formas de espiritualismo e misticismo conviviam na Europa moderna. Para nós espíritas Kardec foi o Codificador da revelação dos espíritos, num contexto que Arthur Conan Doyle, também um curioso espiritualista, chamou de "a invasão organizada". Houve assim a organização de um aparato filosófico sistêmico que desse corpo a uma nova doutrina que os espíritas entendem como sendo a terceira revelação ao ocidente, com a característica de se tratar de uma revelação progressiva.

Embora o Pagz tenha colocado como crítica, eu concorda que haja, resguardadas devidas proporções, uma "obsessão 'fenomenista'". E isso vai de encontro ao que o Felagund levantou. Onde o espiritismo surge? Em círculos intelectuais e elitizados numa França que vive um processo de industrialização, secularização e inundada pelo otimismo racionalista oitocentista. Kardec não nega o aspecto religioso e filosófico da nova doutrina, mas em seu otimismo a chama de "nova ciência". Mas o conceito de religião utilizado de fato traz uma fundamentação moderna.
É esse racionalismo também que leva Kardec a escrever orientações no sentido da valorização da razão e da ciência, chegando a dizer que se algum dia a Ciência provasse que algum ponto da Codificação estivesse em equívoco, que abandonássemos esse ponto e abraçássemos os novos esclarecimentos. Nesse sentido, há um anti-dogmatismo semelhante ao que Jorge Grespan identifica no pensamento iluminista, quando fala da crítica à razão dogmática.

No início do Evangelho segundo o Espiritismo é dito que em nosso mundo coexistem Leis Físicas e Leis Morais. Uma vez que ambas têm sua origem em Deus, não seria lícito julgar que uma contradiz a outra e que, portanto, não haveria porque haver a separação entre ciência e religião. E que com o processo evolutivo chegará o momento em que o homem compreenderá e superará esse hiato. E nisso repousa a recusa ao materialismo, aqui entendido como o apego ao imanente. De certo modo, há uma realidade material e uma realidade espiritual. Mas ao mesmo tempo essa separação é complexa, posto que elas são intersticiais. Enquanto espírito reencarnado estou num plano material, mas simultaneamente vivo uma realidade que também é espiritual. E alguns têm uma maior percepção disso, como aqueles que pelos motivos mais variados reencarnam com mediunidade ostensiva. E a iluminação é justamente o "viver no mundo sem ser do mundo", buscando a transcendência e tomando contato com nossa essência divina, nossa individualidade profunda, "crística". E isso se processa através de diversas experiências reencarnatórias na senda evolutiva.

Ainda assim, dentro do próprio movimento espírita há uma crítica ao "fetiche do fenômeno", visando priorizar o aspecto moral da doutrina. Geralmente uma pessoa chega à casa espírita e a primeira coisa que ela diz é que quer participar de uma reunião mediúnica. Há casas que têm muito pouco cuidado com isso. Sincretismo, vaidade, espetáculo e mesmo charlatanismo são coisas que naturalmente se encontra em casas ditas espíritas. Foi por isso que no tópico sobre Espiritismo, disse à Amanda que é preciso muito cuidado e critério para escolher uma casa. Eu travei os meus primeiros contatos com o Espiritismo há seis anos, passando pela juventude e agora voltando a ela como coordenador e ainda assim nunca tomei parte em uma reunião mediúnica e nem acho que esteja preparado pra isso. E olha que foi justamente o fato de ter vivido experiências mediúnicas que me levou ao Espiritismo. Acho que tenho muito que estudar antes de caminhar nesse sentido. Enfim, desculpem por desvirtuar o tópico. Mas a própria discussão caminhou pra isso. :cerva:

Mas enfim, não é o lugar pra criticar o espiritismo, ainda vou criar um tópico sobre um livro de Guenon (O erro espírita) sobre o assunto.

Lerei. :joinha:
 
Excelente post, Mercúcio, muito bem fundamentado como sempre e pra fazer jus a ele não poderei respondê-lo aqui. É melhor fazê-lo no tópico que criarei do livro do Guenon mesmo porque se começasse por aqui não só desvirtuaria totalmente o tópico com uma discussão entre espiritismo e tradicionalismo que não desenvolveria o assunto como quero.

E, bom, quando falei do espiritismo pré-kardecista falei de espiritualismo mesmo, de começos do século XIX, mas não gosto de usar esse termo porque ele é facilmente confundido com teosofismo que eu gostaria de falar também. Em outras palavras, espiritismo kardecista, neo-espiritualismo de forma geral, teosofismo e ocultismo são todos movimentos modernos mais ou menos com o mesmo 'espírito', diferindo apenas nos meios e nas formas com que se apresentam, e algumas diferenças cosmológicas. Enfim, é uma salada do cacete, de modo que é fácil se atrapalhar com as terminologias.
 
Ao Morfindel falta contextualização, por isso é inútil discutir com ele sobre religião. Sobre tudo o mais é possível e até agradável. Religião? Não.

Ah é, me esqueci que quando um ateu cita a Bíblia está sempre fora de contexto.

Galere, só toma um pouco de cuidado ao falar "Ateu Materialista"pq eu tenho quase certeza que o significado que vocês tentam colocar não é o mais apropriado.

No meu caso é no sentido que a Lindoriel postou. Não acredito em nada espiritual.

O Morfs, eu acho (afinal nao posso falar por ele), é ateu cientificista, ou seja, substitui os dogmas religiosos por paradigmas cientificos, esse é o tipo de ateísmo hoje em dia mais comum.
Existe o ateísmo freudiano, que aceita a religião apenas como neurose (e não entendam neurose como algo essencialmente negativo), existe o ateu-leninista-marxista, que vê na religião apenas uma importância opióide, ou seja, de alivio do sofrimento das classes exploradas pela crença que no sobrenatural tudo será melhor (Religião é o ópio do povo, o coração da criatura sem coração etc). O ateísmo positivista, que enxerga na religião apenas uma instituição de sentidos compartilhados, esvaziando a mesma de qualquer caráter sagrado, entre muitos outros...

Sou tudo isso aê.
 
Até onde eu sei, ateu materialista é aquele que não crê em espíritos de ordem alguma. Há os agnósticos que crêem em espíritos, ou não estão certos se existem ou não.

Talvez você quisesse dizer "naturalista", porque "materialistas" até os religiosos podem ser. :lol:

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Ah é, me esqueci que quando um ateu cita a Bíblia está sempre fora de contexto.

O problema aqui não foi nem a Bíblia, Morfs - foi a ideia de tudo o que a Religião engloba!

No meu caso é no sentido que a Lindoriel postou. Não acredito em nada espiritual.

Então você é naturalista mesmo.
 
Mas, mas, mas... ele não é ortodoxo grego? :think:

Nem ligo muito que chamem de católico, até porque a Igreja é Católica mesmo.

Agora ela não é só grega, é russa, sérvia, árabe etc, é isso que quer dizer 'católica', universalidade no espaço e na fé.
 
Nem ligo muito que chamem de católico, até porque a Igreja é Católica mesmo.

Agora ela não é só grega, é russa, sérvia, árabe etc, é isso que quer dizer 'católica', universalidade no espaço e na fé.

Tava imaginando que pudesse ser isso. Às vezes resvalo num preciosismo terminológico sem querer. :P
 

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