pois ele tem uma trama criativa, porém exposta de uma maneira mais simples, justamente para que crianças possam ler. /quote]
Se é criativa, eu tenho minhas dúvidas. É atraente (mistério, aventura, etc) isto eu posso atestar.
Expor de maneira simples também é questionável. As crianças apenas sabem quando você "enrola" e não tá falando muita coisa que preste. É um erro recorrente de muitos escritores infantis: considerar crianças imbecis. Ou pior, imbecilizar elas para que elas não sejam exigentes, pra depois o trabalho ficar fácil (pode oferecer qualquer porcaria de domingo que assistem).
Por que as músicas da Xuxa fizeram tanto sucesso, por exemplo? Sullivan e Massadas são o motivo. Aqueles dois entendem do babado "musica infantil" tanto quanto o Palavra Cantada atualmente. (exemplo Fome Come
http://palavra-cantada.letras.terra.com.br/letras/240281/)
sim, ele eh explorado pela mídia, mas não chega a ser como o Dan Brown que se aproveita da polêmica de seus livros para se promover.
A autora declarou que sua ambição é que sua série HP seja lida da 5a. série até o 3o. colegial. Dan Brown quer ser apenas Best Seller, ganhar dinheiro. Agora sob este novo aspecto, o que você considera mais nobre, toma tons mais sombrios.
E eh lógico q nenhum desses livros tem como comparar com as obras de Tolkien, pois nenhum é tão intenso e complexo como este.
A "ambição" de Tolkien era ter uma mitologia para seu país (até nóis tem mitologia, com os Tupãs e Iaras). Antes disso era entreter seus filhos. Ele não tinha ambição de influenciar milhares de jovens em idade escolar.
Decerto, que HPotter aumentou o interesse dos jovens pela leitura, e leitura de "bíblias". Mas como observou Fosco, é terrívelmente perigoso que se tornem leitores do tipo Sabrina e Bianca. Dificilmente eu vejo leitores desses romances descartáveis se interessar por livros mais curtos como "Revolução dos Bichos", ou apenas uma novela mais cínica de Nelson Rodrigues, que tenha mais conteúdo.
E aqui reside o perigo (e deixem de lado os pastores histéricos demonizando HP).
Lembre-se: a autora gostaria muito que sua série fosse utilizada nas escolas, por 7 anos. Pode-se pensar "isso vai dar o gosto da leitura".
Só tem um problema. O livro é simplista (até simplório) ao retratar as pessoas do mundo de Harry.
O mundo é preto e branco. As pessoas idiotas vão ser idiotas o resto da vida. As coisa ruim também. As boas serão boas independente do que aconteça.
O único que tem tons cinza reais é Harry. Ele pode se tornar Luke/Anakyn Skywalker. Entendemos que um personagem por ser protagonista necessariamente é o herói. Mas o personagem Harry tem mais características do mal do que do bem. Ele dobra as regras (por um bom motivo) e é recompensado. Snape é o elemento que lembra-nos disso.
E Harry é a forma que o próprio jovem enxerga o mundo.
Aqui é que as coisas ficam perigosas.
Se fosse UM livro ou no máximo dois ou très, o menino de 11 anos leria, se identificaria com Harry, acharia que o mundo é uma merda e que ele está certo. Ele terá amigos: gente que concorda com ele. Isso até os 14 anos.
O assustador quando penso em uma série de 7 livros, a ser adotado pelo resto do ensino fundamental, e pelos 3 anos do ensino médio, é ver jovens de 17 e 18 anos indo para a faculdade, e continuando a pensar dessa forma maniqueista, bem x mal, idiotas x espertos, eu estou certo x o mundo idiota.
Não há espaço nesses livros para amadurecimento de personagens. Harry irá crescer, enfrentará desafios cada vez mais perigosos, terá de aceitar morte de pessoas queridas. Mas o MUNDO continuará a ser o que é: há os Trouxas/smugglers, e há magia. As pessoas se nascem de um jeito, não há qualquer esperança delas mudaram seu jeito de ser, e você nem espera que elas mudem porque elas são assim mesmo sabe?
Troque Trouxas/Smugglers por negros, japoneses, alemães nazistas.
Entende o perigo de um jovem que cresça imaginando que ELE sempre está certo, e que o mundo deve se adequar a ele?
Se o livro fosse efetivamente a VISÃO de Harry Potter, haveria uma chance deste tipo de idéia não ser reforçada na mente dos leitores.
O problema é que o narrador ONISCIENTE concorda com Harry. Harry narrador, cresceria. A criança vê o mundo de um jeito, e narra de um jeito. Ao crescer, narra de outro jeito. Se fode, se questiona: por que o mundo tá contra mim... o que eu fiz de errado?
Já com o narrador onisciente, temos de aceitar que Harry está certo. Não é uma criança que vê tudo de forma superlativa. Lá está a palavra de um adulto mais "sábio" que diz que realmente Harry tem razão, e que o mundo é injusto, e só ele pode consertar tudo.
Que um alemão independente de odiar o nazismo, será sempre um nazista. Que negro é inferior. Que japonês não devia ter vindo pro Brasil por que não é terra dele (e eu concordaria se fosse um índio, mas se for negro ou branco, vindo forçado ou não, seriam também tão aliens quanto o cara de japa que nasceu aqui)
Como a autora lida com o defeito do seu livro (personagens simplórios)? Ela aumenta o VOLUME de páginas, introduz a morte de personagens queridos.
Mas o cerne "Harry está certo" ela não muda, não pode mudar. Depois de tantos volumes, não dá mais para dizer "errei aí... não sabia que Harry podia virar Anakyn"
E como todos sabem, só porque você coloca morte, sangue, drogas, prostituição, assassinatos, Aqui e Agora continua sendo jornal sensacionalista e não sério. E volume de páginas também não indica qualidade, senão "Revolução dos Bichos" e "Homem Bicentenário" seriam literatura descartável.
Em Star Wars, Lucas podia fazer isso tanto com Anakyn quanto com Luke. Os dois tem potencial mais para o mal do que para o bem. Só que Lucas não é narrador onisciente. Ele não sabe o que se passa na cabeça de Anakyn, Amigdala, Obi-wan, etc.. Os pensamentos de todos não aparecem na película.
No livro já é mais difícil não cair em tentação de "saber" o que cada um é (bom, mal, idiota).
Agora, voltando ao jovem de 18 anos que cresceu com essa série, e com a certeza (justificada por terceiros, digo pela autora de HP) de que ele está certo, que o mundo é uma droga, que quem não entende ele é idiota/trouxa/smuggler. E que fatalmente somente fará amigos que concordem com ele.
Ou seja, é um INTOLERANTE. E essa intolerância é uma ignorância, reforçada por sua "leitura" terá uma enorme falta de vontade em fazer qualquer esforço em compreender o que é diferente dele, de querer ouvir palavras de pessoas que não concordem com alguma coisinha com ele.
Li há pouco um livro sobre um jovem neo-nazista com minha idade. Ele atualmente tem 34 anos e sua vida acabou. Ele não pode trabalhar, namorar, estudar... não pode fazer nada, porque está jurado de morte por seus antigos amigos.
De repente ele percebeu que era idiotice ser neo-nazista e quis pular fora. Ele tornou-se um "traidor", e os amigos que não toleram gente que pense diferente deles, claro tem o jeito meigo deles de lidar com quem está contra eles.
Há vários outros universos perigosos sobre "eu estou certo e todo mundo que discorda de mim é idiota/trouxa/smuggler". Meu irmão comentou que o mundo dos viciados (drogas, alcool) é muito semelhante. Quem está dentro é descolado, quem está fora é trouxa. Não, não falo dos esclarecidos (porque substâncias químicas tem efeitos diferentes em metabolismos/organismos/pessoas diferentes) que tiveram a sorte de manter um consumo moderado e não virar dependente. Mas de quem visivelmente está um trapo, arremendo humano, e ainda assim acha que é mais "cool" que o resto dos "trouxas".
Nesse ponto eu não vejo mais HPotter com olhos mais condescendentes que veria Dan Brown. Brown quer apenas ficar rico, mas sua literatura é descartável e ele sabe que é apenas passageiro esse frisson. Sei perfeitamente que a autora não tem consciência desse tipo de consequência, ela apenas vê o mesmo que todo mundo "pelo menos incuto gosto pela leitura (enquanto fico mais rica)".