Apesar de ter gostado do Stalker - é impressionante como Tarkovski consegue criar uma atmosfera envolvente e credível num cenário tão minimalista - achei que o filme foi modorrento em várias partes.
A obra-prima de Tarkovski é provavelmente Andrei Rubliov. É uma dissertação genial sobre o artista e as suas motivações, passada na Rússia da alta Idade Média. É inteligente, trágico, tenso, inspirador e tem cenas de cortar a respiração - pouca gente filmava exteriores como o Tarkovski.
Sobre a comparação com Kubrick, francamente acho este último um diretor mais completo. O perfecionismo de Kubrick garantia que nenhuma cena, som ou diálogo ficava fora do lugar nos filmes dele - bom, é verdade que os meios de que dispunha também eram muito superiores. Os filmes de Tarkovski não são tão seguros: por vezes devido a dificuldades externas, sim (ele teve muitos problemas com o regime soviético), mas também causa de limitações que impunha a ele próprio. O Tarkovski divagava imenso, e embora isso possa até enriquecer tematicamente os filmes torna-os difíceis e pouco acessíveis. Talvez isso não seja necessariamente um defeito, mas eu não acho que um filme deva ser desnecessariamente complicado. Mesmo Andrei Rubliov, embora seja brilhante, poderia ter beneficiado de umas revisões no roteiro. A lentidão, algo que ele propositadamente adopta como imagem de marca - Tarkovski chamava-lhe "transcender a rigidez do tempo" ou coisa parecida - nem sempre funciona; isso foi particularmente notório em Stalker. Além disso os filmes de Tarkovski têm uma faceta religiosa com que não me identifico nem um pouco, embora ele não force isso ao ponto de se tornar incómodo.