• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Sol-Ralo

L. Mob

Usuário
-Vê esse sol, filho? Que agride, implacável, essa sua pele jovem. É pra lá que você vai quando morre. Ascende, ou acende, o que preferir. Os dois. E da carne que aqui fica ele também cuida, faz apodrecer antes mesmo que a tenha deixado de vez.

Entende agora porque ele morre? Vê se com essas pobres alminhas se alimenta um sol? Ele vai de ponta a ponta no céu, na carruagem de Apolo, o olho de Rá, o ralo do mundo_O ralo pra onde escoam as vidas.Exige os sacrifícos, não como antigamente. Mas sempre sacrifícios, pagos sem atraso.Forte assim, punindo assim nossa falta de qualquer coisa. Falta de fé. O Sol vai apagar, filho, vai morrer.


Gente morre, deuses morrem, o Sol morre. Alminhas sem fé não alimentam o Sol. Lembra o que ele fez em "O Estrangeiro"? São os extertores daquele que já teve poder e sabe que o fim será o fim como outro qualquer. Como um rei. No fim o Rei Sol espicha e suspira, feito o árabe de Camus. É triste, mas é a morte que imita a vida. Cagada e cuspida.
 
-Vê esse buraco, mãe? O buraco negro engole tudo: galáxias, sapos, anti-matéria, sonhos, poeira estelar, soluços. Tudo. O buraco é o ôco do corpo. O negro é a luz que não escapa, aprisionada nas trevas da gravidade infinita. Nem todo peso da consciência, lá no fundo do poço, poderia te fazer desaparecer numa singularidade espaço-tempo.

Mas um ponto não tem altura, largura nem profundidade. Mas quando sua caneta acerta em cheio um ponto final. Mas dentro do ponto final você pode ter certeza que acertou centenas, milhares, milhões, bilhões, inumeráveis pontos abstratos. Abstrato é o que fica quando se tira o concreto. Quando se tira o concreto das cidades, das paredes, dos tetos e do chão, com a visão de raio-x do superhomem, sobra um formigueiro. Uma população de formigas niilistas. Num buraco no meio da floresta. Onde as árvores não tem vez. Onde os homens plantam raízes com seu sistema de esgoto e poluição.

Um buraco no meio da rua. Uma boca-de-lobo engolindo a chuva que o asfalto proibiu. É pra lá que vai o movimento underground, sejam crocodilos ou tartarugas mutantes. De lá que vem seu cheiro de ralo. É lá que fica o inferno, e os bunkers pós apocalipse nuclear, a cabeça do avestruz, o caixão. E a semente. Um buraco tampado, esquecido pela luz, de onde essa semente pretende germinar. O negro começo dos bebês no útero. Do buraco negro até a luz no fim do túnel.
 
L. Mob disse:
E da carne que aqui fica ele também cuida, faz apodrecer antes mesmo que a tenha deixado de vez.

Ótima essa frase!
Aliás o texto todo ficou muito bom.

:sim:
 
Gostei bastante, mas não sou entusiasta de name-dropping, principalmente em textos curtos.

Eu sei que é feio me meter no texto alheio, mas eu escreveria "o estrangeiro" sem aspas e com letra minúscula, e daria um jeito de tirar "Camus" dali. Fica menos direcionado e acrescenta um estrato de subtexto legal (quem entender a citação, entendeu, quem não entender, interpreta da forma que melhor lhe convier).
 
Adoro o Meia Palavra, é oficial.

Aquela coisa, a gente tem que escolher entre a mácula da dedada alheia no texto, ou as traças da gaveta das ideias. Gostei das sugestões, Rodrigo. Obrigada =D
 
lhrodovalho disse:
-Vê esse buraco, mãe? O buraco negro engole tudo: galáxias, sapos, anti-matéria, sonhos, poeira estelar, soluços. Tudo. O buraco é o ôco do corpo. O negro é a luz que não escapa, aprisionada nas trevas da gravidade infinita. Nem todo peso da consciência, lá no fundo do poço, poderia te fazer desaparecer numa singularidade espaço-tempo.

Mas um ponto não tem altura, largura nem profundidade. Mas quando sua caneta acerta em cheio um ponto final. Mas dentro do ponto final você pode ter certeza que acertou centenas, milhares, milhões, bilhões, inumeráveis pontos abstratos. Abstrato é o que fica quando se tira o concreto. Quando se tira o concreto das cidades, das paredes, dos tetos e do chão, com a visão de raio-x do superhomem, sobra um formigueiro. Uma população de formigas niilistas. Num buraco no meio da floresta. Onde as árvores não tem vez. Onde os homens plantam raízes com seu sistema de esgoto e poluição.

Um buraco no meio da rua. Uma boca-de-lobo engolindo a chuva que o asfalto proibiu. É pra lá que vai o movimento underground, sejam crocodilos ou tartarugas mutantes. De lá que vem seu cheiro de ralo. É lá que fica o inferno, e os bunkers pós apocalipse nuclear, a cabeça do avestruz, o caixão. E a semente. Um buraco tampado, esquecido pela luz, de onde essa semente pretende germinar. O negro começo dos bebês no útero. Do buraco negro até a luz no fim do túnel.

O piche cósmico nos excretou e não permite retorno?

e como flui, hum!
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo