Talira
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EU acho que tinha 8 ou 9 anos quando ganhei da minha mãe o livro da Condessa de Ségur, Sophia a desastrada.
Lembro especialmente de um dia chuvoso, eu no quintal (sempre gostei de chuva) e o livro nas mãos, lendo loucamente sem me importar com mais nada. Deveria estar rindo em voz alta também, mas isso eu não posso ter certeza. Não ouvi minha voz. Apenas a leitura das artes de Sofia.
Sua neta, Elizabeth Fresneau, inspirou a Condessa a escrever o personagem de Sofia, uma menina de 7 anos que apronta tudo e todas, e que inaugura um tipo literário chamado l’enfant diable. Algo como “A Pestinha” da época.
Ainda me lembro das sobrancelhas raspadas da menina e da impressão estranha que isso me causou: a estética do rosto mudava completamente e eu estranhei muito essa mudança. Coisas de criança.
Legal saber que ela escrevia e lia aos netos, que serviam de primeira bancada de leitores. Que delícia só em pensar como deveriam ser estas leituras. E é claro, havia a censura na época (Sofia era contemporânea da Alice no País das Maravilhas), que acompanhava de perto os livros, acho que principalmente os infantis. Melhor passar pelo crivo dos infantes da casa primeiro.
As histórias são ambientadas no château de Fleurville, durante as férias escolares dos primos Sofia, Camila, Madalena e Paulo, mães, empregados... Burguesia francesa, meados do século 19, fortes conceitos morais de formação das novas gerações.
Tudo isso deve ser levado em conta, mas deve ser afastado, posto de lado um pouco, também, para dar lugar ao que realmente interessa: o universo infantil contado de forma engraçada, envolvente, até mesmo para adultos.
Vale a pena ler.