quote:
Eu concordo com o ensaio do Gene Hargrove, ele conseguiu me convencer de que o tom é o aulë e a fruta a yavanna. Quem tem duvidas podia dar uma olhada lá(na parte de controversias), quem sabe esclarece algo.
Eu discordo da teoria do Hargrove, Fosco
Vou transcrever abaixo alguns trechos de uma conversa que eu tive na Mailing da Valinor sobre esse assunto ( começa com uma citação minha, seguido de um reply do meu amigo Raphael, e depois de um reply meu com o qual ele acabou concordando.
Esse material vai ser incorporado em um futuro ensaio pra Valinor onde eu vou falar sobre o Bombadil, portanto considere isso um pedaço de uma versão demo.
<<<> Gene Hargroves???? Eu sabia que estava me esquecendo
> de alguma coisa...
>
> ArrrrrrGHHHHHHHH!!!!! Aquele texto onde o autor achou
> dificílimo imaginar o Tom Bombadil como um maia( não
> que eu seja necessariamente partidário dessa teoria)
> mas que fez a proeza de aventar a tese de que ele (
> todo alegre e "despreocupado") fosse o sisudão do
> Aulë???
>
> Eu conheço esse texto sim, Raphael, foi um dos
> primeiros textos que eu baixei pro meu PC no ano
> passado mas sinceramente essa tese não deu pra
> engolir.
Engraçado. Eu também não levei muito a sério o que Gene Hargrove
escreveu,
mas não fiquei tão raivoso. A tese dele até que me pareceu com certa
lógica.
Claro, tudo o que ele disse pode ser mero sofisma e manipulação de
aparências. O problema é que agora já não dá mais pra saber (a não ser
que
vc invoque o espírito de Tolkien e force-o a responder esta dúvida).
Outra coisa. Eu acho que talvez vc esteja colocando em Aulë a sisudez
dos
anões. Apesar dos Naugrim terem sido criados por Aulë, isso não implica
que
este Valar seja sisudo. E buscando a minha memória agora, eu não me
lembro
de qualquer passagem em que esta característica de Aulë, a sisudez,
ficasse
demonstrada. Todos os povos de Tolkien que se voltam mais ao
conhecimento de
coisas materiais, como os Anões, os Noldor e os Numenoreanos, acabam,
de uma
forma ou de outra, se desviando do caminho da sabedoria passando a
desejar
ter domínio sobre a matéria de Arda ou Ea. Os próprios Anéis foi um ato
de
rebelião dos elfos contra a ordem do mundo estabelecida por Eru. Ora,
Aulë,
como aquele que tem o maior conhecimento sobre a matéria do mundo ou
Mundo,
ou seja, Ea ou Arda, não demonstra qualquer característica de
possessividade. Isso não me parece sisudo. É muito mais fácil imaginar
Aulë
presenteando os Noldor com conhecimentos, sorrindo, como alguém que dá
o que
tem para benefício daquele que ganha e não para engrandecimento de si
mesmo,
do que de forma sisuda. Esta é uma linha de pensamento que corrobora
com a
tese de Hargrove, apesar de não ser um argumento decisivo. Como eu
disse
antes, a tese dele, Hargrove me pareceu com certa lógica, mas isso não
a faz
verdadeira.
Raphael, quando eu disse que Aulë era sisudo eu não
usei o termo no mesmo sentido e modo que era aplicável
aos anões.
O que eu quis dizer é que Aulë, em todas as suas
aparições, é mostrado como um indivíduo sóbrio,
prático e metódico. Veja a conversa dele com Yavanna
no capítulo 2 da Quenta Silmarillion.Qdo ela
praticamente avisa de que os anões correrão o risco
de despertar um poder oculto, às expensas de sua
própria segurança, se desmatarem em excesso, ele se
limita a replicar: "mesmo assim eles terão
necessidade de madeira".
E mais relevante ainda: Qdo Yavanna e os demais Valar
requisitaram a Fëanor a entrega dos Silmarils, ele foi
o único dos que estavam presentes que conseguiu
compreender o dilema de Fëanor ( ele havia enfrentado
a mesma provação, com Ilúvatar, qdo criara os anões).
Dentre todos era somente ele que conseguiria entender
a importância de ver materializado um ato de
subcriação de tamanha magnitude. A atração que ele,
Fëanor e os Anões têm pelas coisas que criam não é
pelo seu valor material, mas, mais precisamente, porque
vêem nelas o reflexo do dom de criar possuído por
Ilúvatar.
O mal surge quando o subcriador se recusa a
fazer com que essa criação seja parte do todo do plano
de Ilúvatar, dando uma importância maior ao trabalho
das suas próprias mãos, e conferindo primazia à
subcriação.
Mas voltando a Aulë, eu discordo de Hargrove porque de
todos os Valar, Aulë seria o menos propenso a
simplesmente ESQUECER o Anel do Poder confiado à sua
guarda ( ele que foi o ÚNICO a entender Fëanor e Gandalf disse que Bombadil se esqueceria do Anel)) pelo
fato de que ele sabia o valor do mesmo como produto de
um ato de subcriação e como o uso corrompido de seus
próprios ensinamentos. ( Sauron havia sido um dos seus
maiar e Celebrimbor era o neto de Fëanor e um dos
Noldor, seus aprendizes, o que, inclusive, indica que
ele teria um motivo pessoal para NÃO esquecer do
Anel).
E, embora eu concorde com você que Aulë não era cioso
com seus ensinamentos ou avarento e que ele,
provavelmente, sorriria ao compartilhar as coisas
materiais ou não, eu, pessoalmente, não vejo Aulë
cantando, e enCANTANDO árvores como Bombadil fez com o Velho Salgueiro ( ele não tinha uma
propensão especial por coisas que crescem, quer como
arte, quer como ciência , essa era a província de
Yavanna, que foi quem disse a Aulë que, por ele ter
criado os anões sem o seu conhecimento ( o que mostra
a extensão do pensamento de AuLë) eles não teriam
muito afeto pelas coisas que ela criava.
Se Bombadil e Golderry fossem na verdade Valar, eu
penso que eles seriam, com muito mais probabilidade,
Oromë ( chamado Aldaron, protetor de árvores) e sua
esposa Vána ( a irmã mais nova de Yavanna.) Ou até
mesmo Tulkas ( que se ria até mesmo durante combates,
embora ,é claro, Bombadil seria uma versão
"amadurecida" ) e sua valië, Nessa ( irmã de Oromë).
Embora nenhum desses casais se ajuste bem no papel,
estaria muito mais de acordo com a caracterização
deles do que o que ocorre com a hipótese Aulë-Yavanna.
Na verdade, pra falar a verdade, eu acho que se
Bombadil fosse Aulë ou qualquer um dos Valar, Tolkien teria feito pelo menos uma sugestão disso,
ainda que em suas cartas, mas ele não fez isso.
E,embora eu tenha curiosidade, eu não vejo porque fazer
das tripas coração pra achar um possível candidato já
previamente aparecido na obra do Tolkien qdo seria
muito mais fácil visualizar Bombadil como um ser novo
e diferente de tudo que Tolkien já havia focalizado) (
o que, aliás, parece ter sido a sua intenção).
Além do
mais, eu entendo a posição do Tolkien nessa atitude de
manter algumas "vistas inatingíveis " . Eu acho legal
que ele conserve alguns segredinhos mesmo que
,pessoalmente, eu tenha as minhas próprias idéias
sobre o assunto ( complicadas demais para explicar
agora) mas idéias que não obliterem o "senso de
mistério" do Bombadil.
Eu não fiquei "bravo" com a teoria do Hargrove só acho
que o autor forçou mesmo a barra para explicar uma
coisa que o Tolkien NÃO QUERIA EXPLICAR, pelo menos
não dessa maneira tão direta e desapaixonante que o
Hargrove fez.>>>
Qto à tese de que Bombadil é Deus...
Esses são alguns comentários do Tolkien sobre o Tom Bombadil feitos em suas cartas ( Eu só vou copiar sem traduzir porque estou cansado agora).
Tolkien dá a entender que Tom Bombadil é um espírito elemental vinculado à terra no trecho abaixo:
Do you think Tom Bombadil, the spirit of the (vanishing) Oxford and Berkshire countryside, could be made into the hero of a story? Or is he, as I suspect, fully enshrined in the enclosed verses?1 Still I could enlarge the portrait.
Diz também que o mistério do personagem é intencional ( uma das vistas inatingíveis tolkienianas ( "unnatainable vistas")
. And even in a mythical Age there must be some enigmas, as there always are. Tom Bombadil is one (intentionally).
Nega textualmente a possibilidade de que Tom Bombadil seja Deus e , portanto, sua identificação com Eru Ilúvatar ( a teoria de que Tom era Deus foi exposta ao Tolkien numa carta escrita por Peter Hastings. Ele pensava dessa forma devido à expressão "Ele é" dita pela Goldberry ao falar do Bombadil. Na carta resposta do Tolkien ( incluída como a nº153 no livro das Cartas) Tolkien diz que Hastings "está levando tudo muito a sério e entendendo tudo errado".
Os trechos relevantes estão transcritos abaixo:
153 To Peter Hastings (draft)
He also cited the description of Bombadil by Goldberry: He is. Hastings said that this seemed to imply that Bombadil was God.
(...)
As for Tom Bombadil, I really do think you are being too serious, besides missing the point. (Again the words used are by Goldberry and Tom not me as a commentator). You rather remind me of a Protestant relation who to me objected to the (modern) Catholic habit of calling priests Father, because the name father belonged only to the First Person, citing last Sunday s Epistle – inappositely since that says ex quo. Lots of other characters are called Master; and if in time Tom was primeval he was Eldest in Time. But Goldberry and Tom are referring to the mystery of names. See and ponder Tom s words in Vol. I p. 142.2
Espero que isso ajude a esclarecer um pouco as dúvidas desse tópico
Namarië
Paulo Lages