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SOBRE MINHA REPULSA AO HOMEM QUE NÃO LÊ (Janer Cristaldo)

SOBRE MINHA REPULSA
AO HOMEM QUE NÃO LÊ


[align=justify]Espero que o leitor não se espante: tenho grande respeito por pessoas que não lêem. É que nasci entre elas. No campo, não chegavam – e creio que ainda não chegam – jornais nem livros. O primeiro meio de comunicação a chegar lá foi o rádio. Praticamente todo meu clã não lia, por uma simples razão: a leitura não chegava lá. Mas eles sabiam ler, fato que até me espanta.

Minha mãe, professora primária rural, quando ia a Dom Pedrito voltava com a mala cheia de histórias em quadrinhos, seleções do Readers Digest e revistas de detetives, que era o encontrável na cidade. Eu tinha um tio em Livramento que me enviou quase toda a coleção Terra-mar-e-mar, onde li desde Tarzan a histórias de capa e espada. Mas era uma exceção. De certa forma, naqueles pagos, eu era o único a ter uma biblioteca incipiente.

Meus parentes viviam para o trabalho, fazendo uma agricultura da mão para a boca. Eram pessoas de profundo senso ético. Claro que as leis lá da Linha Divisória não eram as mesmas do “povoado” e crimes aconteciam, muitas vezes por uma palavra errada dita em hora errada. Mas sempre respeitei aquela gente e até hoje nutro por eles grande carinho. Já as novas gerações, estas se educaram, foram para o “povoado”. E tiveram acesso à leitura.

Até aí, todo meu respeito ao homem que não lê. Mas se você é presidente da República e afirma que não lê jornais porque sente azia, o não-ler toma proporções mais graves. Se não lê jornais é claro que muito menos lê livros. Por isso, citei mais abaixo a história de Chance Gardener, o personagem de Kosinski, que sem saber ler chega a ser cotado para presidente da República. Sua reputação toda decorre da repetição de lugares-comuns ouvidos na televisão. O que era ficção em Kosinski, tornou-se realidade ao sul dos trópicos. Os brasileiros elegeram - e reelegeram – um analfabeto para presidir o país.

Quando digo que Lula é um analfabeto, não estou dizendo que o bruto não saiba ler. Isso ele sabe. Ocorre que ele é o pior dos analfabetos, no dizer de Mário Quintana, aquele que sabe ler e não lê. Pior ainda, demonstra orgulho em não ler.

Desconheço instrumento mais eficaz de aquisição de cultura do que o livro. Meus pagos à parte, não tenho maior respeito pelo homem que não lê. Sem falar que ler é prazer requintado. Em um pequeno objeto, o livro, tenho em minhas mãos todo o pensamento humano. Nunca me queixei do preço de um livro. Houve época em que, para comprar-se um pergaminho, era preciso vender um rebanho. Depois de Gutenberg – e principalmente Aldus Manutius – mudou o trote da mula. A leitura, para desagrado da Igreja, ficou ao alcance de todos.

Hoje, por poucos vinténs, tenho acesso ao pensamento de Platão ou Nietzsche, posso ler tanto a Bíblia como Proust, Renan ou Toynbee, Pessoa ou Mário Quintana. Ou, se quiser, Paulo Coelho ou Bruna Surfistinha. Hoje, não lê quem não quer. Por isto nominei Lula como o Supremo Apedeuta. Todos os demais apedeutas do Brasil estão abaixo do Supremo.

Me sinto no deserto quando chego em uma casa e não vejo uma biblioteca. Felizmente, há muito não visito tais casas. Em meus dias de universidade, encontrei uma professora de literatura portuguesa que não tinha um único livro em sua casa. Sei disso porque pensei em alugar o apartamento dela e o revirei peça a peça. Ela era um protolula. E lecionava numa universidade. Coisas nossas.

Homem que não lê é um buraco... cheio de nada. Nada conhece da aventura humana, não tem noção alguma de história, desconhece o que seja o mundo. Verdade que a televisão, hoje, oferece muita informação de valia. Mas a informação televisiva nunca será suficiente. Televisão pode mostrar fatos, mas não elucida conceitos. Sem falar que não se pode sublinhar reportagem de televisão, muito menos fazer anotações à margem. Tenho aprendido muitas coisas com certas produções televisivas. Mas elas não suprem a falta de leitura.

Leitura, para mim, é vício. Não consigo andar sem leitura em punho. Esteja onde esteja, levo leitura. E pelo jeito, isso não é de hoje. Há alguns anos, revisitando Dom Pedrito, encontrei pessoa que me conhecera em minha adolescência. “Sim, lembro de ti, sempre andavas com um livro ou jornal debaixo do braço”. Eu já nem lembrava disso. Foi bom relembrar.

Que um homem do campo não leia, entendo. Que um homem da cidade não leia, já tenho dificuldade em entender. Que um presidente da República não leia e disto se orgulhe, bom... a este homem, minha mais profunda repulsa.[/align]

E a todos que o elegeram.

-por Janer Cristaldo

http://cristaldo.blogspot.com/
 
Nossa!
Conheço tantas pessoas (na faculdade, inclusive) que não lêem, nunca leram e proclamam isso com orgulho! ¬¬
Acho que pra eles, ler, adquirir cultura, é coisa de otário, de quem não tem o que fazer...
Mas isso é muuuuito comum!
 
O gde problema é q temos uma cultura de informação e não de formação.
 
Clara V. disse:
Nossa!
Conheço tantas pessoas (na faculdade, inclusive) que não lêem, nunca leram e proclamam isso com orgulho! ¬¬
Acho que pra eles, ler, adquirir cultura, é coisa de otário, de quem não tem o que fazer...
Mas isso é muuuuito comum!

Pior no meu caso. Eu vira e mexe chego com um livro novo embaixo do braço quando vou dar aula, e meus alunos sempre reparam nisso. E eu sempre escuto coisas do tipo "Teacher, você é louca. Ler livro é muito chato!" ou ainda "Eu só leio o que a professora manda!" (o que outro invariavelmente responde, cheio de orgulho: "Eu nem isso leio!"). Todos alunos de escolas particulares muito bem educados pelos pais. A velha história de que não é só o dinheiro que faz parte da equação da falta de hábito de leitura no Brasil.

Ouch. =/
 
Anica disse:
Clara V. disse:
Nossa!
Conheço tantas pessoas (na faculdade, inclusive) que não lêem, nunca leram e proclamam isso com orgulho! ¬¬
Acho que pra eles, ler, adquirir cultura, é coisa de otário, de quem não tem o que fazer...
Mas isso é muuuuito comum!

Pior no meu caso. Eu vira e mexe chego com um livro novo embaixo do braço quando vou dar aula, e meus alunos sempre reparam nisso. E eu sempre escuto coisas do tipo "Teacher, você é louca. Ler livro é muito chato!" ou ainda "Eu só leio o que a professora manda!" (o que outro invariavelmente responde, cheio de orgulho: "Eu nem isso leio!"). Todos alunos de escolas particulares muito bem educados pelos pais. A velha história de que não é só o dinheiro que faz parte da equação da falta de hábito de leitura no Brasil.

Ouch. =/
[align=justify]
Verdade.Eu estudei em escola particular ate os 14 anos.E a Biblioteca vivia empoeirada porque ninguém ia.Pior: a Escola tinha uma Biblioteca Maravilhosa que ninguém usufruía, e coitada da professora de Português que tentava em vão fazer com que os alunos lessem.A questão é cultural mesmo, no nosso país, fica aquela impressão que quem lê é nerd, e tá perdendo tempo na vida...[/align]
 
E ainda tem a questão de que aqui todo estudo, ou algo que chegue perto de ser um estudo, só é bom se for "útil" pra vida da pessoa, o que na maior parte das vezes não é. Meu namorado é analista de sistemas e o que eu ouvia de alguns colegas de faculdade dele é que ler é inútil, não vai levar a lugar nenhum, então pra que ler? Bom, pra um analista de sistemas, que só vai lidar com softwars e afins a vida inteira, ler realmente não tem utilidade prática - e daí vem a repulsa de alguns que se orgulham disso.

Outros não foram bem estimulados - ou em casa, ou na escola, ou em ambos - a ler. O que é comum é os pais não darem o exemplo, não estimularem, e os próprios professores não estimularem - pq eles próprios não lêem, como foi dito aqui. Geralmente quem gosta de ler foi estimulado desde pequeno, não é todo mundo que, a partir de leituras obrigatórias da escola, se estimula a ler.

Eu não tenho repulsa a quem não gosta de ler.Eu simplesmente não consigo conversar com uma pessoa assim, o papo não flui.

Eu fico chocada é quando um professor não uma biblioteca mínima em casa, isso sim me choca. Que não seja enorme, vá lá, manter uma biblioteca muito grande é muito caro (por conta do espaço que exige) - e sempre existe a possibilidade de ser sócio de algumas bibliotecas e pegar livros emprestados qd for necessário . Mas pelo menos um cômodo da casa destinado a livros, acho que todo professor tinha que ter... =p
 
Esse negócio de "não serve pra nada" é provavelmente a desculpa mais idiota dessas pessoas. Gostaria que elas me dissessem, então, para que serve assistirem jogos de futebol e novela ou ouvir música, por exemplo. No que fazer essas coisas as ajuda em suas profissões? Em praticamente 100% das vezes não ajuda em nada, mas ainda assim elas continuam com essas práticas. Porque essas práticas as entretêm. E é a mesma coisa com a leitura.

A pessoa não precisa trabalhar com literatura para ver a aplicabilidade de uma leitura. Ler, além de divertir, faz com que a pessoa melhore seu vocabulário, o que se reflete na própria escrita; faz com que ela adquira mais cultura, conhecimento sobre coisas diversas que não teria só vendo tv; desenvolve (ou pelo menos deveria desenvolver, isso já vai da capacidade de cada um) o senso crítico sobre variados assuntos - em suma, ensina a pessoa a pensar.

"Pouca" coisa, não?

E, como a Cein, não consigo conversar com gente que não lê. E nem é pelo fato de não poder conversar sobre livros com essas pessoas, mas por ficar claro que não se pode conversar sobre mais nada com elas, que costumam ter argumentos pífios (quando os têm) sobre qualquer outra coisa.
 
Tilion disse:
E, como a Cein, não consigo conversar com gente que não lê. E nem é pelo fato de não poder conversar sobre livros com essas pessoas, mas por ficar claro que não se pode conversar sobre mais nada com elas, que costumam ter argumentos pífios (quando os têm) sobre qualquer outra coisa.

Isso é fato.
 
Tilion disse:
Ler, além de divertir, faz com que a pessoa melhore seu vocabulário, o que se reflete na própria escrita; faz com que ela adquira mais cultura, conhecimento sobre coisas diversas que não teria só vendo tv; desenvolve (ou pelo menos deveria desenvolver, isso já vai da capacidade de cada um) o senso crítico sobre variados assuntos - em suma, ensina a pessoa a pensar.

Você resumiu tudo o que poderia ser usado de argumentos em poucas palavras Tilion, perfeito.

A diferença de quem lê para quem não tem o hábito só fica evidente na hora do indivíduo se pronunciar sobre algo. Quem não lê, não consegue formular um texto de forma coerente, falta-lhe literalmente conteúdo e discernimento.

O resultado? Declarações imbecis como as citadas pela autora do artigo vindas da figura máxima do Estado brasileiro. Incrível, cada vez que ele abre a boca sai uma dessas pérolas.

Claro que existe muito sensacionalismo na mídia, mas ignorar as notícias não vai resolver os problemas da crise, nem evitar que soframos as consequencias dela.
 

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