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Sobre Histórias de Fadas

Parisio

Usuário
Recentemente surgiram duas traduções para o português de uma mesma obra: "On Fairy Stories", uma de Reinaldo J. Lopes e outra de Ronald Kyrmse.

Como só agora li o tópico-notícia da tese do primeiro, já estava lendo a de Kyrmse, edição da Conrad, e começo pela seguinte dúvida: na página 18 Tolkien afirma que "o veículo da sátira, por mais que seja uma invenção brilhante, pertence à classe das histórias de viajantes." Qual a razão de ser dessa afirmação? Por que não pode haver sátira em histórias de outros tipos?
 
Última edição:
A resposta é dada pelo próprio Tolkien logo depois desse trecho citado:

(...) Tais estórias relatam muitas maravilhas, mas elas são maravilhas a serem vistas neste mundo mortal, em alguma região de nosso próprio tempo e espaço; distância apenas as oculta. Os contos de Gulliver não têm mais direito de entrada do que as divagações do Barão de Munchausen; ou do que, digamos, Os Primeiros Homens na Lua ou A Máquina do Tempo. De fato, para os Eloi e os Morlocks haveria um direito maior do que para os lilliputianos. Os lilliputianos são meramente homens olhados de cima, sardonicamente, de pouco mais que o alto das casas. Eloi e Morlocks vivem muito longe num abismo de tempo tão profundo que opera um encantamento sobre eles; e se descendem de nós mesmos, pode-se lembrar que um antigo pensador inglês certa vez derivou os ylfe, os próprios elfos, por meio de Caim, de Adão.47 Esse encantamento de distância, especialmente de tempo distante, é enfraquecido apenas pela própria Máquina do Tempo absurda e incrível. Mas vemos nesse exemplo uma das razões pelas quais as fronteiras das estórias de fadas são inevitavelmente dúbias. A magia de Feéria não é um fim em si mesma, sua virtude está em suas operações: entre essas está a satisfação de certos desejos humanos primordiais. Um desses desejos é observar as profundezas do espaço e tempo. Outra é (como será visto) ter comunhão com outras coisas vivas. Uma estória pode assim lidar com a satisfação desses desejos, com ou sem a operação de máquina ou magia, e na proporção em que tiver sucesso aproximar-se-á da qualidade e terá o sabor de estória de fadas.

Tradução do Reinaldo em A Árvore das Estórias.
 
Até onde vejo isso explica porque as típicas histórias de viajantes não se enquadram como estórias de fadas, mas não o aspecto da sátira ser exclusiva de histórias de viajantes.
 
Acho que tu estás com problemas para interpretar a passagem, ou os problemas estão nessa tradução que tu estás lendo.

Em nenhum lugar ali diz que a sátira é exclusiva das histórias de viajantes. O Tolkien diz logo antes do texto é:

Eu a deixo de fora porque o veículo da sátira, por invenção brilhante que possa ser, pertence à classe das estórias de viajantes.

O termo usado é "pertence", e não "é exclusividade", tanto que na frase imediatamente anterior a essa Tolkien diz:

Não deixo de fora essa estória [As Viagens de Gulliver] por causa de seu intento satírico: há sátira, contínua ou intermitente, em estórias de fadas inquestionáveis, e a sátira pode ter sido freqüentemente pretendida em contos tradicionais onde nós agora não a percebemos.

Preste atenção neste trecho em particular sobre as histórias de viajantes que já citei:

Tais estórias relatam muitas maravilhas, mas elas são maravilhas a serem vistas neste mundo mortal, em alguma região de nosso próprio tempo e espaço; distância apenas as oculta.

Por fim, releia todo o parágrafo em questão com cuidado e tenho certeza que as coisas ficarão mais claras para ti.
 

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