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Sobre feriados e a improdutividade no Brasil

Maria Pretinha

Usuário
Então, neste tópico aqui sobre Religião e Estado, começamos a discutir os feriados religiosos. Conversa vai, conversa vem, a Aranel deu uma opinião sobre feriados que me deu a ideia para abrir este!

É fato que se o Brasil não tivesse TANTO feriado, seria um país bem mais produtivo!
Para mim que sou autônoma, os feriados fazem pouca diferença [a não ser quando tenho que ir no banco]. Com ou sem feriado eu continuo trabalhando...

Eu não concordo com isso.

Meu primeiro argumento é que, hoje em dia, cada vez mais diferentes empresas e diversas profissões não levam os feriados em conta. Jornalistas trabalham, lojistas trabalham, profissionais da saúde trabalham, inspetores de qualidade trabalham, pedreiros trabalham, policiais trabalham, autônomos trabalham, alguns em escala, outros não.

Outra: o número de feriados do Brasil não é maior nem menor que o da maioria da América latina e também de diversos outros países, inlcusive os mais desenvolvidos e "produtivos". O Brasil tem 13 feriados municipais, em média (média porque tem os feriados de centenário, tem também os feriados que são só municipais, etc). Agora, feriados nacionais, são apenas 8, e estes são declarados por lei. mas, qualquer um dos números, sendo 13 ou 8, não é absurdo. Em comparação com outros países: Argentina - 13, Chile - 16, Bolívia - 10 (o menor número de feriados na América Latina, longe de ser o melhor país), Japão - 19 (19!!! Isso vindo de um dos países mais produtivos do MUNDO), Itália -12, Estados Unidos - 8, Canadá - 10, Inglaterra - 8.

Se comparar-se o número de horas trabalhadas, um brasileiro típico trabalha muito mais que um americano ou europeu típico. Em um emprego normal nos EUA, o horário de trabalho é das 9h às 17h, sem hora extra. No Brasil, o “horário comercial” é das 8h às 18h. Quando morei em Londres vi que a maioria das pessoas também têm este horário. E mais, eles têm direito a férias muito antes de nós. Não é preciso nem completar um ano. Acho que quatro meses já te dá direito a férias, claro que não de um mês, mas proporcional aos meses trabalhados, algo em torno de 6 semanas por ano.

A produtividade não está diretamente ligada ao número de horar trabalhadas, mas a como essas horas são utilizadas. Dois dos países mais produtivos do mundo são os EUA e a França.

Nos EUA, a média de horas trabalhadas é de cerca de 1.900 por ano, com apenas 10 dias de férias.

Na fFrança, trabalha-se quase que um quarto a menos, com cerca de 1.600 horas, e de 25 a 30 dias de férias anuais.

Os dois são extremamente produtivos, com sistemas extremamente diferentes. Com o resultado igual, qual é o mais benéfico? É melhor ser um trabalhador nos Estados Unidos ou na França? Lembrando que a produtividade não é a única variável importante e que qualidade de vida é proveitoso não só para o infivíduo como também para o Estado (um exemplo é que ajuda a diminuir os gastos médicos, com menos pessoas tendo que recorrer ao sistema de saúde para tratar de stress, depressão, ler, estafa, sascoisas).

Agora, isso não quer dizer que o brasileiro é produtivo, só demonstra, na minha opinião, que a produtividade não tem nada a ver com número de horas trabalhadas ou quantidade de feriados, uma vez que o número de horas trabalhadas não só não é menor, quanto é maior que em alguns países e que o número de feriados está na média de todos os outros países.

Qual é então o problema da produtividade no Brasil?

O que acham? O problema é com os feriados? Com a preguioça genética? O que é?

Obs: dou minha opinião depois porque esse post já ficou GIGANTE!
 
Nossa, esse assunto engloba muita coisa.

Eu já acho que o Brasil precisa de mais feriados. Vou dar somente 1 motivo aqui, mas existem vários. Trabalhamos bem mais que, por exemplo, os americanos. Nossas escalas de trabalho são bem mas longas e em condições absurdas. Empresas com infraestrutura ruim, médias de 3 horas para ir e voltar do trabalho (sem nem entrar na questão do transporte público), trabalhar o ano inteiro pra pagar impostos ridículos, e mais zilhões de coisas que fariam qql trabalhador americano tentaria o suicídio fácil.

O descanso dos brasileiros é muito merecido.
 
Pra mim nesse contexto existe um problema importante a ser considerado que é sempre chato de comentar porque ele é invísivel: impostos

Aqui o brasileiro em média tem que trabalhar "de graça" no mínimo 5 meses pra dar conta da alta taxa de impostos que tem pagar em água, luz, telefone, IPTU, alimentos, etc, etc ao longo do ano inteiro.

Eu concordo plenamente que nós brasileiros trabalhamos mais que outros países, só que infelizmente na maioria das vezes muito mais por enorme necessidade, porque se não fizer fica no vermelho.

Se não tivessemos que trabalhar tanto pra pagar imposto, na boa eu seria amplamente favorável de termos mais feriados, desfrutar uma vida menos estessante e aí estar no mesmo patamar de outros paises e sem prejuízo a produtividade. Eu não veria nenhum problema nisso.

Mas como a realidade brasileira não é essa, no contexto atual que estamos isso ajudaria? Sinceramente não sei. Fico com um pé atrás não pela questão da produtividade e sim pela necessidade que muita gente tem de trabalhar pra poder equilibrar as contas e pra quem trabalha por conta cada dia útil a menos no calendário faz diferença.
 
Isso de impostos é mentira. É calculo de quem não sabe matemática. A taxa tributária do Brasil não é absurda. Tem país no mundo que pratica 50% de Imposto de Renda. A diferença é o retorno sobre o imposto brasileiro. Isso é que somos um dos piores países do mundo.

Eu tive a oportunidade de trabalhar em vários países da minha empresa. Já vivenciei Brasil, Austrália, Omã, Moçambique, Indonésia e Canadá e digo que na minha experiencia, os brasileiros são os mais produtivos. O problema no Brasil é outro. Mesmo as pessoas sendo produtivas os processos são improdutivos pois exigem muitos controles seja por roubo ou seja por garantir que a coisa está sendo feita correta. Aí vc tem um estoque, uma empresa que controla um estoque e uma empresa que audita a empresa que controla o estoque.

Dito tudo isso, acho o nosso número de feriados bem aceitáveis. Por mim, eu incluiria 1, que é a 2a feira de carnaval. Não que faça diferença pra mim, mas já vi pra quem faz.
 
Acho que é cultural.

Essa de produtividade baixa tem a mesma origem daquele paradoxo típico do Brasil: povo reclamando que o país não tem emprego, enquanto empresa reclama que o país não tem mão de obra. Costumo dizer que existe desemprego no Brasil porque todo mundo quer emprego mas ninguém quer trabalho (licensa poética, claro). Bater ponto e ficar sentado atrás da mesa todo mundo quer, mas desempenhar e obter o resultado ninguém se preocupa.

A maior prova disso é o fato de existir uma concorrência absurda para cargos públicos, famosos por pertencerem a um sistema que funciona mal. Por que diabos alguém ia tanto querer trabalhar num sistema com reputação tão ruim? Pergunte a qualquer pessoa em volta de você, e a resposta será: "ganhar dinheiro coçando o saco pq ninguém pode me mandar embora".

Já tive atritos familiares graves, inclusive com sogra, porque costumo mandar à merda quem me sugere prestar concurso...
 
Qual é então o problema da produtividade no Brasil?

O que acham? O problema é com os feriados? Com a preguioça genética? O que é?

Nem um nem outro, e o Brasil não é esse país tão improdutivo que muitos pensam ser.

Só citando alguns fatos para nos situar: somos o 5º país mais populoso do mundo, e nosso PIB atualmente gira em torno do 7º-8º maior. Inclusive temos um PIB maior que o de nações mais populosas, como Indonésia e Índia. Para relativizar melhor isso, podemos analisar o PIB per capita, e aí sim a coisa fica um pouco mais feia para o nosso lado: estamos lá pela posição 50-60, dependendo do órgão que faz o cálculo.

Continuando na contextualização, se observarmos os países que estão na nossa frente nesse quesito, vamos encontrar em geral os países europeus, mais os da América do Norte e Tigres Asiáticos. Ah sim, tem também alguns casos de países ricos em petróleo (Arábia Saudita, Venezuela!, Líbia!), mas esses eu diria que nem podem ser considerados, dado que, apesar de uma renda per capita alta, a distribuição dessa renda nesses países é péssima, extremamente concentrada.

Onde eu quero chegar? Bem, na história toda do nosso processo de desenvolvimento. Estamos muito atrás dos referidos países por diferenças históricas da nossa formação econômica. Desenvolvimento econômico é, em geral, um processo lento e gradual, que depende muito dos fatores produtivos locais. Entre esses fatores produtivos estão os recursos (matérias primas, ou a terra, na linguagem econômica clássica), os maquinários (capital empregado) e o trabalho. E especialmente ligado a esses dois últimos fatores está (IMHO) a raiz de nosso problema. Mas eu ainda quero reduzir esses dois fatores em um denominador comum: capital humano. A qualidade deste determina a produtividade individual, e também a capacidade de gerar e utilizar novas tecnologias produtivas, além de ter papel decisivo para formar um sociedade mais pró-ativa e articulada na busca de melhores condições de vida - que está essencialmente ligada não somente à alta produtividade, mas à distribuição dos benefícios dessa produtividade de maneira ampla.

E em muito essa situação precária de capital que temos se deve à nossa formação econômica ao longo dos tempos. Começando como colônia de exploração, condição da qual não nos desvencilhamos até meados do século XX. Sim, pois apesar de termos conquistado independência em 1822, foi uma independência com muitas aspas. Continuamos extremamente dependentes, sobretudo da Inglaterra, e até Getúlio Vargas nosso principal gerador de renda era a exportação do café.

Enquanto que a noção de diversificação produtiva e industrialização só começou a se fortalecer por aqui a partir dos anos 1930, países europeus - e mesmo os EUA e alguns outros - já havia adquirido essa percepção mais de DOIS SÉCULOS antes. E mesmo desde então, apesar dos óbvios avanços obtidos, passamos por inúmeros problemas que frearam nosso desempenho.

Eu diria que nossa situação está melhorando, mas ainda temos muitos passos a dar se quisermos entrar na lista de países mais produtivos (com maior renda per capita) e com um distribuição melhor dessa renda. Mas, de uma forma ou de outra, esses passos estão ligados ao desenvolvimento do nosso capital humano: do nosso conhecimento, da nossa capacidade de criar novas tecnologias, da nossa noção de sociedade, do nosso compromisso com a educação.
 
Mestre Fëanor disse tudo. Se você analisar a história do Brasil vai ver essa enorme discrepância entre riqueza do país e como ela é pessimamente distribuída. E isso afeta todo o desenvolvimento do país, inclusive o capital humano. E a í a gente link isso fácil com o que o Vela postou.

Eu creio que essa situação dos feriados não é improdutiva em si, depende de como ela se dá. Vejo alguns autônomos (como um tio meu), cheio de besteirol ideológico, vir bufar pra mim direto que temos muitos feriados, que brasileiro é vagabundo (fpalm) e bla bla, mas a verdade é que nem temos tantos feriados assim e também é verdade que esses feriados podem ser muito bem aproveitados e o são pelo nosso turismo.
 

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