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Sobre crise existencial, ficar velho, etc...

Roy Batty

"Inconsertável"
Um tópico mais para os balzaquianos...

Quer dizer....quando eu conheci Valinor eu tinha 20 fucking anos!!! Agora tenho 32 anos, quase 33 (mais dois meses :drunk:)...

Independentemente dos rumos que cada um de nós levamos, o que fizemos e deixamos de fazer na vida, todos nós refletimos sobre envelhecer.

Às vezes eu penso que não realizei até aqui grandes coisas, mas realmente isso importa? Do que serve a vida? Servir a propósitos da sociedade? Casar e ter filhos? Ser uma pessoa com status e bem conhecida profissionalmente e socialmente?

Ou a poesia da filosofia, dos sonhos, da arte, da fantasia, é o que nos faz vivos? É certo que não sabemos o que estamos fazendo aqui e nem para onde vamos quando tudo acabar. Mas a vida se esvai muito rápido depois que acaba a eternidade da infância. Vem a adolescência problemática onde falhamos miseravelmente, depois entramos num estranho novo mundo adulto e chegamos ao período que antecede a meia idade (que é minha idade e a de alguns lobos velhos daqui).

Enfim, o tópico tem como propósito a visão de cada um sobre o momento no qual vive. Mesmo aqueles que têm menos de 20 anos pode deixar algum comentário. Mas gostaria que os senis anciãos como eu pudessem falar um pouco sobre o que é envelhecer, deixando de lado as baboseiras e clichês que a sociedade inventa.

Eu mudei muito com o passar do tempo, e com transparência digo que em termos de relacionamento foi para pior. Antissocial sempre fui, mas lembro que eu era mais aberto e conversava com muita gente daqui (que não participa mais...). O grande problema tbm é que sempre tive personalidade difícil e fui exageradamente autocrítico e crítico das estruturas sociais, da mídia, das leis arcaicas e tudo o mais. É uma miríade de coisas, de fatos, misturados na existência que me fazem ficar cansado...

Essa música abaixo é tão forte que me impulsionou a criar o tópico:

 
Sobre o objetivo da vida já estou praticamente convencido que não há. Ou vc cria um pra si mesmo, ou vive sem nenhum propósito. Essa parte é simples. O que não é simples é o que ocorre depois da decisão:
  1. se por um lado vc escolhe viver sem propósito, sua vida é completamente vazia e monótona, mas há quem goste.
  2. Se por outro lado vc se dedica a um objetivo, pode ser que A) você não o alcance, daí sua vida vai ser desperdiçada ou B) você o alcance, daí será feliz ou C) você o alcance, mas no final perceba que não era bem aquilo que queria, e será frustrado assim mesmo, ou o alcance mas não saiba viver depois disso (ver item 1)

Sobre o lado pessoal, eu nunca realizei nada importante. Sou bom em tudo que faço, mas não sou o melhor em nada. Pra muitas pessoas isso pode parecer bobeira, mas pra mim é doído pra caralho. Apesar de ser acima da média, isso não me satisfaz. É tipo ser terceiro colocado na brasileirão... É acima da média, mas ninguém liga a mínima! Não tenho orgulho de nada que já fiz ou sou, por outro lado não tenho vergonha de quase nada também. Entenda como um time que nunca foi rebaixado mas também nunca ganhou um campeonato.

Sobre ficar velho: eu tenho 27 anos. Tenho pavor de ficar velho. Muito mesmo mesmo, é minha maior fobia. Falo abertamente em todo lugar, seja na família, no trabalho ou qualquer outro lugar: eu não vou ficar velho. Isso me "atrapalha" bastante, no sentido de que, por ter medo do futuro, eu me prepare muito pra ele, deixando de aproveitar tudo que poderia hoje. Só que paradoxalmente, não tenho forças pra buscar nenhum objetivo de longo prazo, já que não estarei aqui para colher os frutos de um eventual esforço atual.

Já começo a ficar velho, ou pelo menos a sentir os efeitos da idade. Talvez seja apenas má sorte genética, mas talvez seja idade, então pra esse tópico vou considerar que é problema de idade. Tenho vista cansada desde os 16 anos (não uso óculos, é num olho só). Uma das maiores paixões da minha vida era jogar futebol. Como disse antes eu sempre fui acima da média, mas nunca bom o bastante. De qualquer forma eu me divertia bastante e era o ponto alto da minha rotina. A maioria dos amigos que fiz e os muitos dos melhores momentos que passei estão relacionados com o futebol. Entretanto, já aos 23 ou 24 anos tive problemas no joelho que me impediram de jogar pra sempre. Qual problema? Nenhum dos 16 médicos sabe. Eu teimava em jogar ou correr assim mesmo, mas a dor era muito grande. Da última vez que tentei, corri bastante (uns 2 km já era muito nessa época) mas a dor me pegou depois que já tinha corrido muito numa direção. :) Aí fiquei eu lá, mancando, com dor no joelho, sem conseguir andar de volta pra casa, vendo velhos de 80 anos com suas esposas velhas passarem correndo por mim...

O pior é que esse ano estou desenvolvendo outros problemas de saúde típicos de velhos hahaha
 
O sentido da vida, para mim, é aprender. Aprender com os outros e consigo mesmo para assim evoluir.

Não me preocupo com velhice, é algo que sempre esteve muito claro na minha cabeça: Todo mundo morre. Tentar adiar a morte não é natural. O importante não é viver muito, mas saber viver e aproveitar o tempo que foi dado a você.

Experiências mudam pessoas, essa frase é meu dilema; e foi ela que me fez ser o que eu sou hoje.
 
Última edição:
Já tive uma crise existencial bem feia. Não chamo de crise "de idade" porque eu tinha somente 23 anos.

Foi bem feio mesmo, fiquei meses afundada num lodo horrível. Por incrível que pareça, na época só me caíam na mão livros que falavam desses assuntos como "A morte de Ivan Ilitch", "Ana Karenina" (o concunhado da Ana tem uma crise assim após o irmão morrer e o filho nascer, e a Ana também se sente um pouco assim qdo entra em crise com o amante) e até a epopéia de Gilgamesh, onde o protagonista vê o amigo morrer e não quer ter o mesmo destino.

Após muito refletir, e passar por um caminho espiritual árduo (inclusive ordens "furadas" e etc), consegui um equilíbrio. As pessoas brincam que tô chegando nos 30, mas depois do que passei em 2009, creio que crise não me atinge mais. Nem de idade, nem de estar solteira, nem de etc.

Creio que objetivo é a gente que faz mesmo. Uns tem como objetivo juntar dinheiro, outros progredir na carreira, outros serem amados, outros deixarem marcas como um livro famoso, etc. Meu objetivo é viver bem e não me tolher pelo que os outros esperam de mim.
 
No texto "Saber Envelhecer" de Cícero, ele procura explicar como o ato de envelhecer é "saber envelhecer bem". E apesar dele eu continuo pensando que a melhor frase vem da bíblia quando se pergunta o que um homem pode querer.

E a resposta nela vem com a frase "desejar longos anos para ver coisas boas". Ou ainda, de procurar por uma vida longa sabendo procurar o que é bom.

E que nos últimos suspiros de vida a pessoa deve se lembrar das melhores coisas boas (daquilo ou de quem ela ama) que conheceu e dos momentos em que ela esteve feliz, para poder receber a morte com um sorriso.

Porque os pensamentos de dúvida aparecem pra todos nós e é da condição humana decidir na encruzilhada. São como ondas períodicas que em Tolkien aparece na forma da passagem do Silmarillion descrevendo que os elfos estavam separados dos aliados, uns dos outros por um exército de inimigos... E assim são as pessoas, porque os objetivos pessoais são separados por um exército de inimigos.

No que se diz que é natural que tentemos unir o útil ao agradável, o prazer e a obrigação, mas isso pode levar a adoecer se for pelo método errado. Porque a mente e a alma caminham em velocidades diferentes da velocidade corpo.

Porque há também uma série de forças externas e internas que moldam a existência de uma pessoa... Compromissos, promessas, laços, cada pessoa tem uma cota e o destino de uma pessoa no mundo é medido também pela misericórdia que ela tem ao pesar seus desejos e os sentimentos dos outros.

Eu lembro que faltando um ano antes de terminar a faculdade recebi a proposta de ir trabalhar num centro de pesquisa. Não precisaria pagar nem casa, energia, água, comida, transporte e ganharia bem mais do que atualmente eu ganho vivendo numa cidade com ótimo padrão de vida. Havia também uma menina muito bonita (parecia até uma personagem do mangá Claymore), mestranda, de repente me chamando para ir à cidade dela conhecê-la sem nem perguntar meu nome. Apenas porque estávamos na época discutindo sobre o conceito de amor no laboratório. Entretanto... Eu havia prometido terminar a faculdade. Havia o compromisso de tocar uma sociedade na minha cidade com minha mãe recém divorciada na época e ainda outros fatores invisíveis que só agora estão se revelando...

Cícero não fala no texto tanto do medo, mas das vantagens da velhice e com elas a habilidade de começar a ver e entrever coisas que os outros não vêem. Nos mangás japoneses isso aparece quando os personagens começam a ver figuras invisíveis, porque são pessoas que "estão mais para lá do que para cá"... Afinal a pessoa é mais do que aquilo que o corpo dela aguenta fazer e isso a torna muito importante. Ela não é só corpo, mas algo imaterial que não tem preço e que vale muito.

No caso do escritor Azorin, este dizia que a velhice pode produzir perda de curiosidade, mas ele dizia também que a elegância é a força contida.

Então eu considero que deve haver uma busca por parte de quem envelhece na direção de manter o espírito sempre pleno independente da diferença de velocidade entre alma e corpo, e que a porção jovem do espírito sempre se deve ser mantida porque de juventude também depende a plenitude do espírito humano.

Por isso pode ocorrer de aparecer impaciência em pessoas mais velhas, por causa da percepção que eles tem.

Em alguns idosos essa impaciência se torna em grosseria (amargura), em outros a idade se torna numa infinita suavidade.
 
Última edição:
A medida que estou envelhecendo, sinto o tempo passar mais rapidamente. É muito estranho. É muito desagradável.
 

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