Eru- o Ilúvatar
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Tomo aqui a liberdade de dar prolongamento a um assunto que surgiu por acaso em uma conversa entre alguns membros da Ordem de Eä no msn. Estou curioso pra ver a repercussão desse material que eu preparei pra debate aqui na Valinor.
A política tal como ela é praticada pelos diferentes povos de Arda.
Me permitam as analogias: Há referências históricas talvez não óbvias mas que podem ser peneiradas afim de se obter com maior clareza uma definição de ordem política.
Evidentemente, atemo-nos num primeiro momento às monarquias:
Sim, quase todos entre os grandes reinos de Beleriand a Terra Média tem um rei, um senhor, cujo poder é assegurado por via hereditária, tal como nas monarquias.
Mas vamos a questão: Governam eles todos de maneira igual? Creio que não. Numenor, e isso Gondor carregou como herança, era um reino não somente monárquico como expansionista (não no sentido de expandir as próprias fronteiras, mas expandir o império com colônias). Numenor, e isso Gondor carregou como legado, era IMPERIALISTA.
Estabeleciam fortificações, colônias, e quando a sombra se abateu, passaram a demandar tributos para o seu rei. Soa familiar ao que encontramos em livros de história sobre a colonizãção da América e as relações dos europeus, tecnologicamente avançados, com os autóctones no Novo Mundo. E Gondor prosseguiu com essa política. Mas o fez de forma diferente. Foi obrigada a assumir fronteiras como parte do Reino, e teve um apêndice em Arnor. Aí nota-se um estilo de ocupação territorial mais próximo do romano, onde as fronteiras físicas reais do Império se extendiam de fato para toda a área sob ocupação do rei. Poderia ser Arnor a Roma de Gondor (uma Constantinopla, capital do império de igual importância), a Gondor do Norte tal como foi Bizâncio a Roma do Oriente? Sob ocupação dos reinos erguidos pelos edain fugidos de Numenor, estavam sobre proteção povos que viviam sob a tutela e com a negligência do poder do rei, no sentido de haver liberdade para organizarem-se politicamente ao próprio gosto. Nisso remete ao modelo de ocupação britânica na América do Norte durante o século XVI, o período de negligência salutar, onde a marinha britânica protegia a costa americana e ao mesmo tempo permitia que uma organização política e econômica fosse criada e desenvolvida na colônia sem grandes ingerências. Casos típicos disso? O Condado.
O Condado, ou Shire, a terra dos pequeninos, vivia em um regime mais próximo da república que conhecemos, apesar de uma leve, mas bem leve, veia aristocrática.
Alguns membros da pequena comunidade eram mais abastados, e inclusive há referência a Terra dos Buques. O Bolsão é uma herança de Bilbo que alimenta invejas nos seus familiares e outrem. Há um senso claro de propriedade privada, e alguns indivíduos gozam de mais respeito e consideração dentro do grupo. Há as famílias, e pelo nome da família há um maior ou menor reconhecimento da pessoa. A ambientação de cidade rural inglesa colabora pra acentuar esse híbrido de sociedade republicana com requintes aristocráticos. O Thaim, o governante do Shire, era nomeado tal como num regime republicano, pelos votos dos membros mais abastados da comunidade (não posso afirmar mas não duvido que fosse algo nos moldes de uma República velha, onde certo número de posses e nome fossem pré-requisitos para votar).
E esse mesmo condado, quando Saruman, ou Charcote, resolve dar o ar de sua graça por lá? Bom, os Condestáveis, antes uma guarda formal, torna-se um instrumento de repressão. O governo torna-se centralizado na mão de um ditador que poucos conhecem pessoalmente. O seu porta-voz, um hobbit renegado, que assume a responsabilidade pelo "mal" feito, age com mão de ferro, confisca bens, expropria, extorque. Temos aí um regime totalitário formado, com inclinação fascista.
Agora, analisando o caso dos Eldar: Monarquias clássicas. O zênite da presença dos eldar na primeira era é marcado por muitos reinos fronteiriços (o tempo do Cerco a Angband), organizados muito a maneira das monarquias européias na Idade Média. Não se expandiam para além das suas fronteiras, tinham algumas rivalidades fronteirissas mas desenvolveram, dentro de uma frágil política de relações, uma aliança contra o inimigo comum (uma "Cruzada contra Melkor? ). Curiosamente, esse mesmo procedimento continuou válido até a partida dos noldor de Arda. Não expandiam seus reinos, os aprimoravam apenas. Seja na afamada Gondolin, seja em Lórien ou Rivendell, o senhor da Casa tão somente cuidava pelo zelo dos seus e pelos saberes da sua hoste.
Eu me atreveria a enquadrar os reinos élficos na categoria de regimes despóticos esclarecidos, no melhor sentido hobbesiano da palavra, uma evocação direta a referência do Ánax. O poder justificado como instrumento mantenedor da ordem e capaz de assegurar a proteção de um povo ante o medo da morte, princípios de Thomas Hobbes, são presentes o tempo todo. O rei tinha obrigações perante o povo, que devia a ele, em troca, total e incondicional lealdade e obediência. Depois posso me aprofundar mais no assunto.
Quanto aos Naugrin, tinham uma hierarquia toda calcada na dinastia de Durin, o primogênito dos anões, e todos os seus descendentes, a maioria também chamada Durin. Eram um poder e uma influência que não estavam calcados na força, mas no orgulho que os anões tinham por sua história e por suas tradições. Durin poderia ser comparável a aqueles reis europeus que colocavam nos filhos o nome dele, e que sucediam aos pais no poder... Vide os reis franceses Luís I, Luís II... Luís XVI... Só pra citar um exemplo.
Mas sem dúvida o componente "devoção incondicional as Casas dos Reis dos anões era inegável. Eram fervorosos e fiéis aos seus reis, sabendo, entretanto, que neles não havia a vontade dos valar (tal como se fazia pensar no Irã no que tange a palavra do Aiatolá, por exemplo).
Quanto aos povos abatidos pelas sombras, creio que alguns como os haradrim e dunderlings vivam sobre a édige de monarquias mais primitivas e não tão bem estabelecidas como as de Gondor, e no caso dos orcs, isso tornava-se mais gritante ainda. Os Orcs na verdade eram comandados por regimes de força. Há quem expecule que os capitães dos orcs eram maiar caídos, e mesmo o rei dos Orcs das Montanhas Azuis, em O Hobbit, só o era muito provavelmente por ter dado alguma demonstração de força. Os orcs não eram diciplinados o suficiente para construir uma organização política coesa.
E por fim, mais um adendo: E o Conselho Branco? Seria, pois, uma Liga das Nações, uma ONU, onde os representantes dos povos livres compartilhavam preocupações comuns, debatiam políticas comuns e definiam como combater aquilo que entendiam como mau?
Não vou me extender aqui. O assunto é rico, há muito o que se dizer e mesmo contestar aqui nesse meu "post-olifante", mas acho que valia por na mesa pra discussão.
A política tal como ela é praticada pelos diferentes povos de Arda.
Me permitam as analogias: Há referências históricas talvez não óbvias mas que podem ser peneiradas afim de se obter com maior clareza uma definição de ordem política.
Evidentemente, atemo-nos num primeiro momento às monarquias:
Aurélio disse:Monarquia [Do gr. monarchía, pelo lat. monarchia.]
S. f.
1. Estado em que o soberano é monarca.
2. Forma de governo na qual o poder supremo é exercido por um monarca.
[Cf. monarquia.]
Sim, quase todos entre os grandes reinos de Beleriand a Terra Média tem um rei, um senhor, cujo poder é assegurado por via hereditária, tal como nas monarquias.
Mas vamos a questão: Governam eles todos de maneira igual? Creio que não. Numenor, e isso Gondor carregou como herança, era um reino não somente monárquico como expansionista (não no sentido de expandir as próprias fronteiras, mas expandir o império com colônias). Numenor, e isso Gondor carregou como legado, era IMPERIALISTA.
Aurélio disse:Imperialismo
1. Forma de governo em que a nação é um império (3).
2. Política de expansão e domínio territorial e/ou econômico de uma nação sobre outras.
Estabeleciam fortificações, colônias, e quando a sombra se abateu, passaram a demandar tributos para o seu rei. Soa familiar ao que encontramos em livros de história sobre a colonizãção da América e as relações dos europeus, tecnologicamente avançados, com os autóctones no Novo Mundo. E Gondor prosseguiu com essa política. Mas o fez de forma diferente. Foi obrigada a assumir fronteiras como parte do Reino, e teve um apêndice em Arnor. Aí nota-se um estilo de ocupação territorial mais próximo do romano, onde as fronteiras físicas reais do Império se extendiam de fato para toda a área sob ocupação do rei. Poderia ser Arnor a Roma de Gondor (uma Constantinopla, capital do império de igual importância), a Gondor do Norte tal como foi Bizâncio a Roma do Oriente? Sob ocupação dos reinos erguidos pelos edain fugidos de Numenor, estavam sobre proteção povos que viviam sob a tutela e com a negligência do poder do rei, no sentido de haver liberdade para organizarem-se politicamente ao próprio gosto. Nisso remete ao modelo de ocupação britânica na América do Norte durante o século XVI, o período de negligência salutar, onde a marinha britânica protegia a costa americana e ao mesmo tempo permitia que uma organização política e econômica fosse criada e desenvolvida na colônia sem grandes ingerências. Casos típicos disso? O Condado.
O Condado, ou Shire, a terra dos pequeninos, vivia em um regime mais próximo da república que conhecemos, apesar de uma leve, mas bem leve, veia aristocrática.
Aurélio disse:República [Do lat. republica < lat. res publica, 'coisa pública'.]
S. f.
1. Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum.
2. Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado.
3. O país assim governado: 2
[Dim. irreg.: republiqueta. Cf. republica, do v. republicar.]
Aurélio disse:Aristocracia[Do gr. aristokratía.]
S. f.
1. Tipo de organização social e política em que o governo é monopolizado por um número reduzido de pessoas privilegiadas não raro por herança.
2. Essa classe de pessoas; fidalguia, nobreza.
3. Grupo de indivíduos que se distinguem pelo saber e merecimento real; casta, nata.
Alguns membros da pequena comunidade eram mais abastados, e inclusive há referência a Terra dos Buques. O Bolsão é uma herança de Bilbo que alimenta invejas nos seus familiares e outrem. Há um senso claro de propriedade privada, e alguns indivíduos gozam de mais respeito e consideração dentro do grupo. Há as famílias, e pelo nome da família há um maior ou menor reconhecimento da pessoa. A ambientação de cidade rural inglesa colabora pra acentuar esse híbrido de sociedade republicana com requintes aristocráticos. O Thaim, o governante do Shire, era nomeado tal como num regime republicano, pelos votos dos membros mais abastados da comunidade (não posso afirmar mas não duvido que fosse algo nos moldes de uma República velha, onde certo número de posses e nome fossem pré-requisitos para votar).
E esse mesmo condado, quando Saruman, ou Charcote, resolve dar o ar de sua graça por lá? Bom, os Condestáveis, antes uma guarda formal, torna-se um instrumento de repressão. O governo torna-se centralizado na mão de um ditador que poucos conhecem pessoalmente. O seu porta-voz, um hobbit renegado, que assume a responsabilidade pelo "mal" feito, age com mão de ferro, confisca bens, expropria, extorque. Temos aí um regime totalitário formado, com inclinação fascista.
Aurélio disse:Ditadura
[Do lat. dictatura.]
S. f.
1. Forma de governo em que todos os poderes se enfeixam nas mãos dum indivíduo, dum grupo, duma assembléia, dum partido, ou duma classe.
[Cf. democracia (2).]
2. Qualquer regime de governo que cerceia ou suprime as liberdades individuais.
3. Fig. Excesso de autoridade; despotismo, tirania.
Aurélio disse:Fascismo
[Do lat. dictatura.]
S. f.
1. Forma de governo em que todos os poderes se enfeixam nas mãos dum indivíduo, dum grupo, duma assembléia, dum partido, ou duma classe.
[Cf. democracia (2).]
2. Qualquer regime de governo que cerceia ou suprime as liberdades individuais.
3. Fig. Excesso de autoridade; despotismo, tirania.
Agora, analisando o caso dos Eldar: Monarquias clássicas. O zênite da presença dos eldar na primeira era é marcado por muitos reinos fronteiriços (o tempo do Cerco a Angband), organizados muito a maneira das monarquias européias na Idade Média. Não se expandiam para além das suas fronteiras, tinham algumas rivalidades fronteirissas mas desenvolveram, dentro de uma frágil política de relações, uma aliança contra o inimigo comum (uma "Cruzada contra Melkor? ). Curiosamente, esse mesmo procedimento continuou válido até a partida dos noldor de Arda. Não expandiam seus reinos, os aprimoravam apenas. Seja na afamada Gondolin, seja em Lórien ou Rivendell, o senhor da Casa tão somente cuidava pelo zelo dos seus e pelos saberes da sua hoste.
Eu me atreveria a enquadrar os reinos élficos na categoria de regimes despóticos esclarecidos, no melhor sentido hobbesiano da palavra, uma evocação direta a referência do Ánax. O poder justificado como instrumento mantenedor da ordem e capaz de assegurar a proteção de um povo ante o medo da morte, princípios de Thomas Hobbes, são presentes o tempo todo. O rei tinha obrigações perante o povo, que devia a ele, em troca, total e incondicional lealdade e obediência. Depois posso me aprofundar mais no assunto.
Quanto aos Naugrin, tinham uma hierarquia toda calcada na dinastia de Durin, o primogênito dos anões, e todos os seus descendentes, a maioria também chamada Durin. Eram um poder e uma influência que não estavam calcados na força, mas no orgulho que os anões tinham por sua história e por suas tradições. Durin poderia ser comparável a aqueles reis europeus que colocavam nos filhos o nome dele, e que sucediam aos pais no poder... Vide os reis franceses Luís I, Luís II... Luís XVI... Só pra citar um exemplo.
Mas sem dúvida o componente "devoção incondicional as Casas dos Reis dos anões era inegável. Eram fervorosos e fiéis aos seus reis, sabendo, entretanto, que neles não havia a vontade dos valar (tal como se fazia pensar no Irã no que tange a palavra do Aiatolá, por exemplo).
Quanto aos povos abatidos pelas sombras, creio que alguns como os haradrim e dunderlings vivam sobre a édige de monarquias mais primitivas e não tão bem estabelecidas como as de Gondor, e no caso dos orcs, isso tornava-se mais gritante ainda. Os Orcs na verdade eram comandados por regimes de força. Há quem expecule que os capitães dos orcs eram maiar caídos, e mesmo o rei dos Orcs das Montanhas Azuis, em O Hobbit, só o era muito provavelmente por ter dado alguma demonstração de força. Os orcs não eram diciplinados o suficiente para construir uma organização política coesa.
E por fim, mais um adendo: E o Conselho Branco? Seria, pois, uma Liga das Nações, uma ONU, onde os representantes dos povos livres compartilhavam preocupações comuns, debatiam políticas comuns e definiam como combater aquilo que entendiam como mau?
Não vou me extender aqui. O assunto é rico, há muito o que se dizer e mesmo contestar aqui nesse meu "post-olifante", mas acho que valia por na mesa pra discussão.