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Sobre a Poesia Contemporânea

Saiu uma entrevista do Eucanaã Ferraz no Rascunho que... Ah, leiam. É essa aqui:

http://rascunho.gazetadopovo.com.br/eucanaa-ferraz-2/

Só vou destacar:

Na poesia moderna, você lê e não entende. Não sabe do que gostou direito, tem que ler uma segunda vez, uma terceira, uma quarta vez. Não pode ler um livro de poemas: “Li”. Um livro de poemas, tem que conviver com ele, demanda tempo, atenção e, sobretudo, uma disposição que é mais do que “vou ler” — é uma disposição existencial.
 
Boa entrevista, acho que ele falou de alguns temas que estivemos discutindo aqui (ou relacionados com outros textos que o Mavericco trouxe também).

E isso de ter que conviver com os livros acho que é válido para toda a literatura, mas me parece que ele colocou isso contra os best-seller (livros descartáveis? literatura fast-food?). Ou não?

Uma outra coisa interessante (tem várias, mas por enquanto fico com isso) é o comentário sobre o Augusto dos Anjos. Já é o segundo poeta que vejo falando da influência dele logo na juventude. O outro tinha sido o Drummond (que não sei de onde é a citação):

Li o Eu na adolescência, e foi como se levasse um soco na cara. Jamais eu vira antes, engastadas em decassílabos, palavras estranhas como simbiose, mônada, metafisicismo, fenomênica, quimiotaxia, zooplasma, intracefálica... E elas funcionaram bem nos versos! Ao espanto sucedeu intensa curiosidade. Quis ler mais esse poeta diferente dos clássicos, dos românticos, dos parnasianos, dos simbolistas, de todos os poetas que eu conhecia. A leitura do Eu foi para mim uma aventura milionária. Enriqueceu minha noção de poesia. Vi como se pode fazer lirismo com dramaticidade permanente, que se grava para sempre na memória do leitor. Ausgusto dos Anjos continua sendo o grande caso singular da poesia brasileira.
 
Última edição:
Ah, mas o Augustinho é o Augustinho, né?

O Gullar, salvo engano, também foi influenciado por ele no balaio de gato quando descobriu a literatura moderna de verdade, sangue nos zoio. Aliás, o próprio Gullar tem uma edição crítica da obra do Augustinho que ainda hoje vai ser a melhor coisa que você vai encontrar: Toda a poesia de Augusto dos Anjos, R$ 42,00.

Ivo Barroso, tradutor, também fala desse encanto numa entrevista, mas perdi totalmente o rastro dela...

No final, é difícil você não se encantar com a poesia dele. É uma das coisas mais insólitas na nossa literatura... Se bem que, no final das contas, com qualquer grande poeta é assim. Você pode viver a vida toda convivendo com poetas meia-boca, com os círculos "que-soneto-esplêndido!" da vida, mas você só vai mesmo falar "Uau!" ou soltar um palavrão quando pegar um peixe grande. Quando pegar os cafetões da coisa...

É sempre assim. A pessoa que se deslumbra com a boa poesia ela se deslumbra muito mais que com a boa prosa. A poesia é mais concisa, seu processo de irrompimento é o de uma flor se abrindo ou de uma bomba atômica caindo no chão. Não tem o desenvolvimento lento que na maior parte das vezes a prosa apresenta; é algo súbito. Você lê "Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos, / assim te levo comigo, tarde de maio" e sabe que sua vida mudou não porque você se identificou com aquela história; o processo com a poesia é muito mais rápido: é uma lapada do Mike Tyson na fuça, direto, primeiro round.

(Pra quem quiser saber o autor dos versos... Pro-cu-rem e se encantem :3 )

Outra coisa que achei interessante é quando o Ferraz fala disso:

A literatura é um desses objetos sem serventia que estranhamente nós produzimos, movidos por um motivo quase que secreto.

Isso sempre me lembra o conceito de inutensílio do Leminski, de que a arte é inútil, ou seja, ela é in-útil, sua utilidade é ela mesma. Mas, sobre isso, eu já citei um artigo do Reuben bem interessante sobre.
 
E por falar em Ferreira Gullar, encontrei uma poesia dele que é, a meu ver, a melhor de todas. Isto é: você vai encontrar de tudo, desde histórias de "como-nasceu-o-poema", respostas pras famosas "como-você-escreve-hein?" ou "o-que-te-motiva" até luzes sobre questões que ele raramente trata -- como, por exemplo, porque o Poema Sujo se chama Poema Sujo (ele dá três razões).

A entrevista é essa aqui:
http://www.literal.com.br/ferreira-...-ele/imprensa/entrevista-com-ferreira-gullar/

Na linha do que estamos discutindo, vou destacar duas passagens:

SUZANA – Voltemos àquelas questões mais técnicas da poesia. Eu queria saber qual é o limite entre a prosa e o verso. Como é que você percebe, dentro de um texto, quando você está próximo de transformar um poema em prosa?

GULLAR – Eu disse que, a certa altura de minha vida, implodi a linguagem [em livros como A Luta Corporal, 1954, O Vil Metal, Poemas Concretos e Neo-Concretos], propondo em seguida que se fizesse uma poesia assintática, ou seja, sem discurso. Depois de todas essas experiências, a minha opinião sobre isso é a seguinte: a poesia é um falso discurso. Não é que ela seja falsa no que diz. Mas é um falso discurso no sentido de que o poeta talvez gostasse realmente de transformar o poema num objeto. Acontece, porém, que a linguagem verbal tem a sua natureza própria, ou seja, ela só se move no discurso. 0 grande erro da poesia concreta – e confesso-me aqui culpado por haver sido o autor daquela proposta – foi acreditar que se poderia fazer poesia sem discurso, quando a linguagem verbal é, por natureza, discursiva: sujeito, verbo, objeto. Pois a palavra que está no dicionário é abstrata, a palavra em estado de dicionário, conforme o poeta Carlos Drummond de Andrade, ainda não é poesia. A palavra “flor” é uma abstração. Agora, a flor que existe é aquela flor que eu cheiro, a flor da minha infância, a flor que se debruça sobre o muro. A palavra, para existir, implica vida, vivência, convivência. Essa é a palavra do poeta. Bem, como eu disse há pouco, a linguagem só se [dá] no discurso. Então, o poeta está condenado ao discurso, mas ele não quer discursar, porque o discurso conduz inevitavelmente ao conceito e a uma simplificação das coisas, da experiência humana. Se vejo um jarro de flores, ele pode ser indiferente a mim, mas se de repente ele se revela, sua atualidade é que é poesia. A poesia, para mim, é a atualização do atual, porque o mundo é um mistério de uma riqueza extraordinária. Seria insuportável viver num mundo em que toda a atualidade das coisas estivesse presente, mas, na verdade, não está. Quando sob as camadas dessa coisa cinzenta chamada rotina alguma coisa brilha, faísca, então, sim, dá-se o espanto platônico. Em meu último livro há um poema em que falo do cheiro da tangerina. Mas o que seria esse cheiro e como descrevê-lo num poema? Se eu tentar transmitir num discurso o que é o cheiro da tangerina, não vou conseguir. Irei apenas empobrecer essa experiência. Na verdade, o poema é um circunlóquio, em que recorro ao discurso para acabar com ele, para criar, no fundo, uma coisa que é uma grande e complexa metáfora.

NEIDE – É nesse sentido, Gullar, como você mesmo sustenta, que o poeta “é contra a linguagem”?

GULLAR – É. É porque, veja bem, “rosa” não é a rosa. Tenho que destruir a palavra “rosa” para mostrar a rosa, o frescor e o perfume da rosa. Ou o cheiro da tangerina. Tenho que revelar o que está para além da superfície do fenômeno, pois é sob a aparência sensorial das coisas que se desenvolve um processo complexíssimo chamado linguagem. Num de seus poemas, Drummond escreve: “Eu, mistura de seda e péssimo.” O que se vê aí é a transformação da linguagem, pois seda não é mais seda e péssimo não é mais péssimo.

NEIDE – (...) Então eu gostaria de saber qual seria o lugar da poesia numa sociedade cada vez mais informatizada e globalizada que me leva, pelo menos a mim, a um certo desespero e mesmo ao sofrimento.

GULLAR – Penso que, mais do que nunca, a poesia é necessária. Quanto mais a sociedade se torna antipoética, mais necessária se torna a poesia. Eu gostaria de dizer aqui uma coisa que, de certa forma, responde à sua pergunta. É o seguinte: sempre temos a ilusão de que existe um público que lê todos os jornais, que ouve todos os canais de tevê e que devora todos os livros. Supõe-se que esse público exista porque a sociedade de massa cria essa ilusão. Quando lançamos a revista Piracema lá na Funarte, instituição de que fui presidente, a mídia não deu a mínima importância. Acontece que o interesse desse público leitor é muito diversificado, de modo que jamais aquelas 600 mil pessoas lêem esses jornais inteiros. Esse interesse está pulverizado pelas várias editorias e são raros os leitores que lêem um jornal de cabo a rabo. Então é ilusão pensar que esses mesmos leitores saibam de tudo o que acontece no país e no mundo, de maneira que essa informação de massa se torna uma grande confusão e até mesmo uma falácia. O sujeito que leu o seu livro e lhe envia uma carta, este, sim, é o seu leitor. Os poetas têm na verdade poucos leitores, e um que seja vale por mil, pois não são aqueles 600 mil que compram o jornal que irão ler os seus poemas. Se assim fosse, aliás, as obras dos grandes poetas se esgotariam numa semana, e não é isso o que acontece. De modo que a globalização de que você fala, Neide, nos atinge numa escala irrisória. Aconselho-a, inclusive, a não sofrer muito com isso.
 
Última edição:
Ó, curitibanos do fórum, ativar!:

Lira curitibana
CAETANO W. GALINDO

Poesia é sempre um negócio calado. Meio invisível. Até que, de repente, a cada 400 anos, digamos, surge algo tão inexplicável como a vendagem de "Toda Poesia", de Paulo Leminski -alcançou a marca, pelas últimas contas de sua editora (Companhia das Letras), dos 50 mil exemplares.

Por que isso? E por que justo agora? Será que as pessoas andavam precisando de poesia? Daquela poesia? E qual é a dela?

A resposta a essa última pergunta pode passar, e acho que passa, pela singular mistura de poeta e publicitário que Leminski sempre foi: a mão para a frase-achado, o talento de ritmar o texto e cravar a pérola, a facilidade para engajar o leitor numa conversa. Uma espécie de retórica de sedução, de piscadelas, cutucões e não poucas centelhas; um diálogo que talvez hoje achemos familiar.

Mas há outro elemento no mistério Leminski, que é ele ter surgido justo deste lugar de onde escrevo e de onde, aparentemente, surge tão pouco: do meio da geada de Curitiba. E era só isso? O que é de Curitiba hoje?

Curitiba hoje abriga toda uma geração desses poetas-acadêmicos-tradutores que Paulo Henriques Britto afirma que dominam a poesia brasileira (e não esqueçamos a estável e reconhecida produção de Rodrigo Garcia Lopes, logo aqui em Londrina, e seu "Estúdio Realidade", lançado em julho pela carioca 7 Letras).

Três lançamentos recentes vêm mostrar que a poesia feita em Curitiba superou o evento Leminski, exatamente como deve ser superada uma presença tão definidora: por compreensão, por absorção e (por que não?), por ser bem outra. Sim, a poesia aqui está vivinha. E bem das pernas, até. A cidade do polaco zen ainda tem um monte de cachorros loucos.

IMIGRANTES

Aferrando-nos ao estereótipo da cidade de imigrantes, comecemos com o alemão do trio. Marcelo Sandmann, aos quase 50 anos, já vinha de dois livros, um disco ("Canto da Palavra", em parceria com Benito Rodriguez) e músicas gravadas por vários outros artistas. Esse tempo de cancha pode bem explicar o fato de Sandmann ser o mais completo dos três, dotado de uma caixa de ferramentas considerável.

As formas pelas quais passeia seu "Na Franja dos Dias" [7Letras, 80 págs., R$ 34] vão do poema quase piada ao soneto de versos monossilábicos (isso mesmo); das séries elaboradas como "Tempus Fugit" ao díptico que é o brilhante par "Ela Não Sabe", "Ele Não Sabe", em que a voz madura se confronta com as novas gerações; da prosa ao verso rimado; da letra de canção à espera de melodia ao pastiche do Renascimento português.

Igualmente variado é seu repertório cultural, que abarca de Catulo a Frank Zappa, o que lhe permite encarar de novo a poesia ("Relativa liberdade / de entrar e sair sem / tropeçar logo de cara / no primeiro verso.") com frescor e originalidade nunca menos que surpreendentes. Seu vasto leque não deixa de fora outro monstro local, voz fundadora de uma parcela tão grande do que concebemos como curitibano: "Nunca pensei / que o nosso amor, // que a minha vida / fosse terminar / feito conto // de Dalton Trevisan".

Sandmann pode estar há anos na estrada, pode estar (e quem não está?) refletindo cada vez mais sobre o tempo e o seu fim, como deixa claro a bela quadra "Quando eu morrer, puxem a rolha / Que veda o ralo do Universo. / Escoem tudo. E no reverso, / Pintem um Deus novinho em folha".

Mas ele ainda mal começou a dizer tudo que precisamos ouvir.

FORASTEIRO

O forasteiro do grupo é Guilherme Gontijo Flores, brasiliense de 29 anos que chegou a Curitiba em 2008 e estreia na poesia com "Brasa Enganosa" [Patuá, 154 págs., R$ 30], depois de já ter publicado traduções de Rilke, Propércio e, especialmente, a primeira versão em língua portuguesa do monumento que é "A Anatomia da Melancolia", de Robert Burton (Editora UFPR).
Dos três, Flores é o mais obcecado por sonoridades e efeitos visuais. É o que mais deve a Mallarmé, que quase parece digerir sem o intermédio dos concretos, principais propagadores no país da obra do poeta francês.

Essa preocupação formal nunca deixa de transparecer: no uso do espaço da página, na preferência pelas minúsculas, no emprego de ilustrações ("daguerreótipos") ou na inclusão do belo poema "Labirinto", cuja forma ecoa seu sentido e que precisou vir encartado no livro, como uma dobradura.

Mas o apego à forma fala mais alto mesmo é na cadência espinhosa e doce de versos como o que já abre o livro ("élia lélia críspide"); ou no bonito "embora nas pregas peças / da vida / um casulo crisálida se faça / em cio solitário".

Nada nessa "Brasa" é deixado ao acaso tipográfico (como aliás ilustra um bem-humorado poema cheio de gralhas, e dedicado ao revisor). E mesmo o jogo entre títulos e versos, ou entre caixas altas e baixas, gera efeitos interessantes, como em "NA TRISTEZA DOS OLHOS / calados da noite / rubente ensaia / despetalar-se / a chaga de um / sorriso".

É a poesia de um leitor dos clássicos, de um inventor de palavras, de um filho de Drummond e de Pessoa mas, também, é a arte de quem cita uma banda como Arcade Fire logo antes de criar um trocadilho em grego.

É aquele tipo de nó tão ao gosto dessa geração de poetas-acadêmicos, que vê o mais novo com os mais clássicos dos olhos. A poesia de alguém, em suma, que lembra que a frase "tudo já foi dito" já foi dita há dois milênios (Terêncio) e que só assim consegue nos fazer ver, por exemplo, o "locus amnus de um engarrafamento".

ITALIANO

O italiano, para voltar ao tópico dos estrangeiros, é o grande Adriano Scandolara, o mais novo de todos, e provavelmente o mais improvável. Sua dissertação de mestrado já fez dele, aos 24 anos, um dos maiores tradutores da poesia de Shelley no Brasil -um volume que, aliás, está à busca de editores.

Sua "Lira de Lixo" [Patuá, 96 págs., R$ 30] é obra de uma originalidade e de um impacto impressionantes e de uma versatilidade que mal se pode esperar de muita gente mais experiente que ele.

Boa parte da força de sua linguagem advém de ele se dedicar, de novo como o patrono Trevisan, à Curitiba suja, aquela que a publicidade não mostra e que nos cerca por todos os lados ("Não se vê daqui, mas sei / que a prostituta da rua / tem um olho de vidro") ou, pior ainda, quase nos derruba cotidianamente ("ia ao banco, quando / quase / tropeço no cadáver").

É poesia que nos quer dar apenas "o gozo de escolher / de que lado do arame farpado ser / fuzilado", e que reconhece, mesmo assim tão cedo, tão antes do meio do caminho dessa vida, que "depois de um tempo / você aprende a se foder", mas que faz tudo isso com uma graça -humor, leveza e quem sabe iluminação- absolutamente invejável.

Essa presença do meio urbano é a responsável direta por um dos momentos mais felizes do livro, pois é nas ruas que Scandolara busca o gancho para suas "Glosas sobre Motes de Pichações", que desdobram desde dizeres mais elevados, como "O outro é o eco do eu", até o lirismo irretocável do xingamento "Elaine puta".

Dono da mesma erudição dos outros dois, de quem foi aluno em mais de um sentido, Scandolara, no entanto, lida com essa bagagem com humor mais sujo. E também com mais raiva -ele que, em bom francês ruim, em dado momento se declara "puto da cara" ("emputé du visage"); ele, afinal, que nos diz "Entre os restos, o já dito / e o maldito/ tortuosa construo minha / lira de lixo."

Com Guilherme Gontijo Flores, Scandolara faz parte de um blog coletivo (outra marca da produção recente de poesia) chamado Escamandro -os outros dois membros, Bernardo Lins Brandão e Vinícius Ferreira Barth, ainda estão por estrear em livro.

Quando você ouvir falar do frio destas terras (onde até neve tem), lembre-se também de que Dalton Trevisan nelas está, vivo e forte. Que Cristovão Tezza prepara livro novo. Que polaca, tudesca, carcamana ou vira-lata, de imigrantes e nativos, pinheirais (quase não mais) e pichações, Curitiba continua aqui. E que, quem sabe a cada 400 anos, um de nós ainda bate à porta, uns versos debaixo do braço, precise você ou não.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/08/1324072-lira-curitibana.shtml

Conhecia, esparsamente, o Scandolara e o Gontijo.
 
Tá, post duplo mas é que vem a calhar: pros que não sabem, a editora 7letras é uma das editoras que mais publica poesia no Brasil. Muitos nomes foram revelados por lá, como Bruna Beber, Alice Sant'Anna ou Angélica de Freitas, e alguns até mesmo voltaram pra lá, como Carlito Azevedo. Assim sendo, fica o link desse templo sagrado:

http://www.7letras.com.br/

Mas, dando uma pataqui patacolá, andei acompanhando uma outra editora que tem publicado pacas poesia contemporânea: é a Editora Patuá. Os projetos das capas deles são bem legais, tipo esse Tempestardes do Leonardo Chioda:

preview_tempestardesbaixa.jpg


O link pra editora é ess'aqui:

http://www.editorapatua.com.br/index.php

Recomendo também darem uma espiadinha no facebook da editora, que tá sempre ou tão sempre divulgando pedacinhos dos poemas dos autores:

https://www.facebook.com/editora.patua?fref=ts

Outra que tenho acompanhado mais ou menos é a Dobra:

http://www.portaleditora.com.br/index.php

Tinha uma outra também, mas o nome me fugiu totalmente... Se lembrar, edito o post, faço sinal de fumaça, essas coisas.
 
Atualizando, descobri uma rádio que passa um programa bem interessante:

Equipe IMS - Alice Sant'Anna

Basicamente, o programa, conduzido pela Alice, entrevista poetas contemporâneos.

E pra quem gosta de poesia performática:

Poesia brasileira contemporânea: ações plásticas e performáticas, por Renato Rezende.

Destaco:

Pensando nesses termos – o da perda de um lugar e, portanto, como veremos, de uma denominação – uma observação semelhante poderia ser feita, e com maior justiça, em relação à poesia: durante os séculos de desenvolvimento da cultura ocidental ela tem perdido um território que era originalmente seu. Em uma rápida e abrangente genealogia da poesia na nossa cultura, desde suas origens gregas, onde ela ganhava contorno e status de arte total, vemos que a tradição épica, ou seja, a tradição homérica, que no correr dos anos gerou Virgílio, Ariosto, Tasso, entre muitos outros, se transformou, com a ascensão da burguesia, em romance e, com o século das imagens, em cinema. Quase ninguém mais escreve longos poemas narrativos com centenas de páginas, muitos personagens e aventuras. Da mesma forma, a tradição da poesia lírica inaugurada por Arquíloco (segundo Nietzsche em O nascimento da tragédia) teria se transformado, na era da cultura de massas e indústria cultural (com a facilidade da reprodução das gravações sonoras), em canção popular. Hoje, são raros os poetas que se dedicam ao poema lírico (sem fazer uso da ironia) e do poema épico tradicionais. Esses gêneros, naquela modelagem, foram, por assim dizer, “subtraídos” da tradição da poesia e transferidos para (e alterados em) os mediums da música, da prosa e do cinema. A poesia, então, adentrou o século 20 com um trunfo que os poetas julgavam inalienável: o pensamento – justamente por ser o pensamento constituído por palavras (assim como poemas são feitos de palavras, segundo Mallarmé). Não é coincidência que muitos dos grandes poetas do século passado foram poetas do pensamento: Eliot, Pound, Pessoa, Valéry… Nas últimas décadas do século 20, no entanto, com o advento da arte conceitual, as artes visuais passaram igualmente a levar uma alta e inaudita carga de pensamento, aproximando-se da filosofia. A irmandade entre poesia e filosofia tem acompanhado a cultura ocidental desde sua origem e tal aproximação tem sido objeto de estudo e debate entre poetas e filósofos há muitas gerações. Restaria-nos pensar, portanto, seguindo essa trilha de pensamento, a relação entre poesia e arte contemporânea em sua confluência filosófica.

(...)

O poema se define, portanto, como a sobreposição simultânea entre duas séries – a série semiótica e a série semântica, expressão e impressão, presença e ausência, som e silêncio – em atrito e crise, revelando a linguagem em sua própria diferença, em seu lugar enquanto linguagem mesma, em curto-circuito, jamais acatando a unicidade própria do discurso prosaico mas, ao contrário, mantendo a tensão de um antagonismo essencial que aponta para um constante estado de abertura, necessariamente crítico.

(...)

Para o pensador brasileiro Adalberto Müller, não se trata mais de perguntar o que é a poesia, mas sim onde ela está.

Não tenho opinião formada sobre o assunto ainda... Não acho que a poesia exista fora do âmbito literário, apesar do argumento citado do Risério ser bom. Se bem que, quando digo que a poesia só existe na literatura (mais amplamente, na linguagem verbal), até mesmo aceito uma sobrevida em relação a isto, e não necessariamente uma vinculação à reprodutibilidade gutemberguiana. Literatura é a arte da palavra, e é natural que nessa definição exista também um contato com outras artes, visto que a palavra não possui apenas aquela dimensão textual. E de modo que, sendo a arte da palavra, isso não implica que ela não possa se comunicar com outros campos artísticos, como inclusive sua evolução histórica o atestou; mas ainda não deixo de ver essa comunicação extrínseca (que antes era intrínseca, é verdade) como um contato, uma fusão talvez, mas nada além disso.
 
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Gostei do artigo por citar vários artistas que não conhecia. Sempre bom conhecer gente nova e ir atrás.

vemos que a tradição épica se transformou, com a ascensão da burguesia, em romance e, com o século das imagens, em cinema
Para o pensador brasileiro Adalberto Müller, não se trata mais de perguntar o que é a poesia, mas sim onde ela está.
Engraçado. A gente encontra a primeira idéia em Borges também. Que a poesia épica migrou para o cinema, embora ele fale especificamente do cinema de faroeste.

Tem um ensaio/conto também, acho que em O fazedor, em que ele diz que certa vez o Macedonio Fernandez tinha falado da raridade da poesia, enquanto mais velho ele achou que Macedonio estava errado e descobriu que a poesia é banal. Isso a gente vê de certa forma na profusão de poesia na internet. De certa forma, ela é mesmo banal, ao contrário do que pensavam os românticos.

A poesia, então, adentrou o século 20 com um trunfo que os poetas julgavam inalienável: o pensamento – justamente por ser o pensamento constituído por palavras (assim como poemas são feitos de palavras, segundo Mallarmé).
Ixi! Será que Mallarmé, o poeta da incompletude/imperfeição da linguagem disse isso mesmo? Com aqueles poemas cheios de imagens? Pensamento e poesia também são imagem, não? Em geral, tenho a impressão também, que os artistas e críticos de arte contemporâneos fazem umas leituras superficiais da pragmática e da filosofia da linguagem.

Nas últimas décadas do século 20, no entanto, com o advento da arte conceitual, as artes visuais passaram igualmente a levar uma alta e inaudita carga de pensamento, aproximando-se da filosofia. A irmandade entre poesia e filosofia tem acompanhado a cultura ocidental desde sua origem e tal aproximação tem sido objeto de estudo e debate entre poetas e filósofos há muitas gerações. Restaria-nos pensar, portanto, seguindo essa trilha de pensamento, a relação entre poesia e arte contemporânea em sua confluência filosófica.
Acho que tem pelo menos um erro aqui: o de achar que a arte se tornou filosófica no século XX e mais ainda, só na segunda metade do século, com o pós-modernismo. Na verdade a filosofia sempre influenciou a arte. Ou não foi o neo-platonismo que gerou o Renascimento? A leitura feita pelo Romantismo de Hegel e do Idealismo alemão etc etc.

Segundo Lipovetsky, atualmente (e aí acho que ele fala dos anos 80 pra cá) o que há é justamente uma separação entre arte e filosofia. E eu concordo com ele. Ele diz que não há o que lamentar, mas acho que nem ele acredita nisso e há o que lamentar sim.

Seguindo essa linha de raciocínio, Arthur Danto pode afirmar que já não há mais um critério possível que determine o que é e o que não é arte: todas as formas de mediums e estilos são legítimas. Isso significa que o artista contemporâneo, ao construir sua poética, tem à sua disposição não apenas as novas tecnologias, mas toda a arte do passado – tenha sido ela reconhecida ou não – e seus meios e estilos (com exceção do espírito em que esta arte foi realizada). “O pluralismo do mundo da arte atual define o artista ideal como um pluralista” (Danto, 1997, p. 114).
Acho que há sim critérios que determinam o que é arte, mas não é algo inerente ao objeto, o que já se sabe desde Marcel Duchamp. O que determina que uma escultura é uma escultura é o fato de ela estar exposta num museu, de o artista chamar de escutura, de suas relações com outras esculturas... E concordo que o artista tem a sua disposição todas as tradições possíveis, mas de maneira superficial, epidérmica, como diz também Lipovetsky. O que se relaciona com o mercado das artes: colhe-se o que se quer para gerar uma "identidade" "única", uma marca vendável do artista. Não dá para ser inocente com isso.

Não tenho opinião formada sobre o assunto ainda... Não acho que a poesia exista fora do âmbito literário, apesar do argumento citado do Risério ser bom. Se bem que, quando digo que a poesia só existe na literatura (mais amplamente, na linguagem verbal), até mesmo aceito uma sobrevida em relação a isto, e não necessariamente uma vinculação à reprodutibilidade gutemberguiana. Literatura é a arte da palavra, e é natural que nessa definição exista também um contato com outras artes, visto que a palavra não possui apenas aquela dimensão textual. E de modo que, sendo a arte da palavra, isso não implica que ela não possa se comunicar com outros campos artísticos, como inclusive sua evolução histórica o atestou; mas ainda não deixo de ver essa comunicação extrínseca (que antes era intrínseca, é verdade) como um contato, uma fusão talvez, mas nada além disso.
Também não vejo como pode existir poesia sem palavras... Talvez eles estejam se referindo a sublime/belo... No sentido de que "deviam ter mandado um poeta". :lol: Mas como que se confundem conceitos assim? =/ Mesmo os hapennings/performances, poemas em stencil (que acho bem superficiais, por sinal), gravações de declamações em áudio e vídeo, tem por base o trabalho com palavras... (as próprias imagens que ele dá como exemplo usam palavras...) Aliás, porque eles se denominariam "poetas" se o que fazem é tão diferente assim de poesia? Aff. Além do mais, só porque se muda o suporte do gênero textual, não significa que o gênero mude também. Isso é uma ideia básica nos estudos de gêneros, acho.

Sei lá, talvez eu esteja falando bobagem. Não conheço, os principais teóricos de arte citados por ele... Só uma interpretação.
 
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Engraçado. A gente encontra a primeira idéia em Borges também. Que a poesia épica migrou para o cinema, embora ele fale especificamente do cinema de faroeste.

Isso de certo modo tem raízes na ideia de que o romance é a epopeia moderna, a epopeia burguesa etc. Considerando que grande parte do corpo das epopeias é narrativo, e que a narrativa tem uma característica de intumescimento bem mais interessante que a função lírica (que geralmente desconstrói, desarma, põe em cheque), não deixa de ser uma novidade isso...

Tem um ensaio/conto também, acho que em O fazedor, em que ele diz que certa vez o Macedonio Fernandez tinha falado da raridade da poesia, enquanto mais velho ele achou que Macedonio estava errado e descobriu que a poesia é banal. Isso a gente vê de certa forma na profusão de poesia na internet. De certa forma, ela é mesmo banal, ao contrário do que pensavam os românticos.

Você podia falar mais dessa coisa da poesia ser banal? :think:

Ixi! Será que Mallarmé, o poeta da incompletude/imperfeição da linguagem disse isso mesmo? Com aqueles poemas cheios de imagens? Pensamento e poesia também são imagem, não? Em geral, tenho a impressão também, que os artistas e críticos de arte contemporâneos fazem umas leituras superficiais da pragmática e da filosofia da linguagem.

Pois é, e achei que a citação ficou um pouco deturpada. Nesta entrevista com o Antonio Cicero, há uma passagem em que o entrevistador cita a raiz da frase de Mallarmé:

"Veja bem: o pintor Degas estava explicando que pensava poder escrever um poema, já que tinha muitas ideias. Mallarmé então respondeu que um poema não se escreve com ideias, mas com palavras."

O restante da resposta do Cicero é boa, mas, de todo modo, é meio estranho vincular a poesia do Mallarmé a uma composição meramente das palavras. Pois, como você mesmo disse, é uma poesia que possui uma grande predominância de imagens, mas temos de notar que o Mallarmé foi refinando isso até o ponto em que a estrutura física do poema, que basicamente se reduz a isso: ou seja, palavras, a palavra em todas as dimensões. Vide o Um Lance de Dados, onde a tipografia e o espaço em branco passam a contar, ou a evolução que a poesia dele vai fazendo no sentido de ir abolindo a pontuação etc.

Acho que tem pelo menos um erro aqui: o de achar que a arte se tornou filosófica no século XX e mais ainda, só na segunda metade do século, com o pós-modernismo. Na verdade a filosofia sempre influenciou a arte. Ou não foi o neo-platonismo que gerou o Renascimento? A leitura feita pelo Romantismo de Hegel e do Idealismo alemão etc etc.

Segundo Lipovetsky, atualmente (e aí acho que ele fala dos anos 80 pra cá) o que há é justamente uma separação entre arte e filosofia. E eu concordo com ele. Ele diz que não há o que lamentar, mas acho que nem ele acredita nisso e há o que lamentar sim.

Também acho que houve um exagero. Os poetas que ele citou mostram uma relação complexa entre poesia e pensamento... Basicamente, são artistas que se comunicaram com uma tradição literária pois achavam que esse era um modo de inclusive intumescer e não apenas validar, mas justamente inserir de modo vivo uma literatura no contexto de uma cultura. É aquilo que o Eliot chamou de comunidade literária e o Pound de paideia. Assim, não é de se espantar que Pound, ao mesmo tempo que promovia um discurso fragmentado e altamente moderno, tenha se voltado para o teatro clássico japonês, o teatro nô, do mesmo modo que não é de se espantar que a heteronímia pessoana abarque as odes horacianas às odes whitmanianas.

O caso do Valéry é bem interessante pois ele tratava a poesia como uma atividade muito mais cerebral que de fato emocional. Isso tem raízes tanto no tratamento materialístico do poema, em que se passou a tratar a materialidade e, como disse o Mallarmé, as palavras de fato, bem como no distanciamento que se operou para com a lírica romântica baseada na subjetividade, num sentido até mesmo de se chegar a uma despersonalização (como um Robert Browning). Daí que a poesia passou até mesmo a ser comparada a uma atividade matemática, por mais excêntrico que isso pareça ser. Na verdade, esse tipo de concepção possui raízes lá no Edgar Allan Poe, com conceitos como o de que a forma do poema é anterior a seu conteúdo. Vou citar um artigo que fala um pouco do pensamento do Valéry, especialmente no ensaio Poesia e Pensamento Abstrato:

Essa forma de conceber o poeta, Valéry já apresentara alguns anos antes no ensaio Situação de Baudelaire, no qual avalia a mecânica de produção desse insigne poeta que, discípulo de Poe, negava a poesia absoluta, veio puro de inspiração, e afirmava uma doutrina muito sedutora e rigorosa, na qual se uniam uma espécie de matemática e de mística...

[...]

O poeta não dispõe de um conjunto de meios feito exclusivamente para sua arte. Ele terá que inevitavelmente recorrer ao que é comum a todos – a linguagem. Terá que usá-la com todas as imposições, convenções, limitações, e também com suas belezas e arbitrariedades. Cabe ao poeta fazer emergir dessa mesma linguagem um conteúdo emotivo, encantatório, relacionado à sua vida afetiva e à sua sensibilidade intelectual, e instaurar um movimento e uma ação que, poeticamente manifestos, não mais se confundem com a linguagem usual. É esse o milagre de Baudelaire, construir uma linguagem dentro da linguagem. O poeta e a matéria verbal empreendem uma luta constante, pois para aquele a palavra não é algo dado, é preciso uma engenharia de espírito e de técnica para satisfazer as muitas exigências que propõe diante de si.

http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa/garrafa23/iranildealmeidacosta_umaleituradoensaio.pdf

Mas ao mesmo tempo, não dá pra reduzirmos apenas a isso, como você mesmo disse... A literatura moderna possui veios das mais variadas origens, e um deles é o seu caráter dissonante, é a operação de uma distância cada vez maior entre os componentes da metáfora e de uma irredutibilidade almejada em relação à lógica: ou seja, o poema não pode mais ser reduzido a um silogismo de modo tão claro como um soneto renascentista. E tanto é que uma vertente muito forte da poesia moderna foi a poesia surrealista ou a poesia pautada num desregramento rimbaudiano...

Claro que o desregramento rimbaudiano não era sinônimo de irresponsabilidade, mas, sem espanto nenhum, de uma compreensão alçada a seu nível mais libertário. O que também não chega a ser um espanto numa sociedade que demandava e ainda demanda cada vez mais um conhecimento bem maior de seus instrumentos. Por mais paradoxal que possa parecer, a arte moderna parte de uma construção talvez matemática da poesia para alcançar o místico: mas, ao mesmo tempo, e como você mesmo disse, essa foi uma faceta, o que desconsidera outras experiências que foram também bem sucedidas. Pois do mesmo modo que o viés surrealista legou poetas herméticos sem eira nem beira, o método valeriano ou um método rilkeano (à guisa das Elegias de Duíno) também legou seus epígonos fracassados.

Acho que há sim critérios que determinam o que é arte, mas não é algo inerente ao objeto, o que já se sabe desde Marcel Duchamp. O que determina que uma escultura é uma escultura é o fato de ela estar exposta num museu, de o artista chamar de escutura, de suas relações com outras esculturas... E concordo que o artista tem a sua disposição todas as tradições possíveis, mas de maneira superficial, epidérmica, como diz também Lipovetsky. O que se relaciona com o mercado das artes: colhe-se o que se quer para gerar uma "identidade" "única", uma marca vendável do artista. Não dá para ser inocente com isso.

Acho que não pode ser nem céu nem terra. Existe algo inerente ao objeto que ajuda a determinar o que é arte. Pois, no final das contas, não me parece existirem muitas dúvidas de que o empreendimento do Duchamp era algo iconoclasta apenas... É um exemplo que o Gullar gosta muito de dar: a Mona Lisa é a Mona Lisa num mictório, nos Alpes ou no Louvre. Já o mictório do Duchamp só é o mictório do Duchamp no contexto de uma exposição artística. Logo, ele não possui forma e conteúdo, mas é apenas contexto.

Claro que isso é algo vago, e não me engano em pensar que possa ser de outro modo. Alguns testes podem ser feitos a respeito disso, e a supracitada entrevista com o Paulo Henriques Britto mostra um critério que me parece bom pra chegarmos à conclusão se algo é ou não arte: compare com o que é unanimemente reconhecido como arte. Se possui bases de contato, então é. Outro critério que acho interessante é o critério da renovação. A obra de arte se renova, ela não morre num primeiro contato. Tem sempre algo de novo a nos dizer. Claro também que não é algo exclusivo da obra de arte, pois um penico de minha avó pode funcionar do mesmo modo; mas, no caso da obra de arte bem feita, é sempre algo de dentro pra fora.

Sobre essa coisa da tradição epidérmica, poderia falar mais um pouco?

Também não vejo como pode existir poesia sem palavras... Talvez eles estejam se referindo a sublime/belo... No sentido de que "deviam ter mandado um poeta". :lol: Mas como que se confundem conceitos assim? =/ Mesmo os hapennings/performances, poemas em stencil (que acho bem superficiais, por sinal), gravações de declamações em áudio e vídeo, tem por base o trabalho com palavras... (as próprias imagens que ele dá como exemplo usam palavras...) Aliás, porque eles se denominariam "poetas" se o que fazem é tão diferente assim de poesia? Aff. Além do mais, só porque se muda o suporte do gênero textual, não significa que o gênero mude também. Isso é uma ideia básica nos estudos de gêneros, acho.

Sei lá, talvez eu esteja falando bobagem. Não conheço, os principais teóricos de arte citados por ele... Só uma interpretação.

Acho que essa discussão talvez seja um tiro pela culatra. Concordo contigo quando confundem poesia com o sublime ou o belo... O mendigo dando seu salame pro cachorro faminto, algo assim. É um sublime que deixou de residir no monte Olimpo e no plano idealizado e racionalizado de Laura e Beatriz, é certo; mas que passou também a refletir uma visão talvez romântica de mundo...

Onde quero chegar é: a escultura não precisa ser poesia pra ser foda. O mesmo com a música, cinema, quadrinhos. Poesia só existe em literatura e, a não ser que estejamos falando de poesia enquanto adjetivo, não tem cabimento tirá-la de lá. E não tem precisão. Pode ser cômodo que se retire pra que se possa usar alguns jargões da poesia pra qualificar ou mesmo substantivar algumas manifestações muito boas, como o caso de uma obra que possui sobressaltos emocionais e que usa sua linguagem ligada na máxima voltagem. Mas é preciso que não confundamos um com o outro... Pelo menos é o que acho até hoje.
 
Isso de certo modo tem raízes na ideia de que o romance é a epopeia moderna, a epopeia burguesa etc. Considerando que grande parte do corpo das epopeias é narrativo, e que a narrativa tem uma característica de intumescimento bem mais interessante que a função lírica (que geralmente desconstrói, desarma, põe em cheque), não deixa de ser uma novidade isso...
Hum. Não tinha pensado nisso, mas tem razão. Eu tinha pensado mais sobre a epopéia como uma sequência de imagens, como um filme na cabeça... :lol:


Você podia falar mais dessa coisa da poesia ser banal? :think:
Procurei o conto de novo, mas não encontrei. É que depois fiquei em dúvida se ele se referia a metáforas banais serem melhores que as raras ou se eles falavam sobre poesia. Mas pelo que me lembro, ele usava poesia no sentido de inspiração poética, de que ela pode acontecer a qualquer um, não só ao poeta "receptáculo". Se for nesse sentido, claro que o bom poeta faz uma boa coisa com a inspiração que outra pessoa não faria. De qualquer forma, se encontrar o conto, volto aqui. =/

Acho que não pode ser nem céu nem terra. Existe algo inerente ao objeto que ajuda a determinar o que é arte. Pois, no final das contas, não me parece existirem muitas dúvidas de que o empreendimento do Duchamp era algo iconoclasta apenas... É um exemplo que o Gullar gosta muito de dar: a Mona Lisa é a Mona Lisa num mictório, nos Alpes ou no Louvre. Já o mictório do Duchamp só é o mictório do Duchamp no contexto de uma exposição artística. Logo, ele não possui forma e conteúdo, mas é apenas contexto.
Ok. Concordo contigo. Em arte não dá para falar de ou/ou é mais e/e, né? Mas seguindo o exemplo da Mona Lisa: será que o quadro era o que ele é quando era exibido só nos salões da realeza? Houve muita construção em cima do quadro desde então. Mesmo que a pintura seja fisicamente a mesma, lá no começo não era "a" grande pintura, era só um quadro entre outros. Acho que há vários autores que falam desse fato de ser "o mesmo" ao longo do tempo e ser "outro" também, que é uma característica da boa arte, como você disse.

Sobre essa coisa da tradição epidérmica, poderia falar mais um pouco?
Isso tem relação com a frouxidão dos modelos/regras/imposições sociais em sociedades democráticas, segunda a interpretação dele. Por exemplo, antigamente todo poeta escrevia poesia cristã, ou todo pintor pintava cenas da bíblia. Ou seja, não tinha como escapar muito das tradições/modelos artísticos. Hoje, eu posso escrever poesia cristão agora e amanhã me converter ao budismo e escrever poesia budista, sem maiores sanções, problemas. A influência agora é individual. Lipovetsky não fala do mercado, mas para mim o mercado das artes entra com a exigência de diferença para criar uma marca.
 
Procurei o conto de novo, mas não encontrei. É que depois fiquei em dúvida se ele se referia a metáforas banais serem melhores que as raras ou se eles falavam sobre poesia. Mas pelo que me lembro, ele usava poesia no sentido de inspiração poética, de que ela pode acontecer a qualquer um, não só ao poeta "receptáculo". Se for nesse sentido, claro que o bom poeta faz uma boa coisa com a inspiração que outra pessoa não faria. De qualquer forma, se encontrar o conto, volto aqui. =/

Ah sim, entendi! Sim, também concordo. Isso foi algo que começou a mudar com a concepção romântica e as teorias do eu unificado do Fichte etc e tal. Assim, a poesia não era mais um discurso que tomava como base o indivíduo incluso numa ordem, o indivíduo numa perspectiva social que desconsiderava, em grande parte, sua personalidade. Por exemplo, muitos poemas árcades eram feitos para alguém em específico, tinham um destinatário; o mesmo podemos dizer da construção da obra de perspectiva classicista, que buscava, a partir da racionalidade, chegar a um padrão universal. Os românticos já apregoavam a obra como um produto único, um produto cada vez mais ligado ao indivíduo e não ao indivíduo incluso numa posição social. Aí entra essa questão da inspiração e da interpretação da obra artística como fornecedora de "chaves" para entendermos a vida pessoal de quem a fez.

E, de fato, se por um lado todos são potencialmente poetas, ou se o poeta já não é mais uma criatura fora das contingências humanas, o que o modernismo graças a Deus terminou de mostrar, por outro lado, como você mesmo disse, quê fazer dessa inspiração é sempre uma questão. Afinal de contas, de nada interessa saber o quão inspirado estava o poeta se o poema em-si não é, ele mesmo, inspirado, inspirador.

Ok. Concordo contigo. Em arte não dá para falar de ou/ou é mais e/e, né? Mas seguindo o exemplo da Mona Lisa: será que o quadro era o que ele é quando era exibido só nos salões da realeza? Houve muita construção em cima do quadro desde então. Mesmo que a pintura seja fisicamente a mesma, lá no começo não era "a" grande pintura, era só um quadro entre outros. Acho que há vários autores que falam desse fato de ser "o mesmo" ao longo do tempo e ser "outro" também, que é uma característica da boa arte, como você disse.

Sim, é verdade, a Mona Lisa nem sempre foi a Mona Lisa assim como Shakespeare nem sempre foi Shakespeare. Um dos critérios mais básicos e sólidos para avaliarmos a real qualidade de algo é o quanto ela perdura no tempo e o quanto ela consegue ser analisada por tempos distintos, pessoas distintas. A construção que se faz acerca de uma obra clássica é um dos fatores principais para que ela seja clássica. (Não vou dizer que é o único pois aí nós vamos estar negando a qualidade inerente da obra.) E isso sempre vai mudando com o tempo, é claro. Shakespeare não era muito bem visto até o Romantismo, e mesmo no Romantismo os críticos recaíam em juízos que hoje são tidos como errôneos, como essa coisa de dizer que ele era bárbaro ou não sabia muito bem escrever para o teatro -- os famosos e desnecessários embates Shakespeare vs. Racine. E o mesmo com os autores românticos: por exemplo, os românticos ingleses. A atividade crítica dum T. S. Eliot não ia muito com a poesia deles, mas hoje em dia vê-se claramente um retorno e uma reavaliação da poesia que foi produzida nesse período. Por exemplo, um Harold Bloom.

Mas isso que você disse é interessante pois é uma das questões que mais incomodam quando falamos de arte contemporânea. Se por um lado é claro que as avaliações posteriores são fundamentais para que vejamos uma obra como clássica, e para que assim ela se firme, então isso torna a atividade de avaliação qualitativa da literatura contemporânea a um só tempo muito mais árdua como necessária. Não adianta tentarmos fugir, pois apenas aquilo que possuir uma avaliação positiva HOJE é que vai ser lida AMANHÃ. Mesmo as exceções à regra possuem um pézinho no reconhecimento literário, por menor que seja. Não adianta pensar nessa coisa de posteridade ou "os vindouros irão me ler" pois isso simplesmente não funciona assim. Os homens de amanhã vão quebrar a cabeça com os autores contemporâneos de amanhã. Não vão ligar a máquina do tempo e descobrir o poeta esquecido hoje. Mesmo aqueles casos de poetas descobertos posteriormente dificilmente deram certo. Por exemplo, um Kilkerry ou um Sousandrade.

Isso tem relação com a frouxidão dos modelos/regras/imposições sociais em sociedades democráticas, segunda a interpretação dele. Por exemplo, antigamente todo poeta escrevia poesia cristã, ou todo pintor pintava cenas da bíblia. Ou seja, não tinha como escapar muito das tradições/modelos artísticos. Hoje, eu posso escrever poesia cristão agora e amanhã me converter ao budismo e escrever poesia budista, sem maiores sanções, problemas. A influência agora é individual. Lipovetsky não fala do mercado, mas para mim o mercado das artes entra com a exigência de diferença para criar uma marca.

Concordo com você. Se por um lado a arte hoje parece poder fazer tudo, numa ótica mais detida não é bem assim. O mercado é sempre um decantador importante nessa perspectiva. Não vou entrar nessa coisa de exigências da alta classe, pois nesse sentido não sou muito estruturalista: se existem investidas desse sentido, acho sempre mais válido falarmos de exigências da sociedade de modo geral. Porque muito bem, posso escrever um livro de sonetos; mas publicar isso é que é complicado. Um usuário antigo do Meia, o Luciano R. M., falava muito de liberdade de impressão. Não sei se estou deturpando a expressão dele, mas a questão hoje não é nem tanto a da liberdade de expressão -- mas a de impressão, pois não adianta nos enganarmos pensando que posso escrever qualquer coisa e pronto. Numa análise mais detida do que tem sido produzido pela literatura do alto escalão, vemos padrões repetidos, vemos que não há uma liberdade tão grande assim. E isso é normal que ocorra pois não estamos em mundos separados. E nem mesmo a lógica da literatura mudou tanto assim. (E eu até mesmo acho que DEVE ser assim.)
 
Entrevista com Eduardo Lacerda (Editor da Patuá), por Nathan Matos

Conheci a Editora Patuá vasculhando novas editoras pela internet. Percebi que o catálogo girava em torno, principalmente, da poesia. Fiquei espantado. Nunca tinha visto alguma editora dar tanta ênfase a este gênero. Timidamente enviei um e-mail para os editores e depois de um tempo o Eduardo Lacerda me respondeu. Mantivemos contato, e ele sempre se mostrou muito aberto aos assuntos da editora. Isso me surpreendeu, uma vez que é preferível esconder o que se faz para que não haja novos concorrentes.

Conversando com o Eduardo, percebi que ele achava mais importante divulgar informações e manter o diálogo aberto para novas ações em torno da Literatura do que olhar para o próprio umbigo.

Sempre me questionei até que ponto a Poesia pode “salvar” um homem. E parece que Eduardo Lacerda vive nessa relação de estar sendo salvo e que ao mesmo tempo salva esse gênero, muitas vezes, esquecido, contribuindo, também, para a salvação-publicação de autores estreantes ou não.

A Editora Patuá, em quase 3 anos de vida, e com mais de 100 livros em seu catálogo chega, em 2013, a ser finalista em dois prêmios: o primeiro com o livro “Vário Som”, de Elisa Andrade Buzzo, no Prêmio Jabuti na categoria Poesia; o segundo com o livro “Desnorteio”, de Paula Fábrio, no Prêmio São Paulo de Literatura. Dois dos mais importantes prêmios literários do país. Isso se dá ao trabalho incansável de um homem que acredita que além da poesia é essencial beber para que se possa manter uma editora de portas abertas.

NM – Eduardo, de onde veio a ideia de criar a Patuá?

EL – A ideia (ou necessidade) de criar a Editora Patuá foi uma consequência natural de trabalhos anteriores que realizamos. A partir de 2001, quando entrei no curso de letras da USP, iniciei a edição de uma revista e de alguns eventos literários, essa revista se transformou em um jornal chamado O Casulo, que chegou a ter patrocínio da Prefeitura de São Paulo, com esse apoio foi possível a impressão de tiragens de 30 mil exemplares, com distribuição gratuita em escolas públicas, bibliotecas, centros culturais, cinemas etc. Também participei da organização da FLAP! – Festival de Literatura, que desde 2005 realiza, anualmente, encontros, debates, leituras públicas, entre outras atividades para discussão sobre literatura, edição, produção cultural, tradução.
Montar uma editora que pudesse reunir os autores que circulavam por essas atividades se tornou uma necessidade, mas, no início, não fazíamos ideia de como viabilizar o projeto. Passamos quase 2 anos, entre 2008 e 2010, pesquisando como montar uma editora. A Editora nasceu, como empresa, em outubro de 2010 e publicamos nosso primeiro título em fevereiro de 2011.


NM – No cenário atual, para se abrir uma editora é preciso ter coragem. Qual a importância das editoras independentes no mercado editorial brasileiro?

EL – Acredito que para abrir uma editora não é preciso ter coragem, tenho acompanhado, durante todos esses anos, a criação de dezenas de projetos e editoras. O início é trabalhoso, mas fácil, não tenho dúvidas. É preciso ter coragem para continuar durante muitos anos, depois que se descobre o tamanho dos problemas, das frustrações, decepções. Claro, quando um projeto é mais consistente, muitas coisas boas também vão acontecer, mas no início pensamos apenas que tudo será bom. Não é.

As editoras independentes atuam de diversas formas, por isso têm diversas ‘importâncias’ diferentes. Nós descobrimos jovens autores, redescobrimos autores premiados, mas que estavam sem editora, damos chances a projetos ousados, que não encontrariam nenhum apoio em editoras maiores. Mas, acredito, o maior mérito de uma editora independente é promover o encontro entre as pessoas e o encontro das pessoas com os escritores e seus livros. Tenho defendido que não acredito em uma literatura que não promova o encontro entre as pessoas.

NM – O catálogo da Patuá, em sua ampla maioria, foca a Poesia. Poucos são os editores que apostam neste gênero. O que você vê que outros não veem?

EL – Talvez eu beba mais cerveja que os outros editores! Mas, falando sério, a poesia pede um amor, uma dedicação e um desapego que muitas pessoas não estão dispostas ou interessadas. Eu tenho muita fé nos autores que publiquei ou ainda publicarei, acredito neles, na importância deles. Que não é uma importância capitalista, nem financeira. É humana. Eu publico autores que acredito.

NM – Você acredita que a poesia ainda é pouco lida pelo leitor brasileiro?

EL – É importante dizer que a poesia é pouco lida pelos leitores do mundo inteiro. E é pouco lida desde a antiguidade. No livro A arte de amar, de Ovídio, o autor já diz que a poesia não é mais uma honraria, que mesmo Homero, se vier com versos, mas sem presentes, não será bem recebido. Ele já afirma isso então há dois milênios? Sim! As pessoas têm uma tendência ao pessimismo sem conhecimento. Queremos acreditar que nossa época (e todos são assim, em todas as épocas) é decadente, é pior. Talvez para justificar fracassos pessoais.

Psicologias à parte, sou um homem de muita fé, muito otimista, mas muito realista. Temos trabalho a fazer, de formação de leitores, de distribuição de livros, de encontrar alternativas à lógica do mercado que quer excluir a grande maioria das pessoas. Se os leitores lêem pouco poesia, temos que encontrar soluções. É o que tentamos fazer todos os dias.

Na Patuá, incentivamos muito a leitura entre os nossos autores. Não cobramos pela edição e realizamos um trabalho de excelência, o mínimo que espero que um autor é que se interesse minimamente pelo trabalho do outro. Que leia, que eventualmente compre livros, que se encontrem e discutam a literatura. Isso é enriquecedor e somente esse envolvimento pode ajudar (também financeiramente) uma editora séria e honesta.

NM – Muitos comentam que a Literatura, entre as artes, anda sendo a mais esquecida. E que há muito a se fazer quanto a incentivar ações que promovam a leitura. Você concorda com isso?

EL – Todas as artes são igualmente importantes, eu defendo a Literatura por trabalhar com ela e por ter uma relação íntima. Acho que o esquecimento vem do descaso, principalmente dos próprios escritores. Recebemos uma centena de livros por mês, considerando outras editoras, maiores ou menores, são milhares de escritores espalhados pelo país. Não são leitores? Por quê?

Concordo que precisamos de ações de incentivo, mas elas devem ser coordenadas e contínuas. Trabalhei muitos anos com produção cultural e com projetos de instalação de bibliotecas públicas no interior do Estado de São Paulo, tenho experiência que ações isoladas são muito importantes, mas de curto efeito e sempre submetidas à vontades políticas. Precisamos, para aumentar o número de leitores, ações educacionais, culturais, estéticas e financeiras.

Temos mais escritores que leitores, mais editoras do que livrarias e bibliotecas. A lógica está inversa, não está? Precisamos de mais leitores do que escritores, de mais bibliotecas e livrarias do que editoras (e não quero reduzir o número delas, apenas inverter a pirâmide). Há muito o que se fazer.

NM – Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pela Patuá?

EL – O maior problema é financeiro. Fazer livros é maravilhoso, vende-los é uma tarefa constrangedora. Ao mesmo tempo, se fosse fácil, acho que teríamos ainda mais editoras e menos leitores. A dificuldade também preserva a literatura, faz com que exista um filtro. Claro, não precisaria ser tão difícil. Precisamos de equilíbrio.

NM – Qual tem sido a recepção dos livros da Patuá junto ao público?

EL – Excelente. Posso dizer que criamos um novo padrão de qualidade para o mercado de editoras independentes. Fazemos livros com muita qualidade, tanto gráfica quanto literária. Ousamos em formatos, ilustrações, acabamentos.
Claro, conseguir leitores e reverter essa qualidade em venda de livros ainda é difícil, mas está sendo uma experiência incrível.

Além do público, estamos conseguindo alguma repercussão entre críticos e recebido alguns prêmios. Em 2012 recebemos um prêmio ProAC – Programa de Ação Cultural e este ano uma de nossas autoras está finalista do prêmio Jabuti.

NM – O que fez Eduardo Lacerda se apaixonar pela leitura?

EL – Eu sou um apaixonado pela leitura, principalmente pela poesia. Não sei quando isso começou exatamente. Minha primeira lembrança de leitura, de livro, foi uma leitura da minha mãe pra mim de um livro do Paulo Coelho. Sim, Paulo Coelho. Meus pais são pais-de-santo da Umbanda, sempre tiveram interesse por livros espíritas, esotéricos, de iniciação religiosa. Eu tenho um interesse e carinho enormes pela religião, embora, como literatura, isso não me interesse mais. E estou dizendo que apenas não me interessa, não perco meu tempo dizendo que é ruim, que é lixo. Isso é pedantismo.

NM – É fácil para você conciliar o processo de criação com a vida de editor?


EL – Se você está se referindo à criação literária, como poeta, sim, é difícil. Não sou poeta, eu escrevo alguns poemas esporadicamente. Até acho que alguns são bons. Também acho que eu vivo como poeta, na máxima do Piva, de que não existe poeta experimental sem vida experimental. Certo, nesse sentido, não sou poeta, mas vivo como poeta. E é exatamente por ser difícil conciliar que eu me permito viver como poeta e ser somente editor. A edição é uma atividade criativa também, embora eu passe a maior parte do meu tempo cuidando de burocracias. Eu faço a embalagem e a entrega nos correios de todos os livros vendidos, eu vou a meia dúzia de bancos diferentes todos os dias, faço notas fiscais, elaboro contratos, faço a divulgação dos livros, atualização do site e até a edição (risos). Mas eu gosto também disso, gosto de pensar que eu cuido dos livros em todas as etapas, exceto as ilustrações e projetos gráficos, que são criados pelo artista Leonardo Mathias, uma pessoa incrível, de talento sem igual. Temos também outros parceiros para ilustração, como a Mila Botura, que está desenvolvendo a arte de alguns de nossos livros, a Elis Nunes.

http://www.literaturabr.com/2013/10/entrevista-com-eduardo-lacerda-editor.html
 
Boa entrevista, não conhecia a editora, apesar (das promessas de) dos prêmios. Os livros deles são bem bonitos, mas também caros... Acho que deve ser a tiragem e outros problemas típicos de uma editora micro. Ele também fala aquilo que já sabemos sobre escritores no Brasil (e no mundo?) não serem leitores. Talvez seja a facilidade de escrever e publicar?

Só não sei se essa coisa de "eu leio o teu que você lê o meu" funciona. Eu vejo muito disso em blogs por aí, mas você vê muitas vezes que fica uma coisa de má-vontade, de "vou ler essa porcaria e dizer qualquer coisa elogiosa só para lerem o meu". É bem óbvio, acho. Será que isso contribui mesmo? De qualquer forma é uma pena a falta de leitura em geral, e de contemporâneos, entre escritores. De certa forma isso leva a pensar que se está sempre inventando a roda.
 
Jorge, acho que nessa outra matéria algumas das suas perguntas são respondidas:

EDITOR PRODUZ EM CASA MAIS DE 100 LIVROS E UMA INDICAÇÃO AO JABUTI

POR ANA PAULA FERRAZ

Há um ano, Eduardo Lacerda dorme no sofá da sala. As quatro paredes de seu quarto, do chão ao teto, e também a sua cama são tomadas por livros. Resiste apenas, num canto, ostentosa e protetora, a imagem de Iemanjá. Os mais de 2 mil exemplares, que também ocupam o hall de entrada e uma parte da sala da casa dos seus pais, no bairro de Sapopemba, zona leste de São Paulo, fazem parte do estoque da Patuá, editora independente fundada em 2011 por ele e sua ex-sócia, Aline Rocha. O catálogo conta com 150 títulos de autores estreantes, em sua maioria, poetas.

Lacerda, que é filho de pai de santo, explica: patuá é um amuleto de origem africana. “Para muitos, é uma forma de proteção, mas, para a gente, é uma forma de enfrentamento”, afirma corajosamente o editor e poeta que, há três anos, optou por viver de literatura. Supersticiosamente ou não, os resultados da Patuá têm sido muito bons. Alguns dos escritores revelados pela editora têm conquistado destaques em grandes jornais. O livro Vário Som, da poetisa Elisa Andrade Buzzo, inclusive, concorre este ano ao prêmio Jabuti, o principal de literatura no país. “Temos conseguido tudo isso, mas não é o objetivo. O que eu quero é ter liberdade de fazer coisas como publicar o primeiro livro de um menino que eu acredito. Isso é ser uma editora independente”, pontua.

Agito literário

Os eventos de lançamento da Patuá acontecem semanalmente e também são acontecimentos, com encontro de dezenas de prosadores e poetas que trocam ideias, informações e, claro, fofocas. “Não é um movimento literário, mas é uma movimentação literária”, diz. Lacerda pretende manter o catalogo da Patuá vivo: “Quero que um livro publicado hoje ainda esteja circulando daqui a dez anos”. Porém ele admite que isso depende muito de como o autor trata sua obra. “Há pessoas que encaram a publicação apenas como uma aventura.” Atualmente, a Patuá recebe para avaliação cerca de cem originais por mês. “Não dá para ler tudo.”

Foram dois anos apenas para planejar a editora e conseguir o investimento inicial de R$ 5 mil. Uma das soluções encontradas para a redução de custos é o modelo de impressão de livros – tiragens pequenas, de apenas 100 exemplares. “Até poucos anos atrás, quem quisesse fazer um livro tinha que imprimir, no mínimo, 500 exemplares. Mas encontramos uma gráfica que faz 50 com o mesmo valor unitário de uma tiragem de mil”, conta.

Negócios

Em 2013, a Patuá saiu do vermelho e hoje Lacerda consegue se dedicar apenas à editora. Vende, em média, 50 livros por lançamento, ao custo que vai de R$ 25 a R$ 35 cada, de acordo com o acabamento. Todos os livros são comercializados pelo site. “Evitamos trabalhar com as livrarias, que descontam 50% do preço de capa, mais frete.” A Patuá precisa vender 50 livros para recuperar o investimento de 100 livros editados. “Um autor que vende muito bem ajuda a recuperar um autor que vende menos, e assim todos os livros são importantes. A gente não mede um autor pela quantidade de livros que vendeu”, conta.

Neste ano, a editora recebeu um prêmio de R$ 50 mil da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, que estão indo para a produção de 12 títulos com tiragem de 1.500 exemplares cada, os quais já começam a ser distribuídos para as bibliotecas. Para 2014, os planos são lançar de 10 a 15 livros de escritores inéditos por mês.

Paixão pela impressão

Lacerda se declara um apaixonado pela literatura e mais ainda pelos livros enquanto objeto. A paixão pela arte da impressão é antiga. “Na escola, pirei com o mimeógrafo e pedia para os professores para operar aquilo.” Foi também na escola que Lacerda começou sua experiência como editor, publicando o fanzine de uma banda da qual era fã. No curso de letras, na USP, que abandonou no último ano, ele lançou com Andréa Catrópa o jornal “O Casulo” para revelar poetas contemporâneos. “Eu queria saber quem era da minha idade e estava publicando. Meu contato com literatura foi sempre mais com os contemporâneos do que com os cânones”, diz. Durante um tempo em que passou desempregado, adquiriu, por sugestão dos pais, que mantêm uma oficina de roupas de umbanda nos fundos da casa, uma máquina de bordar. Hoje a máquina é usada para bordar sacolas que levam a reprodução da capa dos livros. Lacerda tem ainda um projeto de livro todo bordado. “Não deixa de ser uma outra forma de impressão.”

O Sampa CriAtiva foi conhecer a editora Patuá e casa de Lacerda. Assista o vídeo.

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E bem, isso que você disse do lobby acontece demais. A publicação independente, se por um lado realiza o sonho do meu-livro-impresso, por outro joga o escritor no olho do furacão: como fazer com que leiam aquilo. E, no final das contas, vamos percebendo que basicamente o que constitui uma grande editora é esse fazer com que seja lido.

Ainda não li nada, fisicamente, de nenhum poeta da Patuá. É muita coisa publicada; então, meio que fico esperando a hora certa de comprar o poeta certo. E não jogar dinheiro fora, é claro.

Porque isso que você disse que os contemporâneos hoje leem pouco os outros contemporâneos é verdade. Mas talvez seja mais porque hoje em dia, potencialmente e com uma facilidade grande, qualquer um pode ser autor. Na Islândia, 6 em cada 10 pessoas publicará um livro. Isso faz com que as pessoas acabem se metendo em meios de divulgação sujos (talvez "sujos" não seja a palavra certa), o que cria um escarcéu muito grande na base da literatura contemporânea.

Não sei até que ponto isso de fato afeta a, digamos, literatura feita pelo alto escalão, ou seja, a literatura feita pelos autores de grandes editoras. Acho que não afeta muito; é mais uma luta feita na base da coisa, é mais um estardalhaço que não deixa de ser incômodo.

Mas essa coisa de auto-publicação ainda me parece recente. Creio que, com o tempo, a coisa vá se normalizando... Não no sentido de abaixar, mas no sentido de que algumas editoras de auto-publicação vão se tornando mais seletivas ou mesmo no sentido do leitor ir entendendo o funcionamento delas.
 
Mavericco, acho que a discussão até aqui está me fazendo olhar a poesia brasileira contemporânea de outros modos, só ver meu post inicial. Acho que ela é mais rica do que aparenta, né?

Por acaso, ou não (já que houve o lançamento de livros deles), o Correio Braziliense daqui fez duas grandes entrevistas (grande no sentido de ocupar muito espaço, duas páginas completas) com poetas: uma como o Zuca Sardan, outra com o Armando Freitas Filho. O primeiro me pareceu fazer melhor depois que li a entrevista e gostei bastante do segundo também. Pena que nada está disponível... Acho que vou dar uma reolhada naquele Boa Companhia: Poesia, dos 2000.

Queria perguntar também se conheces algo do que anda se passando em outros países, com os poetas vivos. Na verdade, só passei a conhecer um pouco da poesia dos Estados Unidos e França do pós-guerra para cá esse ano. Como você tinha dito, em relação aos poetas da Patuá, é muita coisa (e o dinheiro não chega).
 
Ah, com certeza. Mesmo porque, é o que nós temos. Não quero com isso dizer que devemos nos resignar; mas, no mínimo, quero dizer que o apocalipse não, não é uma opção. Ela tem se desenvolvido bem e aí...

Antes de adentrar no final do seu post, um parêntesis: é, não gosto do Sardan. Isso pode parecer ser um termo um pouco forte, e eu não sei como eu conseguiria usá-lo com respeito, mas acho a poesia dele meio charlatã... Não vejo nada de mais na poesia dele. Acho bastante chocha e com um tratamento persistente e diferentão. Já o Armando Freitas Filho eu só até mais animado. Não o considero um graaaande poeta, como muitos recentemente têm falado, mas é um poeta importante que tem sabido fazer um contato bom com os poetas mais jovens.

Agora essa coisa de poesia de outros países. É muito difícil... Tanto financeira quanto "de fatamente". Tenho planos de me inteirar da produção portuguesa e africana: ou seja, da de língua portuguesa de modo geral. Mas por enquanto nada concreto... A norte-americana é outra que pretendo desbravar. Ou a de língua inglesa, de modo geral. Essa acho que pode ser um pouco mais fácil. Pretendo me munir, basicamente, de dois livros-guia:

Postmodern American Poetry, seleção de Paul Hoover. Essa não tem jeito: é enfiar a mão no bolso e comprar a edição de 2013...
Legitimate Dangers, edição de Michael Dumanis e Cate Marvin. Já li algumas resenhas negativas em relação ao livro, como essa; mas não estou em condições de escolher hehe.

E também duas listas que encontrei lá no Flavorwire: esta, de 2011, e esta, de 2013. Pelo que pude ler dos previews, muitos poemas estão próximos de um DFW & Cia no sentido de um trato descompromissado com o cotidiano, de encontrar uma coisa banal e, surpresa!, ela possuir significados mais profundos que toneladas de rotina e cotidianeidade nos impedem de ver (tipo esse Ingredients for Memories that can be used as Explosives, da EJ Koh, que é realmente um bom poema). Além, é claro, desses títulos grandões, que, por mais que atestem apenas um maria-vai-com-as-outras (isso vai depender), podem mostrar também que aquela ideia clássica do título como captar a ideia principal do texto vai por água abaixo, se nem mesmo o próprio eu lírico sabe direito o que está falando (veja-se o próprio poema da Koh, onde o eu lírico não sabe nem dizer se está ou se não está triste: ele se engana assim como suas memórias enganam [can be used as Explosives]).

Tem outros que achei interessantes também. Esse The Emily Dickinson Reader do Paul Legaut tem uma premissa muito interessante... Apesar de que, do que li do livro, ele não é lá essas coisas... Essa resenha, por exemplo. Seriously, como ele conseguiu meter um "Zombies are similar to robots."?

A poesia norte-americana fala sem dó nem piedade da cultura pop. Os caras não tem medo de escrever um livro chamado Alien vs. Predator (Michael Robbins, um bom livro ao que me parece). Aqui no Brasil, você coloca um pouquinho mais disso e já começam a chiar com esse IT'S DOOM TIME! Outros que achei interessantes são o Brian Spears (cujo site The Rumpus é uma boa referência), o Thomas Sayers Ellis (esse The Maverick Room parece ser muito bom) e a Eileen Myles (já vi elogios a ela como "legendary poet"). E sim, sim, a Patricia Lockwood. Rape Joke é ótimo. Vejo muito da Angélica de Freitas nessa produção norte-americana contemporânea... Apesar de que a Angélica não tem um poema do nível de Rape Joke ainda.
 
Última edição:
Antes de adentrar no final do seu post, um parêntesis: é, não gosto do Sardan. Isso pode parecer ser um termo um pouco forte, e eu não sei como eu conseguiria usá-lo com respeito, mas acho a poesia dele meio charlatã... Não vejo nada de mais na poesia dele. Acho bastante chocha e com um tratamento persistente e diferentão. Já o Armando Freitas Filho eu só até mais animado. Não o considero um graaaande poeta, como muitos recentemente têm falado, mas é um poeta importante que tem sabido fazer um contato bom com os poetas mais jovens.
Continuo não gostando muito da poesia do Sardan também, mas depois da entrevista achei ele mais coerente, já que ele cita entre as influências dele Alfred Jarry, principalmente, mas também Lewis Carroll, Oswald de Andrade etc. Ainda acho que é uma poesia "anárquica" demais para fazer sentido e ter graça, apesar de ele chamar isso de "humor oculto". E concordo contigo que o tratamento é sempre o mesmo, o que torna ela repetitiva.

Pois é, é difícil acompanhar o que anda se passando fora. Acho que pela questão financeira como dissemos e pela multiplicação de poetas. Fica difícil ter pontos de referência, né? Mas eu acho que o caminho é esse mesmo, o de ler (boas) antologias, o que é válido também para o cenário nacional. Outra coisa são os blogs ou sites dos autores em geral. É só saber o que procurar (esse é o problema).

É por essa multiplicação também que acho muito difícil, impossível mesmo, que haja tanto escolas de poesia (e de arte em geral), quanto uma influência unilateral sobre uma "geração" como antigamente. Não dá para negar que o inglês tem maior influência, mas acho que agora vai de cada um (e aí voltamos ao Lipovetsky e o Zygmunt Bauman também em O mal-estar na pós-modernidade no capítulo VII "A arte pós-moderna, ou a impossibilidade da vanguarda"). (E aqui não diria que essa libertação em relação ao modelo da metrópole foi uma vitória dos modernistas, mas só uma característica dos nossos tempos (relativamente) democráticos, mas também "líquidos").

E em relação a cultura "pop", acho que isso é meio proibido até nos romances... Imagina na poesia. Mas você tem razão. E é bizarro isso, porque essa é a nossa cultura, a cultura em que a gente está mergulhado. Como que a poesia pode querer escapar disso? Mais uma vez, talvez seja a influência de Baudelaire ainda. E não que seja necessariamente ruim, mas limita as coisas.
 
Continuo não gostando muito da poesia do Sardan também, mas depois da entrevista achei ele mais coerente, já que ele cita entre as influências dele Alfred Jarry, principalmente, mas também Lewis Carroll, Oswald de Andrade etc. Ainda acho que é uma poesia "anárquica" demais para fazer sentido e ter graça, apesar de ele chamar isso de "humor oculto". E concordo contigo que o tratamento é sempre o mesmo, o que torna ela repetitiva.

Pois é, é difícil acompanhar o que anda se passando fora. Acho que pela questão financeira como dissemos e pela multiplicação de poetas. Fica difícil ter pontos de referência, né? Mas eu acho que o caminho é esse mesmo, o de ler (boas) antologias, o que é válido também para o cenário nacional. Outra coisa são os blogs ou sites dos autores em geral. É só saber o que procurar (esse é o problema).

É por essa multiplicação também que acho muito difícil, impossível mesmo, que haja tanto escolas de poesia (e de arte em geral), quanto uma influência unilateral sobre uma "geração" como antigamente. Não dá para negar que o inglês tem maior influência, mas acho que agora vai de cada um (e aí voltamos ao Lipovetsky e o Zygmunt Bauman também em O mal-estar na pós-modernidade no capítulo VII "A arte pós-moderna, ou a impossibilidade da vanguarda"). (E aqui não diria que essa libertação em relação ao modelo da metrópole foi uma vitória dos modernistas, mas só uma característica dos nossos tempos (relativamente) democráticos, mas também "líquidos").

E em relação a cultura "pop", acho que isso é meio proibido até nos romances... Imagina na poesia. Mas você tem razão. E é bizarro isso, porque essa é a nossa cultura, a cultura em que a gente está mergulhado. Como que a poesia pode querer escapar disso? Mais uma vez, talvez seja a influência de Baudelaire ainda. E não que seja necessariamente ruim, mas limita as coisas.

Preciso ler isso do Bauman.... E acerca dessa coisa da cultura pop, e me atendo de novo ao Michael Robbins, tem um pedaço de resenha do livro dele Alien vs Predator que é interessante:

"If later John Ashbery and David McGimpsey have proven that capitalist popular culture is a suitable subject for poetry, Robbins goes a step further and attempts its formal mimesis. And he does it really goddamn well."--The National Post


E o próprio Robbins tem uma entrevista onde ele ressalta algo interessante:

"Rimbaud said, 'One must be absolutely modern.' I believe that. It doesn't mean carbon dating poems with Britney Spears references. It means reflecting the moment, responding to the present — and this present just happens to be an extraordinarily vibrant and, completely (expletive)-up place. Haas seemed to willfully ignore that. There's a sense in his work, in a lot of poetry, of a poet standing above the culture. If you see yourself above the culture, you're not paying enough attention to it. You are the culture. Let's engage it."

http://articles.chicagotribune.com/...ins-poetry-20120605_1_poet-ashbery-alien-vs/3

Acho que ainda falta a nossa crítica se acoplar à produção contemporânea, parar de declarar o apocalipse e entender caminhos que vão se formando... Dialogar, em suma. (Mas isso está aos poucos acontecendo, sejamos justos.)


Eita, eu já não gosto de Bukowski, aí aparece isso.

Já devo ter ouvido falar dele, pois o nome não me éstranho... Acho que foi a respeito do trabalho dele como dramaturgo mesmo. Mas, dos poemas que foram apresentados aí pelo Literatortura, a meu ver está um pouco longe de ter uma qualidade indiscutível. Muito pelo contrário, vi só um trato aberto de temas escatológicos (ou sei lá que outro termo menos depreciativo usar). Porque esse tipo de coisa é antiga. Poesia romana tem uns camaradas que gostavam do arrocha. Tipo Catulo ou Marcial:

http://escamandro.wordpress.com/2013/09/04/marcial-por-decio-pignatari/

Mas poesia erótica nunca me animou. É muito raro você encontrar um poema que consiga sair da esfera sexual-explícita, de dar até mesmo um tapa na cara do leitor e mostrar aquela libidinosidade comendo solta; mas que vá além, e não se limite a mostrar o que, na moral, não vai ser um texto que vai te ensinar ou te fazer acostumar. Ou mesmo te estimular, fazer refletir... Como, por exemplo, o poema Sortilégio do Ferreira Gullar:

http://umpoucodepoesia-msframos.blogspot.com.br/2011/09/sortilegio-ferreira-gullar-1930.html
 

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