Sister Jack
Usuário
Não tem tópico pra nenhum dos dois? Isso é crime federal, IMO.
Anyway, eu amo o original, do John Frankenheimer, é um dos meus filmes favoritos, e um dos melhores thrillers políticos sci-fi de todos os tempos (o melhor, na verdade). Mas o que eu acabei de ver foi o Remake, do ano passado, dirigido pelo Jonathan Demme. Eu tinha ouvido falar coisas decentes sobre ele, mas perdi a estréia no cinema. Deixei passar. Agora acabei de ver no DVD e...
Sob o Domínio do Mal (2004) - 78
Wow. O Demme realmente acertou com esse aqui. Bem diferente do original, não só em transformar o vilão do filme pra uma preocupação atual -- antes eram os Comunistas, agora são as Corporações Globais -- mas também em eliminar o humor negro e a precisão clínica do filme do Frankenheimer e decidir focar totalmente no ângulo de thriller paranóico. É sombrio, tenso, irritante (no bom sentido). O Demme usa a estética do filme pra manter o clima de insegurança constante, especialmente na primeira metade: ele usa efeitos sonoros baixos, de trens, vozes, gritos, tiros, em praticamente todas as cenas, como se você estivesse afundando na paranóia do protagonista; ele corta de uma cena pra outra com barulhos de sirenes ou choques elétricos, sugere paranóia enchendo o quadro de elementos -- névoa, carros e pessoas bloqueando a visão, espelhos, luzes piscando e refletindo -- e também usa o background com telas e monitores mostrando propagandas políticas (ligeiramente exageradas) com mensagens do tipo "Security Tomorrow". O Tema é importante e totalmente atual: as pessoas estão tendo suas "mentes lavadas" (o elemento sci-fi) de formas mais sutís do que as mostradas pelo filme, pela mídia, governo, e especialmente as Grandes Corporações, conectadas e em controle de basicamente tudo -- incluindo até os seus próprios governantes (o candidato a vice-presidente do filme, Raymond Shaw, tem seu cérebro controlado pela Manchurian Global). Não é nada necessariamente novo, mas é um lembrete essencial (e impactante) sobre o que está realmente acontecendo no mundo. O que o filme realmente sugere de (semi) novo é a idéia de que políticos com ideais conservadores se disfarçam de liberais (o personagem da Meryl Streep), mas até isso já havia sido mencionado no original (comunistas escondidos acusando outros políticos de comunismo).
Aliás, o filme só perde realmente nas suas comparações ao original: ele perde o mistério (a personagem ambígua da Janet Leigh) e o senso de cinismo e paródia descarada, e o senso de humor excitante que adicionava uma nova camada à narrativa -- a vantagem disso sendo que rir das desgraças é mais ousado e enfurecedor do que mostrar elas. E é inegável que o filme tenta martelar a mensagem com toda a força possível, de jeitos óbvios e deselegantes. Mas os flashbacks alucinados ainda seguram, no entanto: montagens rápidas de imagens deliciosamente malucas e sci-fi-icas de soldados amarrados com tubos na cabeça, mulheres árabes com rostos pintados falando mensagens políticas, lavagem cerebral ocorrendo à visões de desenhos animados do exército, um "cientista maluco" do melhor estilo, etc etc etc. O filme também tem um elemento novo que eu gostaria de mencionar, mas é um spoiler (fica no final).
SPOILER
No final, agora a identidade do assassino é alterada pela polícia -- uma operação secreta, possívelmente livre de interferência da Corporação (ou pelo menos daquela Corporação... *arrepios*) -- para afetar e incriminar diretamente a Manchurian Global. Eles alteram por computador a figura do Denzel pra a de um funcionário da Manchurian, manchando a imagem deles para o mundo todo (envolvidos com o assassinato de políticos adorados). Não é totalmente plausível, mas levanta uma dúvida moral muito interessante: a de que o "heroísmo" da polícia federal também envolveu uma Mentira -- uma enganação total do povo. Só assim eles conseguiram atingir a Manchurian, com um sacrifício de integridade e de honestidade (pelo menos parcial). Implícita fica a pergunta: foi correto? Etc.
FIM DOS SPOILERS
Alguém mais viu algum dos dois? Alguém tem alguma opinião sobre o final do remake? Etc?
Anyway, eu amo o original, do John Frankenheimer, é um dos meus filmes favoritos, e um dos melhores thrillers políticos sci-fi de todos os tempos (o melhor, na verdade). Mas o que eu acabei de ver foi o Remake, do ano passado, dirigido pelo Jonathan Demme. Eu tinha ouvido falar coisas decentes sobre ele, mas perdi a estréia no cinema. Deixei passar. Agora acabei de ver no DVD e...
Sob o Domínio do Mal (2004) - 78
Wow. O Demme realmente acertou com esse aqui. Bem diferente do original, não só em transformar o vilão do filme pra uma preocupação atual -- antes eram os Comunistas, agora são as Corporações Globais -- mas também em eliminar o humor negro e a precisão clínica do filme do Frankenheimer e decidir focar totalmente no ângulo de thriller paranóico. É sombrio, tenso, irritante (no bom sentido). O Demme usa a estética do filme pra manter o clima de insegurança constante, especialmente na primeira metade: ele usa efeitos sonoros baixos, de trens, vozes, gritos, tiros, em praticamente todas as cenas, como se você estivesse afundando na paranóia do protagonista; ele corta de uma cena pra outra com barulhos de sirenes ou choques elétricos, sugere paranóia enchendo o quadro de elementos -- névoa, carros e pessoas bloqueando a visão, espelhos, luzes piscando e refletindo -- e também usa o background com telas e monitores mostrando propagandas políticas (ligeiramente exageradas) com mensagens do tipo "Security Tomorrow". O Tema é importante e totalmente atual: as pessoas estão tendo suas "mentes lavadas" (o elemento sci-fi) de formas mais sutís do que as mostradas pelo filme, pela mídia, governo, e especialmente as Grandes Corporações, conectadas e em controle de basicamente tudo -- incluindo até os seus próprios governantes (o candidato a vice-presidente do filme, Raymond Shaw, tem seu cérebro controlado pela Manchurian Global). Não é nada necessariamente novo, mas é um lembrete essencial (e impactante) sobre o que está realmente acontecendo no mundo. O que o filme realmente sugere de (semi) novo é a idéia de que políticos com ideais conservadores se disfarçam de liberais (o personagem da Meryl Streep), mas até isso já havia sido mencionado no original (comunistas escondidos acusando outros políticos de comunismo).
Aliás, o filme só perde realmente nas suas comparações ao original: ele perde o mistério (a personagem ambígua da Janet Leigh) e o senso de cinismo e paródia descarada, e o senso de humor excitante que adicionava uma nova camada à narrativa -- a vantagem disso sendo que rir das desgraças é mais ousado e enfurecedor do que mostrar elas. E é inegável que o filme tenta martelar a mensagem com toda a força possível, de jeitos óbvios e deselegantes. Mas os flashbacks alucinados ainda seguram, no entanto: montagens rápidas de imagens deliciosamente malucas e sci-fi-icas de soldados amarrados com tubos na cabeça, mulheres árabes com rostos pintados falando mensagens políticas, lavagem cerebral ocorrendo à visões de desenhos animados do exército, um "cientista maluco" do melhor estilo, etc etc etc. O filme também tem um elemento novo que eu gostaria de mencionar, mas é um spoiler (fica no final).
SPOILER
No final, agora a identidade do assassino é alterada pela polícia -- uma operação secreta, possívelmente livre de interferência da Corporação (ou pelo menos daquela Corporação... *arrepios*) -- para afetar e incriminar diretamente a Manchurian Global. Eles alteram por computador a figura do Denzel pra a de um funcionário da Manchurian, manchando a imagem deles para o mundo todo (envolvidos com o assassinato de políticos adorados). Não é totalmente plausível, mas levanta uma dúvida moral muito interessante: a de que o "heroísmo" da polícia federal também envolveu uma Mentira -- uma enganação total do povo. Só assim eles conseguiram atingir a Manchurian, com um sacrifício de integridade e de honestidade (pelo menos parcial). Implícita fica a pergunta: foi correto? Etc.
FIM DOS SPOILERS
Alguém mais viu algum dos dois? Alguém tem alguma opinião sobre o final do remake? Etc?
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