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Sidarta (Hermann Hesse)

Pips

Old School.
Hermann Hesse, laureado com o prêmio Nobel de Literatura em 1946, viajou à Índia na década de 1920 procurando iluminação, um direcionamento diferente do militarismo alemão na Primeira Guerra Mundial. Dessa busca saiu Sidarta, baseado na tradição de Siddhartha Gautama, o Buda, um romance sobre questionamentos existencialistas através da busca pela plenitude espiritual (considerado por muitos, parte de uma trilogia escondida entre Demian, Sidarta e O Lobo da Estepe).

Sidarta é filho prestigioso da religião Brâmane1 que vive uma infância e juventude longe de qualquer contato com o mundo exterior. Dotado de calma inegável tinha sede pelo saber, até que um dia resolve saciar sua vontade de separar-se do seu eu e conhecer o mundo através de uma peregrinação com nômades conhecidos como samanas. Abdicando sua vida de luxos e acompanhado pelo seu amigo de infância Govinda.

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além do livro, a adaptação para o cinema feita em 1972 também ficou excelente. pena q só é encontrada nos porões da net, como o meu pc, :hahano:
 
Acabei de ler este livro. Conversando com um amigo sobre este livro, chegamos a conclusão de que é um livro simples e profundo. Além de ser fácil de ler, este livro de Hesse toca a gente. Nos faz pensar sobre nossas próprias buscas interiores...
Recomendo a leitura.
 
Maura Corrêa disse:
Acabei de ler este livro. Conversando com um amigo sobre este livro, chegamos a conclusão de que é um livro simples e profundo. Além de ser fácil de ler, este livro de Hesse toca a gente. Nos faz pensar sobre nossas próprias buscas interiores...
Recomendo a leitura.
Concordo com você Maura. O texto é muito leve, mas vamos lendo e percebendo que a história é muito profunda.
 
[align=justify]Pois é, o flerte de Hesse com a filosofia oriental é profunda e de uma reverência sem igual. A jornada do Sidarta é uma daquelas histórias que você lê e fica anotando trechos para se lembrar depois. Eu mesmo anotei uma porção aqui a tiracolo.

Gosto muito do ascetismo do Sidarta para alcançar a revelação superior ou transcendência, como o livro é tão pleno quanto aparentemente é 'vazio' no sentido de poucos acontecimentos típicos de reviravolta. Sidarta alcança o que busca não pela saturação de pensamentos, pela compilação massiva da realidade, mas pela reflexão a partir da simplicidade, da observação paciente e contemplativa, que nem por isso deixa de ser menos ativa e perspicaz.

Isso me faz pensar sobre a diferença do ritmo de vida de Sidarta para a nossa hoje em dia: somos 'obrigados' a ter epifanias diárias, cumprir prazos, buscar massivamente por conhecimentos, referências, leituras e reflexões; bem ao contrário da humanidade do tempo vivenciado pelo jovem Sidarta. Gosto muito disso no livro, sempre me faz pensar um bocado sobre as coisas.[/align]
 
Uma coisa excepcional que há no "Sidarta", e também no "Lobo da Estepe", na minha opinião, é que os personagens centrais não seguem um caminho óbvio: eles seguem conclusões parciais, se perdem, assumem novas posturas... Acho mais fácil acompanhar o percurso que eles vão desenvolvendo do que dizer, ao final, se Hesse queria com a história concluir isso ou aquilo. Sempre termino pensando se, afinal, aquela era a resposta definitiva ou só mais uma resposta parcial.

Em "Sidarta", por exemplo, o personagem principal não é o Buda. Embora esteja em busca de algo semelhante, ele segue um percurso muito mais tortuoso. Fiquei muito impressionado com o momento em que ele se envolve com a Kamala, a cortesã, e eles se põem a zombar dos outros homens. Em alemão eles usam a palavra "Kindermenschen", um termo muito forte, que deve ter sido cunhada pelo Hesse, não tenho certeza, mas que expressa perfeitamente a soberba de considerar os outros como tendo uma visão menos madura do mundo. Era sinal de que não estavam indo bem...
 
Acho que, para mim, o que fez o livro ser tão belo é que ele vive uma vida "normal". Ele vive sua vida e vai ponderando se encontrou o que desejava. Ele sabe o que é não ter, o que é ter tudo e também sofre como qualquer pessoa sofre
como quando seu filho o rejeita

e em nenhum momento ele se angustia por nao ter, mas se envergonha do que fez. Hoje em dia acontece o contrário.
 
Em Sidarta, gostei muito da filosofia sobre o rio, pura contemplação, serenidade e humildade. O protagonista também vive maus bocados quando se envolve com o comércio, não só com a paternidade.

Acho que Lobo da Estepe é bem diferente de Demian e Sidarta. Em Demian e Sidarta, existe aquele ar de superioridade. Demian, o ser perfeito. Sidarta, um buda que prova os prazeres carnais e o ascetismo e não opta por nenhum. No Lobo da Estepe não, nele se fala do valor dos considerados fúteis. Aqueles que transam e dançam. Os delírios no Lobo da Estepe são bem mais interessantes do que a momania com a Fênix e Demian.
 
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Rodovalho disse:
Em Sidarta, gostei muito da filosofia sobre o rio, pura contemplação, serenidade e humildade.

Pois é, essa é uma das passagens mais legais do livro, uma das que estão mais vivas na minha memória. A contemplação de que tu falaste é maneira mesmo, mas justamente porque ela não é meramente a absorção passiva de algo, mas o exercício ativo de observar, apreender, compreender e reelaborar. É uma contemplação epifânica para Sidarta, é algo que, por mais aparentemente irrelevante que possa parecer, tem um valor profundo para o asceta. Aliás, essa é uma das marcas tanto de Demian como de Sidarta, coisas pequenas levam a desdobramentos grandes, obviamente que não por si só. Algo muito legal de se pensar. :think:

Rodovalho disse:
Acho que Lobo da Estepe é bem diferente de Demian e Sidarta. Em Demian e Sidarta, existe aquele ar de superioridade. Demian, o ser perfeito. Sidarta, um buda que prova os prazeres carnais e o ascetismo e não opta por nenhum. No Lobo da Estepe não, nele se fala do valor dos considerados fúteis. Aqueles que transam e dançam. Os delírios no Lobo da Estepe são bem mais interessantes do que a momania com a Fênix e Demian.

Ainda não li O Lobo da Estepe, mas sempre que ouvi alguém falando sobre, essa pessoa ressaltou uma grande diferença entre ele e os romances anteriores de Hesse. Acho que O Lobo da Estepe (segundo o que ouvi e li por aí) aquele clima mais calmo e às vezes até idílico, que aparece em Sidarta e Demian, é substituído por uma brutalidade incipiente. Enfim, não vou comentar mais até tê-lo lido.

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Só a título de curiosidade: alguém aqui já leu O Jogo das Contas de Vidro? Se alguém leu poderia traçar alguns paralelos entre o Sidarta e esse romance para enxergarmos em um recorte mais longo?[/align]
 
Sidarta é o livro favorito do meu pai chinês. Por mais de um ano ele me falou sobre a história, o quanto ela ficou marcada na vida dele e um dia me presenteou com o livro. Adorei, é simples e verdadeiro. Bonito. E muitas vezes eu pensava "como eu queria fazer você (sidarta)agir diferente!" mas o gostoso mesmo é ele ser como é,sabem?
 
Terminei neste final de semana.

A princípio eu considerei que o livro contém muita projeção de matriz cristã, mas isso ocorre apenas pela forma como o protagonista se inicia na vida ascética. Logo fica claro as várias influências brâmanes em seu desenvolvimento. Contudo, realmente me surpreendeu a disposição do protagonista por seguir um caminho próprio — me levou até a pensar que se tratava de um jeet kune do literário —, em que a participação de Gautama se torna mesmo algo marginal — os dois se encontram e concordam em vários pontos, mas Sidarta prefere seguir sua própria jornada, sem tentar estabelecer um método.

Quando penso nisso da jornada, me lembro que Hesse era amigo pessoal de Jung, que tampouco estabelecia um método de autorrealização, já que tudo quanto transcorre para alguém diz respeito apenas a essa pessoa, tanto em imagens como em chaves de interpretação. Daí que apesar do choque da vida desregrada de Sidarta na segunda metade, ficou claro que havia um sentido para aquilo, para que a conclusão de Sidarta sobre a vida fosse uma revelação deveras revolucionária até para quem enxergasse o budismo como um método. É um final que me lembrou bastante do de Laranja mecânica, de Anthony Burgess.

Sobre o estilo, penso que Hesse realmente fez "franquia de autor" porque quase todo livro dele é um percurso, variando apenas os pontos de partida dentro da trama. O Sidarta é precoce, o Emil de Demian precisa ser estimulado e Harry de O lobo da estepe está diante do abismo, mas todos precisam de alguém que os guie rumo à autorrealização, se debatendo entre o que parece ser a norma e uma nova abordagem que precisam encontrar dentro de si. Curioso é que faz sentido: é como diz o sertanejo, "beber, cair e levantar". Se fosse fácil ter vida plena, o mundo perderia sua função.

PS: sugiro ler Sidarta e em seguida Vida de um homem, de Chiara Frugoni.
 
O romance de Hesse foi nutrido pelo que era então uma percepção ocidental altamente idealizada e romantizada da Índia como um centro espiritual, apesar das inúmeras invasões coloniais no país. No presente, esse fenômeno se expressa, por exemplo, no entusiasmo contínuo pelo ioga ou best-sellers como Comer, rezar, amar, filmado com Julia Roberts no papel principal.

Não sei se rio ou se choro com essa comparação. :lol:
 

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