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[Shroud] [POA-21]

Shroud

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"Artyom... Artyom!"
Matheus me observava com a mais pura expressão de medo no olhar. O observei por alguns segundos, ainda meio desnorteado depois de uma noite de sono naquela improvisada cama.

"Artyom... they are here" - vieram as palavras, no mais básico inglês possível.

Aquelas frase mudava tudo. Levantei o mais rápido possível da cama, já com o sangue correndo à todo vapor. Finalmente tinham me encontrado, mas pelo menos tive tempo de me preparar. As primeiras luzes do sol raiavam no céu, e a alvorada vinha acompanhada pelos distintos sons de helicópteros.

O jovem garoto me observava em choque da cadeira de seu computador. Dentro do cômodo apenas as seis telas utilizadas para seu ofício nos forneciam luz.

"Go... this is not your fight. You already did enough for me" - disse enquanto observava os céus pelo meio das rústicas persianas da única janela de nosso barraco.

Sem mais palavras, Matheus levantou-se e passou pela porta que levava ao segundo andar do maior complexo de barracos de POA-21. Ainda é cedo, não vai ter problemas com as facções, pensei, lembrando de quando tinha conhecido o jovem que tanto me ajudou à troco de pouco.

Andei calmamente até o banheiro. A higiene pela manhã é a mais importante do dia, lembrei sorridente de um comercial que vi durante minha infância em Kiev. Já conseguia ouvir passos rápidos nos andares de cima enquanto escovava meus dentes. Os helicópteros se aproximavam cada vez mais.
Quando terminei de mijar, os helicópteros já estavam sobre minha cabeça. Gritos começavam a ser ouvidos pelo complexo, com a polícia invadindo barraco atrás de barraco, a minha procura.

Agora falta pouco, pensei enquanto sentava-me confortavelmente na cama. Procurei por alguns segundos minha mochila no chão, com preguiça de me levantar. De dentro tirei minha confiável Uzi, comprada já fazem anos em Moscou. Examinei o pente e a deixei preparada para atirar. Depois disso, acendi um cigarro. Por que não? Pode ser meu último, pensei.

Estava tudo pronto. Eu estava pronto. Agora restava esperar.​

Um minuto se passou. Dois, três... quatro. Logo já tinham se passado mais de dez. Foi então que ouvi passos no corredor. Já tinha passado por isso no mínimo nove vezes, mas a adrenalina insistia em se fazer presente. Ergui a Uzi em direção à porta e fiquei a espera.

Um silêncio total se instituiu. Os passos cessaram, e os helicópteros já não podiam mais ser ouvidos. Meus batimentos cardíacos e respiração, por outro lado, estavam mais nítidos do que nunca.
Contei um, dois... três segundos, até que a porta foi aberta e um grupo de policiais entrou.

"POLÍCIA, POLÍCIA!"
"MÃO NA CABEÇA VAGABUNDO!"

Os bérros de cinco ou seis policiais se uniam, fazendo com que quase nenhum fosse intendível. A abertura brusca da porta fez com que uma onda de poeira se levantasse, e o silêncio voltou. Contei seis policiais ao todo, com mais três do lado de fora. Fora do barraco, a uns duzentos metros atrás de mim, consegui ouvir a respiração de um sniper e seu observador.

A poeira baixou, e todos os seis policiais se entreolharam, surpresos de me encontrarem ali, sentado em minha cama, calmamente fumando um cigarro. Sorrí e sussurrei, com um sorriso no rosto, uma única palavra enquanto acionava o gatilho de minha Uzi.

"Bang!"

O único barulho que se ouviu foi o de um pente sem balas. A emoção no olhar dos policiais era explícita. A surpresa se transformou em puro medo ao verem minha submetralhadora, que depois se transformou em confiança, ao notarem a falta de balas na mesma.

Mais um segundo se passou. Acho que os presentes estavam se perguntando se aquilo tinha mesmo acontecido, e se eu estava realmente ali. Mas essa confusão só durou este segundo, porque no próximo todos os seis policiais abriram fogo em minha direção. O barulho de seis rifles disparando ao mesmo tempo é único. Ensurdecedor.

Todos os seis esvaziaram os pentes de suas armas antes de notarem que os tiros eram completamente inúteis, e estavam sendo parados a meio metro de distância de meu corpo, em um tênue campo de força. Os policiais entraram em choque. Sem ter outra alternativa, o seu líder ergueu a voz.

"N-nó-nós temos setenta of-ficiais nos arredores, e... e três tanques vindo em sua direção. R-renda-se e sobreviverá!"

Observei o corajoso homem por alguns segundos, antes de respondê-lo com meu forte sotaque.

"Setenta e dois."

Ele me observou, confuso.

"Se esqueceu do sniper nas minhas costas" - disse, enquanto abaixava o campo de força. Mais de cento e oitenta balas caíram em unisono ao chão, e um tiro na distância pode ser ouvido. Os policiais presentes provavelmente nem notaram o que aconteceu pela velocidade, mas o tiro vindo do rifle de precisão foi redirecionado por outro campo de força, atingindo um dos policiais na cabeça.

Um dos homens gritou surpreso, ao ver seu companheiro caído, e o medo era visivel nos outros, que agora exitavam em direção à saída.

"Diga aos seus superiores que, com persistência, poderão me matar. Não consigo erguer esses campos para sempre."

"Mas também diga que, se eu morrer, POA inteira vai para os ares. Veja..."
- disse com calma, enquanto me levantava da cama e ia em direção ao oficial ali presente.

"Esse chip dentro de mim serve como uma bomba humana. Se o destruírem, não vai ser só POA-21 que sofrerá os efeitos. Na-na-não. O país inteiro será afetado, de uma forma ou outra."

Suspirei, com meu rosto a poucos centímetros do dele.

"Agora... não queremos que isso aconteça, né? Imagina só o que os castelhanos farão quando a maior base militar desse continente for destruída?"

Balancei minha cabeça negativamente, rindo de leve.

"Então é muito simples. Quero um Orca com gasolina suficiente para me levar até a Ásia. Só isso que peço. Deixarei seu paízinho de merda em paz."

Sem pestanejar, o comandante liderou seu grupo, que agora já carregava o morto, para fora do barraco. Duas horas depois, quem diria? Um Orca me esperava em frente à minha antiga morada.

...​

Os homens, que já estavam impressionados com minhas vitórias durante a jogatina, se entreolhavam, incrédulos. O jogo de pôker tinha sido colocado em segundo plano com minha história. Algumas palavras em vietnamita foram ditas, mas nada que eu pudesse entender.

"E foi assim, meus caros, que eu tomei refúgio no remoto Vietnã."

...

Autor: Shroud.
Gênero: Cyberpunk/sci-fi.
Título: POA-21.
Imagem: Autor.
 

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