explica essa estória aí melhor @
Bruce Torres
Recentemente eu comentei sobre o assunto no blog
Demais Considerações Literárias em um tópico sobre o Pós-Estruturalismo e o porque de eu ter minhas reservas em relação a isso. Pois bem, ocorre que essa mania pós-estrutural atingiu em cheio a Academia, o Establishment, a Intelligentsia, o Diabo a Quatro depois da década de 1960, graças aos estudos de Barthes, Derrida, Foucault e outros putos. Eles deram um passo além de Lévi-Strauss - não era mais suficiente saber a origem dos interditos, dos costumes, da dinâmica (psico)social, etc.
(Vocês já devem saber disso, mas é só pra estabelecer o contexto em que surgiu essa acusação.)
Pois bem, existia uma filósofa feminista chamada Sandra Harding. Um filósofo, a princípio, estuda fenômenos e sentidos - só que ela foi mais longe. Se antes os filósofos escolásticos tentavam incutir em fenômenos cosmológicos uma lógica divina - apenas para os modernos chegarem a uma visão naturalista, afinal -, ela resolveu que, ei, os matemáticos estavam tentando forçar uma visão própria (leia-se, "estupro") no estudo dos fenômenos naturais.
"One phenomenon feminist historians have focused on is the rape and torture metaphors in the writings of Sir Francis Bacon and others (e.g. Machiavelli) enthusiastic about the new scientific method. …But when it comes to regarding nature as a machine, they have quite a different analysis: here, we are told, the metaphor provides the interpretations of Newton’s mathematical laws: it directs inquirers to fruitful ways to apply his theory and suggests the appropriate methods of inquiry and the kind of metaphysics the new theory supports. But if we are to believe that mechanistic metaphors were a fundamental component of the explanations the new science provided, why should we believe that the gender metaphors were not? A consistent analysis would lead to the conclusion that understanding nature as a woman indifferent to or even welcoming rape was equally fundamental to the interpretations of these new conceptions of nature and inquiry. In that case, why is it not as illuminating and honest to refer to Newton’s laws as “Newton’s rape manual” as it is to call them “Newton’s mechanics”?"
Fontes:
The Science Question in Feminism, de Sandra Harding.
Imposturas Intelectuais, de Alan Sokal e Jean Bricmont.
Vemos acima uma tentativa de criar uma equivalência semiótica (falsa) entre "mecânica" e "estupro". O que Newton estabelece em seus
Principia é uma conclusão das leis físicas (e naturais e mecânicas) de corpos em movimento, etc. É apenas um tratado matemático, mas Harding lhe dá uma conotação de "manual de estupro" - só que a "mecânica" é algo que independe de observador (Newton não conhecia física quântica), sendo o resultado final calculável e o mesmo dentro das mesmas condições. A não ser que a autora creia que o "estupro" é um impulso - ainda assim impossível de calcular e apreender dentro de uma base científica precisa -, uma leitura possível de sua declaração, essa analogia não faz o menor sentido.