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[Sev.] [Anjo da Ira] [L]

Sev.

Wannabe Innovator
Autor: Sev.
Gênero: Fantasia
Título: Anjo da Ira

PRÓLOGO
Mais um anjo para nos guardar

“Acordei. Tudo indicava que esse nascer do sol começaria apenas mais um dia comum no qual eu me dedicaria à lavoura como sempre. Como um homem pode estar errado. Após os olhos estarem livres de qualquer traço de sono, eu tomei café da manhã com minha mulher e meus filhos. Saí de casa com um sorriso no rosto, pois estava na época da colheita de minha amada lavoura e, consequentemente, ganhar um pouco de ouro para eu e minha família termos o que comer no Natal que se aproximava.
Comecei a trabalhar, com meus filhos me ajudando, pois já estavam na idade de me ajudar no trabalho braçal, e Emmanuelle brincando no gramado em volta da plantação. Emmanuelle era uma criança muito diferente das outras, pois nunca tinha ficado doente até esse dia, em seus quinze anos de vida.
Alguns minutos depois de começarmos a trabalhar, o sol subiu no céu e passou da altura das imensas árvores da floresta que margeava a minha propriedade no lado leste, de modo que, quando minha mulher nos chamou para o almoço, nossa nuca já estava queimada e meus filhos já tinham calos nas mãos. Durante o almoço, ouvimos o alegre discurso de Emmanuelle e a variedade de animais que ela avistou e brincou naquele dia. Emmanuelle também despertava nossa curiosidade porque todos os animais, inclusive os raivosos e selvagens, se aproximavam dela como se sempre tivessem convivido com ela e sempre faziam o que ela mandava, mesmo que isso contradissesse ao instinto deles.
Voltamos à tarde para a lavoura para finalizar a colheita e encontramos um homem que nunca tínhamos visto na vila ou na região: ele vestia uma armadura de aço reforçado, uma espada cuja lâmina era feita de um metal branco reluzente e as flechas e o arco, ambos feitos de madeira negra. Ele disse-nos que fora enviado pelo homem que comprava nossos vegetais para levá-los até seu chefe. Entregamos uma porção e pedimos que quando voltasse para pegar o que sobrou dos vegetais, trouxesse o nosso pagamento, uma vez que necessitávamos de alimentos para o Natal, vestimentas e calçados.
Veja como a prioridade de um homem pode mudar em poucas horas. Algumas poucas horas após o homem que pegara nossos vegetais, eu estava com um barril no riacho próximo à minha casa, motivo pelo qual eu habitava ali, para pegar água para bebermos e nos banharmos quando minha filha veio saltitando em minha direção. Reconheci que era ela pela leveza dos passos na grama. Ao postar-se ao meu lado, ela disse-me com sua voz doce e suave:
- Papai, - ela me disse, com sua voz melodiosa, extremamente calma – tem um bicho na lavoura.
Depositei o barril ao meu lado e pedi para Emmanuelle:
- Peça para sua mãe me trazer a minha foice. Depois, quando eu for para a lavoura, vocês levem o barril de água para dentro, por favor.
Ela voltou para casa correndo e, algum tempo depois, apareceu com a mãe. Esta carregava a foice. Peguei minha arma improvisada e fui calmamente em direção à lavoura, pois imaginava que era um de meus ciumentos vizinhos com um cão, a foice em riste pronta para acertar a única coisa móvel naquela noite mal iluminada. Conforme fui me aproximando, a coisa – não achei termo melhor – parou e levantou a cabeça. Consegui ver os olhos da criatura: eram vermelhos como uma brasa e tão brilhantes quanto uma estrela, como se estivessem em chamas. Eles se voltaram para mim e a criatura se ergueu. Eu nunca vi algo assim ou ouvi falar sobre criatura semelhante. Ela tinha mais de três metros de altura, chifres tortuosos, braços enormes e musculosos, quatro patas de lagarto para se sustentar, um par de assustadoras asas abertas e uma espada do meu tamanho em cada mão. Na mesma hora que olhei para aquela criatura imensa, me apavorei e ataquei-o, quebrando a foice em uma de suas pernas, mas ele simplesmente riu e me disse com sua voz grave e tenebrosa:
- Seus legumes estavam gostosos, mas preferi a carne de seus filhos!
Após dizer isso, a criatura apontou para uma pilha de ossos. Comecei a chorar e meus joelhos cederam. Ao ver minha reação, o monstro riu. Uma risada fria que congelou minha alma.
- O que você é? – gritei entre lágrimas, com a fúria crescendo dentro de mim.
- Eu sou um demônio. Mas não sou um demônio qualquer. Sou da raça Mennorott, a raça abissal mais poderosa dos Abismos da Perdição, lar do mais puro e intenso mal de todo o Universo. – ele respondeu, deu uma risada gélida e, em seguida, bradou: - Sua hora chegou!
O demônio levantou o braço direito, com uma expressão triunfal no rosto deformado, pronto para me dilacerar. Antes do golpe final, uma luz atrás do demônio brilhou como o sol e a expressão de triunfo se transformou em dor. A única coisa que tive tempo de fazer para evitar minha morte por esmagamento de um demônio foi rolar. Então vi um anjo e, fincada nas costas do ser abissal, uma lança prateada. Agora que via uma dessas criaturas celestiais de perto, admirei-me com seu brilho e sua beleza. O anjo pousou e me disse, com sua voz melodiosa que cura sofrimentos:
- Sou eu, papai. Sua filha Emmanuelle. Sou assim porque fui gerada da bondade que há em você com a que há na mamãe. Agora que assumi minha verdadeira forma, terei de partir para o lar de todos os anjos, as Selvas Celestiais de Dokk-Norr. Adeus.
Então minha filha bateu suas recém-adquiridas asas e subiu. Assim que ela saiu de minha visão, recomecei a chorar. Não por causa dos meus filhos mortos, mas porque perdi toda minha descendência em uma noite.”

Trecho de “Diário de um Camponês”

Meu primeiro post aqui, o prólogo da minha história. Está em spoiler porque ficou meio grande. Continuarei postando aqui, mas só tenho 8 capítulos prontos :/
 
Capítulo 1
Memórias de uma anja chamada Emmanuelle
Emmanuelle acordou. Sonhara com o dia em que se tornou anjo de novo. Não conseguia esquecer sua família, embora todos já estivessem mortos. Emmanuelle tinha 15 anos quando virou anjo. Passaram 85 anos desde a morte de seus pais. Mas hoje era um dia especial para Emmanuelle. Hoje completaria 140 anos como anjo. Agora, uma breve explicação de como é um anjo. Um anjo é como a maioria imagina. Beleza incomparável. Asas com plumas. Luz interior visível. Mas nem todos os anjos são homens. Na parte superior do corpo há a diferenciação dos homens e das mulheres. As mulheres apresentam seios. Porém, a lenda de que anjos são assexuados saiu dos humanos, pois eles não viam a diferença no corpo por causa da túnica que sempre ondula mesmo sem vento. E anjos não apresentam órgãos reprodutores. Mais alguns fatos sobre nossos amigos celestiais, se ainda não enjoou de tanto papo: primeiro, eles possuem o dia da glorificação, que é o dia em que eles viraram anjos, correspondente ao dia do aniversário nosso, e nesse dia é permitido a eles virem a terra para comemorar trazendo um amigo celestial, desde que se escondam; segundo, o número de asas deles é variável, ou seja, nem sempre apresentam apenas um par; terceiro, os anjos possuem sete poderes, sendo eles: Memória, Saúde, Metamorfose, Cura, Toque (tudo que um anjo toca se torna abençoado, mas, se um humano é tocado, ele se torna um anjo do tipo mais fraco), Sabedoria e Aura (o anjo emana uma aura de bem e pode sentir a aura do mal dos demônios); quarto: os anjos podem comer, mas não precisam expelir. Continuando a história. Emmanuelle estava esperando sua melhor amiga, Quamara, para irem para a terra de Amaryllys, antigo lar de nossa personagem principal. Esta chegou enquanto Emmanuelle estava perdida em pensamentos. Um instante depois, as duas saíam das Selvas Celestiais e iam para um local distante do vilarejo. Pousando no topo de uma colina, metamorfosearam-se somente para esconderem as asas e a luz que irradiava delas, e foram em direção à vila, com a aparência de belas aldeãs. Entrando na rua principal, Emmanuelle lembrou-se do dia de suas primeiras palavras, pois fora naquela mesma rua, há 147 anos, quando completou oito anos. Voltava para casa com sua mãe, sorridente, pois acabara de ganhar uma boneca linda de presente. Ao passar próxima à entrada da taverna, uma menina pobre pediu:
- Eu nunca tive uma boneca... Hoje estou fazendo 10 anos... Você poderia me dar essa linda bone-ca? Prometo tomar conta dela direitinho!
Emmanuelle, sem hesitar entregou a boneca para a pobre menina. Esta saiu saltitante e gritou, já ao longe:
- Muito obrigada, menina! Que Deus te abençoe e te leve para os céus!
Ao ver essa cena, a mãe de Emmanuelle a arrastou para casa, bateu no traseiro dela e gritou:
- Você acabou de ganhar aquela boneca! Ela nos custou muito caro e você simplesmente a entrega para uma pobrezinha qualquer que lhe pede?
Emmanuelle, para a surpresa de sua mãe, respondeu sem gritar ou chorar:
- Eu fiz o que meu coração achou certo, eu fiz o que traria a felicidade a mim, mas, acima de tudo, eu fiz o que fiz para deixar a menina feliz também.
A mãe de Emmanuelle ficou chocada por vários motivos. Primeiro, sua filha acabara de falar. De-pois, ela falou uma série de palavras complexas (para eles, uma vez que eram camponeses e costumavam falar coisas com sentido óbvio), tinha uma voz melodiosa e também não sentiu nenhum abalo por ter apa-nhado ou repreendida.
- Minha filha! Você falou! – exclamou a mãe em uma surpresa tão grande que esqueceu a raiva que sentiu da filha
- Emmanuelle? Você está bem? – perguntou Quamara.
Emmanuelle foi trazida de volta à realidade e sua primeira imagem foi a expressão intrigada do ros-to de Quamara.
- Estou bem sim, Quamara. – respondeu Emmanuelle, sacudindo a cabeça.
- Você realmente está bem? Pois, para mim, está tudo bem se voltarmos agora – falou Quamara.
- Eu realmente estou bem, Quamara! Como poderia estar doente se sou um anjo?!
- Não sei Emmanuelle, mas muitas vezes o dom da Metamorfose tira outros dons, e o primeiro sempre é o dom da Saúde.
- Eu sei Quamara... Mas o que realmente aconteceu foi um descontrole do dom da Memória... Agora que já te expliquei o que está acontecendo comigo, continuemos o nosso passeio.
Continuaram a caminhar pela vila observando bem as pessoas e suas ações. Prosseguiram até a proximidade de um armazém, onde decidiram entrar e ver alguma coisa para comerem, uma vez que esta-vam disfarçadas de humanas e isso melhoraria a interpretação da raça. Ao entrarem, o velho homem ao balcão perguntou:
- O que as senhoritas desejam comprar deste pobre homem?
Com essa fala, Emmanuelle lembrou-se do tempo em que o avô desse senhor de idade era apenas uma criança, mais nova do que ela, com quem ela brincava. Essa criança era filha do dono do armazém daquela época e, um belo dia, deu para Emmanuelle um belo pão com pedaços de carne cozida. Ela pe-gou esse “presente” e falou para o menino:
- Vamos entregar um pedaço desse lanche que aparenta ser apetitoso e dá-lo para um pobre que não tem nem o que comer?
A criança aceitou e, apesar de não saber, aquela menina o deixou um pouco mais próximo de ser Tocado por um anjo.
- Você tem certeza de que a sua amiga está bem? – perguntou o bom senhor, trazendo Emmanuelle de volta à realidade.
- Tenho sim – respondeu Quamara – Ela só está com fome. Muito obrigada pelos pães! Tenha um bom dia! Vamos, Emmanuelle.
O senhor, que não se lembrava muito bem das histórias que seu avô lhe contava quando era pe-queno, achou aquele nome vagamente familiar.
- Emmanuelle, você está aparentando não estar bem. Realmente acho melhor que a gente volte. – disse Quamara, enquanto comiam, apesar de não precisarem, e iam em direção à igreja.
- Claro que não precisamos voltar Quamara! – respondeu Emmanuelle, levemente chateada com a insistência de sua amiga - Estamos quase chegando ao cemitério para ver o túmulo dos meus pais! Faz 55 anos que quero vê-lo, mas no meu dia da glorificação desses últimos tempos foram gastos apenas em guerras contra demônios.
- Então vamos até lá apenas porque estamos perto. E, por favor, pare de ter esses lapsos de me-mória porque está assustando a todos.
- Vou tentar – respondeu Emmanuelle – Mas se eu tiver outro, por favor, me desperte.
Após alguns minutos de caminhada lenta, Emmanuelle se lembrou do dia em que viu o primeiro demônio em sua vida. Estava ela e o pai voltando do armazém, alguns dias antes do dia da glorificação, quando um demônio voou por sobre uma casa e mergulhava na direção deles. Foi quando um anjo desceu dos céus e atingiu o ser maligno com sua espada dourada reluzente, matando-o. Após isso, o servo de Deus subiu aos céus. Emmanuelle, depois de assistir essa cena, perguntou ao pai:
- Algum dia eu vou conhecer onde esses seres majestosos vivem papai?
O pai, com medo de frustrar a filha, respondeu:
- Claro, minha filha.
- Emmanuelle! Você está tendo outro lapso. – disse Quamara para trazer a amiga de volta ao pre-sente.
- Desculpe-me Quamara. É que essa vila me traz muitas lembranças.
- Eu sei amiga. Mas você não pode deixá-las te dominar.
- Tudo bem. Depois eu me preocuparei com esses lapsos. Agora, será que podemos entrar aqui no cemitério e acabar com nossa viagem?
As duas entraram no cemitério. Uma foi procurar na metade da direita e a outra foi na metade da esquerda. Emmanuelle olhava lápide por lápide para achar a dos seus pais. Após algum tempo, Quamara chamou:
- Emmanuelle, acho que você quer olhar esta aqui melhor.
A anja foi encontrar a amiga que estava na frente de uma estátua de um anjo de marfim que olhava para o céu, com as feições todas desgastadas por causa das chuvas e dos ventos. Abaixou os olhos e leu os nomes que estavam na placa de bronze, Após ter lido, Emmanuelle sentou na grama verde que recobria apenas aquela sepultura do cemitério e começou a chorar. Era o túmulo de seus pais. Quamara abraçou a amiga e com uma das mãos sacou uma falcione e gravou na placa de bronze uma frase com tamanha precisão que nenhum artesão conseguiria imitar. A frase era a seguinte:

Vou-me sem nenhuma descendência, mas minha filha me guiará aos céus

Assim que acabou de gravar essas palavras no bronze, Quamara olhou rapidamente à volta. Não vendo ninguém, abraçou Emmanuelle e a levou de volta para um lugar especial. O que Quamara não sabia é que foram observadas.

Capítulo um finalmente aqui. Agora, o dois eu posto daqui a 2 semanas pra dar tempo de arrumar umas coisas a partir do capítulo três
 
Última edição:
Mudança de planos

Capítulo 2
Do céu ao inferno

Além do dia da glorificação, outro dia que podemos avistar anjos é quando há uma invasão abissal. Portanto, só avistamos um anjo quando avistamos um demônio momentos antes. Enquanto não acontece algo para avistarmos asas celestes, voltemos às nossas heroínas. Quamara está consolando Emmanuelle no lugar mais sagrado para os anjos na Terra, o Vale dos Nove Imortais. Esse lugar é majestoso, com nove estátuas enormes de pedra esculpidas pela natureza e, aos pés das esculturas e feito pelos homens, nove buracos fechados com portas de ferro maciço e lacradas.
- As minhas lembranças de quando era humana não param de aflorar em minha mente, Quamara! – disse Emmanuelle, entre lágrimas.
Quamara, sem palavras, abraçou a amiga em uma tentativa de acalmá-la. Após alguns minutos, Emmanuelle parou de chorar.
- Podemos ir? – perguntou Quamara.
Emmanuelle estava prestes a responder que sim quando sentiu algo. Era a aura abissal mais pode-rosa que Emmanuelle já havia sentido, incluindo a aura que sentira quando virou anja. Mas a aura reduziu de intensidade com a mesma rapidez com que surgira. Emmanuelle, virando-se para Quamara, disse:
- Quamara, prepare suas armas, pois há demônios muito próximos deste lugar magnífico.
Ambas sacaram duas falciones douradas e aguardaram. A aura se aproximava lentamente. Um pouco depois, ela aumentou e desapareceu. As anjas relaxaram e sentaram no chão. Quamara, porém, avistou um vulto se esgueirando além das estátuas. Com um movimento rápido, ela alçou voo e foi até onde estava o vulto, derrubando-o e imobilizando-o.
- Parado, demônio! Nem tente reagir, pois estamos em maior número e já preparadas para entrar em combate! – bradou Quamara com uma das falciones apontada para a cabeça do pobre ser vivente.
- Calma dona anja! Sou apenas um simples aldeão querendo ver um pedaço das Selvas Celestiais! – respondeu o jovem.
- Desculpe-me... - disse Quamara, muito constrangida.
- Não foi nada... Agora, após essa calorosa recepção, posso saber o nome das senhoritas?
- Primeiro, diga-nos o seu.
- Meu nome é Theros Morieth, aventureiro da vila de Amaryllys. Eu viajava em um grupo de 15 pes-soas, mas um demônio matou as outras 14. O demônio evitava vir para esse lado, então corri para cá e acabei encontrando vocês.
Emmanuelle então percebeu a desfiguração de Theros, pois ela o conheceu havia apenas um ano. Ele ganhara uma feia cicatriz na bochecha esquerda, uma grande queimadura no braço direito e uma ex-pressão bela e feroz no rosto. Uma grande mudança passara por Theros que, de um adolescente magro e medroso, tornou-se um jovem forte e sagaz.
- Prazer, Theros. Sou Quamara Nematra e esta é a minha amiga, Emmanuelle Amra.
- Emmanuelle... Já ouvi esse nome... – disse Theros, pensativo.
- Já ouviu – disse Emmanuelle, olhando para seus pés – Há exatamente um ano, quando eu vim pa-ra Amaryllys. Você estava me seguindo pela cidade, evitando ser visto. Então eu me virei e comecei a con-versar com você.
Então, como se estivesse vivenciando aquele momento novamente, Theros viu uma menina de sua idade, com belos cabelos negros cacheados, olhos verdes, pele alva como a túnica que a vestia e um perfume diferente de qualquer outro que já tivesse sentido. Ele, por outro lado, não tomava banho havia semanas, tinha a pele em tom de moreno encardido, os cabelos negros embaraçados e sujos cobriam os olhos incrivelmente azuis e uma roupa preta imunda que achara no lixo nesse mesmo dia, durante o amanhecer. Os pensamentos de todos voltaram bruscamente à realidade quando dezoito homens, todos equipados com armaduras negras que pareciam absorver a luz e espadas enormes, apareceram no topo da depressão. O mais alto e robusto de todos bradou claramente:
- Todos vocês, parados! E, se as senhoritas anjas tentarem alguma fuga aérea, iremos usar todo o nosso poderio para abatê-las.
- Onde? – caçoou Quamara.
Subitamente, os dezoito homens se transformaram em Mennorotts.
- Aqui mesmo – disse o mesmo demônio, enquanto os outros partiam para lutar.
Theros empunhou sua única arma – um machado de duas mãos – e partiu para a briga, porém, um dos demônios o derrubou com um golpe de seus punhos.
Quamara e Emmanuelle sacaram suas falciones e partiram para a defesa do humano. Os demônios investiram contra as anjas com tamanha ferocidade que até uma alcateia de lobos famintos fugiria daquele lugar. A batalha que ocorreu naquele lugar foi terrível. Quamara decapitou um demônio que estava tentando acertá-la e empurrou o corpo dele em cima de outros três que vinham em sua direção. Emmanuelle arran-cou os dois braços de outro demônio, mas foi atingida por pelo menos quatro demônios diferentes. Quamara, ao ver que sua amiga caíra em combate, foi atrás dela para salvá-la. Derrubou mais três demônios no caminho, porém acertaram-lhe as costelas e ela caiu inconsciente a alguns metros de onde matara o primeiro demônio. A última cena que viu antes de mergulhar nas negras profundezas da inconsciência foi um dos demônios pegando Emmanuelle e jogando-a sobre um de seus ombros. Após isso, Quamara desmaiou. Algumas horas depois, quando acordou, encontrou Theros ainda inconsciente. Tentou levantar-se, porém veio à inconsciência novamente. Alguns minutos depois, Theros acendera uma fogueira e estava em prantos ao lado de Quamara. Então a anja percebeu uma dura e obscura realidade: Emmanuelle ganhara uma viagem só de ida até o ponto mais profundo dos Abismos da Perdição.

Um capítulo curto, já arrumado
 
Capítulo 3

Início da Grande Guerra

Cativeiro

Emmanuelle acordou. Estava apenas com sua túnica branca, em uma cama dura. Tentou pensar, mas sua cabeça doía muito. Seus membros estavam insensíveis, suas asas também e sua vista estava embaçada. Ela piscou e viu que o teto era irregular. Portanto, deduziu estar em uma caverna. Esse simples pensamento a deixou inconsciente de tanta dor. Acordou minutos depois, sem sentir incômodos. Ela olhou para uma parede da caverna. Ela tinha duas portas lado a lado e ambas estavam abertas para fora. Emma-nuelle levantou-se rapidamente para fugir, mas encontrou um humano parado na cela observando-a. Ele estava sentado em um banco de pedra, segurando um prato de comida. A aparência desse humano era aterradora. Pele mais branca do que a neve, cabelos negros reluzentes como a pelagem de um urso negro e olhos de um azul profundo, que eram sem emoções e assassino, como as profundezas do mar. Emmanuelle o encarou por alguns segundos e, logo após ter constatado de que ele sozinho não a seguraria, disse:
- Você aparenta ser um humano bom.
O estranho ser com a bandeja de comida concordou com a cabeça.
- Você sabe com o que está mexendo?
O humano acenou com a cabeça. Emmanuelle decidiu que era hora de fugir dali. No segundo se-guinte, o humano estava imobilizado e com a bochecha encostada no chão. O humano, mesmo imobilizado, não estava com nenhuma expressão no rosto. Emmanuelle falou, tentando expressar que ela estava no comando agora:
- Você pode até saber com o que está lidando, mas com certeza não consegue contê-lo.
O humano então sorriu um sorriso sem emoções, sem expressão, e disse:
- Com certeza eu tomei as devidas precauções para que você não fuja.
A voz dele era gélida, grossa e calma, como se o repentino ataque da anja não tivesse o abalado. O jeito de falar do humano causou um arrepio em Emmanuelle, mas o pior não tinha nem começado a acontecer. Após seu pronunciamento, o humano levantou-se, arremessando a anja para o outro lado do quarto. Quando olhou de novo para o outro ser no cômodo, Emmanuelle viu o humano estava trans-formando-se. Cresceram-lhe asas de morcego imensas e mais um par de pernas. Os braços ficaram maiores e mais musculosos. A coluna cresceu, concedendo-lhe um rabo de lagarto e um par de pernas. O tórax expandiu-se. A face desfigurou-se. Em segundos, o humano anormal virou um Mennorott. O demônio ficou ereto e disse:
- Uma dessas precauções sou eu mesmo. E, aproveitando que tive de revelar a minha verdadeira forma, bem-vinda aos Abismos!
Com essa frase, ele saiu da cela, enquanto a anja sentia o impacto das palavras.

Vale dos Nove Imortais

Quamara acordou. Ainda estava no vale, com Theros onde Emmanuelle fora sequestrada pelos demônios. Lembrando-se desse fato, Quamara levantou-se agilmente, espanou sua armadura branca e observou a área ao seu redor. Não havia nenhum sinal da batalha de outrora. Nem Theros, que estava ron-cando no fundo do vale, ganhou uma nova cicatriz. Só que Quamara estava estranhando apenas uma coi-sa: pássaros não piavam nas árvores que cercavam o local. Quamara, distraída pelos roncos de Theros, começou a pensar no provável motivo daquele silêncio todo. Inconscientemente, a boca de Quamara deixou escapar uma única palavra, baixinho:
- Taeghen...
Com esse nome, um anjo com dezoito asas materializou-se na frente de Quamara. Ele tinha uma aparência majestosa até para os anjos, mas não era sem razão, uma vez que ele é o general angelical des-de a primeira guerra entre anjos e demônios. Sua voz era alta e clara e retirava o medo do coração dos aliados para colocá-lo no coração dos inimigos. Assim que apareceu, Taeghen disse:
- Olá novamente, Quamara. Há quanto tempo... Pena que, desta vez, nos encontremos na prepara-ção para uma guerra.
Dito isto, apareceram todos os anjos existentes atrás de onde se encontrava Taeghen. Alguns forjavam armas, com as batidas metálicas ecoando por todo a vale; outros treinavam para combate, com golpes devastadores que podiam derrubar elefantes; outros ainda discutiam táticas de guerra sobre o terreno em que provavelmente lutariam; mas todos tinham um mesmo objetivo: resgatar Emmanuelle a qualquer custo, sem importarem-se com os demônios que estavam na terra. Taeghen gesticulou para Quamara para irem para outro lugar, menos barulhento. Ela seguiu seu líder como que mecanicamente, uma vez que nunca viu os anjos tão concentrados na mesma missão. Taeghen disse:
- Como você pode ver, temos muitos recursos para lutar, mas nenhum para nos defender. Preciso que você encontre alguém para nos ajudar nessa tarefa. Ele é um humano, mas possui habilidades que nenhum outro tem.
Quamara decolou e partiu rapidamente rumo à moradia de um velho conhecido, enquanto Theros acordava com o barulho das marteladas da forja celeste. Ainda um pouco atordoado, levantou-se, esfregou os olhos e percebeu o que tinha acontecido. Perguntou, com medo da resposta:
-Onde está Emmanuelle?

Abismos da Perdição

Emmanuelle estava estupefata pela notícia que recebera do demônio. Como uma anja como ela poderia ter entrado no reino abissal? Deduzira que alguém a tinha carregado, pois a última coisa de que se lembrava era da batalha no vale. Com fome, ela pegou um pedaço de pão na bandeja deixada pelo demô-nio e o comeu. Esperava que Taeghen fizesse alguma coisa para libertá-la. Tinha certeza de que Quamara também participaria. Mas, até lá, esperaria, tendo apenas aquela comida ruim para se alimentar.

Agora vou parar um pouco para corrigir errinhos por aí na história
 
Capítulo 4

A visita divina

Perto de Amaryllys

Quamara voava realmente muito rápido. Não se importava com os humanos apontando para ela, muito menos com os pássaros que achavam que ela era um predador. Agora, ela cumpria a missão mais importante de sua existência: achar a única pessoa que vivia sem que quase ninguém soubesse de sua existência. Era a pessoa que tinha mais tragédias em sua vida do que a história da terra. E era também a única pessoa que poderia ajudar os anjos a salvar a ovelha perdida. Quamara chegou até uma muralha alta, com apenas uma entrada. Apenas por educação, parou. Se algo tão importante não estivesse em jogo já teria entrado. Chamou por algum guarda para ajudá-la. Um guarda, meio sonolento, gritou do alto da muralha:
- Quem é e o que deseja?
- Quero ver o seu chefe e diga a ele que é um assunto urgente, pois a vida dele e de todos vocês depende disso.
O guarda, agora transtornado por aquela estranha que interrompeu seu sono falar que a vida de to-dos dependia do chefe dele. Normalmente era apenas uma vida que era posta em jogo. Foi chamar o chefe dele, um assassino de aluguel muito respeitado cujo nome era Faraniel Oroviel.
Enquanto esperava, chegou ao seu lado, ofegante, Theros, perguntando:
- Por que raios você partiu sem mim?! Eu sempre sou útil!
Alguns minutos depois, o dono de todo aquele pequeno reinado apareceu à porta. Era pequeno, magro, com olhos negros como ônix e cabelos longos ocultando seu rosto fino de pele muito alva, resultado de seus serviços noturnos. O resto do corpo era coberto por uma túnica negra, sob a qual era possível avistar alguns trechos de uma armadura também negra. Após alguns segundos de contemplação, o humano fez uma reverência breve e respeitosa à anja. Quamara então disse:
- Levante-se, Faraniel. Não vim levar a sua alma dessa vez. Vim para pedir os seus serviços.
O assassino pareceu surpreso ao ouvir da anja que os seres divinos precisariam de um serviço de-le, mas isso só poderia indicar uma coisa: as coisas lá embaixo estavam descontroladas e alguém precisa-ria entrar e ver o que estava errado antes do ataque final. Além disso, o fato de ter sido chamado para fazer esse serviço intrigou Faraniel. Algum anjo tinha sido capturado. O anjo que sempre fazia esse serviço, pois voava com a leveza de uma coruja e andava com a furtividade de um gato. O anjo que, um dia, salvara a vida de Faraniel. Enquanto pensava nisso, Quamara disse:
- É exatamente por isso que você foi chamado, meu caro. Você deve sua vida à Emmanuelle e, de-pois de todos esses anos, finalmente poderá retribuí-lo.
Como Faraniel fez um voto de silêncio eterno depois da morte de sua mãe, ele pegou sua espada e riscou no chão: “Interessante... Devo presumir que ela foi capturada pelos demônios?”. Quamara respon-deu:
- Sim. Ela não pode vir pessoalmente, mas você sabe que ela te agradecerá muito quando conse-guir sair.
Faraniel encarou a anja por alguns segundos e tornou a escrever no chão: “E o que eu ganho com isso?”. Nesse ponto, Theros perdeu toda a paciência. Derrubou o assassino no chão e gritou com ele:
- Você não deixa de pensar em recompensa nem para retribuir um favor? Vocês, assassinos, nunca mudam! Fazem tudo por um punhado de cobre! Não pensam em nenhum momento tentar agradar algum anjo para ir às Selvas no lugar de morrer?
O humano deixou o humano esvaziar a fúria para então reagir. Com uma mão, empurrou Theros pa-ra o lado enquanto a outra o levantava. Após ficar de pé, num piscar de olhos já estava segurando o guer-reiro com uma faca no pescoço enquanto a outra mão escrevia novamente: “Você realmente acha que eu não penso nisso? Você realmente acha que, depois do dia em que vi a beleza celestial, eu consegui pensar em alguma outra coisa? Cada dia que passa é mais um dia sem cumprir a promessa de retribuir o favor de Emmanuelle”. Quamara leu isso e falou, com a voz um pouco tremida na tentativa de conter o choro:
- Desculpe Faraniel. Eu realmente achei que você não se importasse com o fim do mundo...
O assassino largou Theros e escreveu novamente: “Desculpas aceitas. Vamos, pois o tempo não para e Emmanuelle já pode estar morta”. Então, Quamara agarrou os braços dos humanos e preparou-se para partir, porém o assassino esquivou-se. Tinha algo a fazer antes de partir. Entrou e trancou o portão. O guarda sonolento olhou para dentro e desceu correndo. Ouviu-se um som de trombeta vindo do lado de dentro. Parecia uma cerimônia. A trombeta parou de tocar. Um dragão ruge em algum ponto do lado de dentro. Ouve-se um clamor da multidão. Então, um dragão branco, com os olhos de um amarelo feito ouro e emitindo rugidos para ir à guerra, sobe nos céus com Faraniel em suas costas subindo e, logo após, descendo ao lado de Quamara. O assassino estava com um grande sorriso estampado em sua face. Assim, os dois partiram, na aliança mais estranha da existência até hoje.

Abismos da Perdição

Emmanuelle decidiu pensar em um meio de fugir. Não aguentava mais ficar naquele maldito local silencioso, onde a coisa mais barulhenta era as asas emplumadas de anjo se mexendo. Primeiro analisou bem o lugar. Era baixo, com o teto ainda na pedra rústica, as paredes com um trabalho muito precário para transformar o buraco em uma caverna circular. A cama, apenas uma tábua com um colchão muito desgas-tado, estava presa na parede por pesadas correntes e um par de dobradiças. Ao lado da porta de saída da prisão, ficava a porta para o banheiro. Esse pedaço da cela era o pior. Uma latrina transbordando de deje-tos e uma pia que soltava uma água imunda. Felizmente, ela não precisaria entrar lá tão cedo. Nesse lugar também tinha uma única coisa, que diferenciava essa cela da dos humanos: um rubi bem grande incrustado no centro do teto, emitindo luz e dando a tudo uma impressão de combustão. Ela reconheceu a pedra como o fogo primordial, popularmente conhecido como coração de fênix. Então, a mente da anja se iluminou. Um plano surgia em sua mente e aquela pedra no teto lhe serviria muito bem. Mas, para realizá-lo, teria que abrir mão de algumas coisas. Não que agora, após os demônios terem quebrado a regra primordial, isso importasse muito. Não importava nada para Emmanuelle desde que descobrira esses problemas de ser um anjo. Sem mais pensamentos racionais para impedi-la de fazer isso, Emmanuelle começou a armar o seu plano.
 
Depois de ter meu notebook violentamente sequestrado pelo meu irmão por 2 LONGAS SEMANAS finalmente voltei para postar o próximo capítulo

Capítulo 5

Em busca da ovelha perdida

Vale dos Nove Imortais

Quamara, Faraniel e Theros chegaram e encontraram Taeghen esperando-os. O dragão, após deixar seu dono em segurança, voou em direção ao forte do assassino, esperando o chamado para agir nova-mente. Ao ver o general, o assassino fez uma reverência, em sinal de respeito ao grande líder que estava à sua frente. Taeghen, vendo isso, disse:
- Poupe suas energias, Faraniel. O seu caminho será tortuoso e cheio de obstáculos, portanto, tente manter-se escondido o tempo todo. Se um demônio te descobrir, você morrerá em vão.
O humano levantou-se e tirou a túnica. Uma armadura negra de couro, que parecia absorver a luz ao seu redor revestia o corpo do humano que, apesar de ser pequeno, tinha grande condicionamento físico. Junto à sua cintura, o punho negro de duas espadas apareciam: as lendárias armas do assassino, Sussurro e Suspiro. As botas de Faraniel eram feitas de um couro estranho, fazendo com que os sons dos passos não fossem ouvidos. O assassino, então, virou-se para seguir Taeghen para ver o que teria de fazer para ajudar Emmanuelle. Um tumulto se iniciou próximo de onde estavam. Quamara decidiu investigar o que estava acontecendo e descobriu Theros sendo contido por cinco anjos, enquanto se debatia. Então virou-se para acompanhar os dois, até chegarem ao centro do vale, onde um buraco estava aberto. Taeghen parou próximo ao pequeno túnel que conduzia ao submundo e esperou a chegada de Faraniel e de Quamara. Assim que os dois chegaram, o general estendeu ao humano uma máscara negra e disse:
- Ponha isto. O ar dos Abismos é toxico para os humanos devido a um tipo de gás inflamável. Esta máscara irá permitir a sua sobrevivência, além de ajudá-lo a ocultar-se enquanto estiver lá. Seu objetivo principal é localizar Emmanuelle, mas, se possível, tente ver quão organizados os demônios estão para uma guerra.
Faraniel pegou a máscara e colocou-a imediatamente no rosto, ao mesmo tempo em que Taeghen chamou mais alguns anjos para ajudá-lo a retirar uma pedra muito grande, que tampava a entrada de uma caverna. Do lugar recém-aberto, uma fumaça esverdeada começou a ser expelida e Faraniel, mesmo com a máscara, sentiu o cheiro forte de enxofre da névoa tóxica. O assassino olhou para o general dos anjos, fez um sinal com a cabeça e foi rapidamente para dentro da caverna. Havia um caminho ali dentro, inclinado para baixo, com um fulgor vermelho emanando do outro lado. Faraniel levantou sua túnica negra, pôs o capuz que a peça de roupa possuía e seguiu, parecendo um vulto negro. Chegando ao fim do túnel, após muito tempo de caminhada, uma visão magnífica chegou aos olhos do mortal. Um grande abismo circular estava à sua frente, com uma rampa que começava próxima aos seus pés e descia apoiada na parede do buraco. Ao fundo, um grande poço se encontrava bem no centro da gigantesca cratera, mas, no lugar de água, havia a mais pura e incandescente lava, gerando o brilho avermelhado do lugar inteiro. Aqui e ali, alguns demônios se arrastavam para sobreviver à fúria de um Mennorott que descia. Após alguns segundos de contemplação, o assassino prosseguiu em sua procura pela anja sequestrada. Desceu então pela estrada, atrás do demônio raivoso, em completo silêncio. Enquanto andava, o humano percebeu que a descida tinha buracos, onde provavelmente demônios mais fracos habitavam. Pensou: “Se eu tiver que revistar esses buracos um por um, o mundo acabará antes que eu conclua a missão.” enquanto descia. Ao chegar ao fundo, o Mennorott que estava à sua frente transformou-se em um humano extremamente pálido com cabelos negros e entrou em uma de muitas ramificações que havia no fundo da cratera. O assassino seguiu-o. Ao entrar, Faraniel ficou estupefato. Ali, centenas de milhares de portas, cada uma contendo algo ou alguém que se mexia, vigiados por alguns demônios. Porém, a última porta do corredor era vigiada por três Mennorott, que não pareciam reagir ao exterior. No meio dessa porta havia uma pequena janela com uma grade para observar o prisioneiro. Faraniel, contra seus instintos, olhou por aquela abertura. Então, algo afiado encostou-se em suas costas. O assassino abaixou-se. Um demônio abriu a porta da cela e foi recebido por um jato de fogo que saiu do interior da cela, consumindo seu corpo inteiro e o de seus companheiros, enquanto o intruso corria para se salvar.

Abismos da Perdição

Emmanuelle estava muito ocupada, tentando quebrar um pedaço da cama de madeira que ela de-veria usar para dormir sem fazer barulho. O plano era realmente simples. Pegar uma vara de madeira e quebrar o fogo primordial. Mas tinha um pequeno problema nesse plano. Depois de quebrada, a pedra arderia em chamas até consumir-se inteira para assumir uma nova forma. A anja, enquanto pensava nos últimos detalhes, conseguiu pegar o pedaço da cama. Não fez nenhum barulho muito alto. Bom. Com o pedaço da tábua recém-removido, correu até o banheiro, encolheu-se atrás da porta e arremessou a lasca de madeira em direção à pedra. Enquanto o pedaço da cama voava em direção à pedra, um rosto familiar, meio coberto por uma máscara, apareceu na janela da porta. O rosto abaixou-se rapidamente, alguns milésimos de segundos antes do fogo primordial romper-se. Assim que o rubi no teto rachou, fogo começou a tomar conta de tudo. Emmanuelle fechou a porta para evitar uma explosão no banheiro. Como as portas eram de pedra, nada queimou além das portas. Ou quase. No instante que o fogo começou a sair da pedra, um demônio abriu a porta e o fogo expandiu-se rapidamente pelo caminho de menor resistência. Faraniel saiu correndo com uma agilidade que nenhum humano jamais atingiria para escapar. O fogo vinha feroz e rapidamente atrás do assassino, mas o ofício do humano ensinou-o a ser esquivo e precavido. Assim que o fogo começou a aproximar-se demais, Faraniel tirou uma carta da manga. Ou melhor, uma magia. Com alguns gestos, criou uma muralha de gelo atrás dele, que, apesar de ter durado apenas um segundo, conseguiu impedir a passagem do fogo por tempo suficiente para o mortal escapar do túnel. Após isso, o buraco no Vale dos Nove Imortais ruiu, impedindo sua transposição. Enquanto isso, nos Abismos, o fogo primordial assumiu a forma de uma lança e Emmanuelle a pegou. Assim que tocou a lança vermelha e quente, a anja transformou-se em uma humana. Isso era o preço que todos os seres divinos pagavam quando tocavam nos elementos primordiais. Agora que se tornou humana novamente, Emmanuelle sentia calor. Sentia fome. Sentia-se triste de ter abandonado Quamara. Mas podia escapar. Depois se preocuparia em retornar às Selvas. Primeiro fugiria. Então, empunhando a lança, Emmanuelle partiu em direção à porta, que foi meio derretida pela explosão de chamas, pronta para enfrentar todos os demônios e finalmente sair dali.
 
Capítulo 6

Arrumar a casa

Vale dos Nove Imortais

Assim que o assassino saiu do túnel, alguns anjos correram para impedir o fogo de sair e queimar todo o lugar, enquanto Faraniel estava estatelado no chão, aparentemente muito abalado da corrida. Theros parou de tentar entrar no túnel para ver o que acontecia. Quamara abaixou-se para ver o que acontecera com o humano, a pedido de Taeghen. A anja levantou-se rindo, e disse:
- Ele só está dormindo! Não perdemos nosso aliado dessa vez, mas é melhor cuidar dele enquanto ainda vive.
O general celeste, aliviado, aproximou-se da caverna que levava aos Abismos para ouvir o que os anjos que ali estavam dizendo.
- Por aqui, é praticamente impossível alguém com armas comuns atravessar. Precisamos abrir outra ligação, mas não conhecemos nenhuma ainda existente e que possa ser reaberta com facilidade.
- Eu conheço um meio de abrir uma. – disse Taeghen – É tão antiga quanto eu. Mas precisa de cer-tos elementos para que seja aberta. O maior problema é o que são e onde estão os artefatos para a abertu-ra desse portal.
Quamara levantou os olhos para seu superior e viu que o anjo tinha um olhar vago, como se não estivesse presente. Taeghen lembrava-se dos seus primeiros dias como anjo. Na época, estava voando sem nenhum problema, aproveitando sua nova forma, quando viu alguns anjos, levando algumas armas diferentes, discutindo entre si.
- Mas... O que devemos fazer com essas armas? Não podemos deixar que o mal que as criou to-que-as novamente.
- Claro que iremos escondê-las. Primeiro vamos decidir aonde irá cada uma delas para separá-las e impedir qualquer tentativa de reuni-las novamente.
- Desculpem-me a intromissão – disse o jovem anjo Taeghen – mas eu posso ajudá-los?
- Diga-me quem é você – disse o anjo com uma aparência de ser o líder – que direi o que pode fa-zer
- Sou Taeghen Barsil. Sou um anjo novo, por isso você não me reconhece.
- Muito bem, Taeghen. Você pode me ajudar dizendo o que existe no mundo humano. Faz muito tempo que não desço e estou desatualizado. Precisamos esconder essas três armas. – disse ele, apontan-do para o que o anjo agora via ser um martelo, uma espada e um machado, de aparência sombria e muito diferente das armas celestes.
Taeghen parou um momento para refletir. Há alguns dias, estava no meio de uma guerra entre uma tribo de bárbaros com os ferreiros da nação. Também havia a nobreza, refugiada em algum lugar no Vale dos Oito Imortais, sendo protegida por alguns camponeses que moravam nos arredores, em um pequeno vilarejo chamado Amaryllys, e que foram equipados para serem capazes de atrasar os bárbaros até a che-gada de reforços. E foi isso que ele disse ao anjo superior.
Despertando de seu devaneio, encontrou Quamara olhando-o com ar de preocupação e murmuran-do algo como “mais um não”. Então, o general olhou para o céu, posicionou-se ereto, em todo seu esplen-dor, acordou Faraniel e perguntou para o assassino:
- Existe alguma tribo de bárbaros ainda nesta ilha? Uma que só possua mulheres.
O humano, ainda um pouco desconcertado por causa do cansaço, refletiu um pouco antes de es-crever uma resposta. Taeghen leu em voz alta para Quamara entender.
- “Existe sim, mas é pouco conhecida. Há, ao sudoeste, um pequeno reduto delas. Lá é onde dizem que a líder delas vive. É só o que sei sobre esse grupo de bárbaros”. Quamara, precisamos chegar rapidamente, antes que escureça e o grupo comece a armar defesas. Faraniel, - disse Taeghen, virando-se para o humano – preciso de todo o apoio de quem está sempre pronto para o combate. Posso contar com você?
O assassino levantou-se rapidamente, espanou a grama de sua roupa e confirmou sua aptidão para o combate. Logo após, Taeghen disse:
- Vamos então encontrá-las e conseguir o que precisamos.
E partiram, deixando Theros para trás.

Abismos da Perdição

Emmanuelle saiu do complexo de celas, um pouco ofegante, mas intacta. Graças ao poder de sua arma, queimou facilmente todos os demônios do caminho, uma vez que os elementos primordiais ferem todos os tipos de seres. Agora ela precisava achar o caminho certo para fugir dali. Seguiu o caminho quei-mado pelas chamas, o caminho por onde tinha a menor resistência, o lugar por onde o ar entrou e Faraniel saiu. Percebeu que o chão estava muito queimado, devido às chamas que seguiram por ali. Chegando ao fim do caminho, percebeu que pedras bloqueavam a saída, mas um pequeno espaço a permitia ver a luz do dia. Ela decidiu seguir o caminho mais curto entre ela e o mundo dos humanos. Começou a golpear violentamente as pedras com a lança de fogo primordial, fazendo-as derreter lentamente. Assim que começou a atravessar a barreira de pedras, viu uma cena que nunca antes vira. Todos os anjos, reunidos no mesmo ponto, treinando, fabricando armas e discutindo táticas para alguma coisa que ela saberia que agora era uma realidade. Mas antes de retornar a essa realidade, ela precisaria acabar de ultrapassar as pedras que estavam em sua frente. Pensando um pouco, ela começou a golpear na região da abertura para aumentar a brecha na muralha rochosa que ela criou. Passou mais alguns minutos trabalhando, até que conseguiu sair. Assim que pulou para fora, alguns anjos cercaram-na, enquanto outros fechavam o lugar por onde passara. Um dos que a cercava indagou-a:
- Quem é você? E como saiu com vida dos Abismos da Perdição?
- Sou eu, Emmanuelle.
- Mas a Emmanuelle verdadeira é uma anja! – respondeu agressivamente o anjo.
- Não mais, pois tive de usar essa lança de fogo primordial para fugir.
- Eu acredito em você, mas você terá de esperar Taeghen retornar para comprovar isso. Enquanto isso, peço à senhorita para sentar ali. E te amarraremos apenas por segurança.
- Tudo bem. – respondeu a humana Emmanuelle – Conheço os procedimentos daqui e não resisti-rei.
 
Olha, só não ponho mais capítulos aqui por falta deles. Mas aí vai o sétimo

Capítulo 7

Encontros e Desencontros

Sudoeste de Amaryllys

Sobrevoando a região, Quamara, que carregava o humano, avistou por entre as copas das árvores algo como se fosse telhados rústicos. Chamando Taeghen, desceram em um lugar próximo e se metamor-fosearam em humanos, simplesmente removendo as asas e o brilho interior de sua aparência celeste. As-sim, foram caminhando em direção do objeto que viram e, por entre as árvores, avistaram algumas mulhe-res caminhando na mesma direção. Seguindo um pouco pelo caminho, encontraram algumas cabanas construídas inteiramente de madeira, com algumas plantas no telhado e nas paredes, para auxiliar a camu-flagem do acampamento. Bem no centro da área, uma cabana aparentemente melhor construída, com uma árvore bem centrada na construção. Ao se aproximarem um pouco mais da vila, algumas mulheres, bem armadas para o lugar onde viviam, abordaram-nos.
- Quem são vocês e de onde vem? – gritou a mulher que parecia ser a mais forte do grupo que ali estava presente
- Quem somos não importa agora – respondeu Taeghen – pois precisamos falar com sua chefa. É urgente e pode salvar o mundo que vocês conhecem e tanto amam.
As guerreiras entreolharam-se, mas um pouco depois uma foi chamar a líder. Após alguns instan-tes, uma mulher, ruiva, robusta e ameaçadoramente bela saiu da cabana principal. Apesar de estarem em uma floresta, ela estava muito limpa.
- Eu sou a líder desse grupo. Quem são vocês e o que querem? – perguntou a mulher.
- Eu sou Taeghen Barsil. Estes são Faraniel Oroviel e Quamara Nematra. Nós precisamos falar com você a respeito de uma relíquia que foi entregue à líder deste bando há muito tempo e cremos que você o possui agora.
- Acho que eu tenho... Mas primeiro eu quero uma prova de confiança de vocês. Joguem suas ar-mas na minha frente e depois uma de minhas guerreiras vai revistar cada um.
Faraniel, apesar de contrariado a ter que fazer isso, jogou suas duas espadas de confiança, dois punhais envenenados e sete facas de arremesso. Os outros dois nada tinham a remover. Uma das mulhe-res que os encontrara primeiro começou a revistá-los. Após a verificação, a guerreira constatou que ne-nhum carregava nenhuma arma além daquelas já depositadas no chão. Então a líder daquela tribo disse:
- Acho que posso confiar em vocês por enquanto Sou Uliara Krisar. Vamos entrar e conversar me-lhor.
Eles caminharam à frente da mulher ruiva e entraram na casa que estava com a porta aberta. Alguns instantes após a entrada deles, a líder do grupo entrou e fechou a porta. O interior da cabana era bem fresco e arejado, com algumas janelas. Encontravam-se em um grande salão, com uma mesa com algumas cadeiras e duas portas que davam acesso a outros cômodos. Uliara sentou-se na ponta da mesa e os visi-tantes sentaram-se próximos à ela. Então Taeghen tomou a palavra:
- Precisamos conversar sobre a relíquia recebida pelos seus antepassados.
- O que vocês sabem sobre meu passado? – indagou a guerreira.
- Necessitamos do artefato para um... Um experimento. – disse Quamara.
- O que vocês pretendem fazer com isso? – perguntou-lhes a mulher ruiva.
Se alguém naquela mesa estivesse realmente prestando atenção em Faraniel, dificilmente teria per-cebido que ele estava tenso e pronto para derrubar Uliara e imobilizá-la. Taeghen estava percebendo que a tensão na conversa se elevava rapidamente. Quamara viu alguém se mexendo. Olhou para o lado e viu mais algumas guerreiras da tribo aproximando-se da porta da cabana em que estavam. A anja olhou para Taeghen e Faraniel. Os dois rapidamente sinalizaram que viram a movimentação estranha. Então Quamara virou-se novamente para Uliara e disse:
- Antes de explicar meu experimento, conte-nos porque mais guerreiras sob seus comandos estão chegando.
Assim que Quamara terminou a frase, Faraniel saltou de sua cadeira e caiu por cima da líder do grupo. Os dois foram para o chão com a cadeira. Taeghen e Quamara correram para as portas e começa-ram a revistar os cômodos. Uma das portas levava até a latrina, para a qual não deram muita importância. O outro cômodo era o quarto de Uliara, com um grande machado negro pendurado sobre a cabeceira da cama. O general celeste avançou e o empunhou. Nada aconteceu. Alguns instantes depois ouviram Uliara gritar:
- Ao ataque, irmãs! Matem todos!
Então Faraniel entrou correndo no quarto antes que fosse capturado pelas guerreiras, enquanto os seres celestes voltavam às suas formas originais. Após terem revelado suas asas, um machado grande, mas ainda assim menor do que a relíquia atravessou a porta, dividindo-a em duas partes iguais. E assim começou a disputa pelo artefato maligno, com uma furiosa investida de Quamara contra a mulher que parti-ra a porta. Taeghen saiu logo após o ataque para defender sua amiga e o esguio assassino saltou pela janela para fugir dali. O general dos anjos viu a ação de Faraniel e gritou para ele:
- Não fuja! Fique e lute como um homem! – mas o humano já sumira de sua visão.
Uliara urrou e avançou violentamente contra o anjo que estava com o machado de suas antepassa-das, que habilmente esquivou do ataque e a derrubou no chão. Quamara estava combatendo cinco guerrei-ras ao mesmo tempo e aparentemente estava ganhando. Então a anja perguntou para Taeghen:
- Para onde foi Faraniel? Ele sempre é muito útil nessas horas.
Assim que acabou a frase, as mulheres ao seu redor pararam de atacar e caíram no chão, com as cabeças decepadas. A única que continuava com a cabeça unida ao pescoço era Uliara, que estava imobilizada por Taeghen. O assassino, que acabara de matar todas as guerreiras levantou-a e a amarrou sentada em uma cadeira. Quamara se aproximou e disse:
- Agora que você já fez a pior besteira da sua vida nós podemos te ajudar a consertá-la. Basta você querer.
- Desculpa. Não sabia que o machado era importante para anjos. Se precisarem de ajuda, podem me chamar. Só tenho a mim mesma neste mundo a partir de hoje.
- Muito obrigada. É bem provável que precisemos de toda a ajuda que conseguirmos agora.
- Agora que resolvemos esse assunto – disse Taeghen - podemos partir rumo ao próximo artefato?
E assim, o general, Quamara, Faraniel e a mais recente aliada seguiram rumo à próxima batalha que os aguardava.

Vale dos Nove Imortais

Emmanuelle estava ficando impaciente, outra emoção recentemente aflorada nela, com a demora de Taeghen. Sentia que algo importante acontecia, mas ela nada poderia fazer enquanto fosse humana. Precisaria de um ato de pureza para voltar a viver nas Selvas Celestiais. E um dos jeitos mais fáceis estava a alguns metros dela, soterrados por uma muralha de alguns metros de espessura de pedra. Sua lança caída estava muito próxima dela, porque os outros anjos não quiseram tornar-se humanos. Olhando rapi-damente ao redor, avistou um mapa, aparentemente descuidado, aproximando-se dela de um jeito pregui-çoso, sendo empurrado pela brisa suave característica do local. Estendendo o pé, o pedaço de papel en-roscou-se nele, e Emmanuelle pode então segurá-lo. Olhando um pouco, percebeu que se tratava de um mapa de toda a região, com alguns locais marcados em vermelho e o Vale onde estava com um círculo negro com algumas runas em verde. Apesar de não entender muito bem o significado do mapa, entendeu que alguma coisa precisaria ser feita naqueles locais marcados no mapa, pois era a mesma marcação usa-da em momentos de confronto mais extenso entre anjos e demônios. Então Emmanuelle decidiu agir. U-sando a ponta da lança, cortou as amarras que a prendia, guardou o mapa em um bolso de sua túnica e, ao levantar, avistou todos os anjos do lugar levantando voo e pousando próximos dela para impedi-la de ir para qualquer lugar. Mas, ao verem a lança que Emmanuelle empunhava, os seres celestiais mantinham uma distância segura. A humana falou para os que a cercavam:
- Abram passagem, por favor! Pretendo ir atrás de Faraniel para auxiliá-lo em sua jornada!
Os anjos obedientemente abriram uma passagem para ela, pela qual a humana mais recente passou rapidamente e foi perdida de vista ao horizonte.
 
Capítulo 8

De volta para o forte

Amaryllys

Chegaram a Amaryllys. Era aproximadamente o meio da noite. A pequena vila estava escura. Exceto por um pequeno ponto de luz em um dos casebres e uma leve penumbra em torno dos recém-chegados à cidade. Parecia que um deles emitia algum tipo de luz e que esse membro do grupo tinha se coberto o máximo possível para impedir de serem percebidos no meio da noite. Rapidamente o grupo avançou na direção da luz do casebre, com uma velocidade espantosa e aparentando uma ansiedade de chegar ao seu destino.

Próximo de Amaryllys

Um grupo se aproxima da vila ao nascer do sol. Um pequeno ser esguio, de feições ocultas nas sombras de seus longos cabelos negros e outros dois seres, ambos com grandes asas emplumadas e armaduras e armas douradas. Atrás desses três membros do grupo, havia uma quarta alma vivente. Uma mulher, de feições endurecidas por longas batalhas, de uma beleza feroz e selvagem, cabelos vermelhos como a chama viva das forjas e olhos brilhantes como pedras preciosas, aparentemente triste com algo. Assim chegou Taeghen e sua pequena, mas poderosa, comitiva a Amaryllys. Em outro ponto da vila, chega uma jovem, cabelos negros, olhos verdes e uma capa por sobre todo seu corpo. A aparência dela só não é comum por causa de uma imponente lança vermelha que ela carrega consigo. Assim chegou, à vila, Emmanuelle, aparentando ser uma simples camponesa armada ou uma grande guerreira disfarçada. A humana solitária estava com fome e com sede, então rumou até o centro da vila para saciar sua sede com água da fonte da praça. Ao chegar, avistou as asas de Taeghen à sua esquerda, ainda na entrada da cidade. Com uma sensação de missão concluída, rumou na direção do anjo. Já Taeghen, ao avistar a estranha humana com a lança se aproximar, já alertou os outros para prepararem-se para um provável confronto. Assim que Emmanuelle se aproximou do grupo, imediatamente Faraniel foi atrás dela, pronto para imobilizá-la em caso de agressividade. Mas à primeira fala do recém-chegado quase matou o assassino de susto.
- Vejo que já está mais cauteloso que o normal, Taeghen. Mas ainda não consegue reconhecer os aliados?
- Quem é você, humana? Descubra seu rosto! – disse o general celestial.
Então Emmanuelle retirou o capuz e todos se surpreenderam. Menos Uliara, que derrubou a humana e bradou:
- Você! Estou te reconhecendo! Foi você que destruiu minha vila e acabou ferindo mortalmente uma de minhas guerreiras contra aquele monstro enorme!
Todos ficaram estupefatos com a revelação. Mas Emmanuelle simplesmente respondeu:
- Ela não morreu por acaso. Ela iria se transformar em um demônio depois de algum tempo. Simplesmente antecipamos uma morte. Não sei se você notou, mas o cadáver dela depois virou cinzas.
- Não virou, não! – respondeu Uliara – Fizemos um enterro digno de uma guerreira, no qual a sepultamos junto com suas armas e armaduras!
- Provavelmente virou cinzas no caixão e vocês não a viram transformando. Você duvida de alguém que um dia habitou as Selvas Celestiais?
Nesse momento, Faraniel tirou Uliara de cima da humana de cabelos negros e Taeghen entrou entre as duas, dizendo:
- Esse não é o melhor momento para discutirmos problemas passados. Precisamos cumprir nossa missão antes.
- Mais tarde a gente acerta esse probleminha – respondeu Uliara, escapando do assassino – Para onde vamos, Taeghen?
- Ainda não sei... Precisamos primeiro saber onde fica a mina da cidade para pegar o martelo que deixamos lá há muitas gerações. Mas antes, acho que temos tempo de nos ocultar e para ouvirmos a história de Emmanuelle.
Todos concordam e saem juntos da cidade para um pequeno agrupamento de árvores nos arredores da cidade para que os anjos pudessem se metamorfosear em humanos e para ouvirem a fuga de Emmanuelle do submundo. Ao final da história, Taeghen estava envolto em pensamentos, refletindo sobre o que aconteceu com sua melhor guerreira. Chegou à conclusão de que só tinha um jeito de levá-la de volta com ele para as Selvas Celestiais de Dokk-Norr. E que só dependeria dela para voltar para lá. Após algum tempo, entraram novamente na cidade, devidamente disfarçados e prontos para qualquer confronto que pudessem enfrentar em sua missão. Emmanuelle perguntou:
- Taeghen... Eu sei que não deveria, mas te pergunto. Onde estamos indo?
- Vamos à frente. Nas minas mais precisamente. Os mineiros, que se recusaram a lutar e defender o reino e se isolaram nas montanhas ao norte, receberam um dos artefatos.
- E onde eles se localizam hoje? – indagou rispidamente Uliara – Informações do passado não nos ajudarão hoje em dia.
- Alguns se instalaram nas montanhas e boatos dizem que construíram uma magnífica cidadela subterrânea chamada Tirbor. Não duvido desses rumores. A maioria prosseguiu além das montanhas e fundaram outra cidadela ali, conhecida como Porto Leinwyn, mantida com riquezas que encontraram além-mar, as que encontraram na outra encosta das montanhas e as que trocam com o povo sob as montanhas. Mas o chefe deles, que ainda lucra muito e que constantemente viaja até o extremo norte, e alguns dos mineiros mais ricos retornaram para Amaryllys. Vamos atrás dos que estão aqui, pois somente os mais poderosos dentre os mineiros tem acesso aos pertences dos líderes antepassados.
Uma voz grave e calma disse:
- E qual será a estratégia dessa vez? Não podemos sempre contar com a sorte.
Em 5000 anos de existência celeste, servindo ao lado de 300000 anjos, nada nunca fez Taeghen se sobressaltar tanto quanto ouvir a voz de Faraniel. Para falar a verdade, a única pessoa que não se sobressaltou no grupo foi Uliara, pois era a única que não conhecia a história do assassino. Mas essa voz lhe trouxe recordações. Recordações de um passado distante. De um velório de uma mulher jovem que morrera num trágico acidente. De um homem desgraçado, entregue às bebidas. De um adolescente magro fugindo de casa para tentar sobreviver no mundo sozinho. De um ataque de bárbaras à vila vizinha, em que apenas um mendigo conseguiu matar algumas delas, enquanto a guarda mal conseguiu se aproximar das mulheres. De certo modo, ele também sabia disso. Mas ele simplesmente aguardava. Aguardava o melhor momento para se vingar. E a vingança seria violenta, mas não letal. Taeghen conhecia muito bem Faraniel para saber que estavam em um momento crítico para o assassino falar. Então, prosseguiu:
- Não contaremos com a sorte dessa vez. Tenho certeza de que o artefato que procuramos está aqui, no Grande Salão que os mineiros conseguiram erguer, cravado às entranhas de uma colina de rocha. Mas, antes, precisaremos de recursos para equipar Emmanuelle e quem mais necessitar.
O humano sombrio respondeu:
- Se formos para minha casa, possuo alguns equipamentos que talvez possam ajudar. Mas, caso estejam sujos de sangue, a culpa é do cadáver que sacou ela antes que eu a tomasse para a minha coleção particular.
 
Desculpem a falta de posts, mas a imaginação tá mais curta do que meu salário (sou desempregado no momento)

Capítulo 9 para vocês. O próximo está sendo digitado.

Capítulo 9

Lar, devastado lar

Perto de Amaryllys

Chegaram ao entardecer ao forte de Faraniel, pois era tudo planejado para não aparecerem muito. Ao avistar o líder do forte, os guardas se apressaram em abaixar o portão. Quamara avistou de canto de olho alguém se aproximando do grupo e virou-se, já sacando suas armas, para perceber que era Theros, extremamente cansado e ferido. Ao perceber o estado grave do amigo, a anja correu a socorrê-lo. Ao se aproximar, o humano começou a cair, praticamente morto. Quamara segurou-o e voou para dentro, berrando para Faraniel:
- Arranje algo para ajudá-lo! Rápido! Antes que ele parta!
O assassino se virou para pegar algo, mas Taeghen o impediu, dizendo:
- Ele não tem tempo para esperar seu retorno. Eu o curarei. Vamos rápido, pois ele beira o fim de sua vida.
O general pegou uma mão de Faraniel e uma de Uliara e seguiu o rastro de plumas deixadas pela pressa de Quamara. Chegaram na porta de um quarto e viram a anja depositando o corpo de Theros na cama, olhando com desespero para o superior. Taeghen pediu:
- Todos aguardem aqui do lado de fora. Quando parar de fazer barulho e luz, entrem. Vou precisar da ajuda de todos.
O humano sombrio correu para pegar bancos para todos e se sentou. Quamara andava de um lado para o outro, enquanto Uliara não entendia todo esse desespero por causa de uma pessoa que não fosse ela mesma, pois nunca teve um amigo. Então, um facho de luz pura saiu debaixo da porta, junto com uma sinfonia de todos os sons dos animais terrestres. Era um som forte e, ao mesmo tempo, agradável aos ouvidos. Após alguns minutos, o som e a luz pararam e a porta se abriu sozinha. Quamara entrou rapidamente e encontrou Taeghen caído no chão, Theros de pé e o chão extremamente molhado e escorregadio. A anja foi ajuda seu superior a se levantar, que murmurava:
- Trevas... Condenado... Condenação... Vidas...
Quamara assustou-se com as palavras pronunciadas e deixou o general deitado na cama. Enquan-to isso, o guerreiro estava parado, olhando para o pequeno bosque que cercava o reino próspero de Faraniel. Assim que o tumulto para ajudar Taeghen acabou, Quamara olhou para Theros e percebeu que sua mente vagava para além da janela. Então, decidiu perguntar:
- O que houve? Você olha pela janela como se algo lá fora te puxasse para longe daqui.
- O que está havendo tem relação com os ataques que sofri – respondeu Theros – quando vocês me deixaram para trás, no Vale dos Nove Imortais, decidi seguir para algum lugar seguro. Escolhi vir para cá por causa das muralhas e do guardião daqui. No caminho, encontrei três pessoas, uma delas envolta por muitos panos. Os três me atacaram juntos. O ser oculto fez algo que os panos que o envolviam me agarraram e imobilizaram. Um dos outros se aproximou. Pude ver pelas vestes que era um monge. Ele me olhou e me revistou. Tirou meu machado e minha armadura e jogou na fogueira. O outro então se aproximou. Era um guerreiro, com duas espadas estranhas. Ele me libertou das ataduras e falou que eu poderia viver se eu conseguisse acertar um golpe no monge em uma luta. Fomos até uma clareira ali perto, rodeada de corpos. Uns poucos ainda respiravam, mas já estavam condenados. Ficamos no centro do lugar. O guerreiro cutucou o ser oculto e ele cercou a área com suas ataduras para que eu não fugisse. O monge estava parado, sem guarda nenhuma. Contornei ele, conhecendo o terreno ao mesmo tempo. Ao chegar nas costas dele, tentei acertá-lo, silenciosamente. Ele agarrou meu pulso e acertou um soco em meu estômago que me fez entender os cadáveres ali presentes. O monge não teria piedade de mim nem por um mísero segundo. Por muito tempo tentei, sempre fracassando. Até que tive uma ideia. Fingi um soco na direção dele. No instante em que ele segurou meu braço, com o outro eu acertei o punho dele que vinha me atingir. Eles me deixaram lá e falaram para eu partir. Só consegui ver que eles se direcionaram para esse lado antes de cair na inconsciência. Ao acordar, vim o mais rápido que consegui para cá e encontrei vocês no fim de minhas forças.
- O que você acabou de dizer? – disse Faraniel, subitamente ao lado de Quamara – Três pessoas rumando para minha fortaleza?
- Sim, Faraniel – respondeu a anja – Três pessoas e, pelo que Theros disse, bem poderosas
- Então é bom que eu já prepare todos meus soldados para a resistência e esvazie o povoado que protejo com minhas muralhas.
Após falar, o assassino olhou pela janela e fez um sinal com uma das mãos. Instantes depois, uma corneta grave começou a soar por todo o lugar, acompanhada de um tambor. Imediatamente, todos os habitantes das casas no interior do forte que Faraniel construíra saíram e começaram a entrar em outra casa que ficava rente ao muro. Simultaneamente, centenas de soldados dirigiam-se à mansão de Faraniel. O humano disse:
- Fiquem aqui, cuidando de Taeghen. Creio que precisaremos mais dele num futuro próximo do que agora. Irei motivar meus soldados para defenderem onde eles habitaram por tanto tempo em paz e ordem.
O assassino desceu, encontrando todos os seus fiéis guerreiros no salão principal de sua mansão, como combinado. Caminhou até uma porta, de frente para os seus soldados, abriu-a e gritou:
- Peguem suas armas! Hoje vocês entrarão para a história deste lugar como os valorosos homens que protegeram seus lares a todo custo!
Os soldados, gritando em fúria e em amor à sua terra, entraram no arsenal e voltaram extremamente bem equipados, prontos para a batalha. Em minutos, estavam espalhados por toda a muralha, aguardando o inimigo que se aproximava.
Enquanto isso, Faraniel voltou de encontro com os anjos e Quamara o indagou:
- Como aquela casa tão pequena abriga tanta gente?
- Não abriga – respondeu o assassino – Ela tem um túnel secreto, lacrado e com várias armadilhas armadas para matar qualquer um que não saiba onde desarmar cada uma delas. Além disso, a entrada foi totalmente camuflada na entrada da casa. E ele guia até um abrigo nas montanhas, que eu e alguns mineiros que viviam aqui construímos para uma situação como essa que está para acontecer. Lá existem casas suficientes para todos os que moravam aqui que não ficaram para lutar e reserva de alimentos, além de ficar perto de uma floresta e de um rio e fica dentro de uma caverna que apenas eu e os mineiros temos em mapas.
- E como você já sabia que isso aconteceria?
- Eu não sabia. Mas me precavi para o pior. E, pelo visto, poupei a vida de muitos inocentes com isso.
Subitamente Taeghen acordou e olhou ao seu redor. Ao ver Faraniel, agarrou-o e o puxou para perto, dizendo:
- Prepare suas melhores defesas! Você não tem noção do que está por vir! Temos que fugir agora! Temos que, de alguma forma, dominarmos essa rebelião abissal que está acontecendo!
- Por quê? – disse Faraniel, subitamente tenso.
- Porque as pessoas que estão se aproximando daqui estão equipadas pelos Mennorott. Eles são muito mais fortes do que qualquer guerreiro que você encontrar no mundo.
Assim que Taeghen acabou de falar, soou uma trombeta, anunciando que os invasores foram avistados.
- Como você sabe disso tudo?! - indagou Quamara, estranhando o temor de seu superior.
- Eu percebi pelas memórias de Theros. Elas estavam tão nítidas por causa de seu sofrimento que consegui ver detalhes das cenas. O cinto e as botas do monge, a armadura e as espadas do guerreiro e o brilho do mago me indicaram isso tudo. Agora vamos. Precisamos ir antes que eles nos vejam. Não restará nada aqui além de corpos e destruição.
Convencidos, todos foram. Faraniel continuava relutante em ir e, antes de partir, foi em seu arsenal e levou consigo um arco feito de algum material estranho negro e detalhes de águias em prata, além de uma bainha com flechas feitas do mesmo material e pontas prateadas. Quamara levou Emmanuelle e Theros, Taeghen levou Uliara e Faraniel partiu em seu dragão, O assassino, ao olhar para trás, viu as muralhas de sua adorada fortaleza cedendo e desabando, levando consigo dezenas de soldados. Sacou sua espada, Sussurro, e murmurou:
- Morte aos destruidores de meu lar.
A espada brilhou em um azul pálido momentaneamente e depois voltou ao seu tom normal, enquanto o grupo desaparecia no horizonte.
 
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Agora eu comecei um blog com objetivos literários, no qual estarei postando os capítulos dessa história que comecei aqui. Por favor, acompanhem também lá

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