O tradicionalismo é o que há de mais conservador. Acreditar que uma sociedade é regida por elementos que transcendem o homem, por leis naturais, é negar as relações sociais de produção que se estabelecem pela capital, justificar a miséria e aceitar a desigualdade como traço inerente.
Humm, não é não. Crer nisso é afirmar que as relações sociais de produção não determinam infalivelmente os destinos humanos. E isso não é aceitar a miséria e a desigualdade. É aceitar que existe um nível de realidade mais profundo e amplo que o reino das transformações sociais e políticas, mera imagem de realidades transcendentais.
Julgar-me 'opressor' por não concordar com o seu marxismo é por acaso mais honesto? Creio que não.
E confundir tradicionalismo com conservadorismo é empobrecê-lo. O conservadorismo, junto com sua agenda moral, está ligado a uma visão político-econômica que o tradicionalismo não corrobora. De fato, a maioria dos tradicionalistas que conheço é marxista.
Não é por acaso que Plínio Salgado levantava essa bandeira: fundador da Ação Integralista Brasileira, membro da Arena e um dos piores quadros que a extrema direita já produziu. Sem contar a adoração ao fascismo.
E isso é simplificar também. Independente do fascínio doentio que Salgado tinha pelo fascismo, suas propostas integralistas eram mais conservadoras que tradicionalistas. Mesmo se assim não fosse, isso não me obriga a considerar a filosofia dele bela e moral. Eu discordo da infalibilidade da democracia mas não apoio os delírios integralistas.
Vale lembrar que mesmo que o autor do texto seja evoliano, ele é um católico romano conservador e entusiasta do integralismo.
Cliquei nesse link que você colocou, Paganus. Iria parar de ler no Plínio Salgado, mas continuei. Larguei quando se referiu ao Mussolini: "(...) foi este o início da amizade que uniu o mais irredutível dos antimodernos e o último dos Césares..."
É, Julius Evola, durante muito tempo esteve bastante ligado a Mussolini mas rompeu com ele quando percebeu que o Duce era só mais um megalomaníaco querendo usar da tradição romana como uma capa ideológica, e não era, de fato, um autêntico César.
Se você largar todas as opiniões e doutrinas por conta de associações, mesmo relativas, com movimentos totalitários ou pré-modernos, seremos obrigados a nos fechar no universo ideológico da modernidade, estranho, até contrário a tudo que acredito.