Siker
Artista Comercial / Projetista Gráfico
Vou usar como exemplo os trechos das atas que eu postei ali acima, começando com a questão do dinheiro público:E nesse caso eles estão consumindo dinheiro público para uma cerimônia alheia ao Estado, se é de cada um dos que estavam presentes é uma coisa, mas é uma questão pública, não de foro íntimo.
"O Vereador Marcus Eliseu Togni adentrou ao Plenário às 15h51, em decorrência de consulta médica. Havendo quorum, o Presidente declarou aberta a presente reunião e solicitou a todos que em pé, saudassem ao Pavilhão Nacional com uma salva de palmas. Em seguida, passou-se à leitura de um Salmo bíblico e à discussão e votação da ata da reunião anterior."
Exatamente quanto dinheiro pode ser perdido durante esta leitura do salmo? Você acredita, realmente, que tais leituras estão desperdiçando, em fato, dinheiro público? Neste caso a salva de palmas também deveria ser proibida por estar desperdiçando dinheiro público?
Agora, quanto a cerimônia:
"Pelo Senhor Presidente foi dito que havendo número regimental para dar início aos trabalhos, declarou aberta a sessão, proferindo as seguintes palavras: "SOB A PROTEÇÃO DE DEUS INICIAMOS NOSSOS TRABALHOS"."
Você considera esta frase uma cerimônia? Sua definição de cerimônia é apenas uma tentativa de referenciar a leitura de um texto com uma cerimônia religiosa ou está considerando cerimônia como o ritual inicial antes de iniciar os trabalhos do dia? Neste caso, as reuniões solenes onde se exige ficar em pé para o hino nacional e de piracicaba também constituem uma cerimônia que, na sua visão, deve ser cancelada?
A própria constituição foi promulgada sob a proteção de Deus. Laicidade, até onde eu entendo, não é um equivalente ao ateísmo, é a exclusão das religiões no exercício do estado e o respeito a toda religião existente, existem claros exemplos de políticos crentes que propuseram leis e projetos imbecis que até já foram discutidos aqui no fórum, e que estes sim, ferem a laicidade do estado, mas daí a supor que qualquer ato religioso está, de alguma forma mágica, interferindo e/ou atrapalhando o andamento das leis e o avanço do estado laico, isso é em primeiro lugar não ter discernimento, e em segundo, exagerar demais qualquer assunto que envolva religião, gerando "polêmica" desnecessária em um caso que só tem a ver com normas.
Um lado fala que a expulsão foi por causa de ofensas, outro lado fala que não podia expulsar sob nenhuma justificativa, um lado fala que só seguiu as normas da casa, outro fala que não existem tais normas no regimento, e todo mundo só se importa com a leitura de um trecho da Bíblia, algo que é feito em diversas câmaras por provavelmente muito, muito tempo.
Eu confesso que sou leigo nesse assunto, mas a "polêmica" não poderia ser mais simples, ou as normas existem ou não existem, se não existem o presidente foi burro, se existem... elas são referentes à parte inicial da sessão ou ao texto bíblico? Se for referente ao texto a norma deve ser revista, se for por causa do momento de abertura da sessão pode-se adicionar um artigo para evitar este tipo de problema, e ponto final.
Nos tribunais as pessoas realmente são obrigadas a jurar dizer somente a verdade com a mão na Bíblia?
A influência de crenças na nossa cultura é enorme, e obviamente aparecerão casos e situações que vão contra o estado laico, mas na minha opinião é extremamente errado julgar tudo como "anti-laico" sem refletir sobre o assunto, sobre suas origens, aplicações, interferências, consequências, etc...
E volto a perguntar, por que também foi expulso o cara que só estava fotografando? Por que ninguém fala nesse cara? Porque ninguém vai vender uma notícia de alguém que pode realmente ter sido expulso sem justificativa alguma, o que vende é expor a leitura do trecho da Bíblia como polêmica.