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Servidor que não ficou em pé para leitura da bíblia é expulso de Câmara de Vereadores

E a Constituição diz:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público​

Pelo que me consta a Constituição é maior que qualquer outra lei municipal ou estadual. Mas estamos no Brasil, né?
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

Ao meu ver, apesar de ser considerado laico (como fachada), isso aparenta ser na verdade algo parecido com o que o Paganus falou de um estado teocrático onde há respeito por todas as crenças, onde é adotada uma visão religiosa (em sua maioria cristã, ou apenas teísta) porém visando o respeito a ateístas e pessoas de outras crenças. Enfim, é o que parece.

O primeiro absurdo começa com a prática de leitura da Bíblia num espaço público, ferindo o princípio laico.
Discordo, a religião pessoal não deve interferir no que diz respeito aos demais, seja na criação de leis ou na execução de tais leis, mas pessoalmente ela será válida em qualquer lugar. Se na Câmara de Piracicaba esta prática é comum, é porque a câmara em algum momento votou para que tal prática acontecesse, certo? É uma votação entre quem frequenta a casa.
A prática, ao meu ver, não é um guia judiciário, pelos quais as leis serão regidas, mas um guia pessoal, em acordo dentre todos que estão ali, alcançado pela votação.

O segundo absurdo começa com o presidente da Câmara exigir que o servidor ficasse de pé. Autoritarismo, opressão, abuso de suas prerrogativas, completa ausência de bom senso e intolerância.
Eu procurei no regimento interno da câmara algo sobre essa obrigatoriedade e não achei, porém se está na lei está na lei e ponto final. Acho certo a atitude do presidente ao exigir que a regra seja cumprida, da mesma forma que acho certo o protesto do servidor caso tenha sido sua intenção chamar atenção para tais regras. O problema, se existir, é técnico, não de atitudes.

O terceiro absurdo constitui na retirada à força do funcionário por um policial militar e por um guarda municipal. O que justifica essa arbitrariedade?
Relatos indicam uma discussão antes da retirada.

Eu também acredito que ele deve ter sido retirado pelo atrito e não pelo simplesmente ato de não levantar. Não deixa de ser uma provocação e o ato de chamar os seguranças autoritário. Eu não sei se a OAB pode fazer algo a respeito. O regimento interno da Camara não é uma lei e é de propriedade do legislativo. Acho que o judiciário não tem como questionar.
Não entendo praticamente nada dessas diferenças entre setores, só queria comentar que provavelmente foi uma questão de atrito mesmo, como sugere esse trecho da notícia que o Bruce postou:

"Já o diretor jurídico do Legislativo de Piracicaba, Robson Soares, disse que Montero fazia 'baderna' e que 'tumultuava' a sessão naquele dia. "O ato da leitura bíblica está no artigo n° 121 do Regimento Interno. É algo presente nas sessões desde a criação do Legislativo piracicabano. Não obrigamos ninguém a acompanhar a leitura, mas que essa pessoa respeite as regras da Casa ou que se retire", afirmou Soares."

Aí não sei se é possível se retirar e após a leitura retornar normalmente, mas dá a entender que existem escolhas para aqueles que não quiserem se levantar durante a leitura, ou até mesmo ouvi-la, o que torna desnecessário desrespeitar a regra da casa.
Outro ponto, eu gostaria de tirar a dúvida se a obrigação de se levantar está relacionada com o texto bíblico, que no próprio artigo 121 não fala nada sobre se levantar, ou se é um sinal de respeito ao orador, ou talvez à esta específica parte da seção. Até agora, não li nada que indique ser um gesto de respeito para com o texto lido, e caso seja um detalhe técnico, relacionado ao orador ou à seção, bem que poderiam revisar o artigo e adicionar uma obrigatoriedade em ficar todos sentados.

Para quem diz que o rapaz foi retirado por criar uma cena depois de se recusar a ficar de pé, o presidente da assembleia já deu entrevista dizendo que mandou retirar porque ele não levantou, e a norma da casa exige isso.
Eu vejo mais sentido que tenha havido alguma discussão antes do uso da força, e que a discussão ou "baderna" tenha se originado por desobediência à norma da casa. Sinceramente, acho necessário um maior detalhamento dessas normas antes que possamos chegar em alguma conclusão, o próprio vídeo do caso mostra e afirma que houve "muita conversa" antes de forçarem a retirada do vereador.


Resumindo, eu acho que esse caso não tem muito o que ser criticado quanto a atitudes, se há falha ela é técnica, as regras poderiam ser revistas caso estejam mesmo ferindo o direito de alguém, o que me falta saber para ter uma opinião melhor é se é possível ou não se retirar durante a leitura bíblica e retornar logo após, e se a obrigatoriedade em se levantar está ligado ao texto ou ao orador, ou a esta seção inicial, só então é possível entender o que pode estar errado com as regras da casa.

Por fim, uma dúvida extra: no regimento interno, quanto a ter que se levantar, eu só achei artigos referentes ao hino nacional e o hino de piracicaba, que é obrigatório ficar em pé. Nesse caso tudo bem haver obrigação? Eu, no momento, não consigo ver muita diferença entre patriotismo e cristianismo (como ideologias), ou simplesmente o teísmo, a diferença está no diferente nível de aceitação, ofensas e conflitos gerados, normalmente ninguém se ofende com o hino nacional, a não ser por (ironicamente) um grupo religioso, os Testemunhas de Jeová, até onde sei eles não cantam o hino ou levam a mão no peito, imagino como as regras da casa resolveriam tratar um funcionário TJ durante o hino. E para mim a questão está exatamente nisso, pequenas falhas no sistema, que podem ser corrigidas revisando leis e normas, quando necessário.
 
por favor, paganus, é óbvio que não estou dizendo que o pessoal do candomblé ia te perseguir. o que eu propus foi um exercício de empatia para você: se colocar no lugar de quem não tem a crença predominante e que estaria na mesma condição do servidor, no final das contas. já que meu exemplo não te ajudou, vamos partir para o hipotético. digamos que no brasil a religião predominante seja o culto sagrado da benga voadora. aí na câmara de piracicaba há anooos todos os servidores tinham que fazer pintocóptero e dar o cu para o cara que estivesse à esquerda antes de iniciar uma sessão. até onde eu sei, sua religião não permite que você saia dando o cu aleatoriamente por aí, portanto você se recusa a fazer parte de tal ato. aí te expulsam da sessão.

na minha opinião (e isso é bem subjetivo, óbvio), eu acho sim que não custava o cara ficar de pé. eu não sou religiosa, mas qdo vou em alguma celebração religiosa (casamento, batismo, etc.) e eu estou na igreja, eu fico de pé na hora em que todos ficam de pé, e sento na hora que todos sentam. para mim é uma questão de educação. mas o que eu acho que o cara fez ali foi um protesto - até porque se fosse um hábito dele, esse problema já teria surgido antes. acho que foi justamente um protesto de uma pessoa que não segue aquela religião, chamando a atenção para o fato de que leitura da bíblia deveria se restringir à espaços de um culto religioso em específico.

:rofl: Tudo bem, mas ainda acho que é diferente. Principalmente pelo que o Siker postou.

Bom Ana, eu penso diferente. Acredito que o cara tem a obrigação de não levantar. Como estamos usando exemplo absurdos, lá vai mais um: Paganus, se no meio de uma missa, eu entro na igreja, começo a explicar toda a teoria evolucionista de Darwin e exijo que as pessoas levantem pois Darwin foi um importante nome na ciência. Vc acha que as pessoas deveriam levantar, ou que eu estou sendo um idiota? (não responda :rofl:)

só seria desrespeito se fosse coerente o cara ler a bíblia naquele espaço, e assumir que todo mundo tem a obrigação de não somente respeitar, mas interagir com isso.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. No exemplo citado você está fazendo proselitismo, é o ateísmo invadindo uma igreja. É algo sendo invadido pelo que lhe é estranho.

Nesse caso, é a religião fazendo presença, e, parece, sem obrigatoriedade. Quem disse que a religião é 'estranha', 'invasiva' ao Estado laico? No laicismo ela é separada do Estado, mas não estranha, inimiga, invasora.

Essa discussão beira o absurdo. Não deve haver leitura de livro sagrado nenhum durante uma cerimônia em um órgão público. Isso é um desrespeito tanto aos ateus quanto as pessoas de outras religiões que não as cristãs.

A questão é: por que não seria coerente? O estado é laico, mas não é ateu; a Bíblia é um livro como qualquer outro e se o ato tinha conotação religiosa, que se abrisse espaço para outros credos.

Mas aqui minha visão vai sempre radicalmente contra a corrente.

Pra mim não deveria nunca existir nenhum tipo de separação entre vida pública e religião. Igreja e Estado, autoridade secular e espiritual, unidos, comungando do mesmo espírito, da mesma fé.

Mas temos que o Brasil é laico. NESSE caso, concordo com você Éomer que não faz sentido nem a leitura muito menos a expulsão do cara.

Não fosse laico, a expulsão e a obrigatoriedade não deveriam ser permitidas do mesmo jeito, com a diferença que a Bíblia e eventuais leituras dela seriam consideradas algo normal. Afinal, sendo parte essencial da vida pública, é de se esperar que a religião molde TODAS as instituições públicas e integralmente, como moldaria e formaria todas as camadas da sociedade, resguardando, claro, os valores e sociedades de credos alheios em seus âmbitos.
 
A questão é: por que não seria coerente? O estado é laico, mas não é ateu; a Bíblia é um livro como qualquer outro e se o ato tinha conotação religiosa, que se abrisse espaço para outros credos.
Mas aí é que está o X da questão Caio. Ou se abre espaço para todas ou se abre para nenhuma. Por que não uma roda de santo então? Ou a leitura da Torá ou de uma surata? Ou representa todas ou representa nenhuma. Até porque a constituição fala em Deus e não no Deus cristão, ou muçulmano, ou judeu. E quem disse que o Pai Nosso é uma oração representativa de Deus em geral?

P.S Acabei lendo que em essência tu concorda comigo, é melhor então que se suprima a leitura e pronto.
 
Última edição:
Discordo, a religião pessoal não deve interferir no que diz respeito aos demais, seja na criação de leis ou na execução de tais leis, mas pessoalmente ela será válida em qualquer lugar. Se na Câmara de Piracicaba esta prática é comum, é porque a câmara em algum momento votou para que tal prática acontecesse, certo? É uma votação entre quem frequenta a casa.
A prática, ao meu ver, não é um guia judiciário, pelos quais as leis serão regidas, mas um guia pessoal, em acordo dentre todos que estão ali, alcançado pela votação.

Só que a Câmara não existe para a afirmação de condutas particulares. Que eles instituam leitura de Bíblia em suas próprias casas então, separando questões que são de foro íntimo de funções públicas. A Câmara é a casa do povo e o papel do vereador é ser aquele que está mais próximo do povo, fiscalizando o executivo e legislando tendo em vista o interesse comum. A prática em si constitui uma postura incoerente perante a diversidade que representam... ou "representam". E, mais do que isso, uma agressão às pessoas que estão fora desse universo de referenciais simbólicos, isto é, os não cristãos.

Eu procurei no regimento interno da câmara algo sobre essa obrigatoriedade e não achei, porém se está na lei está na lei e ponto final. Acho certo a atitude do presidente ao exigir que a regra seja cumprida, da mesma forma que acho certo o protesto do servidor caso tenha sido sua intenção chamar atenção para tais regras. O problema, se existir, é técnico, não de atitudes.

Que absurdo, cara!! Você acha certo o presidente exigir que o sujeito se mantenha de pé para ouvir a leitura da Bíblia? Puta conduta autoritária e, como apontou a OAB, inconstitucional. O problema é sim de atitude. Só para fugirmos à questão da laicidade, para onde mandaram o "Estado democrático"?

Relatos indicam uma discussão antes da retirada.

O cara exigiu que o outro ficasse de pé e ele se recusou. Tem que discutir mesmo, uai. E a discussão foi porque o servidor, em seu direito, se recusou a levantar.
A Câmara Municipal é espaço por excelência de discussão (e, diga-se de passagem, não de culto bíblico)!
É o espaço que deveria ser mais próximo do povo. E ali o cidadão tem voz.

Eu vejo mais sentido que tenha havido alguma discussão antes do uso da força, e que a discussão ou "baderna" tenha se originado por desobediência à norma da casa. Sinceramente, acho necessário um maior detalhamento dessas normas antes que possamos chegar em alguma conclusão, o próprio vídeo do caso mostra e afirma que houve "muita conversa" antes de forçarem a retirada do vereador.

Protesto não é baderna! E a Câmara dos Vereadores é lugar para protestar, sim! Pois são os vereadores que fazem a interface do povo frente ao executivo!
Eis o argumento conservador que sempre permite à polícia descer o cacete em estudantes ou em professores grevistas! Que são baderneiros, uma ameaça à ordem! E não venha me dizer que existem formas de protestos mais amenas. Até onde eu sei, o servidor não atentou contra a integridade física de ninguém. Quis fazer valer o seu direito de permanecer sentado. E como foi reprimido, sustentou o protesto em discussão.

Resumindo, eu acho que esse caso não tem muito o que ser criticado quanto a atitudes, se há falha ela é técnica, as regras poderiam ser revistas caso estejam mesmo ferindo o direito de alguém, o que me falta saber para ter uma opinião melhor é se é possível ou não se retirar durante a leitura bíblica e retornar logo após, e se a obrigatoriedade em se levantar está ligado ao texto ou ao orador, ou a esta seção inicial, só então é possível entender o que pode estar errado com as regras da casa.

Ninguém tem que se retirar pra leitura bíblica não, Siker. Os vereadores que se retirem para suas casas e façam a leitura ali, se preferirem. A Câmara é um espaço democrático.

Por fim, uma dúvida extra: no regimento interno, quanto a ter que se levantar, eu só achei artigos referentes ao hino nacional e o hino de piracicaba, que é obrigatório ficar em pé. Nesse caso tudo bem haver obrigação? Eu, no momento, não consigo ver muita diferença entre patriotismo e cristianismo (como ideologias), ou simplesmente o teísmo, a diferença está no diferente nível de aceitação, ofensas e conflitos gerados, normalmente ninguém se ofende com o hino nacional, a não ser por (ironicamente) um grupo religioso, os Testemunhas de Jeová, até onde sei eles não cantam o hino ou levam a mão no peito, imagino como as regras da casa resolveriam tratar um funcionário TJ durante o hino. E para mim a questão está exatamente nisso, pequenas falhas no sistema, que podem ser corrigidas revisando leis e normas, quando necessário.

Uma leitura bíblica representa apenas os cristãos. O hino nacional representa todos os brasileiros. Quem se sentiria ofendido com o fato do hino nacional ser tocado num espaço público?
Mas, como eu disse anteriormente, embora não venha ao caso em questão, sempre que me dá na telha, não me levanto nem pra hino nacional. Não por ausência de patriotismo. Mas por ter uma puta preguiça de civismo alienado e ritualizado. O Brasil falhou na construção de um sentimento cívico genuíno. Eu demonstro meu patriotismo em outras frentes, engajando-me na luta política, discutindo e tomando parte em projetos sociais.
 
Última edição:
Siker disse:
Não entendo praticamente nada dessas diferenças entre setores, só queria comentar que provavelmente foi uma questão de atrito mesmo, como sugere esse trecho da notícia que o Bruce postou:

Ué eu também não entendo, não sou advogada, quem é da área de direito provavelmente saberá explicar muito melhor que eu, mas pelo pouco que eu já li eu imagino que o judiácio inteferir com o regimento interno teria problema com a propria constituição:

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados (grifo meu):

IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Eu sei que estou falando em termos da União, mas eu não acredito que a nível estadual também há indepencia dos poderes legislativos e judiciário. Outra coisa que também é levado em conta é que pode ser que o regimento interno seja anterior a constitiução de 88 e por isso foi incluido a oração.
 
Última edição:
"Ligou no meu gabinete para me ameaçar de morte. Disse que eu preciso ser morto. Falou mal da Câmara e da minha família." Com essas palavras o presidente da Câmara de Piracicaba (a 164 km de São Paulo), João Manoel dos Santos (PTB), confirmou ao UOL na manhã desta quarta-feira (31) que recebeu uma ameaça de morte por telefone na tarde de terça-feira (30).

Segundo Santos, a ligação para seu gabinete foi atendida por uma assessora, e, do outro lado da linha, uma mulher se dizia indignada com a atuação do Legislativo. "Nós já conseguimos identificá-la. O jurídico está tomando as providências", disse o vereador.

Para ele, a ameaça está ligada à polêmica que envolveu o servidor público Regis Montero na sessão da Câmara de segunda-feira (29).

Fonte
 
Igreja e Estado lidam com esferas diferentes da vida, não deveriam ser misturadas.

Uma vez, aqui em Belém (uma das cidades mais fanáticas pelo catolicismo no Brasil), um político evangélico fez uma onda danada por que colocaram uma imagem de Maria dentro da câmara. Ele levantou um monte de argumento sobre o fato de o Estado ser laico, de não se dever misturar as coisas, e tals, e eu concordo. Mas, durante a campanha, o indivíduo vai pro púpito da Igreja pedir voto, e dizer que "irmão vota em irmão", ao invés de focar em projetos e propostas, e com certeza ele apoiaria uma leitura bíblica na Câmara.

Claro, é uma situação diferente por envolver um conflito entre duas visões religiosas, e não entre uma atéia (?) e outra religiosa, como foi a de Piracicaba. É só mais um exemplo da tolice que é misturar religião com o Estado. Mas, como já disseram, vivemos no Brasil, e religião e Estado sempre se misturaram, e pelo visto sempre vão se misturar. Meu ponto é o seguinte:

- Querem ler a Bíblia na Câmara? Desde que não seja pra evangelizar, blz, vamo lá. Não é necessariamente uma afronta ao laicismo do Estado. Dá pra ler a Bíblia como livro de história, de auto-ajuda, de política, até.
- O cara quer ficar sentado durante a leitura da Bíblia? Deixa ele, ora. Nem na minha Igreja as pessoas são obrigadas a levantar quando o Pastor manda!
- Querem colocar uma imagem de escultura dentro da Câmara? Que seja. Desde que não me obriguem a fazer uma rezinha...

Enquanto não exigir compromisso das outras pessoas que não compartilham do mesmo credo, tá tudo bem. O problema é quando a coisa começa a interferir no direito das outras pessoas.

Na minha opinião, erraram em fazer o que fizeram com o vereador. Ele não deveria ser obrigado a nada mesmo. Como eu disse, na minha igreja, por mais irreverente que isso possa parecer, algumas pessoas não levantam, e de modo algum são constrangidas a isso. E no mundo tá cheio de lugar pra se ler a Bíblia, tipo, a Igreja, as praças, a Igreja, a rua.. A Igreja, também, né não?

Ps.: Simpatizo demais com a religiosidade do Paganus, não com tudo que ele defende, por exemplo a "deslaicização" (existe isso?) do Estado. Mas em geral concordo com as opiniões dele, e faço votos de que a militância atéia não o leve para o outro lado o/ :lol:


"Ligou no meu gabinete para me ameaçar de morte. Disse que eu preciso ser morto. Falou mal da Câmara e da minha família." Com essas palavras o presidente da Câmara de Piracicaba (a 164 km de São Paulo), João Manoel dos Santos (PTB), confirmou ao UOL na manhã desta quarta-feira (31) que recebeu uma ameaça de morte por telefone na tarde de terça-feira (30).

Segundo Santos, a ligação para seu gabinete foi atendida por uma assessora, e, do outro lado da linha, uma mulher se dizia indignada com a atuação do Legislativo. "Nós já conseguimos identificá-la. O jurídico está tomando as providências", disse o vereador.

Para ele, a ameaça está ligada à polêmica que envolveu o servidor público Regis Montero na sessão da Câmara de segunda-feira (29).

Fonte

Cacilds! A coisa é séria :think:
 
QUARTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2012
Câmara de Piracicaba mantém a sua intolerância religiosa
Postado por Paulo Lopes

O diretor Soares parece mandar mais que o presidente da Câmara. Em tom de desafio, Robson Soares (foto), diretor jurídico da Câmara de Vereadores de Piracicaba (SP), afirmou que aquela Casa vai continuar exigindo que, durante as sessões, as pessoas fiquem de pé durante a leitura de um trecho da Bíblia.

Na segunda-feira (29), em uma demonstração de intolerância religiosa, João Manuel dos Santos (PTB), presidente da Câmara, expulsou o servidor público Regis Montero, que se recusou a ficar de pé quando outro vereador lia a Bíblia, em um episódio que repercutiu em todo o país.

Santos disse que a leitura da Bíblia está no artigo 21 do regimento interno, mas não há nenhuma determinação sobre a postura em que as pessoas devem ouvi-la. A expulsão foi, portanto, uma arbitrariedade.

Além disso, o referido artigo é inconstitucional, segundo Max Fernando Pavanello, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Piracicaba. “A Constituição Federal garante liberdade de religião e crença, sendo que ninguém pode ter direito cerceado (assistir à sessão camarária) por conta da fé que professa, bem como ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, senão em virtude de lei”, disse.

Pavanello argumentou que nem pastores ou padres obrigam os fiéis a ficarem de pé para a leitura da Bíblia e que ninguém é expulso do templo por ficar sentado.

O vereador Santos, depois de afirmar que estava seguindo o regimento interno, tem evitado a imprensa, mas Soares, seu subordinado, tem feito afirmações contundentes, como se fosse ele quem na verdade manda na Câmara.

Montero já assistiu a outras sessões da Câmara e se manteve sentado durante a leitura bíblica, o que, disse, não significa ato de repúdio. “Tenho absoluto respeito pela opção religiosa de cada um”, afirmou. “Só questionei porque estava sendo retirado [do plenário], já que não está no regimento que devo ficar em pé.”

Ele ainda não decidiu se vai recorrer à Justiça contra a intolerância religiosa do vereador Santos, a qual foi corroborada pelo diretor jurídico Soares em mais de uma ocasião.


FONTE: http://www.paulopes.com.br/2012/10/...=twitterfeed&utm_medium=facebook#.UJFWum_R6GM
 
Ficar sentado é uma falta de respeito enorme com o sagrado mesmo.

Gente, gente, apesar da discussão enveredar para a religião, o buraco é mais embaixo. O funcionário removido faz parte de um grupo chamado "Reaja Piracicaba", que é contra o aumento do salário dos vereadores.

http://g1.globo.com/sp/piracicaba-re...a-biblica.html

Pois é. Uma discussão metafísica que no máximo esconde outra demonstração de abuso de poder.
 
"Ligou no meu gabinete para me ameaçar de morte. Disse que eu preciso ser morto. Falou mal da Câmara e da minha família." Com essas palavras o presidente da Câmara de Piracicaba (a 164 km de São Paulo), João Manoel dos Santos (PTB), confirmou ao UOL na manhã desta quarta-feira (31) que recebeu uma ameaça de morte por telefone na tarde de terça-feira (30).

Segundo Santos, a ligação para seu gabinete foi atendida por uma assessora, e, do outro lado da linha, uma mulher se dizia indignada com a atuação do Legislativo. "Nós já conseguimos identificá-la. O jurídico está tomando as providências", disse o vereador.

Para ele, a ameaça está ligada à polêmica que envolveu o servidor público Regis Montero na sessão da Câmara de segunda-feira (29).

Fonte

Ele quer passar de agressor a vítima nesse caso. Nada justifica a ameaça a vida dele e a agressão verbal à família dele, mas também nada indica que uma coisa tenha haver com a outra.
 
Pois é. Uma discussão metafísica que no máximo esconde outra demonstração de abuso de poder.

Como o metafísico está além do físico (really?), toda vez que se discute algo a ver com religião o primeiro pensamento que me vem à cabeça é: política pura e simples. É sempre assim. Sei lá como esses debates acabam resultando em uma defesa da Suma Teológica de Aquino - principalmente porque quem provoca a discussão nem deve saber do que se trata -, mas é interessante ver que as pessoas estão dispostas a discutir o alcance sóciopolítico das religiões organizadas.
 
"Santos disse que a leitura da Bíblia está no artigo 21 do regimento interno, mas não há nenhuma determinação sobre a postura em que as pessoas devem ouvi-la. A expulsão foi, portanto, uma arbitrariedade."

Até agora não consegui achar em lugar algum qualquer norma que obrigue todos a ficarem de pé (com exceção aos hinos), por isso mesmo achei fazer parte de algum outro processo, cujo presidente deveria conhecer, como afirma, mas se realmente não está escrito então ele se torna um mentiroso (bem burro, por afirmar algo que pode ser constatado como falso). Se for isso mesmo, o erro está no idiota do presidente, mas unicamente pela imposição não estar dentro das normas.

Agora, a religiosidade desse meio é interessante, vemos "sob a proteção de Deus" logo no início da Constituição, e pude encontrar em várias atas a mesma coisa:

"[...]Pelo Senhor Presidente foi dito que havendo número regimental para dar início aos trabalhos, declarou aberta a sessão, proferindo as seguintes palavras: "SOB A PROTEÇÃO DE DEUS INICIAMOS NOSSOS TRABALHOS". Pelo Vereador Antonio Inácio Baccarin foi feita à leitura de uma passagem bíblica. Após foi feita a leitura da Ata nº 40/12, a qual foi APROVADA POR UNANIMIDADE.[...]"
fonte

"[...]O Vereador Marcus Eliseu Togni adentrou ao Plenário às 15h51, em decorrência de consulta médica. Havendo quorum, o Presidente declarou aberta a presente reunião e solicitou a todos que em pé, saudassem ao Pavilhão Nacional com uma salva de palmas. Em seguida, passou-se à leitura de um Salmo bíblico e à discussão e votação da ata da reunião anterior. Não havendo nenhum Vereador a fazer uso da palavra, esta foi considerada aprovada.[...]"
fonte

Eu procurava por uma ata da câmara municipal de Piracicaba mas não encontrei, queria conferir se o período em que se lê o trecho bíblico coincide com algum outro procedimento que exija ficar em pé, mas encontrei estas referências, que parecem ser tão simples e comuns, isso porque estão atreladas aos homens, não com as leis vistoriadas pelos homens. Na sua posição profissional, ao meu ver, o laicismo é respeitado, já na posição pessoal:

"[...]Havendo quorum legal, o Senhor Vice-Presidente, Vereador José Ibiracy Nunes, assumindo o cargo de Presidente, em nome de Deus e do Povo, declarou aberta a reunião e convidou a todos os presentes a ficarem de pé para ouvir a execução do Hino Nacional Brasileiro.[...]"
fonte

Eu, pessoalmente, não vejo nada disso como ofensa, porém acho justo que quem discorde inicie protestos para revisar tais normas e hábitos, caso estes estejam comprovadamente ofendendo alguém ou ferindo seus direitos, o que, na minha visão, não estão. Simplesmente desobedecer uma regra até pode chamar atenção, mas resolver acredito que só mesmo criando um projeto de lei, fazendo uma proposta, algo do tipo, não sei; esse caso específico confunde porque aparentemente não tem nada nas normas, mas uma vez estando registrado como regra, esta deve ser cumprida enquanto não for revogada.
 
Essa discussão toda só marca a lenta extinção da tradicionalidade proscrita, escondida, refugiada em um recanto de um Estado dominado pelo laicismo.

Mas logo se dará o aval aos ódios contra tudo que sequer lembre o sagrado. A Tradição agoniza. Logo, morrerá.

É nesses momentos que quase perco a fé.
 
O Estado de fato é laico, mas quem o forma não. Sou totalmente contra a mistura de política e religião por motivos óbvios, mas não vejo problemas na manifestação religiosa em local e momento apropriados.
 
E nesse caso eles estão consumindo dinheiro público para uma cerimônia alheia ao Estado, se é de cada um dos que estavam presentes é uma coisa, mas é uma questão pública, não de foro íntimo.
 

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